terça-feira, 6 de junho de 2023

Mercador de pérolas

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A Bíblia não começa afirmando que somos originalmente maus.
Só depois das pessoas considerou tudo “muito bom”.
Se, ao longo dos anos fomos inventando formas de perversidade,
as fontes da maldade foram egoísmo, prepotência, ganância e outros vícios.
Pois então, se em algum ponto a cultura judaica concebeu o mundo imerso em perversidade, em primeiro o considerou como o lugar onde Deus escolheu morar entre nós.
Deus também se exilou do Paraíso.
Mesmo os que creem que homens e mulheres jazem no maligno, não há como negar: Deus fez morada em corpos: “é chegado o reino do bem e ele está no meio de vocês”. 
O poeta indagou no salmo: “Quem é o homem a mulher para que te importes com ele; tu o fizeste um pouco menor que Deus”.
A pergunta reverbera há milênios:
“Por que Deus se incomodaria com pessoas”?.
Porque o mal que produzimos, mesmo bruto, ainda não excedeu a beleza frágil que criamos.
O submundo do tráfico de corpos,
não conseguiu ser mais belo que uma poesia de amor do Vinicius ou uma provocação em prosa de Martin Luther King.
A estupidez do bombardeio em Guernica vai sendo esquecido,
contudo, a denúncia na tela de Picasso, permanece.
O ódio de quem vomita intolerância não há de suplantar a ternura da avó que beija a criança.
Uma legião de demônios não teve força nem terá de de calar um homem que reconhece a divindade no outro.
Deus sofre, mas nunca desistiu nem jamais desistirá da humanidade.
Na parábola, Deus pode ser comparado a um mercador de pérolas que trata cada pessoa como uma pérola de grande preço.
Jesus viu beleza em leprosos; ele honrou a dignidade dos estrangeiro e  valorizou a espiritualidade de quem professava outra religião.
Jesus falou de futuro tão inclusivo que as prostitutas entrarão no Reino antes dos sacerdotes.
O mundo não vai acabar enquanto houver crianças. 
Jesus percebeu que o lado bom das pessoas supera, infinitamente, o lado pior em cada uma.
Ele nos chama de herdeiros e conta com a gente como-cooperadores na construção da história.
Ergamos diques, a inundação do mal há de ser represada por gente que nem imaginamos quem é.




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