segunda-feira, 19 de julho de 2021

Poema sobre o degelo da humanidade

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Respirar e viver não é apenas libertar o ar, mecanicamente.
É existir  e viver em estado de amor.
E, do mesmo modo, aderir ao mistério é entrar no singular, no afetivo.
Deus é cúmplice da afetividade:
impassível e passível; transcendente e amoroso; sobrenatural e sensível.
A mais louca pretensão cristã não está do lado das afirmações metafísicas: ela é simplesmente a fé na ressurreição do corpo.
O amor é o verdadeiro despertador dos sentidos.
As diversas patologias dos sentidos que anteriormente revisitámos mostram como, quando o amor está ausente, a nossa vitalidade.
Uma das crises mais graves da nossa época é a separação entre conhecimento e amor.
Amar significa abrir-se, romper o círculo do isolamento, habitar esse milagre que é conseguirmos estar plenamente conosco e com o outro.
Infelizmente não sabemos amar, infelizmente só sabemos amar aquilo que é aceitável, aquilo que os nossos olhos aceita, aquilo que às nossas vontades almeja.
Infelizmente nós amamos o que é amável.
Deus amou o que é detestável,
e o que é detestável não consegue amar um outro detestável,
mas quer amar apenas aquilo que para ele é amável.
É fácil amar apenas o amável.
Mas amar o detestável é só para quem foi possuído pelo amor de Deus,
que é o amor perfeito.
Não se trata de sentimento.
Se trata de uma escolha no chão da vida.
O amor é o degelo da humanidade.
O amor é o alicerce que constrói-se como forma de hospitalidade.
O amor expõe-nos também com maior intensidade aos sofrimentos.
Na renovação e da entrega à vida que o amor em nós gera frequentemente a sua enigmática dialética.
O obstáculo é, antes, o seu contrário: a apatia, a distração, o egoísmo, o cinismo.

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