quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Poema sobre a Censura

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Eu acho que a censura existiu sempre e provavelmente vai existir sempre com base em critérios morais ou políticos, para julgar a conveniência de sua liberação à exibição pública, publicação ou divulgação e condenação da Igreja a certas obras. 
Entretanto a censura para o ser não necessita de ter claramente uma porta aberta com um letreiro, onde se diga que ali há pessoas que lêem livros, vão ver espetáculos ou palestras de filósofos que regulam, no ego ou no superego, a emergência de ideias e de desejos no consciente.
A censura existe de todas as maneiras, porque todas as pessoas, nos diferentes níveis de intervenção em que se encontram, por boas ou más razões, selecionam, escolhem, apagam, fazem sobressair.
E isso são atos de ocultação ou de evidenciação que, no fundo, em alguns casos, são atos formais de censura.
Agora quanto à censura oficial dos tempos de ditadura.
Aquilo que a censura demonstrou e demonstra, em qualquer caso, é que felizmente os escritores, dependendo das situações em que se encontram, são muito mais ricos de meios, de processos de fazer chegar aquilo que querem dizer aos outros, do que se imagina.
Evidentemente, numa situação de censura, o escritor é obrigado a usar a escrita para comunicar isto ou aquilo ou aqueloutro, de uma maneira disfraçada, subterrânea, oculta; mas o que é importante não é que a censura o esteja a obrigar a fazer isso.
O que é importante é que ele seja capaz de o fazer sem lutar contra a censura.
E isso não vai em abono da censura como agente capaz de estimular a criatividade de um escritor, vai, sim, no sentido de reconhecer no escritor capacidades de expressão que ele usará ou não consoante a situação concreta em que se encontre.
Por isso algumas poesias que escrevi numa situação de liberdade de expressão atual, provavelmente num regime de censura eu não pensaria em escrevê-los.
Escreveria apenas uma censura espirituosa dizendo que, assim como a sinusite, artrite, cefaleia, cólica ou qualquer que seja a doença, para todas usa-se a mesma panaceia.
A Censura, a vergonha, o medo, a falta de expressão ou qualquer que seja o empecilho, para todos se usa-se o mesmo método que permite a certos convalescentes a recuperação dos membros lesados ou das faculdades prejudicadas se chama: reeducação

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