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O presidente da Argentina, disse que os mexicanos vieram dos índios,
os brasileiros vieram da selva, mas nós, os argentinos, chegamos em barcos.
No entanto, na selva, milhões de indígenas do futuro Brasil sofreram com a chega de gente de barco, os europeus. Viemos da selva, sim, ao menos dos que conseguiram sobreviver.
Viemos da selva com arco e flecha, com tacape e zarabatana.
Viemos do barco, também.
Temos mais barcos nas raízes, os seres humanos escravizados e trazidos à força da África para o Brasil.
Foram milhões.
A maioria da sociedade brasileira tem genética ligada a navios negreiros.
Séculos XIX e XX chegaram barcos lotados de pobres italianos, espanhóis, japoneses e outros, quase todos fugindo das pátrias de origem e desembarcaram no Brasil e na Argentina.
A tradição da Argentina é negar a diversidade e tentar inventar uma identidade europeia exclusiva, passando por cima de assassinatos massivos como a Campanha do Deserto do general e futuro presidente do país, Julio Roca.
Ele matou dezenas de milhares de indígenas.
Sempre imaginei Roca em algum inferno, mas, parece, sua alma atormentada virou espírito obsessor na Casa Rosada.
Por um lado, a fala do atual presidente Fernández é um ato falho racista e europocêntrico.
Por outro lado, é um alívio saber que falar asneiras sem pensar não é uma praga exclusiva da política brasileira.
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