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Eu sei que não podemos controlar as chuvas.
Mas podemos desmatar menos.
Não podemos controlar as forças dos ventos, as tempestades.
Mas o poder público pode controlar e coibir construções nas encostas.
Eu fui uma criança, adolescente e na minha forma infantosa de ver o mundo, eu não concebia enchente em Petrópolis.
Achava que a cidade enchendo, o aguaceiro desceria serra abaixo e alagaria Raiz da Serra (Vila Inhomirim) e Xerém.
Quando vi aquele rio emparedado cruzando o centro da cidade, tive certeza da minha teoria.
As águas cairiam ali e desceriam.
Estaríamos perdidos lá embaixo,
mas Petrópolis seguiria de boas.
Precisei crescer para entender que não é bem assim.
Petrópolis cresceu, como tantas outras cidades brasileiras, de forma desordenada e perigosa.
O senhor Rubens Bontempo, que governa a cidade atualmente, já esteve à frente do governo local diversas outras vezes: de 2001 a 2008, de 2011 a 2013 e agora de novo.
Agora aparece choroso, falando em soluções, em prevenções.
Poderia ter evitado boa parte da tragédia de ontem.
Conheço bem o Alto da Serra.
É o bairro de chegada de quem vem de Piabetá/Fragoso/Vila Inhomirim.
Não tenho provas, mas tenho muita convicção de que vereadores da cidade estão envolvidos em facilitações para construções em encostas.
Na Serra Velha encontramos uma construção nova em área de preservação.
Há casas em que se o indivíduo distraído, abrir a porta de trás, despenca lá em Magé.
O próprio sr. Bontempo deve ter feito vistas grossas para muitas construções irregulares.
Agora vai para a TV falar em falta de condições federais para que as pessoas tenham moradias dignas. Que descoberta do sr. prefeito de Petrópolis.
Mas isso não o isenta de permitir construções em locais inadequados ou de deixar o canal que corta a cidade assoreado.
Isso não isenta o atual prefeito de sempre de culpa.
Eu nem sei se o seu Bontempo mora na cidade.
Tem prefeito da Baixada que mora na Barra.
É claro que poucas cidades brasileiras estão prontas para todo aquele volume de chuva em tão pouco tempo.
É claro que as vítimas nunca podem ser culpadas.
Mas existe uma boa parcela de crime em Petrópolis, por ação e por omissão de governos e parlamentares.
Isso sem falar na elite petropolitana do atraso que odeia os pobres e pretos que encheram a cidade nas últimas décadas.
Para resolver esse "problema", até elegeram o deputado quebrador de placas de Marielle.
Agora, a desgraceira atinge a classe média, a elite e principalmente os mais empobrecidos que foram construindo onde havia uma brecha entre morros e pedras que nitidamente poderiam deslizar a qualquer momento, com anuência da prefeitura.
O custo para recuperar a cidade serão infinitamente mais altos que os custos de uma prevenção que não foi feita.
A questão é que obras preventivas exigem licitação.
Obras emergenciais não precisam.
Empresas podem ser contratadas a qualquer preço nessas emergências.
E se a empresa é do amigo, da família, por que prevenir, correndo o risco de perder a licitação se ela não for de cartinhas marcadinhas?.
Estou sentindo dores de Petrópolis.
Muitas.
Mas também estou com raiva de Bontempos e Mautempos que governam a cidade há anos com pouca preocupação ambiental e preventiva; com raiva da elite raivosa que elege deputado truculento antipovo, antipobre, antipreto.
Por hora,
a dor,
o luto,
o acolhimento.
As tempestades acontecem mesmo.
Mas quando são alimentadas pelo poder público, elas se agravam.
As casas da elite raramente são atingidas.
Os pobres precisam entender que só têm uns aos outros.
As casas dos ricos são sempre muito bem estruturadas, mesmo aquelas construídas em áreas de preservação que oferecem algum risco.
Tem estudos, arquitetos, engenheiros.
As casas dos pobres são projetadas por eles próprios e o único profissional contratado é um pedreiro.
Tempestades não respeitam classe social.
Todos perdem.
Uns poucos ganham.
Mas somente os empobrecidos perdem TUDO.
O presidente não poderá sobrevoar a cidade.
Está ocupado negociando venenos com os comunistas russos,
enquanto apoiadores pensa que foi negociar a paz mundial.
Sinto dores de Petrópolis e dores de Brasil.