quarta-feira, 18 de maio de 2022

Poema sobre os armamentistas

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Existem,  pelo menos, duas formas básicas de se fazer uma leitura bíblica: "contra nós" e "a nosso favor".
Quando lemos o texto a nosso favor, isolando, descontextualizando as partes que nos interessam, encontramos respaldo para qualquer absurdo que pensemos,
que queiramos justificar.
Os escravagistas cristãos do passado e do presente, usaram a abusam da carta de Paulo a Filemon para isso.
Os escravagistas atuais são também conhecidos como "patrões".
Quando lemos o texto contra nós, vamos nos dando conta de que precisamos ajustar o nosso comportamento aqui e ali para nos enquadramos nas orientações.
Resumindo: quando lemos a nosso favor,  mudamos o texto; quando lemos contra, mudamos a nós mesmos.
É uma questão de hermenêutica.
Nas mãos dos armamentistas, qualquer referência a arma, no texto bíblico, serve de apoio para legitimar sua própria truculência.
Assim, atualizam os textos sobre armas, descontextualizados,
e colocam na conta do "isso servia apenas naquele contexto, porque era só uma ilustração" para casos como o do "bom palestino", que socorreu um judeu, deixado para morrer por tantos outros judeus.
Os armamentistas evangélicos e católicos não tomam Jesus Cristo como referência, mas sim seus discípulos, que eram homens truculentos do seu tempo em processo de transformação pelo convívio com o Mestre.
Citam por exemplo, o fato de Pedro, um pescador estressado, andar armado, e dão como referência o momento da prisão arbitrária de Jesus, em que Pedro, num momento de indignação e justiçamento corta a orelha do servo do sumo sacerdote.
Pedro andava armado com uma espada, mas a referência não pode ser Pedro.
É Jesus Cristo.
Ou somos seguidores de Pedro?.
Na sequência desse episódio,
Jesus adverte Pedro, mesmo compreendendo que aquilo foi um ato de amor a Ele, porém de ódio ao romano.
Então Jesus manda ele recolher a arma.
E bota a orelha do soldado de volta no lugar, segundo a narrativa.
Ou seja, o armamentista da cena é Pedro, que foi repreendido, e não Jesus Cristo.
O pastor Batista armamentista, intérprete da Bíblia, que postou um vídeo recente com uma arma, legitimando o uso de armas pelos cristãos atuais porque os puritanos ingleses usavam, tem como referência os puritanos ingleses e não Jesus Cristo.
Outro texto que os líderes gosta de repetir é o de Marcos 6:8.
Ocorre que ali, Jesus enviando os seus discípulos em duplas,
por estradas perigosas, ele não manda levar uma arma, mas apenas um "cajado" ou "bastão", conforme traduções e versões.
Outro texto que os armamentistas adoram citar é o de Lucas 22:36,
que não pode ser analisado sem levar em conta os versículos anteriores e o que acontece depois.
Pouco antes da prisão, Jesus está tendo uma resenha com seus discípulos.
Pedro, sempre afoito, diz que está pronto para ser preso ou morto por ele.
Cristo retoma a cena em que enviou os discípulos sem armas e sem suprimentos, apenas com um cajado, e compara aquele momento com o que está para acontecer.
E diz que diferente daquele momento, agora iriam precisar de armas para montar uma cena de forma que a profecia sobre ele fosse cumprida:
" Ele foi contado com os malfeitores."
Pois bem, aí um dos discípulos diz: eis aqui duas espadas!. E ele respondeu: Basta!.
Eles só precisavam de armas para serem caracterizados como um grupo rebelde para que se cumprisse o que de Jesus escreveram.
Jesus não queria um confronto armado.
Duas espadas contra a quantidade de soldados que iriam prendê-lo não faz o menor sentido.
Além disso, na sequência dessa cena, Pedro corta a orelha direita do servo do sumo sacerdote, e Jesus repreende.
Jesus estava usando de uma ironia absoluta, não recomendou a ninguém que venda as capas e comprem espadas para andar armados, e que os discípulos andem com guardas e seguranças.
Só quem está com a mente obliterada pode pensar de outro jeito.
Jesus sempre esteve cercado de malfeitores, de pecadores de pessoas de diferentes estranhas e morreu entre dois malfeitores.
O ódio só é quebrado pela ação do amor que cura.
Jesus andava na direção da cura,
na restauração da vida,
da compaixão,
da inclusão,
da misericórdia,
da não segregação ao contrário do agregamento,
da busca de reconciliação.
Jesus nos ensina ama o inimigo,
a orar por aquele que nos persegue,
e damos a outra face e andar muitas milhas para desarmar o espírito do ódio e da raiva.
Um dia o mundo conhecerá como diz o Apocalipse a ira do cordeiro.
E a ira do cordeiro se manifestará não com grandes ações contra os humanos.
É o entregar dos humanos a si mesmo que provoca tudo aquilo que destrói a humanidade e que constrói a ira do cordeiro.
A ira do cordeiro é a nossa salvação.
Não tem Jesus Cristo armamentista nos evangelhos.
Essa imagem não é do Jesus dos evangelhos e sim do Jesus dos evangélicos.
Jesus é descrito nos evangelhos como "manso e humilde", como um pregador da paz, como príncipe da paz.
Jesus orienta que em caso de agressão, não revidem, que disponibilizem a outra face após um tapa na outra.
Jesus não reage a prisão e nem permite que o grupo use as duas armas disponíveis.
Jesus circula entre as piores pessoas de cara limpa,
Jesus se expõe, Ele não convoca ninguém para lutar por Ele.
Jesus acalma os ânimos o tempo todo e nunca sequer pega uma arma.
É muita imoralidade pastoral querer botar as armas na conta de Jesus.
Está, porém, é a vossa hora e o poder das trevas é a vossa hora.
Que os armamentistas covardes todo armamentista só é corajoso com uma arma na mão, especialmente pastores e padres que pregam a violência armada que defendem em seus próprios nomes.
Quem haja assim está associado com o poder das trevas.
Jesus disse para não associamos a este poder essa é a hora das trevas.
No livro de João diz: " ai vem o príncipe desse mundo e ele nada tem em mim, não tem uma porção de ódio nem de violência não tem onde se agarrar em mim, não tem onde se alojar demônio em mim, instalar demônio em mim, não tem como transferir diabo para mim".
No contexto em que vivemos nesse país, pastores e padres postarem fotos com arma, darem entrevista dizendo que usam e até querem pregar armados, falarem mais de arma que de paz.
Estão matando gente sim.
E não é em nome de Jesus, que fique bem claro.
Não há elogio de Jesus a armas.
Quando alguém próximo a Ele recorreu a elas, Ele disse: Basta!.
Duas espadas bastam para que se formasse uma cruz onde a salvação se consumou.

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