.
A graça pressupõe nossa total inabilidade de alcançar a perfeição.
Não há como abraçar a graciosa disposição divina em nos receber como filhos sem que admitamos quão frágeis e errantes somos.
A graça só basta para quem não se basta.
A graça só banca quem reconhece sua bancarrota.
A graça só cobre quem não encobre de ninguém a sua humanidade.
A graça só encontra liga em nossa fraqueza.
Enquanto insistirmos numa espiritualidade performática,
não experimentaremos o real sentido da Graça.
Enquanto não nos dispusermos a estendê-la aos demais, sem “poréns”, nem cláusulas ocultas,
não a conheceremos em sua radicalidade e visceralidade.
Graça que é graça não recorre a expedientes moralistas.
Graça que é graça não sabota a existência de ninguém.
Mesmo quando o que julgávamos que fossem nossos mais louváveis acertos se revelam como nossos mais trágicos erros, a graça não nos abandona.
Apesar de não nos remover os espinhos alojados em nossa carne, a graça nos capacita a suporta-los com resiliência.
Sem a graça nossa existência seria insuportável.