quinta-feira, 17 de junho de 2021

Poema sobre o conhecimento, ignorância e mistério

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Alguns pássaros estão presos desde o nascimento, não conhecem o voo livre e vivem cantando alegremente.
Outros foram encontrados machucados, e o passarinheiro oportunista os colocou na gaiola.
Outros foram atraídos para a armadilha em busca de fartura e abundância.
Na gaiola, eles passam por adaptações e adestramento.
No início é difícil, mas com o tempo todos acabam se acostumando com a gaiola. Os pássaros passam a se sentir seguros ali, enxergando o imenso céu como um perigo e os pássaros livres como perdidos e desprotegidos.
Depois de adaptados, todos os pássaros da gaiola acabam cantando alegremente, satisfazendo o passarinheiro orgulhoso de ter muitos pássaros cantadores em seu domínio que, quanto mais cantam, mais atraem novos membros para a gaiola, dando cada vez mais visibilidade e prestígio ao passarinheiro. 
Por vezes, um ou outro pássaro, instintivamente, rejeita o aperto da gaiola, então, na primeira chance ele foge,
e por não saber viver livre, acaba entrando em outra gaiola, as vezes mais espaçosa e liberal, um viveiro, onde consegue fazer alguns voos curtos. Então, se sente realizado e satisfeito. Alguns param por aí, outros conseguem, enfim, perder o medo do céu, e se libertam de vez, de quaisquer gaiola, passam a viver livres, e alimentados em lugares seguros, sendo expostos às demandas, desafios e dinâmicas da vida, adquirindo reflexo para fugir do predador, e sabendo onde não deve pisar. 
Gaiola apertada ou espaçosa, tradicional ou liberal, não deixa de ser gaiola.
Da gaiola ao viveiro, a liberdade é uma ilusão.

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