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O Fariseu, da parábola de Lucas,
fazia mais do que era exigido pela Lei, jejuava duas vezes na semana e dava o dízimo até daquilo que já havia sido entregue, como no caso da compra de um produto.
O Publicano, todavia, não tinha o que dar, estava esvaziado de obras e de si mesmo, existia num vácuo de alma, carregava apenas um arrependimento sincero e uma tristeza latente pelo pecado cometido contra Deus e contra o próximo.
É sempre assim, a religião trabalha com quantidades,
o Evangelho com qualidades,
a religião lida com o mérito,
o Evangelho com a impossibilidade,
a religião se move pelo princípio de Caim, que trabalhou no campo para produzir sua oferta, fruto de seu esforço e habilidade, tencionava impressionar a Deus.
Abel, todavia, compreendeu que o sacrifício estava no sangue, pois sem derramamento de sangue, como diz o escritor de Hebreus, não há perdão de pecados, entregou a oferta que prefigurava o Cordeiro imolado antes mesmo da fundação do Mundo.
De fato, é absurdo, como entender um criminoso, sendo executado pelo Estado, tendo protagonizado na vida o papel de malfeitor, ser perdoado na hora derradeira – “ Em verdade em verdade te digo hoje, estarás comigo no Paraíso” – sem nada ter feito a não ser crer que ali estava o Filho de Deus?.
É importante observar que tanto Jesus como o ladrão não foram para o paraíso naquele momento.
Jesus prometeu que levaria o ladrão para o paraíso naquele dia.
Aquele "hoje "significa apenas o fato, mas não a promessa cumprida.
O próprio Jesus morreu e ressuscitou no terceiro dia.
No quarto teve com os discípulos para depois subir ao Pai.
Portanto o "hoje” refere-se ao dia da promessa, não ao dia em que ela se cumpriria.
Jesus usou a palavra "hoje” para enfatizar sua promessa solene ao penitente ao seu lado, mas tal palavra se refere ao dia em que foi feita, não ao dia em que seria cumprida.
Como entender que a maior oferta depositada no gazofilácio do Templo foi, justamente, a de menor valor, fruto da pobreza de uma viúva, que deu de si mesma muito antes de dar as duas moedas, pois a alma estava embebida em ternura e gratidão?.
Como entender a alegria por apenas um pecador arrependido, em contrapartida de uma geração inteira de religiosos performáticos, que viviam da produção de obras mortas?.
Sim, foi preciso apenas um justo para que todos os pecados dos homens fossem perdoados, um morreu por todos,
logo todos morreram, um ressuscitou por todos, como está escrito, por isso todos ressuscitaram, aleluia!.
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