quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Grito de alerta

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Não posso negar minha preocupação com os rumos que o país tem tomado, com a ascensão do discurso de ódio, com a disseminação de fake news, com a perda de direitos conquistados a duras penas.
Como não perder o sono sabendo que existe a possibilidade de estarmos à beira de um precipício que nos lançará nos braços de uma ditadura.
Não posso negar minha preocupação com a população que segue esmagada pelos preços altos nos supermercados e nos postos de gasolina, com a volta triunfal da inflação que durante anos não se mostrava tão vigorosa.
Como não me preocupar com os milhões de desempregados, com o aumento exorbitante da conta de luz e do gás.
Mas minha maior preocupação é com os mais vulneráveis, as pessoas em situação de rua que vêm se multiplicando, transformando as calçadas em um verdadeiro tapete humano, expostas ao frio deste inverno rigoroso.
Preocupo-me  com as famílias, com os nossos ideais.
Preocupo-me com as minorias massacradas pelo discurso de ódio,
pela homofobia,
pela misoginia,
pelo racismo,
pela xenofobia.
Preocupo-me com as crianças que agora vivem em um mundo tão machista quanto àquele  em que viveram suas avós.
Minha geração falhou ao se render ao autoritarismo escroto de quem não reconhece a dignidade do diferente. 
Tira-me o sono pensar nas famílias que dormem com fome, nos pais que nada têm a oferecer aos filhos senão uma canção de ninar em meio à gradação da miséria.
A fome voltou a nos assombrar.
Vivemos um pesadelo insistente do qual não conseguimos acordar.
Preocupe-me com a indiferença de quem se acha imune ao assédio da miséria, sem considerar a dor de quem sucumbiu a ela.
Nego-me a prosseguir  preocupado sem ocupar-me em atenuar o sofrimento do meu próximo e a despertar a consciência dos que não perceberam o quanto tudo isso também os afeta.

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