terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Poema sobre as dores do mundo

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Sinto dores de Bahia,
dores de Minas Gerais,
dores de povo,
dores de Brumadinho,
de novo.
São dores estatais, 
dores privatizadas,
dores que poderiam ser evitadas,
dores de desmatamento,
dores de falta de prevenção, 
dores de falta de pão,
dores de religião 
que desvida,
que mata,
que afasta
amores.
Dores.
Tantas dores.
Cores
que são apagadas. 
Dores alagadas,
dores desalojadas,
desabrigadas,
abrigadas em tantos peitos.
Dores de falta de direito,
dores de falta de respeito.
As mesmas dores,
sempre,
de novo. 
Dores de povo,
brasileiro.
Acima de todos, o poder.
Acima de tudo, o dinheiro.

sábado, 15 de janeiro de 2022

Poema sobre o relacionamento com o seu dinheiro

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Só o hábito,
o costume,
a prática,
a frequência pode consolidar uma mentalidade e uma cultura financeira, bem como construir a sua história com o seu dinheiro.
Não por acaso, um médico precisa estudar pelo menos cinco ou seis anos para se tornar profissional.
O mesmo acontece com um engenheiro, um advogado ou um químico.
Quem nunca passou dificuldade,
nem enfrentou sacrifício,
não pode ensinar como deve investir uma pessoa que sempre teve salários atrasados, já ficou desempregada ou já foi despedida.
Essa pessoa só vai aprender o que fizer sentido pra ela.
Alguém que nunca teve uma caderneta de poupança dificilmente vai aceitar se arriscar na bolsa de valores ou no mercado cambial.
Do mesmo modo que um milionário não vai entender como é possível fazer um financiamento, uma dívida, de 60 meses para comprar um carro zero ou seminovo.
A forma como as pessoas lidam com dinheiro ou com investimentos depende da forma como essas pessoas viveram, que experiências tiveram,
que dramas,
traumas,
alegrias ou euforias conheceram.
Não significa que pessoas ricas sempre serão gastadoras e que pessoas pobres sempre serão disciplinadas.
O que vai determinar a relação desse ou daquele com o dinheiro será aquilo que cada um celebrou graças ao dinheiro ou sofreu por causa do dinheiro.
Sim, porque o dinheiro exerce influência psicológica e comportamental tão grande ou maior que a influência biológica ou genética.
Um Prêmio Nobel de Economia já provou isso.


terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Poema sobre o espelho de cada um

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Naquela época, os espelhos não eram tão polidos quanto hoje.
A imagem refletida no metal era distorcida pela sua superfície irregular. Por isso, era necessário que se buscasse uma posição de onde se pudesse ver com mais precisão.
As Escrituras Sagradas nos servem como espelho através do qual podemos ter um vislumbre de Deus.
O que podemos ver num espelho?.
Qualquer coisa para o qual ele esteja voltado.
Assim é com as Escrituras.
Ao lê-las, podemos enxergar através delas nossas próprias deformidades. Suas páginas revelam a ambigüidade da natureza humana, capaz de proezas e crueldades, virtudes e vícios.
A Bíblia não esconde nem maquia as vicissitudes de seus heróis.
O mesmo Davi que derrota Golias,
se rende ao encanto da mulher alheia,
e acaba cometendo adultério seguido de homicídio.
O mesmo Abraão que se dispõe a oferecer o próprio filho em sacrifício a Deus, omite do rei do Egito a informação de que Sara era sua esposa.
Podemos nos ver em cada personagem bíblico.
Cada situação que enfrentamos em nosso cotidiano encontra paralelo em suas histórias.
Portanto, ler a Bíblia é encontrar-se consigo mesmo.
É enxergar sua silhueta emergindo de suas páginas.
Mas quando posicionamos o mesmo espelho na direção de Cristo, vemos Sua glória nele revelada.
É como posicionar um espelho na direção do sol.
Toda a glória do astro rei pode ser refletida num caco de vidro.
A melhor maneira de se ler o texto sagrado é mantendo os olhos em Jesus.
Ele é a nossa Pedra, a chave interpretativa das Escrituras.
Tudo aponta para Ele.
Desde os sacrifícios exigidos pela Lei, passando pelas festas instituídas por Deus, aos acontecimentos épicos narrados no Antigo Testamento,
tudo tem o objetivo de nos revelar a figura central das Escrituras: JESUS CRISTO.
Portanto, deve-se ler a Bíblia a partir de Jesus.
Não são as Escrituras que são perfeitas, mas a imagem que elas se propõem refletir.
Se fizermos uma leitura crítica, poderemos encontrar dados não tão precisos, como por exemplo,
onde o morcego é classificado como ave.
Mas se ns posicionarmos corretamente diante deste espelho, poderemos ver claramente a perfeição d’Aquele que a inspirou, ao mesmo tempo em que perceberemos nossas debilidades.
Quando fitamos nele, vemos também o pano de fundo, o ambiente à nossa volta.
Da mesma forma, ao lermos uma passagem escriturístca, devemos considerar seu contexto histórico.
Não basta ler suas linhas; temos que investigar suas entrelinhas.
Não é em vão que Jesus nos orienta a investigá-las.
Uma leitura superficial é incapaz de revelar-nos o Deus que Se oculta nas entrelinhas.
Se cremos numa revelação progressiva como acreditavam os reformadores, temos que supor que esse espelho vai ficando cada vez mais polido,
até encontrar seu auge nas páginas neo-testamentárias.
Não vá às Escrituras como quem vai a uma cartomante, ou quem consulta ao horóscopo.
Abri-la aleatoriamente não nos trará qualquer benefício.
Também não vá em busca de dados científicos precisos.
Abra suas páginas em busca de Cristo,
e você o encontrará. "São elas que testificam de mim", garantiu Jesus.

domingo, 9 de janeiro de 2022

Poema sobre a pesca maravilhosa

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Há muito a se aprender com esse texto, mas preste atenção na rede!.
Sua serventia é apanhar peixes,
mas ao longo de um dia de trabalho,
o que mais pode ter se agarrado a ela?. Dependendo das águas em que se pescou, a rede pode estar suja!.
Nem sempre o mar está para peixes,
nem sempre a vida nos trás garoupas, robalos,
anchovas.
As vezes a rede apanha pneus,
algas marinhas,
garrafas pe,
lixo!.
Se você não parar periodicamente para limpar a rede, ela poderá não estar em bom estado para uma futura pescaria, portanto, limpe sua rede,
não arraste com você o lixo de ontem, nem de hoje, procure limpar sua mente, seu coração, faça uma faxina na sua vida, deixe sua rede em ordem,
uma rede suja se torna mais pesada, difícil de lidar,
torna a vida pesada,
amarga, isso pode inclusive, comprometer a qualidade do seu ano novo, para que sua pescaria em 2022 seja prospera, e seja realmente um ano novo, não arraste com você o lixo de 2021.
Quantos filhotes de tubarão você pescou ultimamente?.
Eles vêm na rede, não há como saber o que virá na rede junto aos peixes,
por isso é preciso examiná-la bem, checar a pesca, eles podem morder a rede, danificá-la, e não vai adiantar ter um cardume inteiro embaixo do barco,
se suas redes estiverem sujas ou danificadas, da mesma forma não adianta Deus te colocar de frente a correnteza das oportunidades,
se você não estiver  em condição de aproveitá-las, verifique seu estado, busque se refazer antes de fazer outra coisa. 
Os "peixes" estarão lá, pergunte a Deus onde, mas ao lançar a rede ela precisará estar limpa e em bom estado.
Que suas pescarias em 2022 sejam fartas.

sábado, 8 de janeiro de 2022

Postulados para esse ano

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O ano está começando e eu quero propor a você alguns postulados que podem ser abraçados pela sua consciência e plantados em seu coração:
Fica decretado que o respeito é a argamassa que faz com que as relações se tornem viáveis, aprender a ouvir e entender o lugar de fala do outro é essencial para um convívio saudável.
Fica decretado que a melhor religião é aquela que lhe faz uma pessoa melhor e que todo caminho feito com fé,
verdade e justiça desdobra-se numa espiritualidade consequente.
Fica decretado que o dinheiro foi feito para o homem, e não o homem para o dinheiro, feliz será todo aquele que suprir suas necessidades e ainda se dispuser a ajudar o seu semelhante.
Fica decretado que gerar filhos é uma dádiva, portanto, nos manteremos presentes em suas vidas mesmo quando eles escolherem ser diferentes de tudo o que havíamos projetado.
Fica decretado que todo trabalho dignifica o homem, mas a forma de trabalhar é que definirá se colheremos paz e bem, ou fadiga e tristeza,
dinheiro, nessa equação, é apenas um detalhe.
Fica decretado que ser honesto não consiste num diferencial,
mas num requisito básico para uma existência singular, contudo,
antes de ser honesto com os outros,
seja consigo mesmo.
Fica decretado que o que nos torna humano é a capacidade de nos emocionarmos, se a dor do outro não lhe inquieta, perdestes a tua alma,
és uma máquina de carne e sangue.
Fica decretado que a solidariedade é um bem-comum que deve ser exercido sem moderação, quem encontra na vida do outro um espaço para servir, não precisa de nenhum tipo de religião.   

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Poema sobre o ano da responsabilidade fiscal

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Vamos ter eleições este ano,
mas 2022 pode ser mais do que isso.
Para além das promessas políticas,
de palanque, a agenda econômica é robusta e animadora.
Um levantamento calcula que a economia do estado vai receber 333 bilhões de reais em investimentos.
Desse total, 90 por cento serão do setor de óleo e gás.
Outro estudo, do Ministério da Economia, estima 200 bilhões de reais aplicados em mais duas áreas de pré-sal na Bacia de Santos.
Os blocos de Sépia e Atapu arrecadaram 11 bilhões, com ágio de quase 440 por cento, já no leilão realizado no mês passado.
Também virão da italiana Enel,
maior distribuidora de energia solar e eólica no Brasil, o equivalente a mais de 30 bilhões de reais.
Na virada de 21 para 22, a Águas do Brasil arrematou o lote 3 da CEDAE, pagando ágio de 90 por cento.
Com isso, subiu para 22 bilhões de reais a arrecadação do governo estadual com os leilões de serviços de água,
esgoto e saneamento em geral.
E vêm aí outros bilhões pela concessão do Aeroporto Santos Dumont,
cujo edital e modelo de negócios ainda precisam ser melhorados.
Como se vê, as condições e as perspectivas estão dadas.
Tudo vai depender agora de gestão, disciplina e responsabilidade fiscal.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Amem uns aos outros

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No fundo todos procuramos por alguém que nos ame o tanto quanto somos capazes de amar.
Alguém que nos deseje o tanto quanto somos capazes de desejar.
E é daí que vem toda a frustração.
Percebemos tardiamente que não há simetria no amor.
Mas não se desespere,
pois é justamente daí que jorra toda a beleza.
Sabe aquela covinha do lado direito do rosto que a pessoa exibe cada vez que sorri?.
Enquanto ela se mantém séria,
ninguém a nota.
Suas duas faces parecem combinar-se simetricamente.
Mas, de repente, quando se desmancha em risos e gargalhadas, a assimetria se revela.
Aquele é o seu charme, o seu diferencial, o que a torna única.
O mesmo se dá no campo dos relacionamentos.
Jamais encontraremos quem nos ame o tanto quanto nos achamos dispostos a amar.
Temos a mania de superestimarmos nossos sentimentos, enquanto subestimamos o sentimento alheio.
Logo, concluímos que ninguém nos ame o quanto julgamos merecer.  
Creio que foi desta constatação que surgiu o conceito de graça.
Refiro-me a um caríssimo e refinado conceito encontrado na teologia cristã.
Geralmente, definimos graça como um favor imerecido.
Permita-me oferecer uma definição que considero mais ampla e profunda.
Graça é amor assimétrico e despudoradamente desproporcional.
É amar sem esperar absolutamente nada em troca.
Amar cada vez mais ainda que seja cada vez menos amado.
Se formos sinceros e imparciais, verificaremos que assim como nos sentimos frustrados ao amar sem sermos devidamente correspondidos, certamente frustramos àqueles que nos amam sem serem por nós correspondidos.
Quem jamais se sentiu constrangido ao receber um amor que é incapaz de corresponder?.
Haveria alguma beleza oculta num amor sentido que seja desproporcional ao amor recebido?.
Estou convencido que sim.
Ou será que algum filho é capaz de amar à sua mãe o tanto quanto por ela é amado?.
Duvido muito.
Ao nos entregarmos a um amor puro e verdadeiro, absolutamente gratuito, nossa satisfação deixa de estar na expectativa da reciprocidade para concentrar-se na felicidade de quem amamos.
Ora, se Deus é amor, como dizem as Escrituras cristãs, Ele simplesmente não consegue evitar amar a todas as Suas criaturas, independentemente de merecerem ou não.
E Seu mais profundo desejo é que elas igualmente se amem atrevidamente sem reservas.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Poema sobre Israel

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É impossível, olhando do ponto de vista do fenômeno histórico e religioso,
não comparar a Igreja a Israel.
O que desgraçou aquela Nação, que foi primeiramente constituída de Hebreus caminhantes, suplantadores de fronteiras, foi o fato deles terem se curvado a fixidez do Templo, com tudo o mais que ele requeria para que “deus” fosse adorado.
Ali começou a luta entra as pedras e a Palavra, entre os sacerdotes profissionais e os profetas errantes.
De lá para cá, pouca coisa mudou na religião, a novidade foi Jesus e o Evangelho, mas até isso o cristianismo tentou deturpar, misturando a cultura empresarial romana e a escolástica grega ao modo simples de ser dos discípulos do Galileu.
O resultado foi uma perversão total,
e quanto mais Reformas, pior vai ficando, pois eles não percebem o quão distantes ficaram daquilo que Jesus propôs.
Só há uma salvação para a Igreja.
Ela de des-estatizar, não há outro caminho que não seja a sua des-organização, a estrutura estimulou o que há de pior nos homens, o convívio ficou insalubre.
Ainda há salvação para a igreja,
mas ela precisa ser desencapsulada do prédio, precisa voltar ao Caminho,
o lugar se tornou mais importante que o Espírito, que é livre e sopra aonde quer, não existem mais geografias sacralizadas no Evangelho, todo local é Terra Santa, pois como diz a Escritura: “Formosos são os pés daqueles que anunciam a Salvação”.
Há esperança para a Igreja, mas ela precisa destruir seus tronos,
vender suas posses, abrir mão de suas liturgias ocas, precisa voltar a simplicidade do Sermão do Monte, deixando de lado toda teologia sistemática que não passa de aristotelismo sofisticado para os gnósticos da era moderna.
É tempo de arrependimento, ainda pode haver esperança, lembrando aqui de Jeremias, confessando a culpa de um povo que, mesmo diante do desterro e da barbárie, continuava empedernido em suas crenças tolas.
Paulo diz, na sua carta aos Romanos,
que Deus não poupou nem mesmo Israel, mas tornou-a um escândalo para o mundo.
Por que você acha que ele irá poupar a Igreja?.
Eu não creio que vá ver essa mudança na minha geração, mas creio que, talvez, na próxima, as coisas comecem a acontecer.

Poema sobre uma reflexão

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O Fariseu, da parábola de Lucas,
fazia mais do que era exigido pela Lei, jejuava duas vezes na semana e dava o dízimo até daquilo que já havia sido entregue, como no caso da compra de um produto.
O Publicano, todavia, não tinha o que dar, estava esvaziado de obras e de si mesmo, existia num vácuo de alma, carregava apenas um arrependimento sincero e uma tristeza latente pelo pecado cometido contra Deus e contra o próximo.
É sempre assim, a religião trabalha com quantidades,
o Evangelho com qualidades,
a religião lida com o mérito,
o Evangelho com a impossibilidade,
a religião se move pelo princípio de Caim, que trabalhou no campo para produzir sua oferta, fruto de seu esforço e habilidade, tencionava impressionar a Deus.
Abel, todavia, compreendeu que o sacrifício estava no sangue, pois sem derramamento de sangue, como diz o escritor de Hebreus, não há perdão de pecados, entregou a oferta que prefigurava o Cordeiro imolado antes mesmo da fundação do Mundo.
De fato, é absurdo, como entender um criminoso, sendo executado pelo Estado, tendo protagonizado na vida o papel de malfeitor, ser perdoado na hora derradeira – “ Em verdade em verdade te digo hoje, estarás comigo no Paraíso” – sem nada ter feito a não ser crer que ali estava o Filho de Deus?.
É importante observar que tanto Jesus como o ladrão não foram para o paraíso naquele momento.
Jesus prometeu que levaria o ladrão para o paraíso naquele dia.
Aquele "hoje "significa apenas o fato, mas não a promessa cumprida.
O próprio Jesus morreu e ressuscitou no terceiro dia.
No quarto teve com os discípulos para depois subir ao Pai.
Portanto o "hoje” refere-se ao dia da promessa, não ao dia em que ela se cumpriria.
Jesus usou a palavra "hoje” para enfatizar sua promessa solene ao penitente ao seu lado, mas tal palavra se refere ao dia em que foi feita, não ao dia em que seria cumprida.
Como entender que a maior oferta depositada no gazofilácio do Templo foi, justamente, a de menor valor, fruto da pobreza de uma viúva, que deu de si mesma muito antes de dar as duas moedas, pois a alma estava embebida em ternura e gratidão?.
Como entender a alegria por apenas um pecador arrependido, em contrapartida de uma geração inteira de religiosos performáticos, que viviam da produção de obras mortas?.
Sim, foi preciso apenas um justo para que todos os pecados dos homens fossem perdoados, um morreu por todos,
logo todos morreram, um ressuscitou por todos, como está escrito, por isso todos ressuscitaram, aleluia!.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Poema sobre a nova aliança

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Na Velha Aliança Deus prometeu ao povo de Israel uma Terra onde eles pudessem habitar, mesmo ela estando povoada por povos inimigos, que precisaram ser desalojados.
Canaã foi um lugar de descanso após 450 anos de escravidão no Egito,
um território para que a Nação pudesse se estabelecer e se desenvolver.
Em Jesus, contudo, na Nova Aliança,
a proposta foi outra, ele nos desafia a habitar um lugar onde o chão é a consciência, não há mais qualquer tipo de geografia ou fronteiras, a conquista se dá a partir de nosso mundo interior,
onde os inimigos não são mais de carne e sangue, constituem-se em pensamentos e ações que atentam contra Deus e contra a sua criação.
Sim, em Jesus, o chamado é para a liberdade da escravidão do pecado, alegorizado por João como sendo a Babilônia, um sistema perverso que impõe valores e princípios que atentam contra tudo o que for justiça e verdade.
Portanto, no Evangelho, a proposta é que todo lugar seja sagrado e todo caminho santificado por aquele que caminha encharcado de misericórdia,
semeando a paz e o bem em cada dia, pois a única Terra a ser conquistada é a alma dos homens, não com imposições e reprimendas,
mas através da solidariedade e do amor.

domingo, 26 de dezembro de 2021

Poema sobre os três natais

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Existem dois natais.
Talvez três.
Existe o natal das elites,
das comidas que podem ser fotografadas,
da ostentação,
das mesas fartas e bonitas.
Existe o natal das sobras,
das comidas doadas para os empregados que ainda podem ser fotografadas.
E existe o natal dos descartes,
dos restos que vão para o lixo,
que já não podem ser fotografadas,
até porque quem revira o lixo costuma ser invisível,
sem celulares,
sem redes sociais.
Nesse aspecto, o natal é uma espécie de O POÇO.
No primeiro andar, as comidas estão na mesa, arrumadas, tudo lindo, muita fartura.
Mas os do primeiro andar sempre "têm mais do que precisam ter e, portanto, sempre se convencem de que não têm o bastante".
Quando a mesa desce para o segundo andar, ainda vai em boas condições.
Do terceiro para baixo há fome.
E O POÇO parece sem fim, sem fundo.
Do terceiro para baixo a comida já tem aspecto de lixo, já é disputada em meio a fome, ao desespero.
O que é postado com cara de gratidão,
no primeiro andar, ganha ares de ostentação para aqueles dos andares abaixo, que assistem e não têm.
O natal é a cara da nossa sociedade,
o momento em que o capitalismo nos revela seu braço religioso ou a religião seu braço capitalista.
São milhões de postagens sobre compartilhar.
Compartilhar com os nossos.
Quem tem comida tem medo dos que não têm.
Quem não tem vira ameaça.
E se nossa ceia tão fraternal,
tão compartilhável for invadida pelos do terceiro andar abaixo?.
Como nos comportaremos?.
Se eu comesse um pouco menos,
até o limite de não passar mal, quantos dos andares abaixo teriam também o que comer?.
É de lascar olhar a sociedade em camadas, os discursos, as práticas,
as mesas de comida descendo os andares, as insensibilidades dos do primeiro andar.
Que estranhos que somos!.
Nossas ceias fartas do primeiro andar são transmitidas em tempo real para os andares abaixo.
Não podemos achar que chegam lá com cara de gratidão ou de comunhão.
Lá chegam como desigualdade,
injustiça,
má distribuição,
ostentação.
Existem dois natais.
Talvez três.

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