terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Poema sobre o coração e os apelos da razão

.




Sabe quando você quer muito que algo seja real?.
A gente acaba se deixando levar pelo desejo, buscando respaldá-lo em argumentos que jamais nos convenceriam se já não estivéssemos predispostos a isso.
O coração é hábil em nos pregar peças.
Por isso a necessidade de vez ou outra, promovermos uma conferência a portas fechadas entre a mente e o coração.
Não que a razão tenha sempre razão.
Às vezes, ela também se equivoca.
Mas não resta dúvida de que o coração seja bem mais suscetível e vulnerável a certos apelos.
Há que se redobrar os cuidados para que a mente e o coração não se tornem aliados incondicionais.
É mais produtivo mantê-los num clima de certa desavença.
Caso contrário, a mente sempre vai tentar justificar o que o coração já houver decidido.
O coração tem um jeitinho faceiro de dobrar a mente e fazê-la submeter-se a seus caprichos, nem que para isso tenha que se valer de chantagens e tentativas descaradas de suborno.
A mente não resiste a uma oferta de prazer, principalmente quando convencida de que os custos serão baixos.
Também não se pode ignorar por completo a voz do coração, principalmente quando nos fala pela via da intuição.
Não é raro que ele tenha razão.
Mente e coração só devem chegar a um acordo depois de boa dose de argumentação de ambas as partes.
Deixe que o coração se pronuncie.
Avalie seus argumentos.
E caso eles o convençam, atreva-se a ceder.
Que seja a consciência o árbitro que decidirá entre os argumentos da razão e os apelos do coração.
Quem deveria ter a última palavra?.
Os dois, quando a voz de ambos soarem em uníssono na câmara da consciência.
Depois disso, mantenha-os novamente em cômodos separados, possibilitando avaliar cada nova decisão de um ângulo distinto, porém, complementar.

Uma analogia do papel da igreja no mundo

.




Enquanto o sol aponta para Cristo,
e sua centralidade no evangelho,
e em toda a criação, a lua por sua vez, aponta para a igreja, a lua que nos presenteia todas as noites, com sua esplendorosa beleza, jamais poderia nos submeter a tão gloriosa graça,
se não fosse a luz do sol refletida em sua face, pois, ela mesma não produz luz,
há um fulgor que só podemos transmitir se antes nos dispusermos a servir, é o fulgor da glória divina, não há glória humana que se compare ou que a ofusque, e a gloria da igreja é servir refletindo o brilho de Cristo, pois, a igreja não tem glória em si mesma.
Sua beleza reside na humildade de ser o astro menor, e que só pode ser contemplado a noite, mas que ainda assim, põe-se a servir nesta oportunidade, transmitindo o que recebe, refletindo a luz que vem do sol .
Enquanto a noite se estende, e a humanidade não consegue ver a luz de Cristo, cabe a igreja ser o "farol" do mundo.
Ao contrário disto, para que serviria a lua, ou a igreja?.
Que serventia tem uma lua sem luz,
em meio as trevas da falta de conhecimento de Cristo?.
Quando a igreja prescinde de seu papel,
e deixa de iluminar, uma vez que não possui luz própria, ela mesma fica em trevas.
É como um cego guiando outro cego.
A igreja perde seu potencial quando se torna em si mesmada, ela tropeça e leva outros ao tropeço, se amontoam na mesma cova.
A lua não busca glórias para si, apenas compartilha o que recebe do astro rei, não deixando faltar luz aos povos da terra, nos momentos de escuridão. 
São mistérios enquanto não se têm conhecimento deles, e de seu real significado, mas quando a luz é lançada sobre eles, o mundo pode compreendê-los, e então, abrem-se os olhos dos cegos, acontece o "haja luz" para os que caminhavam errantes na escuridão.
O papel da lua se dá a noite, bem como o papel da igreja, a noite aqui, representa a ausência do pleno conhecimento de Cristo, a igreja deve revelar em meio a noite, que existe luz demonstrando que de onde vem o que ela esta refletindo, tem infinitamente mais!.
A igreja assim como a lua é sinal de esperança, quando está alta lá no céu, não diz: Eu sou.
Ela exclama: O sol voltará a brilhar.

Em torno de Cristo

.




Pensando em nosso sistema solar,
onde os planetas giram em torno do sol, percebemos que no evangelho,
cada um de seus  princípios e valores, com seu tamanho, e força de atração, orbitam em torno de Cristo,
cada um deles, tem sua importância, como astros que são,
porém, a harmonia entre eles,
se dá na fidelidade orbital,
isto é, no seu posicionamento constante, girando em torno de Cristo,
o centro do evangelho, e sem colidirem entre si, por maior que seja a força de atração de um princípio bíblico,
não pode suprimir o sol e,
não tem condição para isso.
Todo o conteúdo do evangelho emana de Cristo, e deve ser compreendido a partir dele, mesmo os mais valiosos conceitos contidos na bíblia, não são começo meio e fim em si mesmos,
são os meios através dos quais somos direcionados a pessoa de Cristo, e a sua centralidade.
Eleger qualquer princípio bíblico,
e colocá-lo no centro do universo da vida, removendo-o de sua posição real,
é condenar toda a harmonia da pregação e por conseguinte, de sua prática, posicionar qualquer princípio no lugar do sol, faria com que o evangelho passasse a girar em torno de um eixo incapaz de sustentar a posição ocupada pelo próprio Cristo. 
Onde Cristo deveria estar se não no ponto central da história?.
Nele estão o começo meio e fim,
ele preenche a tudo e todas coisas.
Não basta ter o sol no sistema solar,
ele precisa estar no centro da órbita dos planetas, para que todos que o orbitam, recebam sua luz, pois, nenhum astro do sistema solar tem luz própria,
de igual modo, nenhum princípio bíblico tem luz própria, ou seja, fora de Cristo, pois, é ele quem traça a rota de sua própria luz, tornando possível a contemplação de qualquer outro astro, ou princípio bíblico.
Distante do sol, qualquer princípio bíblico é frio, escuro, e mata.
Não há beleza alguma em qualquer astro que se possa notar no escuro,
apenas na incidência da luz,
isto aponta para a eterna dependência que os princípios bíblicos tem da pessoa de Cristo, tentar difundir qualquer um deles tendo os visitado no escuro,
é como navegar em um vasto oceano, sob um céu opaco, sem nenhum ponto de luz, levado apenas pelos ventos de vãs.
Um evangelho onde os planetas reinem sobre o sol, é um cataclismo,
ou anátema.
Somente o evangelho preenchido por Cristo, e onde tudo gira em torno dele, oferece a luz necessária para que exista vida, pois evangelho é sobre Cristo do início ao fim, se houvesse fim, pois o que é preenchido por Cristo, não tem fim.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

A besta de nossa era

.




Alguns pregadores sensacionalistas se aproveitam de qualquer coisa para tocar o rebu, aterrorizando os crentes com mensagens apocalípticas, alardeando sobre o fim do mundo, e aproveitando para convencê-los a votar em quem é contra tudo isso que está aí.
A estátua de um jaguar alado colocada na entrada principal da ONU em Nova York.
A estátua foi um presente do México para marcar a presidência do país latino-americano no Conselho de Segurança.
O embaixador do México na ONU, explicou numa rede social da Missão mexicana, o significado da escultura.
O diplomata contou que a chegada do “Guardião da Paz e da Segurança” servia também para mostrar à ONU a cultura mexicana, a mensagem dos artesãos mexicanos e a contribuição do país, como membro fundador da organização.
Segundo os artistas, a obra transmite a importância das tradições, costumes e identidade cultural mexicanos.
O jaguar é um animal considerado cauteloso, estratégico, que sai à caça de dia, mas permanece vigilante à noite.
Por incrível que pareça, em vez de um jaguar, alguns viram a figura de um leopardo e o relacionaram a estátua à besta do Apocalipse.
Será que realmente há uma semelhança entre elas?.
Deu pra notar que a estátua na ONU só tem uma cabeça e não sete como a besta?.
Além do mais, a besta de Apocalipse nada mais era do que uma representação da ferocidade do império romano. 
Interessante que os que se incomodaram com a estátua que representa a constante vigilância da ONU para a manutenção da paz mundial,
não parecem ter se incomodado com a estátua de um touro dourado no centro financeiro de São Paulo representado o poder do capital.
Este sim, a besta de nossa Era!.

Barris de carvalho

.



O evangelho não combina com estruturas arcaicas que cheiram a mofo. 
Odres têm prazo de validade,
envelhecem, e já não suportam o frescor do vinho novo.
Por isso acabam se rompendo de modo que o vinho seja entornado. 
O vinho só não entorna se acompanhar o processo de envelhecimento do odre.
Mas perde o sabor original,
vira vinagre,
fica intragável e indigesto.
Uma coisa é envelhecer em barris de carvalho que preservam o sabor do vinho, outra é deixá-lo envelhecer num odre de couro que acaba apodrecendo.
Odre não é lugar de armazenamento do vinho.
O vinho só era colocado no odre pouco antes de ser servido ou para ser transportado em menores porções. 
As denominações se transformaram em adegas onde o vinho é estocado em odres velhos prestes a se romperem.
Por isso, não suportam o frescor de uma mensagem contextualizada do evangelho que busca responder às questões pertinentes de seu tempo. 

Poema sobre a iminência do perigo

.




Quão frustrante é percebermos que as pessoas à nossa volta estão adormecidas e não logramos despertá-las.
Umas, porque não querem.
Outras, porque não podem.
Estão numa espécie de hibernação existencial.
Passam pela vida, sem nem sequer notar o que ocorre à sua volta.
Sentimo-nos sós na maneira como percebemos a vida.
Será que vale mesmo a pena despertá-los?.
Será que não nos odiarão por causa disso?.
Pergunto-me até que ponto a ignorância pode ser uma bênção.
O conhecimento não traz apenas libertação, mas também muito sofrimento.
Por isso, às vezes, parece preferível não saber.
Mas qual o custo da ignorância?.
Se o conhecimento liberta, a ignorância nos faz reféns.
Todavia, a questão que deve ser considerada é: quanta verdade somos capazes de suportar?.
Um doente terminal, por exemplo, tem o direito de saber que está morrendo?.
É justo poupá-lo disso?.
A ignorância não nos poupa do sofrimento em si, apenas da preocupação.
Somos como a criança que se estira no banco traseiro do carro e dorme tranquilamente confiando na destreza de seu pai ao volante.
Alguns, quando despertados, insistem em pedir “mais cinco minutinhos”.
Quando se dão por si, perderam o dia.
E quando menos esperam, lá se foi um ano, uma década, a vida inteira. 
Se ninguém acordar, quem avisará aos demais passageiros da iminência do perigo?.
Quem os preparará para enfrentar os desafios que o futuro reserva?.

domingo, 5 de dezembro de 2021

Poema sobre fábulas e parábolas

.




Fábulas quem não as ouviu quando criança?.
Quem nunca adormeceu enquanto sua mãe as contava?.
Elas servem para entreter e estimular a imaginação das crianças.
Pelo menos, a intenção de quem as conta geralmente é esta.
O problema começa quando o indivíduo chega à vida adulta insistindo em viver num mundo de fantasia parecido com o dos contos de fada.
Uma dose de fantasia é sempre bem-vinda, pois amortece o impacto produzido pela realidade em nossa alma.
Todavia, pessoas em posse de suas faculdades mentais sabem diferenciar entre fantasia e realidade.
Somente os psicóticos e esquizofrênicos não conseguem distingui-las.
Não desprezemos o poder alucinógeno que tem as fábulas.
Na pior das hipóteses, elas são capazes de provocar delírios e alucinações, alienando-nos da realidade. 
Quando os poderosos perceberam o potencial entorpecedor das fábulas, trataram de adotá-las como instrumento de dominação.
Mesmo as verdades do Evangelho podem ser de tal maneira pervertidas que acabem se tornando em fábulas e se pondo à serviço dos poderosos.
Sabendo que os riscos eram reais e que o dia de sua partida se aproximava, Pedro escreveu:
Como diferenciar o Jesus do Evangelho e o Gezuis das fábulas, o Cristo real e o Cristo genérico?.
Se as fábulas se tornaram num recurso retórico para o entorpecimento e adestramento da população,
as parábolas eram o recurso predileto de Jesus para despertar e chamar as pessoas de volta à realidade.
Tanto as fábulas quanto as parábolas são estórias fictícias, porém, têm elementos, desdobramentos e objetivos bem diferentes.
Se as fábulas pervertem, as parábolas subvertem.
O cenário das fábulas é sempre um lugar bem distante e extraordinário,
um reino mágico, uma floresta encantada, um país das maravilhas.
Assim, o ouvinte é arrebatado, deixando sua dura realidade para explorar lugares só acessíveis à imaginação.
Já as parábolas contadas por Jesus tinham como cenário o chão da vida,
o cotidiano das pessoas, o dia-a-dia de gente comum.
Toda fábula tem um herói.
Geralmente, um príncipe encantado.
Alguém que salva a mocinha indefesa das garras do dragão ou da rainha má.
Ele não vem das classes humildes.
Não é um trabalhador braçal.
É um membro da realeza.
Um bravo e valente príncipe.
O nosso povo é adestrado pelas fábulas, nutrindo a expectativas de que um dia alguém virá em sua defesa.
Trata-se de um messianismo falso, alimentado por uma esperança fantasiosa.
Foi esta esperança que colocou Collor no poder.
O caçador de marajás parecia a resposta aos nossos mais profundos anseios por justiça. 
As parábolas de Jesus não tem mocinhos nem bandidos.
Não há lugar para heróis.
Nelas a ambiguidade de nossa humanidade é exposta.
Nossos preconceitos são postos à prova.
De quem se espera socorro, recebe-se indiferença.
E quem deveria ser vilão, inusitadamente se comporta com altruísmo e compaixão.
A mocinha indefesa da fábula se transforma no povo chamado a ser protagonista de sua própria história em vez de ficar aguardando passivamente o beijo do príncipe. 
Não há maçãs enfeitiçadas nas parábolas.
Não há nada de que os poderosos nos convençam que não possamos tocar, nem mesmo nos aproximar. 
Os poderosos usam e abusam da ignorância das pessoas para manipulá-las a seu bel-prazer.
Foi assim que os senhores de engenho convenceram os escravos a não comerem as mangas, produto recém-chegado ao Brasil e que prometia trazer muitos lucros.
Alegavam que comer manga e beber leite podia levar à morte.
Séculos depois, ainda damos crédito a esta fábula ridícula sem qualquer embasamento científico.
Igualmente, há um evangelho que alimenta superstições, levando as pessoas a evitarem certos ambientes e comportamentos, não por consciência, mas por medo de serem ‘enfeitiçadas’ ou de darem ‘legalidade’ ao maligno.
De fato, só a verdade liberta.
A mentira amordaça e idiotiza.
Toda fábula esboça uma moral.
Aquela que serve aos interesses das classes dominantes.
Já as parábolas de Jesus demonstram preocupação com questões éticas que seguem pertinentes independentemente da época, da cultura e do lugar.
Algumas parábolas parecem visar o nosso senso de moral contraditório.
Não importa qual seja o enredo, todas as fábulas têm final feliz.
O que começa invariavelmente com “era uma vez”, termina com “e foram felizes para sempre”.
Quem não gostaria que fosse assim na vida real?.
As parábolas de Jesus rompem com este clichê.
Algumas nem sequer parecem terminar.
As estórias contadas por Jesus não terminam com final feliz, simplesmente porque elas não terminam.
A trama humana segue em aberto.
A vida segue seu ritmo.
Há espaço para contingências e eventualidades.
Fábulas falam de certezas.
Parábolas falam de surpresas.
Quando parecia que Jesus ia dar o arremate da estória, ele introduz uma situação inusitada.
Se uma fábula como a da Branca de Neve fosse uma parábola, ela não teria o desfecho que teve.
Depois do beijo que quebrou o feitiço da maçã que lhe fora ofertada pela rainha má, a Branca de Neve se casaria,
teria filhos, e viveria muitas outras coisas, nem todas tão felizes.
Ninguém fica feliz para sempre.
Um casamento, por mais maravilhoso que seja, um dia termina, seja pelo divórcio ou pela morte.
Haverá dias de sol, mas também dias nublados.
Haverá risos, mas também lágrimas em abundância.
De acordo com as fábulas, o objetivo da vida humana é a sua própria felicidade.
As parábolas nos sugerem outros objetivos.
O bem comum e a glória para Deus.
Enquanto as fábulas nos apresentam um mundo de fantasia, as parábolas revelam como deve funcionar o mundo sob os princípios que regem o reino de Deus.
Depois de terem ouvido Jesus contar inúmeras parábolas, sem conter a curiosidade, os discípulos o cercaram  e perguntaram: “Por que lhes falas por parábolas?.
A noção que muitos têm do reino de Deus tem mais a ver com as fábulas do que com as parábolas de Jesus.
Imaginam um reino num lugar mui distante, para além do sol e das estrelas.
Ou, quem sabe, numa dimensão paralela.
Para estes, o reino ainda não veio.
Foi ofertado por Jesus durante Seu ministério terreno, porém, teve que ser adiado.
Todavia, um dia ele virá de maneira estrondosa, com direitos a efeitos especiais dignos de um verdadeiro filme.
Em uma de Suas parábolas, Jesus diz que “o reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem, pegando nele, semeou no seu campo;
o qual é, realmente, a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos”.
Portanto, o reino não vem com aparência majestosa.
Uma de suas principais características é a discrição.
Na parábola seguinte, Ele compara o reino de Deus “ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado”.
Portanto, o reino não se manifesta de maneira espetaculosa, mas vai se infiltrando sorrateiramente nas estruturas erigidas pelo gênio humano. 
Preferimos confundir a realidade do reino de Deus com o que seria um mundo ideal, onde as coisas sempre começassem e terminassem bem, sem choro, nem sofrimento ou morte.
O ideal do reino, porém, está mais para utopia do que para fantasia.
Utopia é aquilo que nos move na direção do horizonte, ainda que a cada passo que dermos, o horizonte pareça se distanciar.
Sonhamos com um mundo onde impere a justiça, a verdade e o amor.
Um mundo sem guerras, pestes, exploração e violência.
Todavia, este mundo com que sonhamos não deve ser esperado, mas perseguido.
Ele não está em algum outro lugar.
Ele está no futuro.
Em vez de aguardarmos uma intervenção divina, devemos arregaçar as mangas e trabalhar como instrumentos usados por Deus na edificação do Seu reino na terra.
A intervenção divina já aconteceu no momento que nos foi enviado o Seu único Filho, e posteriormente o Seu Espírito para nos habilitar ao cumprimento do Seu propósito.
O futuro, portanto, precisa ser construído, ainda que, do ponto de vista de Deus ele já seja real.
A fantasia produz letargia.
A utopia nos impulsiona a caminhar.
A fantasia nos anestesia.
A utopia nos dá um choque de realidade.
Dentre as várias parábolas registradas nos evangelhos as duas mais conhecidas são, sem dúvida, a do filho pródigo e a do bom samaritano.
O filho mais novo pede ao pai que lhe dê sua parte na herança.
O pai, por ser justo, resolve repartir a herança entre ele e seu irmão mais velho.
O caçula deixa sua casa e gasta tudo o que recebera com orgias e jogatina.
Sem dinheiro, humilhado e tendo que trabalhar cuidando de porcos, cai em si e resolve voltar para a casa do pai e pedir-lhe uma chance. Surpreendentemente, o pai não apenas o recebe, mas promove uma festa para recepcioná-lo.
O filho mais velho, enciumado, recusa-se a participar da festa. 
Se vivêssemos num mundo ideal, o irmão mais velho celebraria a volta do irmão.
Num mundo ideal, seu irmão jamais teria gastado tudo com mulheres e farra.
Ou ainda: num mundo ideal, ele nem mesmo teria abandonado o seu pai àquela altura da vida.
A propósito, por que o mais velho não se manifestou quando o caçula requereu sua parte na herança?.
Talvez, por ter percebido que ele também seria beneficiado, recebendo sua parte na herança.
Num mundo ideal, ele chamaria seu irmão para conversar e o dissuadiria daquela loucura.
Porém, o fato é que não vivemos num mundo ideal, tampouco num mundo de fantasias.
No mundo real, filhos torram o que custou aos pais uma vida inteira de trabalho árduo.
No mundo real, irmãos sentem inveja entre si por se acharem preteridos por seus pais.
Onde o reino de Deus entra nisso tudo?.
Como um reino real e justo opera num mundo real e injusto?.
Já que o filho mais novo requereu sua parte.
Que o pai reparta com equidade entre ambos os filhos.
Já que o pródigo perdeu tudo.
Que ele caia em si, se arrependa de sua loucura e tome o rumo da casa do pai.
Já que filho rebelde retornou arrependido.
Que o pai lhe dê uma festa de recepção.
Já que o filho mais velho se recusa a celebrar a volta do irmão.
Que o pai vá ao seu encontro e o convença de entrar na festa.
Se fosse uma fábula, a estória teria terminado com o irmão mais velho dançando ao lado do resto da família, abraçado ao pai e ao seu irmão pródigo, e, assim, foram felizes para sempre.
Em vez disso, a estória termina com o pai argumento com seu primogênito.
O que ele teria feito, então?.
Jamais saberemos.
Todavia, podemos saber o que nós mesmos faremos numa situação que demande uma postura semelhante.
Na segunda parábola, um homem é assaltado e deixado semimorto à beira da estrada.
Vem um sacerdote e finge não ver.
Vem um levita e faz o mesmo.
Até que surge um samaritano, e para surpresa de todos, não só lhe presta os primeiros socorros, como também o coloca em sua cavalgadura, leva-o para uma hospedaria, paga a conta do seu tratamento e pede que o dono não economize, caso seja necessário.
Na volta, ele passaria por lá e acertaria a conta.
Num mundo ideal, o sacerdote e o levita jamais se recusariam a socorrer àquele moribundo.
Num mundo ideal, os ouvintes de Jesus jamais teriam ficado surpresos com a atenção dispensada por um samaritano a um judeu naquelas condições.
Não haveria preconceito num mundo ideal.
Num mundo ideal, aquele homem nem sequer teria sido assaltado.
Num mundo ideal, certamente não haveria assaltantes nas estradas.
Mas, definitivamente, este não é um mundo ideal.
Coisas ruins acontecem a qualquer um.
Nem mesmo os justos estão imunes a isso.
Então... já que há assaltantes na estrada, bom seria que aquele homem não viajasse sozinho.
Mas, já que viajava só e foi assaltado... Que quem quer que passe por ali, sem importar sua posição social ou seu credo religioso, pare para prestar-lhe socorro.
Já que o sacerdote e o levita se recusaram a parar.
Que entre em cena aquele que passou a vida inteira sendo alvo de bullying e chacotas por parte dos judeus, e preste o devido socorro àquela vítima sem perguntar-lhe nada.
Num mundo ideal não haveria aborto.
Mas já que meninas são estupradas e no momento do desespero acabam optando pelo aborto.
Que haja quem as acolha, sem condená-las.
Que seu sofrimento seja atenuado.
Num mundo ideal não haveria divórcio.
Mas no mundo real, há.
Então, que nos habilitemos a acolher os que foram machucados por este tão dolorido processo, sem julgá-los ou discriminá-los.
Num mundo ideal não há drogas.
No real, há.
Logo, qual deve ser nossa postura ante tão sério e crônico problema social?.
Num mundo ideal não há cadeias superlotadas, nem mesmo criminosos para serem presos.
Já que isso é coisa do mundo real,
então, vamos visitá-los.
Num mundo ideal há acontecem tragédias naturais.
Em nosso mundo, sim.
O que é que estamos fazendo de braços cruzados?.
Saiamos ao encontro de suas vítimas, solidarizando-nos com a sua dor.
Num mundo ideal não há fome.
No real, sim.
Então, repartamos o nosso pão com os que nada têm.
Deixemos de apontar o dedo acusador e estendamos as mãos, as mesmas que usualmente levantamos ao céu em adoração a Deus. 
Enquanto a vida acontece lá fora,
a bela igreja segue adormecida.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Poema sobre Maria na ótica protestante

.




Será complicado para um discípulo entender a devoção mariana.
E a coisa se complica ainda mais ao deparar-se com a multiplicidade de Marias.
Afinal, quantas mães teve Jesus?.
No México, ela aparece com feições indígenas a um índio asteca,
sendo chamada de “Nossa Senhora de Guadalupe”.
No Brasil, sua imagem com feições negras é encontrada por pescadores e recebe o nome de “Nossa Senhora da Conceição Aparecida”.
Em Portugal, ela surge como “Nossa Senhora de Fátima”, cuja aparição teria sido testemunhada por três crianças.
Em nenhum dos casos, ela foi vista por sacerdotes ou nobres.
Sem entrar no mérito dogmático, percebo uma busca que julgo autêntica por uma fé engajada e radicada no contexto cultural em que emerge.
Essas múltiplas facetas de Maria visa atender ao anseio de rebelar-se contra os padrões vigentes.
Uma Maria negra desafia o flagrante racismo de uma era escravagista.
Uma Maria indígena confronta os vergonhosos interesses dos conquistadores espanhóis.
Não preciso endossar uma devoção popular para compreendê-la enquanto fenômeno social e psicológico.
As diversas aparições místicas podem ser vistas como projeções do inconsciente coletivo; o que, diga-se de passagem, não diminui em nada a sua importância.
Mas de onde o inconsciente coletivo buscou material para dar a Maria as características que lhe são atribuídas?.
Por que surge negra no Brasil e índia no México?.
Ao longo dos séculos, o inconsciente coletivo foi acumulando informações via tradição, bem como anseios e fantasias que, ao se mesclarem, produziram as múltiplas Marias, além de uma considerável diversidade de Cristos: Nosso Senhor do Bonfim, Nosso Senhor dos Passos, etc.
Assim como em Israel, Deus era chamado de Iavé Jireh, Iavé Shamá, Iavé Tsedikenu, etc.
Obviamente, há um único Cristo, que por Sua vez, nasceu de uma única e bendita virgem.
A tradição protestante não endossa qualquer devoção que não seja dirigida exclusivamente ao Deus.
Todavia, como profetizou o anjo que a visitou, Maria deveria ser honrada por todas as gerações.
Não faz sentido adorar ao Filho, negando-se a honrar à Sua bem-aventurada Mãe.
E a melhor maneira de honrá-la é submetendo-se a seu Filho, bem como destacando suas inegáveis virtudes, dentre as quais, a humildade e a obediência.
Jesus é o único caminho que nos leva a Deus.
Maria foi o caminho tomado por Deus para vir ao encontro dos homens.
O desprezo protestante a Maria é uma reação grotesca e exacerbada à devoção que se presta a ela.
Deveríamos, antes, optar por uma postura idônea e equilibrada.
E ainda que não comunguemos com sua devoção por parte de nossos irmãos católicos, que possamos respeitá-la e buscar compreender o contexto de onde emerge. 
No fundo, todos somos marianos, pois nos submetemos à instrução que ela deu aos serventes em Caná da Galileia: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
O mesmo Jesus que obedeceu a divindade materna, o  pedido da mãe, para realizar seu primeiro prodígio milagroso público: a transformação da água em vinho, é o mesmo Jesus que, finalizado em sua missão de corpo  terrestre na cruz, delegou a humanidade inteira a Ela, representada na figura do mais jovem discípulo que ele muito amava, com a seguinte solicitação: "MÃE eis aí teu filho.
FILHO eis aí tua mãe!.
Maria nunca foi  propriedade da igreja católica, que historicamente perseguiu, abusou e até matou todas as pessoas que viram as manifestações de Maria ou de Jesus.
Curiosamente os Cristos manifestaram-se de forma sobrenatural para pessoas cuja devoção genuína representavam tudo o que os poderes constituídos da Terra sempre desprezaram.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Poema sobre o Dezembro

.




E, quando menos se espera,
já é dezembro, já é quase Natal.
Pragas,
guerras,
rebeliões,
revoluções.
Tudo vem, 
Tudo vai,
Tudo passa
Tudo desaparece.
Nada é para sempre,
nem mesmo uma crise política, econômica ou sanitária.
A quebra da Bolsa em 1929 não foi para sempre.
O choque do petróleo nos anos 70 não foi para sempre.
O estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, em 2008, não foi para sempre.
Assim como a pandemia e suas variantes não serão para sempre.
Enfim, não se pode esquecer que a gente não vai ter crise para sempre.
Não se trata de minimizar as tragédias, que são coisas inclementes e implacáveis.
Mas se trata de lembrar que até tragédias deixam lições, que não podem ser desperdiçadas.
Se trata de lembrar que é preciso se preparar para o que vem depois.
Houve perda de produtividade aqui e ali, mas também houve ganho de criatividade lá e cá.
Muitas empresas quebraram,
muitos negócios seguiram e novos mercados surgiram.
Esse é o ponto.
Estar pronto para aquilo que segue, aquilo que surge ou aquilo ressurge.
Estar preparado para o recomeço,
a reinvenção,
a revigoração,
a regeneração.
Ou seja, quando menos esperamos a primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome,
nem acredite no calendário,
nem possua jardim para recebê-la.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

O próximo e o outro

.




O próximo a gente ama
O outro a gente descarta
O próximo a gente cuida
O outro a gente maltrata
O próximo eu enxergo como igual
O outro é igual a um animal
O próximo tem alma e coração
O outro não tem nada de mais
O próximo, você convida
O outro, você obriga
O próximo é elogiado
O outro é sempre zombado
O próximo tem valor
O outro tem preço
O próximo recebe incentivo
O outro é desestimulado
O próximo pode sonhar
O outro vive no pesadelo
Quem é o próximo?.
Quem é o outro?.
A resposta está no dia a dia seu moço.
Observe o Brasil
Preste muita atenção
O outro só é próximo:
Da dor.
Do sofrimento.
Do descaso.
Do desrespeito.
Do medo.
Da miséria.
Da violência.
Do gueto.
Se você não acredita, dê uma olhada nas estatísticas.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Quem acredita sempre alcança

.




Somos muito mais encorajados a crer na faceta do Deus que faz, do que na faceta do Deus que espera, nutrimos a ideia de que o melhor atendimento é sempre o imediato, queremos que Deus faça já,
o que tem de ser feito, esperar nunca soa como uma boa resposta para nós.
Na carta Aos Romanos percebemos uma relação entre a paciência e onipotência divina, onde Deus, apesar de ser onipotente, também é paciente,
isto mostra que deter todo poder,
não significa ter que fazer, e muito menos imediatamente, definitivamente, Deus não está preocupado em agir rapidamente, para demonstrar o quanto é poderoso, esperar também é uma ação praticada por Deus.
Imagina Deus esperando algo acontecer.
Ele esperou Jesus ser gerado no ventre de Maria, esperou que ele pudesse sair pregando as boas-novas do reino de Deus, esperou que ele surpreendesse a muitos com manifestações milagrosas, nunca antes vistas, até que chegasse à cruz, e então, Jesus pudesse dizer "Está consumado", para recebê-lo no mais alto e sublime trono, se Deus quisesse, poder não lhe faltaria para fazer tudo em um estalar de dedos.
Mas Ele determina o que há de ser,
e aguarda o tempo daquilo que precisa de tempo para que seja, ainda que ele mesmo trabalhe para que isso aconteça, Deus sendo eterno não deixou de ser paciente, mesmo não dependendo do tempo, e podendo subjugá-lo e utilizá-lo como queira.
Quem nunca se beneficiou da paciência divina?.
Se não fosse esta paciência, que se dispõe a esperar até que entendamos que esperar faz parte de muitos processos, para que a excelência da obra não seja comprometida, esta mesma paciência comporta o tempo para o nosso arrependimento, aprendizado entre tantas outras aplicações.
Pense em uma gravidez, por melhor que seja ter um filho nos braços, adiantar o processo causaria um aborto, por isso o tempo de gestação precisa ser respeitado, bem como em tudo na vida,
a pouca paciência ou, a falta dela, pode pôr tudo a perder, mesmo o que é bom, estando fora do seu tempo, pode ser muito ruim.
O que fazer enquanto se espera?.
Como não se desesperar na espera?.
Há uma consolação baseada naquele que é a palavra, o verbo vivo, Cristo, receber sua palavra e guardá-la é encontrar consolação.
Nem sempre as respostas consolam,
as vezes pode nos deixar ainda mais ansiosos, ou até decepcionados, e tristes, sendo então a melhor atitude, esperar, mas vale enfatizar que esta espera deve ser à luz da bíblia, buscando nela a tração necessária para chegarmos ao momento da manifestação do poder de Deus, segundo sua sabedoria.
A junção de paciência e consolação das escrituras, resultam em esperança, tem esperança quem tem paciência, espera serenamente quem encontra a consolação das escrituras.
O desespero por sua vez, é a ausência da esperança, trocando em miúdos,
o desespero aponta falhas na paciência
ou na busca pela consolação das escrituras, estas duas coisas precisam andar juntas, é impossível que uma balança aponte equilibrio, se uma de suas bandejas estiver faltando, então, até que Deus se manifeste em nossa causa, nos ocupemos em buscar a paciência e a consolação das escrituras, de modo que jamais nos falte esperança.

Postagens mais lidas