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Brasil não tem beijos nem abraços, não tem risos nem esplanadas, não tem passos, nem raparigas e rapazes de mãos dadas.
Tem praças cheias de ninguém, ainda tem sol mas não tem nem gaivota de Amália nem canoa.
Sem restaurantes, sem bares, nem cinemas ainda é fado ainda é poemas fechada dentro de si mesma ainda é Brasil.
Cidade aberta, ainda é Brasil de Pessoa alegre e triste e em cada rua deserta, ainda resiste.
Mas ainda é Brasil, mesmo na doença, mesmo doente pelo coronavírus ou pela ignorância, pela corrupção de cada dia.
Há doenças que são mais que doenças,
que não apenas são à vida intensas
como oferecem algumas recompensas que tornam mais urgente e mais difícil já por vezes inviável ofício de habitar o íngreme edifício, do não-se-estar-conforme-se-devia
e administrar a frágil fantasia
de que se é o que ninguém seria.
Se não tivesse (insistentemente)
de convencer-se a si (e a toda gente)
que não se está (mesmo estando) doente.
Esta ausência não foi por nós pedida, este silêncio não é da nossa lavra, já nem Pessoa conversa com Pessoa, com o feitiço sempre imenso da palavra.
Este tempo só é o nosso tempo, porque é nossa a dor que nos sufoca e faz de cada dia a ferida entreaberta
do assombro que esquivando-se nos toca.
Esta ausência é dos netos, dos filhos, dos avós, é a casa alquebrada pelo medo, é a febre a arder na nossa voz por saber que o mal a magoa em segredo.
Este silêncio é um sussurro tão antigo que mata como a peste já matava;
vem de longe sem nada ter de amigo com a mesma angústia que nos castigava.
Esta ausência é uma pátria revoltada que se fecha em casa sempre à espera que a febre não a vença nem lhe roube a luz mansa que lhe traz a Primavera.
Esta casa somos nós de sentinela, à espera que a rua de novo nos console e que festeje debruçada à janela
a alegria que só nasce com o sol.
Esta ausência mais tarde há-de ter fim, por nada lhe faltar nem inocência;
que se escute o desejo de saúde anunciando que vai pôr fim à inclemência.
Que se abram as portas e as janelas, que o medo, derrotado, parta sem destino por ser esse o sonho colorido que ilumina o riso de um menino."
Brasil não tem beijos nem abraços, não tem risos nem esplanadas, não tem passos, nem raparigas e rapazes de mãos dadas.
Tem praças cheias de ninguém, ainda tem sol mas não tem nem gaivota de Amália nem canoa.
Sem restaurantes, sem bares, nem cinemas ainda é fado ainda é poemas fechada dentro de si mesma ainda é Brasil.
Cidade aberta, ainda é Brasil de Pessoa alegre e triste e em cada rua deserta, ainda resiste.
Mas ainda é Brasil, mesmo na doença, mesmo doente pelo coronavírus ou pela ignorância, pela corrupção de cada dia.
Há doenças que são mais que doenças,
que não apenas são à vida intensas
como oferecem algumas recompensas que tornam mais urgente e mais difícil já por vezes inviável ofício de habitar o íngreme edifício, do não-se-estar-conforme-se-devia
e administrar a frágil fantasia
de que se é o que ninguém seria.
Se não tivesse (insistentemente)
de convencer-se a si (e a toda gente)
que não se está (mesmo estando) doente.
Esta ausência não foi por nós pedida, este silêncio não é da nossa lavra, já nem Pessoa conversa com Pessoa, com o feitiço sempre imenso da palavra.
Este tempo só é o nosso tempo, porque é nossa a dor que nos sufoca e faz de cada dia a ferida entreaberta
do assombro que esquivando-se nos toca.
Esta ausência é dos netos, dos filhos, dos avós, é a casa alquebrada pelo medo, é a febre a arder na nossa voz por saber que o mal a magoa em segredo.
Este silêncio é um sussurro tão antigo que mata como a peste já matava;
vem de longe sem nada ter de amigo com a mesma angústia que nos castigava.
Esta ausência é uma pátria revoltada que se fecha em casa sempre à espera que a febre não a vença nem lhe roube a luz mansa que lhe traz a Primavera.
Esta casa somos nós de sentinela, à espera que a rua de novo nos console e que festeje debruçada à janela
a alegria que só nasce com o sol.
Esta ausência mais tarde há-de ter fim, por nada lhe faltar nem inocência;
que se escute o desejo de saúde anunciando que vai pôr fim à inclemência.
Que se abram as portas e as janelas, que o medo, derrotado, parta sem destino por ser esse o sonho colorido que ilumina o riso de um menino."