.
Basta chegar o final de ano e os canais de TV exibem uma enxurrada de retrospectivas e previsões.
Sorte nossa vivermos na era do Netflix!.
É preferível uma maratona com minhas séries prediletas a assistir ao que já sei e ao que não faço a menor questão de saber.
Se desse para levar a sério as tais previsões, não haveria necessidade de retrospectivas.
Bastava reexibir as previsões feitas no final do ano anterior.
Que tal um programa comparando os fatos previstos com os fatos revistos?.
Por favor, não me acusem de ceticismo.
Até creio na possibilidade de uma coisa ou outra ser anunciada com antecedência.
Nem precisa ser vidente para isso.
Basta observar o andar da carruagem.
Mas, sinceramente, prefiro mil vezes a expectativa do inusitado.
Se o próprio Deus me aparecesse disposto a me contar minuciosamente tudo o que está por acontecer no próximo ano, eu diria não estar interessado.
Dispenso spoiler.
Saber o que o futuro me reserva não requereria fé, mas apenas adequação e certa dose de resiliência.
A fé só é necessária ante a inevitabilidade das contingências da vida.
Por isso, não me vejo fazendo votos para o novo ano.
Mesmo que soe pretensioso demais, minha única meta é tornar-me um ser humano melhor.
Quanto ao mais, deixo a vida me surpreender, como geralmente tem feito ao longo dos anos, proporcionando-me experimentar novos sabores, odores e cores.
Em 2021, por exemplo, tive inúmeras surpresas.
Umas agradáveis além da conta.
Outras, nem tanto.
E ainda outras, nem um pouco.
Perdi amigos.
Uns para a morte.
Outros para a vida.
Mas também construí novas amizades.
Pessoas entraram em minha vida para somar.
Algumas poucas para subtrair.
Que tal deixar de ver a vida como um livro de contabilidade?.
Nem tudo se resume a lucro ou prejuízo, ganhos e perdas.
De uma coisa estou certo: alguns vêm e vão, mas ninguém vem em vão.
Cada um, a seu modo, traz alguma lição que a vida almeja nos dar.
Dentre todos os que conheci neste ano, nenhum conheci tão bem quanto eu mesmo.
De fato, foi o ano em que mais investi no autoconhecimento.
Percebi com mais nitidez minha personalidade.
Examinei, sem falta modéstia, minhas virtudes.
Confrontei, sem condescendência, minhas vicissitudes.
Desconstruí algumas crenças equivocadas entranhadas em meu ser.
Exorcizei fantasmas que me acompanhavam desde a minha infância.
Revisitei sonhos que já haviam sido engavetados.
Espanei-os e coloquei-os novamente na prateleira.
Percebi que eu sou o pior dos pecadores e não sou digno de ser chamado discípulo de Cristo.
Definitivamente, não sou hoje o mesmo que rompeu os anos anteriores.
E espero não ser o mesmo que romperá os que virão.
Sou um ser em processo de acabamento.
Certos andaimes terão que me acompanhar por mais um tempo até que este processo avance.
Portanto, não se precipite em me julgar pela fachada inconclusa.
Se quiser me conhecer, fite-me os olhos, ouça o que digo, leia o que escrevo, adentrando, assim, os portais escancarados da minha alma.
E se me oferecer oportunidade, quero retribuir a visita.