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O Dia Internacional da Mulher não é uma espécie de Natal.
Não é uma data de aniversário.
Não é nada assim que caiba um "feliz dia da mulher".
É o que acho.
É um dia em memória de uma luta que não tem fim.
É um dia para fortalecer essa luta.
E enquanto homens,
é um dia de nos juntarmos a essa luta.
Só existe racismo porque existem os brancos.
Só existe intolerância religiosa porque existem as três grandes religiões monoteístas.
Só existe machismo porque nós, homens, existimos.
Somos feminicidas potenciais.
Somos machistas potenciais.
Sem um MEA CULPA de nossa parte, nada muda.
Parabenizar mulheres pelo DIA INTERNACIONAL DA MULHER não reduz os números da violência doméstica, nem os casos de feminicídio, nem de estupros e de estupros maritais.
É preciso nos reeducarmos e educarmos nossos meninos.
É preciso tratarmos bem nossas mulheres e nossas meninas para que nossos meninos vejam e copiem.
O oito de março não precisa ser um dia diferente se há amor e respeito todos os outros dias do cano.
É um dia para lembrar, para repensar, para rever conceitos e práticas.
Eu sinto vergonha, enquanto homem, de botar um "feliz dia da mulher",
nas minhas redes, vivendo num país com tanta violência doméstica contra a mulher, com tanto feminicídio; vivendo num estado em que as cidades de Duque de Caxias, Belford Roxo e Nova Iguaçu formam uma espécie de tríplice aliança contra as mulheres, liderando o ranking da violência contra a mulher; Cabo Frio que lidera o ranking de violência contra a mulher em toda a Região dos Lagos; Tamoios que puxa o município para essa posição macabra.
Sinto vergonha.
Prefiro declarar para todas as mulheres que estamos juntos nessa luta.
Prefiro usar o meu lugar de voz para convidar outros homens a refletirem sobre seus comportamentos,
sobre a educação de suas meninas e de seus meninos.
Eu morei numa mulher por nove meses.
E ela me acolheu dentro e me acolheu quando saí.
Qualquer crime, maldade, machismo, violação que eu faça com qualquer mulher, estarei fazendo com ela também.
0 oito de março não é para lembrar uma festinha entre amigas, mas sim uma luta de mulheres operárias norte-americanas e europeias que não aceitavam mais jornadas diárias de até 16 horas de trabalho em fábricas e com salários menores que os homens; é para lembrar um dia de retaliação dos patrões;
um dia de mortes.
Não se diz para um judeu "feliz dia do holocausto".
A data serve para lembrar uma desgraça que não pode ser repetida, embora os próprios judeus o façam com os palestinos, respeitadas as proporções.
Da mesma forma não deveria se desejar um "feliz dia da morte de umas ancestrais suas", de umas companheiras suas de décadas atrás.
Romantizamos o Dia da Mulher.
Somos bons nisso.
A romantização também é uma forma de controle, de domínio.
São tantos maridos românticos e carinhosos que até ficam com o cartão de débito da amada esposa para ela não ter que se preocupar com essas bobagens.
Vivo num país que registra um caso de feminicídio a cada 7 horas e um estupro a cada dez minutos e que pelo menos 45% dos casos de violência contra a mulher não são denunciados por não confiarem na policia ou na justiça,
por medo de retaliação do agressor que poderá sair livremente do B.O.
Enfim, parabéns a todas as meninas e mulheres pela RESISTÊNCIA.