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Deus, hoje, nem sei porquê,
senti que deveria meditar no significado do grito.
“Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste”?.
Senti que esse grito vaza dos olhos de quem, esmagado pelo sistema, não tem como falar.
Notei que esse grito pode ser visto nos pés feridos de quem não tem onde pousá-los.
Sei que esse grito se esparrama como chuva ácida e faz mães cuspirem um lamento corrosivo quando enterram seus filhos, assassinados sem necessidade.
Deus, ajuda-nos a viver nossa vida inteira sabendo que o grito pontual de Jesus que se viu sozinho também é nosso.
Mas ajuda-nos a entender a ausência como essencial para nosso crescimento.
Tu te retiras por amor, como a águia que sai do ninho para que os pintassilgos voem.
Ajuda-nos a voar.
Dá-nos a compreensão de que tu te retiras para que haja espaço para crescermos.