terça-feira, 19 de abril de 2022

Uma causa, uma pauta

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Jesus Cristo tinha uma causa,
um pauta de luta da qual ele não abriria mão nem sob ameaça de cruz, a pena de morte romana.
Os próprios representantes do estado romano e do estado judeu não veem em Jesus uma ameaça.
Quem se sente ameaçada por ele é a religião dele, a religião em que ele nasceu e da qual foi se distanciando, se desconectando gradativamente. Ele, bebê, foi circuncidado,
como qualquer criança católica é batizada e como qualquer criança evangélica é apresentada no templo.
Ele cumpre os ritos de ir com os pais ao templo de Jerusalém como uma criança muçulmana iria com seus pais a Meca.
Depois, como acontece com tantos adolescentes cristãos, ele vai percebendo que já não cabia no controle de sua religião, que não fazia sentido aquele nacionalismo doente, aquele fundamentalismo que colocava os dogmas acima das pessoas, aquela aproximação luxuriosa de sacerdotes e governantes.
Em que  momento um adolescente brasileiro que já não se identifique com a religião dos seus pais consegue autonomia para deixá-la sem gerar um crise familiar muito grande?.
Jesus Cristo espera esse momento e rompe com o sistema religioso judaico.
Ainda assim, continua frequentando  sinagogas, de onde sai vaiado ou apedrejado por causa do seu discurso antifundamentalista.
Ele continua frequentando o templo onde acaba perdendo a cabeça e agredindo os poderosos que serviam ao templo e enriqueciam,
e vários outros comerciantes mafiosos da fé.
A partir desse episódio, principalmente, ele entra na mira das lideranças religiosas e não do governo.
O governo não tem interesses nele.
Ele não era uma ameaça para o estado romano.
Ele era uma ameaça para os interesses religiosos judeus.
Ocorre que os judeus tinham o tal do "não matarás".
Líderes religiosos poderiam até mandar matar, mas não matavam eles próprios para "não escandalizar".
O estado se torna então o melhor matador de aluguel que uma religião aliada a ele pode contratar,
porque o estado faz o serviço limpo, sem crimes, usando seus agentes e suas leis.
E é isso que a religião dele faz: primeiro denuncia-o para o estado, como fez, no Brasil, o pastor batista Nilson do Amaral Fanini ao entregar listinhas de nomes de jovens batistas "rebeldes" para os generais da ditadura; como fizeram os irmãos Sucasas, pastores metodistas voluntários no DOI-COD; como fizeram os lideres presbiterianos que denunciaram  o jovem pastor Rubem Alves, entre tantos outros.
Ocorre que o estado romano não viu qualquer irregularidade nos feitos de Jesus que representasse uma ameaça ao Império.
Aí então, a religião precisou ir direto ao ponto: "Não importa.
Precisamos matar ele.
Ele pode não estar atrapalhando o império, mas está atrapalhando os nossos negócios, e o império precisa dos nossos serviços de anestesiamento e alienação do povo..."
E o império o matou para fazer um afago na religião, para agradá-la.
Hoje, a religião que se pensa dona dele, faria o mesmo.
Para evangélicos e católicos, Jesus é um cara legal porque está morto.
Vivo, seria uma ameaça,
um inimigo a ser combatido por essa mesma igreja.
A causa de Jesus Cristo é a nossa causa.
Eu morreria pela minha causa,
pela minha pauta.
Eu amo o Jesus Cristo que morreu por uma causa.
Não precisava mesmo ser por mim.

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