segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

.A cultura do estupro

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A violência é estrutural entre nós. É praticada por homens, mulheres, heterossexuais, bissexuais, homossexuais, assexuados e outros. Existe entre religiosos e ateus, países cristãos e islâmicos, sociedades tribais e urbanizadas. Mas precisamos falar de uma , em particular: a cultura do estupro.
Não se trata pois, de explicar um indivíduo ou um ato, mas de formas que naturalizam a agressão.
O fato do caso recente envolver mais de 30 homens e do estupro ser crime frequente , demonstra que não estamos falando de apenas um desequilibrado, mas de uma cultura. Meninos são estimulados resolverem problemas pela violência e meninas pela delicadeza e submissão, homem não choram, não apanham calados. Resolver pela força inspira respeito e o modelo macho que pode ser até criticado por alguns, mas é muito admirado.
Que alguns pais achem um menino violento um mal menor do que o “risco” de um possível filho gay, mostra o grau de doença ao qual estamos submetidos, uma “peste moral”.Um determinado deputado diz a uma deputada que só não a estupra porque ela não mereceria.
Não me interessa aqui , neste momento, a identificação.
A questão central é que , na boca do deputado, o estupro seria um prêmio, talvez algo desejável, algo que devesse ser concedido a mulheres merecedoras.
Como é possível chegar a uma asneira deste porte? Somente através de uma cultura do estupro que ignore a vontade feminina e estabeleça , em cabeças doentias, que o sexo forçado seja um desejo dormente do feminino.
É a isto que me refiro quando falo em cultura do estupro.
Uma determinada tradição religiosa e social que coloca na vítima a culpa.
É um pensamento perverso que tenta demonstrar que a saia curta ou a bebida foram a responsáveis pelo ato.
Não há como comentar este imbecilidade.
Pois saias não estupram, biquínis não estupram: homens estupram. Cultura não é algo positivo ou negativo. Alguns disseram que não era uma cultura, mas barbárie.
Há cultura da violência, há cultura do racismo, há cultura do estupro. Cultura pode ser definida de muitas formas, mas, neste caso, é um conjunto de ideias e práticas que produzem determinados fatos, explicam estes fatos e justificam estes fatos.
Cultura pode ser de morte também.
Ao dizer cultura, sociologizamos o problema. Perguntam se todo homem é um estuprador em potencial.
Como toda mulher é uma assassina em potencial e todos somos tudo em potencial, para o bem e para o mal. Cabe à educação e à coerção conduzir a maioria absoluta para o universo do respeito e da igualdade e da não-violência.
Isto é civilização no seu estado ideal humanista: aquilo que mantém nossos monstros no escuro.Estupro não é fato associado a traficantes.
Há médicos bem formados que estupram pacientes no consultório e padres com duas faculdades e formação em ética que estupram meninos. Infelizmente, tal como ocorria com o nazismo, a maldade ou a perversidade não é algo de classe baixa.
Quando falamos que um estupro é horroroso, não quer dizer que estamos apoiando o massacre de Darfour só porque não falamos dele.
Quando falo do que ocorreu no Rio, não estou apoiando massacre de armênios.
Não é possível falar de tudo sempre em todos os parágrafos.Mas, para ajudar, condeno os estupros do Rio, os de Jerusalém no ano 70 dC, os de Berlim em 1945 e os do consultório do dr. Roger Abdelmassih e TODOS os outros tipos de violência que já foram feitos no planeta.
Estupro é uma sucessão de pessoas que clamam direito sobre o corpo de uma mulher.
Faz a mulher dúvida da sua própria dor,
enquanto esse mundo todo parece adormecido ou morto
pra quem é mulher, não sobra nada de flor, ou de um mar de rosas.
Pergunte pro mundo qual teu pecado
para que mesmo sendo uma mulher democrática, intelectual e convicta
A tua vagina não seja o único troféu esperado.
Estupro que se dá numa sala, na alcova,
na família, na igreja ou num refúgio em todas as classes, campos,
terrenos baldios, flancos, formas e posições, não importam!.
TODOS precisam serem punidos severamentes

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