.
Com o advento das redes sociais,
nós avançamos quilômetros em conteúdo com centímetros de relevância.
Há canais para todos os gostos, podcasts de todas os gostos, influencers para todas as influências, mas o conteúdo é fraco.
Foi assim também com a música cristã brasileira.
Os artistas migraram da clandestinidade para o mercado Gospel.
Ganharam qualidade musical e expressão, mas perderam as letras.
Há entretenimento no mercado especial para cristãos.
A palavra Gospel virou sinônimo de um mercado específico para o público.
Se alguém falar em jiló Gospel,
já saberemos que ele foi plantado na fazenda da religião para o consumo de cristãos.
Essa foi uma sacada do mercado.
Criou-se uma cultura cristã, de canais de televisão à marca de roupas,
de programas de entretenimento aos festivais de música que lotam estádios.
Para que venda, o mercado não propõe doutrina, não questiona tabus, não encara injustiças.
As canções e literaturas falam de temas gerais.
Fundamentalistas ultraconservadores a liberais progressistas consomem o mesmo produto e hoje o mercado gospel fatura bilhões, de modo que fez surgir uma cultura cristã sem compromisso ético com o Evangelho.
Somos mais consumidores de conteúdo cristão do que frequentadores de igrejas cristãs, algumas que também viraram produto de consumo.
A cultura cristã suprimiu o Evangelho, de modo que hoje no Brasil muitos se declaram cristãos desconhecendo as causas do Cristo.
Nossa boca está cheia de Deus,
mas não o nosso coração.
Falamos de Jesus o dia inteiro como se fora uma palavra mágica que nos protege de nossas neuroses religiosas.
Nosso cristianismo cultural nos impede de ver a tragédia Yanomami.
Não nos deixa perceber a discrepância de entrar num culto desviando de famintos desmaiados nas portas dos templos.
Nos torna incapazes de associar que se os discípulos de Jesus eram para serem luzeiros do mundo,
como pode então, um país majoritariamente cristão como o nosso ser campeão de assassinato de pessoas trans, racista por excelência e figurar na lista dos mais corruptos e violentos?.
Há algo de muito errado com a nossa fé.
Para nós cristãos
não basta ter fé em Jesus.
É preciso ter a fé de Jesus.