quinta-feira, 17 de junho de 2021

Poema sobre o conhecimento, ignorância e mistério

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Alguns pássaros estão presos desde o nascimento, não conhecem o voo livre e vivem cantando alegremente.
Outros foram encontrados machucados, e o passarinheiro oportunista os colocou na gaiola.
Outros foram atraídos para a armadilha em busca de fartura e abundância.
Na gaiola, eles passam por adaptações e adestramento.
No início é difícil, mas com o tempo todos acabam se acostumando com a gaiola. Os pássaros passam a se sentir seguros ali, enxergando o imenso céu como um perigo e os pássaros livres como perdidos e desprotegidos.
Depois de adaptados, todos os pássaros da gaiola acabam cantando alegremente, satisfazendo o passarinheiro orgulhoso de ter muitos pássaros cantadores em seu domínio que, quanto mais cantam, mais atraem novos membros para a gaiola, dando cada vez mais visibilidade e prestígio ao passarinheiro. 
Por vezes, um ou outro pássaro, instintivamente, rejeita o aperto da gaiola, então, na primeira chance ele foge,
e por não saber viver livre, acaba entrando em outra gaiola, as vezes mais espaçosa e liberal, um viveiro, onde consegue fazer alguns voos curtos. Então, se sente realizado e satisfeito. Alguns param por aí, outros conseguem, enfim, perder o medo do céu, e se libertam de vez, de quaisquer gaiola, passam a viver livres, e alimentados em lugares seguros, sendo expostos às demandas, desafios e dinâmicas da vida, adquirindo reflexo para fugir do predador, e sabendo onde não deve pisar. 
Gaiola apertada ou espaçosa, tradicional ou liberal, não deixa de ser gaiola.
Da gaiola ao viveiro, a liberdade é uma ilusão.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Azorrague

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Deus não quer ser anunciado acima de todos, Ele quer ser praticado como Emanuel, o Deus conosco.
Sim, um Deus que caminha pelos becos, com os excluídos,os doentes, os sedentos, os diferentes, os marginalizados, as minorias oprimidas.
O Deus que ignorou o sinédrio, o templo, poderes e domínios, e caminhou em direção aos cansados de tanta opressão, fardos, julgamentos e condenações que vinham dos amantes da moral e bons costumes, os representantes de Deus.
Deus só é acima de todos se for Deus conosco, aquele que caminha junto, que se fez servo, pequeno, singelo, e cheio de graça.
Se o Deus das igrejas for desassociado disso, e com objeto a que se atribui poder sobrenatural ou mágico de maiorismo, poder e visível aparência, não é Deus, pois ele mesmo disse que o maior é aquele que serve.
O Deus que remete às elites, à exclusão, ao domínio, ao autoritarismo e triunfalismo, é outro, é o deus que nasce da vaidade dos homens.
É o deus mais amplo de egoísmo e orgulho dos homens.
É o deus criado pelos doutores das leis, homens especializados, mestres, escribas e fariseus.
É o deus feito sob a encomenda, elaborado sob a medida de acordo com preferências ou especificações pessoais.
É o deus usado como desculpas para tudo sem ter consciência de que a nossa imprudência, o nosso descaso,
o nosso orgulho,
a nossa desobediência,
a nossa vaidade e as várias mazelas da nossa alma são os responsáveis direto pelo fracasso, pela frustração e por muitos de nossos problemas.
Um deus das instituições religiosas que nos açoita e nos flagela em situações nas quais Jesus estabeleceu uma postura duramente crítica em relação às lideranças das instituições religiosas de sua época.
Um deus recriado no autoengano imaginando que a Igreja superou o momento caótico da religião de outrora.
Um deus supersticioso e polêmico que as religiões criaram.
Um deus capaz de mudar a escrita, os mandamentos e as controvérsias de Jesus com a religião e com os líderes religiosos de hoje.
Um deus político capaz de nos fazer cair nas mesmas armadilhas de ontem, escondendo Deus das pessoas.
Um deus que não permite o homem redescobrir o Deus justo, amoroso e verdadeiro, tantas vezes encoberto pela prática religiosa legalista, moralista e autoritária.

domingo, 13 de junho de 2021

Divergência de opiniões

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Hoje a evolução tecnológica nos permite manifestar nossas opiniões com muito mais ênfase e velocidade.
Todos falam sobre o que quiserem em tempo real, antes era um pouco mais complicado, temos que celebrar a liberdade expositiva, salvo raríssimas exceções, as opiniões circulam livremente.
É importante o ato de expressar o que se está pensando, tendo consciência de que aparecerão opiniões divergentes,
algo que considero extremamente saudável.
As opiniões divergentes são um estímulo ao nosso desenvolvimento, elas foram construídas sobre outra base teórica e nos forçam a buscar mais consistência para o que estamos falando e defendendo.
Agora, existem algumas pessoas que confundem divergência com desrespeito. Uma coisa é manifestar-se contrário ao que leu ou ouviu, outra coisa é manifestar-se com deselegância, usando falas depreciativas, só porque não concorda com o que foi exposto. Opiniões desrespeitosas não acrescentam e, em alguns casos, provam a pouca ou nenhuma habilidade do sujeito em lidar com o fato de ser contrariado, aquela história de achar que o mundo começou a partir do próprio umbigo e que fora desse contexto tudo está errado.
Apesar da ampla liberdade de divulgação do pensamento, algumas idéias e opiniões não resistem ao tempo e as pesquisas.
Falemos, opinemos, mas antes e sobretudo: respeitemos.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Maiores do que todas as crises

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O auxílio emergencial deve ser pago por mais três meses e isso é um alento para milhões de pessoas e famílias carentes e desamparadas.
Logo depois, entrará em vigor o que o ministro chamou de “novo” Bolsa Família.
Essa rede de assistência oficial é muito importante e bem-vinda.
Mas vale lembrar que, além do governo, todos nós podemos levar apoio, proteção, solidariedade e voluntariedade a serviço de quem precisa comer.
Ou seja, existem várias maneiras de ajudar a alimentar o próximo.
Portanto, descubra a sua.
Descubra como doar arroz e feijão, sopa e legumes.
E descubra também como doar tijolo e cimento, roupa e sapato, livro e remédios.
Mesmo depois do auxílio emergencial, mesmo a partir do novo Bolsa Família,
é fundamental não deixar a fome matar mais do que o vírus.
O Brasil é um país de muitas crises.
Felizmente, o Brasil e os brasileiros são maiores do que todas as crises.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Europocêntrico

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O presidente da Argentina, disse que os mexicanos vieram dos índios,
os brasileiros vieram da selva, mas nós, os argentinos, chegamos em barcos.
No entanto, na selva, milhões de indígenas do futuro Brasil sofreram com a chega de gente de barco, os europeus. Viemos da selva, sim, ao menos dos que conseguiram sobreviver.
Viemos da selva com arco e flecha, com tacape e zarabatana.
Viemos do barco, também. 
Temos mais barcos nas raízes, os seres humanos escravizados e trazidos à força da África para o Brasil.
Foram milhões.
A maioria da sociedade brasileira tem genética ligada a navios negreiros. 
Séculos XIX e XX chegaram  barcos lotados de pobres  italianos, espanhóis, japoneses e outros, quase todos fugindo das pátrias de origem e desembarcaram no Brasil e na Argentina.  
A tradição da Argentina é negar a diversidade e tentar inventar uma identidade europeia exclusiva, passando por cima de assassinatos massivos como a Campanha do Deserto do general e futuro presidente do país, Julio  Roca.
Ele matou dezenas de milhares de indígenas.
Sempre imaginei Roca em algum inferno, mas, parece, sua alma atormentada virou espírito obsessor na Casa Rosada. 
Por um lado, a fala do atual presidente Fernández é um ato falho racista e europocêntrico.
Por outro lado, é um alívio saber que falar asneiras sem pensar não é uma praga exclusiva da política brasileira. 

segunda-feira, 7 de junho de 2021

O ensaio sobre as argumentações

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Não sou psicólogo, mas tenho quase certeza que a psicologia explica essa necessidade absurda que algumas pessoas têm demonstrado de querer falar a mesma coisa a todo momento, independente do que se esteja conversando ou do silêncio reinante. 
É normal e extremamente saudável o entusiasmo, a vibração com um determinado assunto.
Imagine indicar um filme ou  um livro para alguém, mas sem a devida empolgação, sem brilho nos olhos, certamente essa indicação vai cair no vazio, ficará claro que não é tão boa assim, pode até ser excelente, mas a comunicação foi péssima.
A necessidade de comunicar bem, sem interferências, sem ruídos, com vigor e entusiasmo, mas também com limite, respeitando o direito do outro, o espaço do outro.
Lamentavelmente, cada hora que passa fica mais evidente que algumas pessoas estão extremamente limitadas,
vivendo num universo onde só cabe um assunto e uma única verdade,
nada pode sair disso e o pior é que eles vêem isso em toda parte, em todo lugar, mesmo quando não se tem nada além do vazio.
Faço parte de alguns grupos nas redes sociais que são livres, sem regras e assuntos determinados,
mas existem aqueles que a todo momento ficam iguais a um disco arranhado.
Ou seja, são repetitivos, mas estão sempre se pensando o máximo, acreditam que estão arrebentando.
Fora das redes sociais, também vemos isso, tenho amigos que não importa o que se esteja conversando, eles sempre dão um jeito de inserir o mesmo assunto, uma autoafirmação acompanhada do desejo de convencer os outros a verem o mundo como eles estão vendo, aquela história de nós somos os melhores e todos os que vieram antes ou estão de fora do nosso círculo não prestam.
Já falei e vou repetir, entendo e aceito que as pessoas falem do que acreditam, é natural querer que outros acreditem também.
Não podemos transformar o diálogo em monólogo, as conversas em palestras,
os amigos em platéia.
Existe um limite pra tudo, às pessoas tem o direito delas de não querer ouvir ou falar sobre certas questões.
Agora, se você não consegue se controlar, pense que mesmo sem dizer uma palavra, você diz muita coisa, pego emprestado, neste momento, um conceito religioso que trata os seus fiéis como cartas que os homens lerão,
ou seja, seu silêncio pode ser o maior discurso de todos, exatamente porque sua prática diária diz tudo o que as pessoas precisam saber.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Poema sobre os alienígenas

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Às vezes o alienígena é você,
as pessoas estão no mundo delas e é você quem insiste em entrar e viver nesse mundo. 
Um sonhador é o alienígena no mundo dos que não sonham.
Um pacifista é o alienígena no mundo dos que querem a guerra.
Um vencedor é o alienígena no mundo dos derrotados.
Um empreendedor é o alienígena no mundo dos acomodados.
Um vegetariano é o alienígena no mundo dos carnívoros.
Um pensador é o alienígena no mundo dos alienados.
Um corajoso é o alienígena no mundo dos covardes.
Um diferente é o alienígena no mundo dos iguais.
Um desbravador é o alienígena no mundo de quem quer viver na caverna.
Um amante é o alienígena no mundo dos que odeiam a tudo e a todos.
Um ser humano é o alienígena no mundo dos que perderam a humanidade.
Alienígenas, alienados ou alinhados?. Tanto faz, o que importa é viver em paz, com amor e não ser mais um monótono desnecessário.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Poema sobre a fragilidade da economia

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Mais três fatos novos alertam para a fragilidade da democracia brasileira.
Um deles é o episódio da Polícia Civil do Rio que estabeleceu cinco anos de sigilo sobre suas operações.
O outro é o caso da repressão policial a cidadãos do Recife que se manifestavam contra o governo federal.
E o último é o ato de indisciplina militar do general Pazuello, ainda hoje sob análise do Alto Comando do Exército.
Os três fatos têm em comum agentes da área de segurança dando sinais de ruptura, confronto e desobediência perante normas vigentes,
regras elementares e, sobretudo, princípios constitucionais.
Quem não se importa com a pobre democracia deveria, pelo menos, se importar com a pobre economia, e se importar com milhões de brasileiros que dependem dela.
Sim, porque um país fora da lei não se ajuda no sentido de atrair negócios, contratos, investimentos, empreendimentos e oportunidades. Essas coisas capazes de gerar emprego e renda a famílias desesperadas.
Um país fora da lei não oferece segurança, estabilidade e previsibilidade aos gestores de fundos globais.
Esses gestores e seus fundos estão buscando ambientes convidativos a bilhões e bilhões de dólares.
Um país fora da lei condena trabalhadores fora do mercado,
condena cidadãos fora da dignidade, condena brasileiros fora do desenvolvimento.
Enfim, um país fora da lei não tem salvação.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Poema sobre o vírus do fanatismo

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O vírus do fanatismo segue contaminando políticos e eleitores.
Ninguém mais defende ideias,
ninguém mais discute propostas, ninguém mais busca soluções.
Todo mundo virou defensor de uma causa, em geral de uma causa partidária, ideológica, hipócrita e cínica.
Milhares passaram a se orgulhar de crenças absolutas, certezas histéricas e convicções totalitárias.
O pior é ter que atravessar as vias expressas da insensatez.
E, antes de atravessar, ter que olhar para os dois lados e ver pessoas insultando, como se não fossem parte do problema.
Uma fração ou facção relevante da humanidade perdeu a humanidade,
e está orgulhosa de ter se tornado imoral ou amoral.
A vulgaridade não se envergonha, a irresponsabilidade é abominável.
Essa gente age como se estivesse hipnotizada.
Essa gente não se importa com histórias contadas por idiotas, com a vida cheia de som e fúria, sem sentido algum.
Essa gente só se importa em seguir em transe aqueles que serão seus malfeitores e seus algozes.
Essa gente só olha para o abismo, sem saber que um dia o abismo olhará para todas elas.

Poema sobre o século dos genocídios

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Se a olharmos de perto, a humanidade, talvez passaremos a pensar nos mortos do Uganda,
de Angola,
da Bósnia,
do Burundi,
do Sudão,
do Brasil, de toda a parte, de todos os lugares,  há montanhas de mortos.
Mortos de fome,
mortos de miséria,
mortos fuzilados,
mortos de vírus,
degolados,
queimados,
massacrados.
Quantos milhões de pessoas terão acabado assim neste maldito século que está prestes a acabar?.
Por favor, alguém que me faça estas contas, dêem-me um número que sirva para medir, só aproximadamente, a estupidez e a maldade humana.
E, já que estão com a mão na calculadora, não se esqueçam de incluir na contagem as crianças assassinadas a tiro e a sangue-frio.
Só não me venham com conclusões!.
A única conclusão é morrer.
Sem dúvida, mas não desta maneira.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Poema sobre a construção social da subcidadania

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O homem é um estranho no mundo que criou.
O homem não sabe organizar este mundo para ele, porque não dispõem de um conhecimento positivo da sua própria natureza.
O avanço das ciências das coisas em relação às dos seres vivos é um dos acontecimentos mais trágicos da história da humanidade.
O meio construído pela nossa inteligência e pelas nossas intenções não se ajusta às nossas dimensões nem à nossa forma.
Não nos serve.
Sentimo-nos infelizes.
Degeneramos moralmente e mentalmente.
São precisamente os grupos e as nações em que a civilização industrial atingiu o apogeu que mais enfraquecem.
Neles, o retorno à barbárie é mais rápido. Permanecem sem defesa perante o meio adverso que a ciência lhes forneceu.
Na verdade, a nossa civilização, criou condições em que, por razões que não conhecemos exatamente, tornou a própria vida impossível.
A inquietação e a infelicidade dos habitantes da nova cidade têm origem nas instituições políticas, económicas e sociais, mas sobretudo na sua própria degradação.
São vítimas do atraso das ciências da vida em relação às da matéria.

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