domingo, 17 de julho de 2022

Poema sobre a justiça social

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A palavra “justiça” foi perdendo o significado ao longo da história,
mas no hebraico Justiça significa cuidar dos vulneráveis.
Quando as palavras “tzadeqah” e “mishpat” aparecem entrelaçadas na Bíblia, como acontece quase 40 vezes, nossa expressão que mais se aproxima do significado original é “justiça social”. 
Hoje, o que entendemos por justiça é mais ou menos isso: eu trabalho,
eu ganho meu dinheiro,
é justo eu gastá-lo todo para mim mesmo, se eu quiser.
Compartilhar meu dinheiro com os que precisam é opcional e não se trata de “praticar justiça”.
Errado!.
“Justiça”, segundo a Bíblia,
é você dividir com o necessitado, garantir-lhe os direitos básicos,
tanto em atos de caridade particulares, quanto em ativismo social. 
O caráter básico de um verdadeiro cristão é ter sede de Justiça e praticá-la.
Deixar de praticar a justiça bíblica é o mesmo que praticar a injustiça.
Para o cidadão comum,
é injusto eu trabalhar e ter que dividir com os outros.
Para a justiça bíblica, não dividir é que é injusto, pois nossa boa condição financeira juntamente com a péssima condição de outros se dá, não somente pelo nosso trabalho e capacidade de produzir,
nem somente pela incapacidade do outro, mas principalmente por causa de um sistema mundial injusto que favorece a desigualdade social.
Se somos bem sucedidos,
isso não se deve unicamente ao nosso mérito, mas também a esse sistema injusto.
Em outras palavras, se você é rico, não é totalmente por mérito seu,
mas porque o sistema lhe proporcionou, direta ou indiretamente,isso.
E o sistema faz isso as custas dos pobres, sempre.
Ou seja, a desigualdade social,
a existência de ricos e pobres,
é efeito da injustiça que opera no mundo, sendo obrigação cristã praticarmos a Justiça Reparadora.
O que é meu, não é somente meu, mas foi tirado, direta ou indiretamente dos mais vulneráveis.
Jó, no capítulo 31, fala sobre todas as coisas que fez para viver de modo justo e reto.
Ele afirma que toda a omissão em ajudar o pobre é pecado,
uma ofensa à Deus (v23).
Ele afirma ainda que seria pecado contra Deus achar que suas riquezas lhe pertenciam totalmente.
Não compartilhar o pão e seus bens com o pobre seria injusto,
pecado contra Deus e sua justiça. 
Já Ezequiel diz que “Se um homem for justo e agir com retidão e justiça, e não roubar, mas repartir o pão com o faminto e vestir o que não tem roupas; não emprestar a juros e não receber mais do que emprestou...” (Ez 18.5,7,8a). 
Esse homem justo não usa sua posição econômica para explorar as pessoas que estão em desvantagem financeira.
É interessante notar como o texto coloca “não roubar” lado à lado com repartir o pão e dar roupa aos pobres.
Ou seja, se não compartilhamos ativamente os nossos recursos que não são totalmente nossos com os pobres, somos ladrões.
Quando Jesus disse “não convidem seus amigos para jantar, mas convide os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos”, não deveria ser entendido literalmente.
Ele está dizendo  que devemos gastar muito mais dinheiro e bens com os mais vulneráveis do que com nosso próprio conforto e divertimento.
Pois Jesus é a revelação do Deus de Jó e Ezequiel, que diz: “Ide e contai a João as coisas que ouves e vedes;
os cegos veem, e os paralíticos andam; os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho (Mt 11.4,5).”
Lembra do jovem rico?.
Pois é, o jovem rico recebeu diretamente de Cristo o convite para ser participante de seu corpo.
Jesus pediu-lhe três coisas,
que na verdade são uma só,
ou uma não existe sem a outra: 
1: “vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres”
2: “tome sua cruz”
3: “e siga-me”
Ser participante do corpo de Cristo é sentir as dores do corpo mutilado de Jesus, que veio para os pobres e oprimidos. 
Quando o jovem rico rejeita a causa do pobre, ele rejeita o próprio corpo de Cristo que é composto pelos cansados e sobrecarregados de injustiça.
Sim, Jesus se materializa nos pobres, marginalizados e excluídos da sociedade: “quando fizestes a um desses pequeninos, a mim fizestes”.
Em Atos, o dom do Espírito é dado e resulta em “koinonia” (palavra grega geralmente traduzida por “comunhão”).
Seu significado é revelado aqui: “todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.
Vendiam suas propriedades e bens,
e os repartiam com todos, segundo a necessidade de cada um”.
Nossa primeira responsabilidade é com a família e os parentes (1Tm 5.8 ), e a segunda é com os que professam da mesma fé (Gl 6.10).
No entanto, mostra-se equilíbrio quando Paulo afirma: “Assim, enquanto temos oportunidade (condições financeiras), façamos o bem a todos, principalmente aos da família da fé”.
Ajudar “a todos” não é opcional,
é mandamento.
Isso fica ainda mais evidente na parábola do bom samaritano.
Jesus explicou que amar significa envolver-se de maneira sacrificial com os vulneráveis, assim como o samaritano arriscou sua vida quando parou na estrada.
Objeções dos espertalhões: “todos os pobres que conheço, amigos e familiares, têm até TV.
Ninguém está morrendo de fome!” 
Se esse for o caso, você lembra do mandamento de amar o próximo como a você mesmo?.
Nós não esperamos até chegar ao extremo para resolver nossos próprios problemas, então por que esperar até que o próximo esteja morrendo de fome para ajudá-lo?.
Então “Ame o próximo como a você mesmo”.
Seja cristão que tem sede de justiça.
E o principal: não olhe para os méritos e deméritos do outro antes de ajudar, pois sem merecermos, Jesus fez por nós o que ninguém jamais faria.

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