domingo, 12 de fevereiro de 2023

O próximo dos oprimidos

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O próprio Jesus não lia o Antigo Testamento com literalidade.
Lucas 10:26. Inquirido por um religioso que estudava a Bíblia hebraica sobre como “herdar a vida eterna”, Jesus responde:
“O que está escrito na lei?.
COMO INTERPRETAS?”.
Não basta saber o que está escrito,
é preciso identificar a forma como a leitura é feita, qual é a abordagem e o processo interpretativo.
Só essa pressuposição já derruba a barreira do “está escrito” como argumento de autoridade.
Em nome do “está escrito”,
muitos textos são retirados do seu contexto e utilizados como pretexto para o controle de comportamentos e reprodução de diversos mecanismos de opressão.
“O literalismo bíblico tem cheiro de violência”.
Na sequência do diálogo com o Doutor da lei, Jesus elogia a “interpretação” que aquele homem faz do texto.
Mas o Doutor da Lei quer saber agora “quem é digno do seu amor”.
Então Jesus conta uma parábola.
Parábolas são histórias, é aquilo que o mineiro chama de “causo”.
Um causo não é a realidade,
mas aponta para a realidade.
E na história que Jesus conta,
ele desmonta a regra de fé e prática religiosa.
No causo de Jesus, um homem foi assaltado e espancado.
Então passa um sacerdote (um religioso do templo) “longe” do ferido.
Na sequência Jesus diz que passa um levita (auxiliar do serviço religioso no templo) “longe” também.
Então Jesus diz que aparece um samaritano, considerado pária a um judeu.
Talvez aí, o Doutor da Lei estivesse pensando. “Se dois judeus passaram ‘longe’, o samaritano vai terminar de matar o homem”.
Então Jesus diz que o samaritano “se aproxima” do ferido.
A pergunta do religioso foi: “Quem é o MEU próximo?”.
A resposta de Jesus foi “O Samaritano se fez próximo”.
Para Jesus, quem tem de se aproximar é quem formou a consciência do amor.
Não adianta saber a Bíblia e apontar textos prontos sem vivenciá-la.
Por isso, Jesus conclui para o religioso que citava textos:
Vai, tu, e fazes o mesmo.
Ou seja: imita o pagão da história. 
Porque, para Jesus, de nada vale acertar na interpretação do texto e ter uma “fé correta”  de acordo com "manual de fé e prática" e errar na interpretação da vida, sem se tornar o “próximo” dos oprimidos.

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