terça-feira, 13 de novembro de 2018

Carta para Daniele

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Lembrei-me através desta carta que tenho de marcar um encontro contigo, num feriado desses  em que ambos possamos falar, de fato, sem que nenhuma das ocorrências da vida ou do mundo venha interferir no que temos para nos dizer.
Escrevo-te de forma afetiva, endereçado todo o meu amor à você e ao teu coração.
Muitas das vezes me lembrei de que esse passeio podia ser, até, um lugar sem nada de especial ou peculiar.
Pois não importaria tal lugares, desde que todos eles tivesse você.
São lugares pacíficos que eu amo  ou almejo a paz, lugares que não discute ou aceita sem discutir ou contestar.
Lugares onde eu possa me relacionar com o meu próprio oceano.
Oceano chamado de coração; este que ama tomar um canto de café, em frente de um espelho chamado de  você.
Esta carta poderia servir de pretexto para refletir a alma, meditar nas nossas vidas, ter a impressão da tarde, o último estertor do dia.
A penúltima inspiração ruidosa como a que é percebida no sono profundo.
O antepenúltimo som proveniente dos pulmões que, percebido quando estou perto de ti.
Eu não quero desperdiçar, quando é preciso encontrar uma fórmula que disfarce o que, afinal, não consigo dizer.
Contudo preciso saber que o amor nem sempre é uma palavra de uso, aquela que permite a passagem à comunicação; mais exata de dois seres, a não ser que eu fale, de súbito, o sentido de amar, e que cada um de nós leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio ser, como se uma troca de almas fosse possível neste mundo encontrar você.
Subscrevo todo o meu compromisso de honra-la  sem pseudónimo, sem censurar o meu nome consuetudinário, por modéstia ou conveniência ocasional ou permanente, com ou sem real encobrimento de sua pessoa.
Escrevo para convidá- la nos lugares naturais ou em peças teatrais chamada: «Vem comigo!».
Escrevo estas linhas para dizer-te que muitas vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde, isto é, a porta dos lugares  tinha-se fechado até outro dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem sido pensadas.
No entanto, ao escrever-te para marcar
um novo encontro contigo, sei que é irremediável o que temos para dizer um ao outro: a confissão mais exata, que é também a mais absurda, de um sentimento; e, por trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia seguinte, como se o amor, de fato, pudesse mudar as cores do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nós vamos encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas, que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas de girassóis, o vermelho do sol, o marrom do cappuccino italiano, o branco das nuvens e o azul das águas que emana, dissipa um certo aroma de amor.

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