quarta-feira, 18 de maio de 2022

Poema sobre os armamentistas

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Existem,  pelo menos, duas formas básicas de se fazer uma leitura bíblica: "contra nós" e "a nosso favor".
Quando lemos o texto a nosso favor, isolando, descontextualizando as partes que nos interessam, encontramos respaldo para qualquer absurdo que pensemos,
que queiramos justificar.
Os escravagistas cristãos do passado e do presente, usaram a abusam da carta de Paulo a Filemon para isso.
Os escravagistas atuais são também conhecidos como "patrões".
Quando lemos o texto contra nós, vamos nos dando conta de que precisamos ajustar o nosso comportamento aqui e ali para nos enquadramos nas orientações.
Resumindo: quando lemos a nosso favor,  mudamos o texto; quando lemos contra, mudamos a nós mesmos.
É uma questão de hermenêutica.
Nas mãos dos armamentistas, qualquer referência a arma, no texto bíblico, serve de apoio para legitimar sua própria truculência.
Assim, atualizam os textos sobre armas, descontextualizados,
e colocam na conta do "isso servia apenas naquele contexto, porque era só uma ilustração" para casos como o do "bom palestino", que socorreu um judeu, deixado para morrer por tantos outros judeus.
Os armamentistas evangélicos e católicos não tomam Jesus Cristo como referência, mas sim seus discípulos, que eram homens truculentos do seu tempo em processo de transformação pelo convívio com o Mestre.
Citam por exemplo, o fato de Pedro, um pescador estressado, andar armado, e dão como referência o momento da prisão arbitrária de Jesus, em que Pedro, num momento de indignação e justiçamento corta a orelha do servo do sumo sacerdote.
Pedro andava armado com uma espada, mas a referência não pode ser Pedro.
É Jesus Cristo.
Ou somos seguidores de Pedro?.
Na sequência desse episódio,
Jesus adverte Pedro, mesmo compreendendo que aquilo foi um ato de amor a Ele, porém de ódio ao romano.
Então Jesus manda ele recolher a arma.
E bota a orelha do soldado de volta no lugar, segundo a narrativa.
Ou seja, o armamentista da cena é Pedro, que foi repreendido, e não Jesus Cristo.
O pastor Batista armamentista, intérprete da Bíblia, que postou um vídeo recente com uma arma, legitimando o uso de armas pelos cristãos atuais porque os puritanos ingleses usavam, tem como referência os puritanos ingleses e não Jesus Cristo.
Outro texto que os líderes gosta de repetir é o de Marcos 6:8.
Ocorre que ali, Jesus enviando os seus discípulos em duplas,
por estradas perigosas, ele não manda levar uma arma, mas apenas um "cajado" ou "bastão", conforme traduções e versões.
Outro texto que os armamentistas adoram citar é o de Lucas 22:36,
que não pode ser analisado sem levar em conta os versículos anteriores e o que acontece depois.
Pouco antes da prisão, Jesus está tendo uma resenha com seus discípulos.
Pedro, sempre afoito, diz que está pronto para ser preso ou morto por ele.
Cristo retoma a cena em que enviou os discípulos sem armas e sem suprimentos, apenas com um cajado, e compara aquele momento com o que está para acontecer.
E diz que diferente daquele momento, agora iriam precisar de armas para montar uma cena de forma que a profecia sobre ele fosse cumprida:
" Ele foi contado com os malfeitores."
Pois bem, aí um dos discípulos diz: eis aqui duas espadas!. E ele respondeu: Basta!.
Eles só precisavam de armas para serem caracterizados como um grupo rebelde para que se cumprisse o que de Jesus escreveram.
Jesus não queria um confronto armado.
Duas espadas contra a quantidade de soldados que iriam prendê-lo não faz o menor sentido.
Além disso, na sequência dessa cena, Pedro corta a orelha direita do servo do sumo sacerdote, e Jesus repreende.
Jesus estava usando de uma ironia absoluta, não recomendou a ninguém que venda as capas e comprem espadas para andar armados, e que os discípulos andem com guardas e seguranças.
Só quem está com a mente obliterada pode pensar de outro jeito.
Jesus sempre esteve cercado de malfeitores, de pecadores de pessoas de diferentes estranhas e morreu entre dois malfeitores.
O ódio só é quebrado pela ação do amor que cura.
Jesus andava na direção da cura,
na restauração da vida,
da compaixão,
da inclusão,
da misericórdia,
da não segregação ao contrário do agregamento,
da busca de reconciliação.
Jesus nos ensina ama o inimigo,
a orar por aquele que nos persegue,
e damos a outra face e andar muitas milhas para desarmar o espírito do ódio e da raiva.
Um dia o mundo conhecerá como diz o Apocalipse a ira do cordeiro.
E a ira do cordeiro se manifestará não com grandes ações contra os humanos.
É o entregar dos humanos a si mesmo que provoca tudo aquilo que destrói a humanidade e que constrói a ira do cordeiro.
A ira do cordeiro é a nossa salvação.
Não tem Jesus Cristo armamentista nos evangelhos.
Essa imagem não é do Jesus dos evangelhos e sim do Jesus dos evangélicos.
Jesus é descrito nos evangelhos como "manso e humilde", como um pregador da paz, como príncipe da paz.
Jesus orienta que em caso de agressão, não revidem, que disponibilizem a outra face após um tapa na outra.
Jesus não reage a prisão e nem permite que o grupo use as duas armas disponíveis.
Jesus circula entre as piores pessoas de cara limpa,
Jesus se expõe, Ele não convoca ninguém para lutar por Ele.
Jesus acalma os ânimos o tempo todo e nunca sequer pega uma arma.
É muita imoralidade pastoral querer botar as armas na conta de Jesus.
Está, porém, é a vossa hora e o poder das trevas é a vossa hora.
Que os armamentistas covardes todo armamentista só é corajoso com uma arma na mão, especialmente pastores e padres que pregam a violência armada que defendem em seus próprios nomes.
Quem haja assim está associado com o poder das trevas.
Jesus disse para não associamos a este poder essa é a hora das trevas.
No livro de João diz: " ai vem o príncipe desse mundo e ele nada tem em mim, não tem uma porção de ódio nem de violência não tem onde se agarrar em mim, não tem onde se alojar demônio em mim, instalar demônio em mim, não tem como transferir diabo para mim".
No contexto em que vivemos nesse país, pastores e padres postarem fotos com arma, darem entrevista dizendo que usam e até querem pregar armados, falarem mais de arma que de paz.
Estão matando gente sim.
E não é em nome de Jesus, que fique bem claro.
Não há elogio de Jesus a armas.
Quando alguém próximo a Ele recorreu a elas, Ele disse: Basta!.
Duas espadas bastam para que se formasse uma cruz onde a salvação se consumou.

domingo, 15 de maio de 2022

Poema sobre a verdadeira marcha para Jesus

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Não creio que Jesus pretendesse iniciar um movimento que levasse multidões às avenidas para gritarem Seu nome em coros puxados por trio-elétricos.
A genuína “marcha para Jesus” se dá sem data e hora marcadas,
sem showmício para eleger candidatos evangélicos,
sem discurso moralista,
sem disputa para desbancar outras marchas e paradas.
A verdadeira "marcha para Jesus" não acontece com data marcada,
guiada por trios elétricos,
ao som de gritos de guerra,
mas acontece todos os dias,
pelas ruas, avenidas, corredores de supermercados, shoppings,
bancos, onde gente conquistada pelo amor de Jesus são conduzidas como evidência do poder do Evangelho.
Desta marcha eu participo sem o menor recato.
A verdadeira “marcha para Jesus” é aquela  em que “levamos sempre por toda a parte o morrer do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos”.
Portanto, trata-se de algo discreto, sem alarde, sem chamar a atenção para si mesmo.
Como “sal da terra” devemos ser polvilhados no caldeirão cultural, realçando o sabor da comida,
e não chamando a atenção para nossa presença.
Parece que temos errado na mão. Estamos tornando a comida intragável de tão salgada.
Como “luz do mundo” devemos estar direcionados para fora como refletores em vez de querer atrair os holofotes para si.
Em vez disso, tornamo-nos massa de manobra de quem almeja fazer de nós capital político para ser usado em suas negociações por trás dos bastidores.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Poema sobre os perigos da riqueza

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O bilionário Elon Musk, dono da Tesla, gastou US$ 44 bilhões para comprar o Twitter.
Esse valor é seis vezes mais do que seria necessário para acabar com a fome no mundo.
Existem 45 milhões de pessoas no mundo que não têm o que comer.
Se antes da pandemia o número chegava a 27 milhões,
a situação da fome se agravou ainda mais ao longo dos últimos anos,
de acordo com o Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas.
O que deveria valer mais, uma rede social que muitos consideram ultrapassado ou a vida de milhões de pessoas que morrem de fome?.
O que você faria com sua fortuna se fosse um bilionário como Elon Musk?
Aliás, por que há bilionários?.
Por que há tantos recursos nas mãos de tão poucos enquanto tantos sequer têm o que comer?.
Seria correto desejar ser um bilionário em um mundo como o nosso?.
Como cristãos, não deveríamos almejar um mundo mais igualitário é justo?.
Viver numa cidade cercada de montanhas tem suas vantagens e desvantagens.
A exuberância de nossa topografia tem seu lado negativo. Se quisermos assistir a um belo nascer do sol, teremos que buscar uma praia,
de onde possamos vê-lo se insinuando no horizonte até rasgar o céu com seus raios.
Caso contrário, as mesmas montanhas que embelezam nossos cartões postais proverão uma muralha que retardará o aparecimento do astro rei.
Que haja algo errado, todos admitimos.
Resta saber o que se pode fazer para corrigi-lo.
Não basta remediar, tratar os sintomas, sem questionar as estruturas injustas que os produzem.
Como pisar num lugar como o lixão de Jardim Gramacho, deparar-se com seres humanos vivendo literalmente do lixo, e não questionar o que estaria por trás disso?.
Seria muito fácil emitir um juízo moral, atribuindo a miséria de nossos semelhantes ao pecado, à falha de caráter, à indisposição para o trabalho.
Isso, certamente, pouparia os verdadeiros responsáveis pela penúria que atinge boa faixa da população mundial.
Também é relativamente fácil esconder-se atrás de um sistema que incentiva a meritocracia, que justifica a concentração de renda,
enquanto desdenha da miséria alheia.
Como ceder à misericórdia em nossos corações enquanto nossas mentes teimam em justificar o sistema responsável por produzir esses indesejáveis efeitos colaterais?.
Eis a nossa esquizofrenia!.
O trabalho para o qual fomos arregimentados consiste em aplainar o terreno, para que, quando o Sol da Justiça despontar, toda a humanidade possa vê-lo ao mesmo tempo.
Para nivelar o terreno, montanhas terão que ser abatidas, e vales aterrados.
Não se trata de algo simples de se fazer, mas de um desafio que demandará um esforço por parte de todos os envolvidos.
O que provoca desnivelamento maior entre os homens do que a injustiça social responsável pela divisão de classes?.
O que hoje chamamos de desigualdade, os profetas chamavam de iniquidade.
Poucos com tanto, tantos com tão pouco.
Se isso não puder ser corrigido no âmbito da igreja, certamente não o será no mundo. 
Por que tratamos o rico de maneira gentil e o pobre de maneira rude?.
O homem com anel de ouro em seu dedo representa aquilo que gostaríamos de ser.
Nós o invejamos.
Quem sabe, se o adularmos, ele nos ajudará a ascender socialmente?.
Já a presença do pobre nos causa mal-estar.
Sua existência desafia nossos escrúpulos.
Sua presença nos intimida.
O que ele poderia nos oferecer?.
Provavelmente nos pedirá alguma ajuda.
Por isso, é melhor mantê-lo numa distância segura.
Só existem vales, porque existem montanhas.
Não haveria pobres, se não houvesse ricos.
Não haveria miséria, se não houvesse concentração de bens. 
Ninguém chega ao ponto de se tornar bilionário sem ter explorado o trabalho do pobre, do necessitado,
e sem ter se valido de um sistema calibrado para beneficiar a uns em detrimento de outros.
Salários foram fraudulentamente retidos.
Direitos foram solapados.
A justiça pervertida.
Tudo em nome do conforto,
da segurança, da estabilidade. 


terça-feira, 10 de maio de 2022

Para quem é o Evangelho

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O Evangelho não é para os arrogantes. 
Cristo veio para aqueles que sabem não serem bons. 
Para aquele que sabe que é um ser caído. 
Para aquele que vive a corrupção da carne e vê a vida como uma escola e que, por meio dos resultados das próprias escolhas, recoloca-se nas encruzilhadas da existência e ratificando a própria liberdade,
diz a si mesmo: escolha!.
Quem é sincero consigo mesmo sabe que já fez mal a muita gente.
Aquele que confessa que já mentiu,
já se deixou corromper,
já machucou o outro,
sabe que todas estas possibilidades continuam existindo.
Sabendo de toda a atração que a natureza humana caída acolhe, o discípulo agradece a Deus quando consegue, por meio Dele, dizer: NÃO!.
Que cada um consiga olhar para si mesmo e se reconhecer como um ser humano sujeito a falhas; um filho pródigo que pede todos os dias para voltar e vislumbrar o Pai amoroso que o recebe e se alegra. 
Ao reconhecermos que nada somos, podemos então agradecer à intervenção Deste Pai que sempre conduz o filho ao arrependimento necessário para aprender e continuar a jornada.
"Estou aqui para dar atenção aos de fora, não para mimar os da casa,
que SE ACHAM JUSTOS."

sexta-feira, 6 de maio de 2022

O problema do Brasil é o Estado brasileiro

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A solução dos problemas que enfrentamos é de longuíssimo prazo, passa pela educação e pela conscientização sobre o papel político do eleitor,
passa por uma reforma profunda no Congresso Nacional,
no Judiciário e nas práticas lesivas do Executivo,
passa por um projeto de Estado, e não de governo, e isso começa pela sociedade, pelo empresariado,
por representações do 3º. setor,
os políticos respondem aos anseios dessas massas, temos políticos perversos porque não sabemos votar, temos políticas perversas porque elas são feitas por indivíduos como Arthur do Val e Daniel Silveira,
para citar apenas os que estão na mídia.
Não, a solução para o Brasil não está nas mãos de uma pessoa,
nem mesmo de um partido ou de um dos lado ideológicos da esquizofrenia atual,  a solução,
como disse, passa por uma estrada longa, por novos valores éticos,
por uma nova consciência sobre as prioridades da Nação, por empresas comprometidas com o social,
com as boas práticas da governança e com o meio ambiente,
por uma classe média que se digne a olhar para a miséria crescente em nossas cidades com vistas a se comprometer com iniciativas de solidariedade, por uma igreja que entenda seu papel na transformação de tudo aquilo que fere a verdade,
a justiça e a dignidade do ser humano, que deixe o templo e vá para as favelas, que abandone a retórica oca de uma espiritualidade com cheiro de biblioteca e passe a por em prática uma teologia que tenha carne e sangue.
Eu sei que não verei nada disso,
e tenho dúvidas consistentes se isso acontecerá algum dia nessa república de bananas.
O pecado somos nós,
o problema do Brasil não é o povo,
é o Estado brasileiro e aqueles que o controlam.
E para vencê-los é necessário conquistar a liberdade para eleger e ser eleito.
É necessário conquistar a liberdade de fazer política, dentro das eleições e para além delas. 

terça-feira, 3 de maio de 2022

A ponte que somos

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Há pessoas que recebem de Deus o dom especial de serem pontes.
Disponibilizam-se para prover conexão entre os outros.
Seu habitat natural são os bastidores.
Os holofotes não as atraem.
Como enceradeiras, contentam-se em trabalhar para fazer o chão brilhar.
Dentre os discípulos de Jesus, provavelmente André era o que apresentava esta característica.
Uma ponte entre duas culturas diametralmente diferentes.
André também serviu de ponte entre duas eras representadas pelos ministérios de João Batista e Jesus. Ele foi um dos dois discípulos de João que testemunharam quando este, vendo Jesus passar, disse:
“Eis aqui o Cordeiro de Deus”.
Não foi preciso nem uma palavra a mais.
Imediatamente, André deixou a João para seguir a Jesus.
Tão logo encontrou a Jesus, André dirigiu-se a seu irmão, Simão Pedro,
e contou-lhe: “Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo).
E levou-o a Jesus”.
Portanto, ele também foi ponte entre Pedro e Jesus, sem jamais supor que seu irmão seria o príncipe dentre os apóstolos.
Em momento algum André requereu tal posição por ter sido o primeiro a seguir a Jesus.
Pelo contrário, contentou-se em ficar conhecido como  "o irmão de Simão Pedro".
Foi ele e seu irmão que ouviram de Jesus a promessa de que seriam feitos pescadores de homens.
Considerando o significado de seu nome, Jesus estava dizendo que eles pescariam muitos outros. 
Quer estejamos na frente ou atrás das cortinas, todos somos chamados a sermos pontes.
Lemos em Hebreus que Jesus é o Sumo Sacerdote daqueles que se aproximam de Deus.
No texto grego, Ele é o sumo pontífice, que quer dizer, a ponte principal que liga Deus aos homens. Somente Cristo poderia ser chamado assim, visto que “há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem".
Todavia, quando ingressamos em Seu Corpo, tornamo-nos pontes de acesso para que outros afluam à Ponte Principal que nos conecta à Divindade.
Por isso, Apocalipse diz que somos um reino de sacerdotes.
André também desempenhou papel importante na ocasião em que Jesus alimentou a multidão com apenas cinco pães e dois peixinhos.
Ele foi a ponte entre Jesus e o menino que disponibilizou seu lanche.
Enquanto Filipe, outros dos discípulos, calculava o custo que teriam para alimentar tanta gente, André tratou de se meter na multidão para garantir ao menos a comida do Mestre.
Nem sempre temos a solução para um problema, porém, podemos ser ponte entre o problema e a solução. Sem a intervenção de André,
a multidão teria saído faminta,
e certamente, teria desfalecido pelo caminho. 
Filipes costumam ser racionais, ponderados.
Andrés são mais impulsivos, intuitivos, agindo mais com o coração do que com a mente.
Uns são pragmáticos e realistas.
Outros, românticos e idealistas.
Quando alguns gregos vieram em busca de Jesus, Filipe ficou sem saber como agir e recorreu a André. Então, ambos os introduziram a Jesus.
É bom que tenhamos Filipes,
mas estes precisam ter Andrés que os estimulem a dar os passos necessários.
Mais uma vez, André foi ponte
André foi um dos apóstolos que mais trabalharam para que o Evangelho alcançasse lugares longínquos, chegando até a Rússia.
Conta-se que André foi crucificado numa cruz em forma de “X”.
Durante os dois dias em que agonizou, despojou-se de suas vestes e bens, doando-os aos seus algozes.
Mesmo em seus últimos momentos de vida, André não se negou a ser ponte.
O que não lhe serviria mais, poderia ser bênção na vida de outros,
mesmo que estes fossem seus piores inimigos.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Externa emoções

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Alguém, por favor, me ajude a entender a razão de sermos tão atrevidos em emitir opiniões,
porém tímidos em externar emoções.
Por que é mais fácil expor o que se pensa do que expressar o que se sente?.
Preferimos nos esconder atrás de raciocínios aparentemente embasados e tomar nossas decisões depois de calcular os custos,
os pros e os contras, relegando os sentimentos a um segundo plano.
O que nos importa são os resultados!.
Queremos sair sempre no lucro,
ou pelo menos, ilesos.
Nossas opiniões são armaduras com as quais blindamos o coração.
Cada peça desta armadura se articula com as demais, garantindo-nos certa mobilidade.
Mas se não forem frequentemente lubrificadas, tendem a se enferrujar, comprometendo nossa flexibilidade, e, consequentemente, nossa performance existencial.
Lubrificamos nossas opiniões com argumentos cada vez mais refinados.
Sonhamos ser imbatíveis.
Opiniões nos impõem.
Sentimentos nos expõem.
Opiniões nos destacam.
Sentimentos nos nivelam.
Opiniões provocam divergência. Sentimentos, convergência.
Reveste-se de armadura quem sai à vida como quem vai ao campo de batalha para brigar.
Despe-se dela quem é capaz de transformar este campo minado num playground onde se desce para brincar.
Para tal, teremos que nos abdicar do cinismo que nos contagiou a alma, roubando-nos a esperança.
Teremos que recobrar nossa ingenuidade essencial, voltando a apostar na vida.
Argumentos se calarão.
Pontos de vista serão relativizados. Substituiremos o olhar bélico da vida por um olhar lúdico.
Em vez de tanques de guerra, carrosséis.
Em vez de bazucas, gangorras.
Em vez de granadas e lança chamas, balanços e pipas.
O peso da armadura será substituído pela insustentável leveza do ser.
Deixaremos de nos sentir ameaçados, para nos permitir amar e ser amados.
Ninguém tomaria banho vestido numa pesada armadura,
não é verdade?.
Despir-se dela é expor a intimidade, revelando assim quão frágeis e vulneráveis somos.
Quem decidir acolher nosso amor, não o fará por outra razão que não seja aquilo que somos, e não o que pretendemos parecer.
Sob a armadura, a alma se sente sufocada.
Lágrimas são contidas.
Sorrisos inibidos.
Gestos calculados.
Palavras sofrem a censura da razão que as considera impronunciáveis.
O outro, a quem nossos sentimentos se devotam, é visto como um inferno em potencial.
Tememos ser devorados por suas inclementes labaredas.
Nossa alma precisa de ar fresco. Lágrimas desejam ser extravasadas. Sorrisos largos exibidos despudoradamente.
Gestos espontâneos.
Palavras livres e sinceras.
E assim, somente assim, o outro será visto como a possibilidade do céu.
Desejaremos ser consumidos pelas chamas do seu amor, das quais renasceremos todos os dias como uma exuberante fênix que abraça a vida com as asas da liberdade.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Nossa estrutura humana é pó .

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Jesus não conviveu ao lado de gente certinha.
Ao contrário, ele evitava e criticava quem se gabava cumprir todas as demandas da lei judaica. 
Jesus chamou os austeros sacerdotes de sepulcros caiados; tratou mestres como cegos guiando outros cegos. 
Os sacerdotes do templo conseguiam convertidos,
mas Jesus disse que eles apenas condenavam as pessoas a um inferno duplo. 
O filho do homem, gostava da companhia de pecadores iguais a gente comum. 
Ele se sentia bem perto dos que assumiam a condição humana. 
Ao alistar apóstolos não se importou com suas inadequações.
Pedro era tempestivo;
Tomé, hesitante;
João, vingativo;
Filipe, lento em compreender;
Judas, ladrão. 
Acostumado aos costumes da sinagoga e com o linguajar dos doutores da Lei,
Jesus não buscou discípulos dentro desses círculos.
Jesus aceitou que uma mulher de reputação duvidosa derramasse perfume sobre sua cabeça.
Elogiou a fé de um centurião romano, adorador de ídolos.
Não deixou que apedrejassem uma adúltera.
Mostrou-se surpreso com a determinação de uma mãe cananéia. 
Nos estertores da morte, prometeu o paraíso a um ladrão.
Não mediu esforços ou palavras para enaltecer os diferentes.
Santidade nunca significou para ele a simples obediência a normas.
Jesus não tratava um ato igual a uma intenção.
Adultério não se restringe ao sexo; ele questionava os valores que antecediam a relação sexual.
Deus não busca vidas perfeitinhas.
Ele sabe que nossa estrutura humana é pó. 
Deus não exige correção absoluta.
Para isso, ele teria que converter mulheres e homens em anjos.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Poema sobre vínculos

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Certo dia, quando  Jesus caminhava entre a multidão,
uma mulher que tinha um fluxo de sangue contínuo resolveu se aproximar furtivamente Dele.
Ela pensou que se O tocasse seria curada.
E realmente o milagre aconteceu.
Mas, no meu entender, tão importante quanto a cura,
foi o tipo de contato que ali se estabeleceu.
A multidão O empurrava e esbarrava Nele o tempo todo.
No entanto, Ele identifica e sente de modo diferente o toque daquela mulher, porque na verdade,
ela se aproximou esperando não somente encostar em Jesus,
mas ansiosa por algo maior:
uma conexão, uma troca,
uma ligação pra além do esbarrar.
O que ela ansiava era o vínculo, através do qual o milagre aconteceria.
Estamos cercados de muita gente.
Temos contato com pessoas o tempo todo.
Mas se não estabelecermos relacionamentos que nos tragam significado existencial,
estaremos sós em meio à multidão, esbarrando-nos acidentalmente uns nos outros.
O que precisamos mesmo é de vínculos.
Vínculos estes que nos tragam a experiência da troca, do afeto,
e do olhar que não somente vê,
mas nos faz enxergar uns aos outros.
É isso que nos aproxima e vai nos manter vivos num mundo onde grassa a frieza e a indiferença.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Metaverso

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Na última semana um pastor estreou a primeira igreja brasileira no metatarso com um culto composto por 150 avatares.
A nova realidade, que pode virar uma febre no meio religioso,
trará, também, uma infinidade de problemas.
O metaverso, como se sabe,
é um ambiente tecnológico que combina, a princípio, realidade aumentada, realidade virtual e internet.
Nele já é possível você criar o seu avatar e passar, a partir dele,
a ter sua vida numa versão digital,
o que lhe permite, por exemplo,
ir a shows, fazer viagens, se relacionar com pessoas,
fazer compras e, agora, ir a “igreja”!.
Diante da possibilidade, enumero a seguir alguns dos problemas que tal iniciativa irá criar a igreja no metaverso vai dissensibilizar,
ainda mais as pessoas, quanto às necessidades e dores humanas,
o pobre,
o órfão,
a viúva,
o viciado na rua,
a travesti na esquina,
o doente no hospital,
o preso,
grupos que hoje são considerados invisíveis sociais estarão ainda mais encobertos, apartados da dimensão do mundo virtual, eles agonizarão sem ter quem os acolha e ajude.
A fé em Jesus é, antes de tudo,
um chamado para que o indivíduo se enxergue, um desafio para que ele se arrependa de quem se tornou e busque, pelo poder do Espírito,
a Nova Criação que está em Cristo.
No metaverso, todavia, as pessoas podem escolher ser justamente quem não são, sobretudo, para que possam ser aceitas na comunidade,
é o ambiente perfeito para o disfarce, para a vida camuflada, para a assunção do personagem,
um “armário digital” capaz de abrigar, indefinidamente, quem quer que sejam
Segundo Paulo, os dons do Espírito Santo foram repartidos com a igreja para o serviço e edificação dos santos, ou seja, é na vida real,
onde as trocas relacionais revelam as necessidades de cada pessoa,
que os dons podem ser melhor empregados, com vistas a cumprir a dimensão dos “uns aos outros” tão presente no Novo Testamento.
Ora, num ambiente virtual isso se torna impossível, não só pelas restrições físicas, como também pela impessoalidade das trocas entre as pessoas.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Uma causa, uma pauta

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Jesus Cristo tinha uma causa,
um pauta de luta da qual ele não abriria mão nem sob ameaça de cruz, a pena de morte romana.
Os próprios representantes do estado romano e do estado judeu não veem em Jesus uma ameaça.
Quem se sente ameaçada por ele é a religião dele, a religião em que ele nasceu e da qual foi se distanciando, se desconectando gradativamente. Ele, bebê, foi circuncidado,
como qualquer criança católica é batizada e como qualquer criança evangélica é apresentada no templo.
Ele cumpre os ritos de ir com os pais ao templo de Jerusalém como uma criança muçulmana iria com seus pais a Meca.
Depois, como acontece com tantos adolescentes cristãos, ele vai percebendo que já não cabia no controle de sua religião, que não fazia sentido aquele nacionalismo doente, aquele fundamentalismo que colocava os dogmas acima das pessoas, aquela aproximação luxuriosa de sacerdotes e governantes.
Em que  momento um adolescente brasileiro que já não se identifique com a religião dos seus pais consegue autonomia para deixá-la sem gerar um crise familiar muito grande?.
Jesus Cristo espera esse momento e rompe com o sistema religioso judaico.
Ainda assim, continua frequentando  sinagogas, de onde sai vaiado ou apedrejado por causa do seu discurso antifundamentalista.
Ele continua frequentando o templo onde acaba perdendo a cabeça e agredindo os poderosos que serviam ao templo e enriqueciam,
e vários outros comerciantes mafiosos da fé.
A partir desse episódio, principalmente, ele entra na mira das lideranças religiosas e não do governo.
O governo não tem interesses nele.
Ele não era uma ameaça para o estado romano.
Ele era uma ameaça para os interesses religiosos judeus.
Ocorre que os judeus tinham o tal do "não matarás".
Líderes religiosos poderiam até mandar matar, mas não matavam eles próprios para "não escandalizar".
O estado se torna então o melhor matador de aluguel que uma religião aliada a ele pode contratar,
porque o estado faz o serviço limpo, sem crimes, usando seus agentes e suas leis.
E é isso que a religião dele faz: primeiro denuncia-o para o estado, como fez, no Brasil, o pastor batista Nilson do Amaral Fanini ao entregar listinhas de nomes de jovens batistas "rebeldes" para os generais da ditadura; como fizeram os irmãos Sucasas, pastores metodistas voluntários no DOI-COD; como fizeram os lideres presbiterianos que denunciaram  o jovem pastor Rubem Alves, entre tantos outros.
Ocorre que o estado romano não viu qualquer irregularidade nos feitos de Jesus que representasse uma ameaça ao Império.
Aí então, a religião precisou ir direto ao ponto: "Não importa.
Precisamos matar ele.
Ele pode não estar atrapalhando o império, mas está atrapalhando os nossos negócios, e o império precisa dos nossos serviços de anestesiamento e alienação do povo..."
E o império o matou para fazer um afago na religião, para agradá-la.
Hoje, a religião que se pensa dona dele, faria o mesmo.
Para evangélicos e católicos, Jesus é um cara legal porque está morto.
Vivo, seria uma ameaça,
um inimigo a ser combatido por essa mesma igreja.
A causa de Jesus Cristo é a nossa causa.
Eu morreria pela minha causa,
pela minha pauta.
Eu amo o Jesus Cristo que morreu por uma causa.
Não precisava mesmo ser por mim.

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