segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Somos os coveiros da nossa própria vida

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Hoje meu poema não é para os que são finados,
mas é para os que vivem com a alma abortada.
Sim, são os mortos-vivos dos tempos atuais.
São estes que estão no nosso meio.
Por isso, eu desejo um feliz dia de finados para você que é tão frio quanto a inocência de um cadáver.
É você que deixa as suas flores para serem entregue somente no dia de finados.
É você que só reunir-se em volta de um caixão, e nunca em uma mesa para almoçar em dias neutros.
É você que chora, é você que homenagea aquele indivíduo que nunca lhe ouviu dizer: " Eu te amo".
É você que procura aquele ou aquela pessoa em caixões fechados e soterrados não somente por terra, más pelo coração ausente de sentimento.
É você que expressa sentimentos sinceros ou não sinceros pro aquele que já se foi.
É você que não só enterra o corpo de outrem, como enterra o vossos corações.
As pessoas infelizmente só conseguem expressa sentimentos em que já se foi, e nunca naquele que ainda estar presente.
Por isso devemos também comemorar o dia dos mortos-vivos.
Talvez consolidamos esse dia em que seremos desumanos e negacionistas.
No dia em que seremos uma aberração ou uma espécie em extinção.
Pois somos os coveiros da nossa vida e dos nossos entes mais queridos.
É o dia da nossa própria mortificação.
É o dia da nossa falta de humanização.
É o dia em que os mortos enterram os seus mortos.
Portanto, vamos nos abraçar, vamos dar flores, vamos chorar, vamos encontrar aquele ou aquela pessoa em que amamos urgentemente, pois todos têm, outrossim, direito à valorização.
Tudo isso precisa ser feito hoje, enquanto estivermos vivos; si é que estamos ainda.
Senão tudo isso se fará em um lugar aonde ninguém quer ficar, aonde ninguém se imagina que um dia vai estar.
No entanto, não procurem por alguém nos campos-santos,
aonde nem chegaram a estar.
Pois lá, só foram largados os despojos que nos serviram de invólucros,
por um tempo predeterminado do primeiro ao último respirar.
Procurem em suas lembranças;
É lá que querem estar, até que tu mesmo, de ti não te lembres mais.
Pois tudo passar e tudo passara como o frio de inverno.
E no final de tudo, aqueles  ou aquelas que amamos nunca morrem,
apenas partem antes de nós.

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