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A religião se atém as rotinas, o Evangelho se preocupa com as pessoas.
A religião modifica rotinas, o Evangelho modifica pessoas.
A religião cria as liturgias, os padrões comportamentais, os serviços meritórios, enquanto o Evangelho olha para o indivíduo, para seus dramas, para a culpa que lhe corrói e para tudo aquilo que sufoca a vida.
É em Jesus que esse tipo de espiritualidade pode ser melhor compreendida, na forma como ele olhava para o humano, para os abandonados,
os ocos existenciais,
os nocivos,
os deixados a margem.
Em Jesus, Deus se aproxima da realidade do indivíduo, deixa o altar vazio das catedrais, o lugar de honra nas procissões e adentra na rotina, no cotidiano.
Foi assim que ele percebeu a fé de uma viúva em meio a multidão no átrio do Templo, na solidão da sua alma ela depositava as duas moedas que tinha como oferta no gazofilácio.
Doutra feita, em meio à multidão, ele sentiu o toque de uma mulher que há 15 anos sofria com uma hemorragia que não estancava, discerniu suas dores, medos, o trauma de ser considerada impura por conta do conjunto de práticas religiosas.
Também em meio a multidão, ouviu a voz do Cego de Jericó, que estava à beira do caminho, um ambulante invisível, julgado pelas doutrinas de Israel um pecador imperdoável.
Foi ainda em meio a multidão que pediu que um grupo de crianças pudesse se aproximar dele, quebrando o protocolo elitista rabínico que não considerava a existência de crianças e mulheres como algo singular.
Foi quebrando paradigmas, foi quebrando protocolos, foi fazer parte de banquete com prostitutas e publicanos do que andar com fariseus moralistas, que tocava em leprosos ,que passa horas conversando com uma mulher samaritana e que inaugurou o Paraíso com um ladrão.
Isso é mais do que Suficiente para a Religião considerá-Lo insuportável.
Você pode ir a todas as missas, participar de vigílias de oração, ler frequentemente sua bíblia, ser alguém devotado a jejuns e dar, fielmente, o seu dízimo, mas se sua espiritualidade não se projeta na direção do outro, se ela não deixa o templo para ir para as ruas, se não abandona os ritos e quebra os mitos para adentrar na existência real, onde as pessoas vivem, não serve para nada além de anestesiar sua consciência.
O Deus em quem creio me chama a olhar a minúcia, o detalhe, as coisas simples, pequenas, sem aparente importância,
o Deus em quem creio é capaz de ouvir o seu sussurro e vê a sua lágrima no escuro do quarto, ele te ama e me levou hoje a escrever isso para você.
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