domingo, 13 de fevereiro de 2022

Cobras e lagartos

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O cristianismo é um subproduto do movimento iniciado por Jesus de Nazaré e seus apóstolos.
Não podemos condená-los por aquilo em que a mensagem se tornou três séculos depois, quando o império romano se apropriou da mesma, tornando o movimento em sua religião oficial.
Jesus pregava o amor ao próximo e aos inimigos.
O cristianismo promoveu cruzadas, inquisições, caça às bruxas, etc.
A comunidade cristã original tinha tudo em comum.
O cristianismo criou a teologia da prosperidade, estimulando o acúmulo de bens em vez da partilha.
Os cristãos primitivos acolhiam a todos igualmente.
O cristianismo criou o Apartheid, segregando negros em sua própria nação.
A mensagem subversiva do evangelho oferecia liberdade e igualdade indistintamente.
O cristianismo endossou a escravidão.
Jesus valorizou as mulheres,
o cristianismo preferiu perpetuar o patriarcado. 
Para não ser injusto, devo admitir que não haja um único cristianismo,
e sim, cristianismos.
Sempre houve um remanescente fiel aos ensinos do mestre.
Gente como Martin Luther King, Bonhoeffer, e outros.
Mas também sempre houve gente indigesta que deturpou a mensagem de Cristo para encaixar-se em seus interesses mesquinhos.
Por isso, não faria o menor sentido criminalizar o cristianismo. 
E quanto ao comunismo?.
Deveria ser criminalizado tanto quanto o nazismo?.
Quem se deu ao trabalho de ler os teóricos comunistas, certamente perceberá que há diversos pontos em comum com a proposta original de Jesus.
Mas assim como não há somente um cristianismo, também não há somente um comunismo.
Pode-se dizer, por exemplo, que a comunidade cristã original era, em essência, comunista, visto que "ninguém dizia que coisa alguma era sua, mas tinham tudo em comum." Pelo menos, este é o testemunho encontrado no livro dos Atos dos Apóstolos. 
"E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns." Atos 4:32
"Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.
E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um." Atos 2:44,45
A experiência comunitária da igreja cristã primitiva parece encontrar eco na máxima popularizada por Karl Marx: "De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades."
Para quem nutre grande admiração por Israel, saiba que um dos experimentos comunistas mais bem sucedidos da história são os kibutz. Trata-se de uma forma de coletividade comunitária israelita.
Apesar de existirem empresas comunais em outros países, em nenhum outro as comunidades coletivas voluntárias desempenham papel tão importante como o dos kibutz em Israel, onde tiveram função essencial na criação do Estado judeu.
O problema do comunismo foi as desastrosas tentativas de sua implantação.
Algo análogo à tentativa do império romano de impor a fé cristã ao mundo na ponta da espada. Uma coisa é compartilhar seus bens movido por uma consciência social encharcada de amor; outra completamente diferente é fazê-lo por imposição de um Estado opressor. 
A propósito, o comunismo em sua essência preconiza o fim do Estado. Portanto, querer implantá-lo a partir da força coerciva do Estado é uma contradição. 
Jamais houve, de fato, um país comunista.
Por mais que tenham sido ou ainda sejam administrados por um partido comunista, isso não significa que aquela sociedade tenha aderido à utopia comunista.
A China, por exemplo, pratica um tipo de capitalismo de Estado. 
Se Cristo nada tem a ver com Constantino, nem como o neo-pentecostalismo e sua teologia de domínio, Karl Marx nada tem a ver com Lenin, Stalin,  Mao Tsé-Tung,  Kim Jong-un ou qualquer outro ditador ou regime. 
Portanto, se não se deve criminalizar o cristianismo, também não se deve criminalizar o comunismo, visto ser uma utopia que visa romper com a opressão do capital e combater as injustiças sociais. 
Já o nazismo são outros quinhentos.
Não existem nazismos.
Não há nazismo do bem.
O nazismo segue sendo o mesmo desde sua origem e ascensão.
Sua ideologia defende a supremacia de uma etnia sobre as demais.
E não apenas isso, mas também o extermínio de grupos humanos como judeus, ciganos, homossexuais e deficientes físicos.
Não se fala de justiça social, igualdade de direitos, dignidade humana, e sim de nacionalismo cego e supremacia da raça ariana. Nazistas são eugenistas.
O problema não está apenas em sua aplicação, mas na ideologia em si, fomentadora do ódio e da discriminação.
Por essas e outras que o nazismo é criminalizado na maioria dos países.
Ninguém quer ver a reedição do que Hitler tentou impor ao mundo. 
Quero deixar claro que não sou comunista, tanto quanto Deus não é cristão.
Prefiro identificar-me como um seguidor de Jesus buscando discernir os tempos, adequando-me àquilo que faça jus aos Seus ensinamentos.
Como disse Paulo, examinando tudo, mas retendo o que é bom.
No comunismo, deparei-me com a utopia.
No nazismo só encontrei pesadelo.

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