sexta-feira, 26 de junho de 2020

Os hipócritas do novo século

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Muitas vezes obramos bem por vaidade,
e também por vaidade obramos mal.
Muitas vezes damos esmola, tocamos a trombeta diante de nós, como faziam os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens.
Muitas vezes fazemos algo para o nosso semelhante pro pura vaidade.
O objecto da vaidade é que uma ação se faça atender, e admirar, seja pelo motivo, ou razão que for.
Tudo que se fizeram e ainda fazem, é pelo reconhecimento dos demais.
Todos querem um aplauso, uma veneração, todos querem serem dignos de louvor, porque também há cousas grandes pela sua execração; é o que basta para a vaidade as seguir, e aprovar.
Ninguém, absolutamente ninguém, lembra que o Maior sábio nos ensinou que: Quando der-se esmola, que a nossa mão esquerda não saiba o que faz a nossa mão direita, de modo que a nossa esmola fique oculta.
Todos querem aparecerem, todos querem uma fama com as desgraças alheias.
Todos querem praticar boas obras sem segredos, sem o íntimo do coração.
Todos querem cooperarem para aqueles que amam o seu Eu.
Visto que vivemos na época da publicidade,
da propaganda, onde tudo aquilo que as pessoas fazem têm de ser mostrado num cartaz e ser proclamado em alto e bom tom.
Antigamente, os vaidosos faziam-se de tudo para chamar atenção.
Hoje os vaidosos se atualizaram com forme a tecnologia.
Todos hoje, postam nas suas redes sociais, uma geladeira com apenas água e gelo, uma dispensa vazia.
Todos filmam, tiram fotos, selfies, compartilham, curtem, comentam deixam seus links não pela pobreza daquele indivíduo, mas pela vaidade daquele hipócrita do novo século.
Às vezes, uma pessoa, um banco ou uma instituição, propõe-se a ajudar pessoas, mas quer que se faça uma placa dizendo que é aquele banco ou instituição que está ajudando.
Há aqueles que dão cestas básicas, que dão roupas, calçados, e querem curtidas no seu Facebook, querem seguidores no seu twitter, etc.
Mas também há aqueles praticam todas as obras com esmero e esforço, com amor e dedicação; dar pão a quem tem fome, abrigo a quem não tem onde ficar, visita aos doentes que estão nos hospitais, dar atenção a quem está preso, dar enterro a quem precisa ser enterrado, ajuda a quem está sofrendo. Fazem tudo isso, mas sem precisar de propaganda e publicidade.
É muito triste conversar com pessoas que gostam de contar vantagens, porque tudo o que faz quer propagar para todos saberem.
Uma coisa é darmos testemunho, dizer o quanto foi bom nosso esforço; outra coisa é quando alguém quer chamar atenção sobre si.
Não precisamos fazer publicidade de nada que fazemos para o próximo, nem da esmola nem da oração, muito menos do jejum ou das obras de penitências que praticamos.
Quanto mais afastamos o interior do nosso coração para Deus, mais frutuosa é a obra; quanto mais generosidade aplicamos naquilo que fazemos, menos precisamos propagar, porque fazemos com amor, dedicação, e o bem nos faz bem!.
Mesmo que o outro não reconheça, mesmo que ao fazer o bem o outro retribua com o mal, o importante é saber que precisamos ser bondosos e melhores.
A maior parte das empresas memoráveis, não tiveram a virtude por origem, o vício sim; e nem por isso deixaram de atrair o espanto, e admiração dos homens.
A fama não se compõe apenas do que é justo, e o raio não só se faz atendível pela luz, mas pelo estrago.
A vaidade apetece o estrondoso, sem entrar na discussão da qualidade do estrondo: faz-nos obrar mal, se desse mal pode resultar um nome, um reparo, uma memória.
Esta vida é um teatro, todos queremos representar nele o melhor papel, ou ao menos um papel importante, ou em bem, ou em mal.
A vaidade tem certas regras, uma delas é, que a singularidade não só se adquire pelo bem, mas também pelo mal, não só pelo caminho da virtude, mas também pelo da culpa; não só pela verdade, mas também pelo engano: quantos homens tem havido a quem parece que de algum modo enobreceu a sua iniquidade!.

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