sábado, 27 de novembro de 2021

Poema sobre os demônios do Brasil

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Quando os europeus desembarcaram nas Américas, trouxeram na bagagem os seus próprios demônios e não apenas doenças para as quais os nativos não tinham imunidade.
Não são demônios os que vieram com os escravos em seus cultos animistas,
nem os que eram cultuados pelos povos originários.
Os demônios vieram com os que devastaram as civilizações que aqui já estavam, pilhando impérios, aproveitando-se da ingenuidade dos que os consideravam deuses.
Os demônios que aportaram aqui tinham pele alva, sotaque ibérico e costumes estranhos.
Outros demônios chegaram à Índia com os ingleses, na África do Sul com os holandeses, e em tantas outras terras com aqueles que pretendiam conquistá-las e reivindicá-las às coroas que representavam.
Tais castas demoníacas se manifestam nos explorados, mas atuam através dos exploradores.
Não habitam apenas corpos, mas estruturais sociais.
No Brasil atual, eles não estão nas favelas, mas nos palácios, nos condomínios de luxo e em suntuosas catedrais.
Não são como as legiões romanas,
mas se organizam em quadrilhas que assaltam o erário público, que exploram os fiéis com promessas mentirosas,
que promovem o ódio, o preconceito e a intolerância contra a população, as minorias étnicas e os fiéis de religiões de matriz africana, que desqualificam a luta feminista, que desdém dos direitos da classe trabalhadora, que espalham fake news, que tratam seus rebanhos como currais eleitorais, que endossam políticas negacionistas e genocidas em nome da fé, etc.
Aqui seu nome não é legião, é religião.
Não me refiro à religião em seu sentido lato, que provê a religação entre os seres humanos, independentemente de distinções étnicas, sexistas, confessionais ou sociais, fazendo com que nos preocupemos em cuidar dos mais vulneráveis representados pelos órfãos e viúvas.
Refiro-me à religião como instrumento que visa legitimar o poder e os interesses de quem lucra com a exploração.
Portanto, em vez de religião, deveria ser chamada de reLEGIÃO.
Trata-se, portanto, do que o livro de Apocalipse chama de “Grande Babilônia “ que tornou-se morada de todo tipo de demônios.
Os demônios descem do Norte, especialmente do Sul do Norte,
se instalam no Oeste e se espalham.
Depois se juntam numa legião e ocupam Brasília, e governam.
São estes demônios que precisam ser exorcizados do cenário político brasileiro para que finalmente alcancemos a tão sonhada justiça social, tornando-nos, assim, um dos protagonistas na construção da civilização do amor.

Poema sobre o dia de ações de graça

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Neste Dia de Ação de Graças, sejamos gratos em tudo, mas não por tudo.
Há uma diferença enorme entre uma coisa e outra.
Em qualquer circunstância, sejamos gratos nem que seja pelo simples fato de estarmos vivos.
Entretanto, não somos orientados a darmos graças por tudo, como se tudo devesse ser creditado a Deus, inclusive as consequências de nossas próprias escolhas.
Por exemplo: que sentido teria agradecer a Deus por uma tragédia como a pandemia que já ceifou a vida de milhões de pessoas no mundo?.
Seria Ele o responsável por isso?.
E que tal agradecermos a Deus por havermos sobrevivido ao COVID-19, enquanto tantos morreram?.
Isso lhe parece razoável?.
Pois a mim, não.
Eu não disse anteriormente que deveríamos agradecer EM TUDO,
em qualquer circunstância, nem que fosse pelo simples fato de estarmos vivos?.
Mas não quando esta gratidão brota da comparação entre o que nos ocorreu e o que ocorreu a outros.
Não me sinto à vontade para agradecer por ter sido poupado enquanto milhões tiveram suas vidas ceifadas.
Assim como não me sinto à vontade para agradecer por nada que eu tenha conquistado em comparação a quem não teve a mesma sorte que eu.
Tampouco deveria agradecer por possuir virtudes que meu próximo aparentemente não tem.
Foi isso que fez um dos personagens de uma parábola contada por Jesus.
Dois homens subiram ao templo para orar, um religioso fariseu e um publicano odiado pelos judeus por ser aliado de Roma.
"O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.
Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo.
O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!"
Na conclusão da parábola, Jesus afirma que o publicano penitente desceu justificado para sua casa, e não o fariseu "agradecido"; "porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado"
À luz deste texto, não me atrevo a agradecer a Deus por ser melhor do que ninguém, nem por ter tido sorte diferente ou por qualquer outra razão que brote da comparação entre mim e o meu próximo. Se mil caíram ao meu lado e dez mil à minha direita, sem que eu tenha sido atingido, agradecerei a Deus pela oportunidade de poder ajudá-los a se levantar.
Se Ele me preparou um banquete na presença dos meus inimigos, agradecerei a Deus o privilégio de poder repartir com eles o meu pão.
Assim, minha gratidão brotará do amor a Deus e ao meu próximo e não da comparação entre mim e quem quer que seja, tampouco da presunção de ser melhor ou estar em situação mais favorável que o meu semelhante.
A todos, um feliz Dia de Ações de Graça.

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