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Eu não acredito em um evangelho que reata o relacionamento entre Deus e o homem, mas não promove relações sociais justas, simétricas e equitativas.
As hastes da Cruz apontam para o fato de que Deus tenha o propósito de promover a reconciliação tanto entre a Divindade e a humanidade quanto entre todos os homens, desfazendo as distinções que os segregam.
Se Seu propósito fosse apenas reconciliar-se com os homens, Cristo teria morrido em um poste, não numa cruz.
Eu não acredito que Deus só pertence aos evangélicos, e que para ser d'Ele precisa se tornar evangélico.
Até quando essas pessoas não vão entender que Deus não é evangélico.
Eu não me intitulo evangélico, cristão ou crente, eu me esforço para ser discípulo amando, respeitando, convivendo, praticando, perdoando, relevando, aprendendo, reaprendendo a ser discípulo d'Ele.
Cristo não morreu enforcado, o que pode indicar que a espiritualidade proposta no Evangelho não é asfixiante, como a que temos visto promovida por alguns segmentos cristãos.
Ele não morreu decapitado, o que parece indicar que Sua proposta não inclui privar-nos da razão.
Não se trata de um suicídio intelectual.
Ninguém deve perder a cabeça por abraçar o Evangelho.
Pelo contrário, a genuína espiritualidade cristã reconcilia a cabeça e o coração,
a razão e as emoções, apaziguando o ser.
Eu não acredito em um evangelho que nos livra do inferno, mas que, ao invés de nos tornar agentes pacificadores, equipa-nos de argumentos que só servem para infernizar a vida dos outros.
Eu não acredito em um evangelho que não produza transformações sociais profundas, de modo que passemos a enxergar a todos à nossa volta, como seres humanos feitos à imagem e semelhança de Deus, e que, portanto, devem ser respeitados em suas escolhas.
Eu não acredito que sendo de uma denominação me tornará superior, me tornará melhor, me tornará perfeito aos demais aqueles que estão desigrejados.
Eu não acredito em um evangelho que só enxerga a graça como um meio de chegar-nos a Deus, mas sonega esta mesma graça para amedrontar o abismo que nos separa uns dos outros, fomentando preconceitos e estimulando a segregação.
Eu acredito sim, que precisamos fazer o que for de justiça e equidade para os nossos semelhantes, sabendo que também tendes um Senhor nos céus.
Eu acredito sim, que precisamos andar com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo para que às nossas palavras seja sempre agradável, temperada com sal, para que possamos saber responder a cada um.
Eu acredito sim, no Evangelho puro e simples que ensinou-me que eu não preciso de povo, eu preciso de gente.