quinta-feira, 4 de maio de 2023

O Senhor do Sábado

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Jesus escolhia exatamente o dia de sábado para trabalhar fazendo curas dentro das Sinagogas e isso afrontava essa tradição mosáica.
Como Jesus mesmo disse no evangelho de Mateus capítulo 12 se era permitido curar alguém no dia de sábado?.
Em outras passagens ele pergunta se é permitido fazer o bem ou o mal em dia de sábado.
E cura um homem com a mão seca,
da qual os fariseus deliberaram dali um meio de matar Jesus por essa "transgressão" dentro de um templo.
Ainda no mesmo capítulo Jesus denuncia que os sacerdotes do judaísmo transgridem no templo as tradições do sábado e não se tornam culpados, como por exemplo, considerar que devem dispender esforço para salvar um animal de criação que tenha caído num buraco enquanto recusam ajudar outra pessoa, alguém da mesma espécie por causa do sábado.
É nessa passagem que os seguidores da doutrina do antigo testamento xingam Jesus de fazer bruxarias em nome de Belzebul.
E Jesus trabalhava sempre de graça fazendo milagres, inclusive nos sábados.
Acredito que Jesus ainda está totalmente alinhado com as proposições a respeito de valor do trabalho como a pauta socialista e até mesmo o ideal comunista debate em sua plena proposição de iguadade e abundância sobre o que é produzido e distribuido entre todos, tal como foi praticado nesse exercício em Atos dos Apóstolos de uma forma superior a igualdade que o comunismo apresenta, mas revela uma questão moral acima da média não aceita pela cultura de seu próprio povo, dado que Jesus era o Cristo e Verbo da Verdade de Deus que nunca cessa de trabalhar por amor,
e esse amor foi recusado como a pedra angular, porque paradoxalmente ao trabalhar por Amor, descançava nesse esforço quanto mais trabalhava.

Os erros

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O erro iguala os seres humanos,
uma vez que todos nós erramos.
O que difere um indivíduo do outro é a forma como cada um lida com seus erros.
Os sábios reconhecem seus erros, admitem seus deslizes,
conhecem seus limites e não tem medo de olhar para si mesmos a fim de retratarem-se e mudar de postura, crescer, evoluir, amadurecer.
Os imprudentes não reconhecem seus erros, recusam olhar para dentro e admitir suas fraquezas e deslizes.
Seguem na vida acusando e culpando outros por seus erros.
São arrogantes, orgulhosos, intratáveis e não evoluem.
Por isso Jesus nos convidou a andar com ele e imitá-lo. 
Quanto mais parecidos com ele nos tornamos, melhores seres humanos seremos.
Não porque deixamos de errar,
mas porque aprendemos a pedir perdão, a perdoar e melhorar a nós mesmos e aos nossos relacionamentos interpessoais. 



terça-feira, 2 de maio de 2023

Poema sobre as redes sociais

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Faço uso das mídias como recurso de comunicação.
Não pretendo impor nenhuma ideia.
Há um grande grupo que resistirá a qualquer proposta de reflexão.
Desejo ser amigo da uma ovelha que não se achou entre as 99 do aprisco.
Quero ajudar a senhora que perdeu sua moeda a varrer a casa.
Pretendo ser o master chef na festa na casa do Pródigo.
Há vestígios de poesias em todas minhas cicatrizes, a cura é  um caminho interno.
Vivemos na época dos sorrisos fartos e de alegria solta.
A Disneylandia se universalizou na internet.
Agora todo mundo pode sorrir sem tem que viajar para os Estados Unidos.
A felicidade nas redes sociais é invejável. 
Nós, os introspectivos, ficamos assim proibidos de expor nosso apego ao sossego, nossa tendência de buscar lugares bucólicos, nossa atração por dias nublados.
Nós, os angustiados, ficamos inibidos e calamos sobre nossa melancolia.
Como descrever o nó que se aloja entre o coração e a garganta?.
O que dizer da sensação de andar em becos onde as paredes parecem se estreitar?.
O riso farto nas redes sociais serve quase como patrulha que condena os angustiados a se encolherem como perdedores.
A geração atual adoeceu de exibicionismo, narcisismo, individualismo, materialismo eis as verdadeiras doenças do presente século.
Os smartphones se transformaram em plataformas para que pessoas ocas estimulem outras a quererem ser o que não são.
O mundo atual valoriza gente bem resolvida e rica.
Viramos as estrelas de nossos próprios Stories com roteiros muitas vezes forjados numa vida de plástico.
Nós sabemos de tudo, sem sabermos de nada.
Temos opinião sobre tudo, mas não colocamos nada em prática.
Saímos de um ambiente extremamente tóxico e nem percebemos que estamos nos tornando exatamente o que criticamos.
A diferença é que agora "quem manda é a gente".
O resultado disso é uma geração de lacradores e só.
Pouco conteúdo de vivência que supõem conhecer.
Apontamos falhas e sugerimos soluções que só ficam no papel, ou melhor, nas telas.
O alcance dos influencers é agora em milhões de Km pela Terra, com 5 Cm de profundidade.
Nada que forma consciência pega, só frases prontas de discursos fáceis e de "lacração".
É essencial que haja coerência entre o que se escreve e o que se vive e a verdade é que não é possível saber tudo e nem é preciso.
Mas viver é desafio para quem se acostumou a fingir.
Com o advento da Internet, não precisa ser, basta representar.
Só é preciso ter um celular chique,
uma luz boa ou escrever algo do momento.
Por isso tantos coach's ensinando o que jamais conseguiriam praticar e tantos mentores espirituais sem pisar o chão da vida, sem saber, na prática, que o Verbo se fez carne.



segunda-feira, 1 de maio de 2023

Poema sobre o Dia do trabalho

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Hoje se celebra o Dia do Trabalhador.
E para muitos, não haveria melhor maneira de se comemorar do que tirando um dia de folga.
Quem gostaria de passar o Dia do Trabalhador trabalhando?.
Fica a impressão de que trabalho seja um mal necessário, uma espécie de maldição.
Daí, a repulsão que temos pela segunda-feira e o anseio para que chegue logo a sexta-feira.
O sonho de muitos é ganhar na loteria para nunca mais ter que trabalhar.
Consideramos bem-aventurado quem ganhe muito trabalhando pouco. 
Há até quem busque justificar tal postura teologicamente.
Estes entendem que o trabalho foi instituído por Deus como uma maldição decorrida do pecado.
A célebre frase "Do suor do teu rosto comerás..." ecoa como uma sentença condenatória.
No entanto, mesmo antes da queda, Deus destacou o primeiro homem para que cultivasse o seu jardim.
Portanto, o Jardim do Éden, ou jardim dos prazeres, também era o jardim do labor. 
O que torna o trabalho algo penoso ou prazeroso é o seu propósito.
A pergunta que deveríamos nos fazer é: pelo quê trabalhamos?.
Ironicamente, se trabalhamos visando unicamente nosso sustento e aprazimento, o trabalho se torna um tormento.
Mas quando trabalhamos visando o bem comum e a glória de Deus, sentimo-nos realizados e plenamente satisfeitos.
Em outras palavras, o que dignifica o trabalho é o amor.
Se num jardim, o trabalho tornou-se numa sentença de maldição, também foi num jardim que Cristo resgatou o sentido sagrado do trabalho ao ter Seu suor transformado em sangue.
Movido somente por amor, Ele abriu mão de viver para Si mesmo para oferecer Sua vida em resgate de muitos.
Por amor Ele sorveu inteiramente o cálice que nos estava destinado, absolvendo-nos de toda e qualquer sentença.
Uma vez redimidos, deixamos de viver e trabalhar visando exclusivamente nosso próprio bem, para viver e trabalhar em função da glória de Seu amor e do bem de nossos semelhantes.
Em Mateus, há um relato de que Jesus andava por cada cidade e vilarejo da região empobrecida da Galileia, ensinando nos espaços de aprendizado da tradição judaica, chamadas sinagogas, anunciando um outro mundo possível e cuidando dos doentes. 
O texto afirma que ele "via" as multidões e se "compadecia" delas, porque estavam "confusas e desamparadas". 
Ver é mais do que olhar.
É quando a alma é capaz de notar,
que gera a compaixão, que não é dó,
que sente pena e não se envolve.
Compaixão é "passar a padecer na mesma intensidade".
É doer em mim a dor do outro. 
Então Jesus usa uma linguagem camponesa: A colheita é grande,
mas poucos são os trabalhadores.
Orem ao Senhor da colheita, peçam que Ele envie mais trabalhadores para os seus campos. 
No Reino de Deus, um outro mundo possível, a lógica se inverte: Faltam trabalhadores para muito trabalho.
Não é emprego, não há de se obter lucro disto que não seja no coração e para a eternidade. 
No ambiente da religião é comum a formação de consumidores e empregados, num sistema que gira em torno de si.  
No ambiente do Evangelho há poucos trabalhadores, porque o processo é difícil, cansativo e nada lucrativo.
É impossível enriquecer.
Por isso sobra campo e falta trabalhador. 
Estes preferirão a segurança do emprego religioso e do consumo de produtos religiosos para a manutenção de seus mundos completamente distantes da visão do outro com percepção de suas dores, que gera compaixão e que muda mundos,
para além do próprio mundo,
que gravita em torno de seu umbigo.













domingo, 30 de abril de 2023

Poema sobre um caminho sobremodo excelente

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Se sem amor nada aproveita,
então, sem amor não há vida, pois,
caso qualquer coisa gerasse vida,
o amor seria apenas uma outra alternativa de vida como existência.
Quando Paulo disse que o amor era o caminho sobremodo excelente,
ele não dizia que sem amor há um caminho de vida, ainda que inferior.
Afinal, João decretou que Deus é amor, e, também, que aquele que ama conhece a Deus, e que quem não ama jamais o viu.
O amor não é romântico e nem fantasioso.
O amor lida com o que é; sem ficção. Nele cabe o romance quando essa é a relação, mas suas bases são bases de verdade e realidade.
Amar é, segundo Jesus, uma decisão espiritual a ser praticada em relação a tudo e todos.
No entanto, o amor tem que ser como o de Jesus.
Amor diferente do amor de Deus não é amor.
Pode-se ver Jesus escolhendo amigos livremente.
No entanto, Ele nunca escolheu a quem amar.
Ele amava quem Ele via e passava o Seu caminho.
Amava sempre.
Amou os amigos e discípulos,
mas amou a todos os inimigos.
E quando se diz que Ele amou alguém, como foi com o “jovem rico”, se o vê amando sem romance.
Ele ama apenas com amor, não com emoções empolgadas.
Também se vê que no amor de Jesus o objeto do amor, o “jovem rico”,
mesmo amado, é deixado seguir o seu caminho de auto-engano.
Afinal, o amor deixa livre sempre.
De fato, o amor não é dono de nada e nem de ninguém.
Depois dessa tríplice negação à Jesus, Pedro precisava de atenção especial.
Jesus faz uma pergunta tríplice à Pedro se ele O ama?.
Apascentar os cordeiros, pastoreia as ovelhas e apascentar as ovelhas é, uma forma perfeita de ama a Deus.
Ou seja, ama a Deus é ama o meu próximo e ama o meu próximo é ama a Deus.
Quem ama não possui e nem é possuído.
O amor não é um encontro de serpentes famintas engolindo uma a outra.
Amar o inimigo é uma decisão,
assim como amar a mulher que um dia se amou e se ama.
Cada dia mais é minha convicção que aquele que cresce em amor cresce em tudo na vida; da mente aos atos de vida verificável.
Quem quer expandir a mente deve amar, pois, somente no amor pode-se crescer para atingir o que quer que seja nosso maior potencial nesta vida e na vida porvir.
É triste ver que as pessoas creiam que o amor é apenas um confeito de bolo fraterno e humano, sem que vejam que o amor é a própria vida, e que um ser humano estará tanto mais vivo quanto mais amar com o único amor que existe em projeção eterna: o amor de Deus, que é aquele que tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta; e que jamais acaba.
O amor pode mudar de configuração conforme a relação.
Porém, uma coisa que o amor não sabe é desamar.
Vida é amor; e quem ama está no caminho de todas as coisas.
O amor é a síntese única de tudo o que faz a existência acontecer.
E se estamos falando da vida no espírito, nada há que possa ser real e verdadeiro sem amor.
Portanto, quem quer vida eterna, que busque amar; fazendo as decisões do amor todos os dias.
Que possamos escolher o que é perfeito que são as conclusões dos propósitos de Deus para o ministério a um mundo necessitado através da palavra pregada e da palavra confirmada.
Que possamos parar de vê como em espelhos antigos feitos de metal que conferiam reflexos confusos, o que uma ilustração de nosso conhecimento imperfeito durante este século.
Que possamos buscar o conhecimento completo e instantâneo no futuro estado de Glória.
Que possamos saber que os valores da fé, esperança e amor estão necessariamente neste século.
Mas no século vindouro a fé cederá lugar para a visão, e a esperança se transformará em experiência e só o amor permanecerá eterno.









sábado, 29 de abril de 2023

Poema sobre a metáfora

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Entre a imagem e a metáfora, melhor a metáfora. 
As imagens vêem prontas, desprovidas de encanto; não desafiam a imaginação. 
Já a metáfora provoca a imaginação; abre janelas na alma.
Deus se desaloja dos objetos para morar nas palavras; ele se faz poesia, insinua-se na prosa e quer ser intuído no romance.
Deus transforma substantivos em verbos para fazer do amor a ação de amar.
Seu bem-querer fica melhor entendido em uma história do pai que celebra a volta do filho. 
Uma explanação sobre a mecânica da graça, empobrece o mistério de alimentar uma multidão com um punhado de peixes e pães.
O divino reside além da concretude fria das coisas e se transubstancia nos detalhes da existência. 
Ele, inconcebível, deseja se fazer perceptível nas ações solidárias.
Embora intangível, Deus busca se confundir com a bondade. 
Apesar de invisível, seu propósito consiste em habitar nos corações sensíveis.
Congelados em sistemas e lógicas,
os deuses se tornam feios.
Visualizados na metafísica,
perdem o encanto; explicados no racionalismo, apequenam-se. 
Só é possível conhecer a Deus viajando ao mundo da ternura.
Os que amam são nascidos de Deus.
Pessoas sensíveis, mesmo quando não admitem, estão próximas dEle.
Deus é vento que move as relações,
os gestos solidários, o enfrentamento do mal, a luta pela justiça. 
Deus é espírito que se multiplica em gentilezas, ternura que nós chega através de uma escuta enamorada.
O Verbo se fez carne para que paremos de persegui-lo no além.
Seu nome é Emanuel,
Deus conosco.




sexta-feira, 28 de abril de 2023

O nivelamento de todos

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Todos se nivelarão, mais cedo ou mais tarde.
Todos aqueles que têm o espírito da ganância, da vaidade, do orgulho, do egoísmo, da maldade e da prepotência acabará algum dia.
O trajeto da ganância, do poder e da vanglória finda no vazio.
“Vaidade de vaidade, tudo é vaidade
O tempo poupa alguns mas só por um tempo.
Todos os poderosos, empresários, lideres políticos e religiosos a enorme maioria será esquecida em três gerações.
Fotografias vão para o lixo antes que o próximo meteoro passe por aqui.
Bisnetos mal conhecerão sua ascendência.
Ditadores, capitalistas, opressores, escravagistas não ficaram para sempre multiplicando a iniquidade. 
A foice corta o capim, a faca quente afunda na manteiga e o calor dispersa a neblina e todos os dias a morte leva alguém.
A rocha é forte, mas o ferro pode parti-la.
O ferro é duro, mas o fogo pode amolecê-lo.
O fogo tudo pode consumir, mas a água pode apagá-lo.
A água é devastadora, mas as nuvens a contém.
Não existe ninguém mais forte que o outro, todos têm suas limitações logo a sua frente.
Estimemos uns aos outros.
Sejamos gentis.
Cedo ou tarde, a morte nos tornará irmãos e irmãs.
Todas as fantasias desaparecem na hora da morte, mesmo que alguém decida encher de ouro e diamantes o local onde o corpo ficará.
Ou seja, alguém ainda pode não aceitar a igualdade e tentar levar a desigualdade para outro lugar.
Por isso, as pessoas que ainda se encontram vivas, precisam ama urgentemente a luz que veio ao mundo.
Que o culto a Deus seja exercício da humildade, do aprendizado,
da humanização urgentemente.
Que todos sabiam que o verdadeiro culto que agrada a Deus, é um ser humano cuidando de outro ser humano.
Que a conexão com a diversidade, regozija pela simplicidade,
ações em caridade, clamor pela equidade, reconhecimento da própria contingência e finitude, contemplação e respeito pela magnitude do planeta e do universo.
Seja consciência abrangente da humanidade como irmandade,
da natureza como necessidade,
da ternura como mote, da gentileza como norte, da indiferença ao sofrimento como morte.
Que a devoção a Deus seja amar a cada instante, não obstante
a complexa existência.
Deus quando nos fez, fez para a eternidade e não para a temporalidade, por isso é tão difícil entendermos porque partimos.
 Jesus, em determinado momento,
vai dizer aos seus discípulos que ele está indo para o Pai e irá preparar lugar para eles também.
Para aqueles que creem que Cristo ressuscitou a morte está superada,
já não tem mais poder algum,
pois também ela é temporal e está sujeita ao Eterno Deus.
A realidade da Ressurreição nos dá a certeza de que a dor que sentimos hoje com a morte, será superada pela glória da eternidade.
Não vivemos apenas o hoje,
mas já estamos vivendo na eternidade.
A morte é apenas parte do processo de algo muito maior e grandioso. 
A vida não termina com a morte e também não teremos outra vida após a morte, teremos sim um outro corpo.
Um corpo que não esteja sujeito a ação do tempo, um corpo que não esteja sujeito a doenças e que seja frágil, teremos um corpo ressurreto,
para vivermos o restante da eternidade.
Deus não nos fez para vivermos um curto período de tempo e com a ressurreição temos a certeza de que a vida não está presa a este local,
mas sim àquele que a dá, ou seja,
os dias da nossa vida não se resumem apenas àqueles vividos nesta terra,
mas também àqueles que viveremos ao lado de Deus.
Porque a vida não se resume ao aqui, porque a vida está para além daqui e porque ainda temos muito da eternidade para viver é que podemos repetir com o apóstolo Paulo:
Onde está, ó morte, a sua vitória?.
Onde está, ó morte, o seu aguilhão?.



quinta-feira, 27 de abril de 2023

Não tenha medo do amor

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Não firam as feridas que acumulam em pessoas vivas.
Não riem de pessoas que residem em ruas feridas, sofridas, esfomeadas, amarguradas, carentes de amor.  
Se você não se importa com os traumas de crianças, nunca tripudie o tormento de adultos.
Tenha cuidado com os nervos expostos de quem a vida chagou.
Os corpos são sensíveis.
Quando lágrimas escapam de olhos cansados, não as julgue.
Se o choro insiste, e nasce das injustiças,
ele é bem-aventurado.
Jamais pise em corpos caídos.
Nunca escarneça de derrotados. 
Gente abatida não merece inclemência.
Todos carecem de misericórdia.
Em uma existência fragilizada,
qualquer lâmina pode descer com a velocidade da guilhotina. 
O mundo clama por olhares calmos.
Devemos firmar os joelhos desconjuntados de senhoras alquebradas pela decepção.
Preservar a vida é imperativo sagrado. Transforme o seu colo em maca;
toque os dedos nas feridas alheias com leveza; transforme seus ombros em arrimo. 
Seja um samaritano que transpira solidariedade.
Encare a sorte dos esquecidos como ele fez com o viajante saqueado que agonizava na beira da estrada.
Não trate os desafortunados como inconvenientes.
Não ajude os que descartam o milagre da vida.
Ninguém nasceu para ser estorvo.
Evite risos sarcásticos e pilhéria.
Todas as pessoas desejam ser queridas.
Urge reaprender a chorar e a bordar a história com fios multicoloridos.
A história, feia ou bonita, pertence aos humanos.



terça-feira, 25 de abril de 2023

O salmo da minha razão

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Deus, tu és a razão da minha não-razão racional; a lógica do meu ser desarmonioso; a graciosidade das minhas emoções em desatino.
Tu és o amor que brota em mim a resiliência.
Tu és a minha bússola em que me acho;  me elevo e me exalto e me encolho;
me expando e me limito. 
Por Tua causa, falo e emudeço;
absorvo a vida e converso com ela.
Tu já me presenteaste com tanto.
Tu me cativaste com uma estranha ternura.
Tu és o labirinto que ainda não percorri, o enigma que sequer desvendei,
a equação que nunca solucionaria e o mistério que jamais alcançarei.
Posso apenas dizer que te amo,
mas sem conseguir explicar se estou sendo sincero.
Deus é amor e não adestrador.
Deus é amigo antes de ser senhor.
Daí a fala do profeta repercutir milênios depois: “Seduziste-me, ó Senhor, e deixei-me seduzir…”. 
A única missão que merece adesão é amar ponto final.
Por causa de Jesus mantenho uma fé, creio na integridade existencial de Jesus e nela encontro meu referencial.
Portanto, em Jesus podemos cultivar uma espiritualidade que transcende aos contornos, e às delimitações fundamentalistas.
Jesus de Nazaré me inspira, provoca e dá ânimo fé resiste e age.
Jesus propõe que vinho seja despejado em odres novos, Ele não se refere a melhorar o cenário ou a liturgia,
mas a uma nova forma de organizar a vida a partir de uma nova concepção de Deus.
Jogo fora o vinho que vinagrou pra mim enquanto vou me despindo dos andrajos de antigas certezas. 
Se muita coisa não faz mais sentido para mim, teimo em seguir a Jesus.



segunda-feira, 24 de abril de 2023

Seu nome é Compaixão

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Jesus foi assassinado sem motivo.
A elite religiosa que dominava o templo judeu negociou com os poderes imperiais para o crucificarem.
Jesus ameaçou a religião, jamais o império romano.
Ele veio da Galiléia, uma região remota e sem grande importância para César. 
Sua vida e ensino foi um perigo para os sacerdotes, pois os pobres, marginais e doentes, desde cedo viram que não precisavam do fardo dos fariseus para acessar a Deus.
Ele alcançou procurava a  periferia a encarnar valores dignos. 
Jesus inspirou escravos, destituídos e esquecidos e verem em Deus libertação, nunca algemas. 
Para ele, uma vida alicerçada em solidariedade, justiça, compaixão e bondade representava a chegada do reino de Deus.
Depois de uma tortura cruel o assassinaram na cruz. 
Lucas conta que houve trevas as três da tarde.
Escuridão súbita, que significava mais que um coincidente fenômeno da natureza.
A noite atípica foi sinal de que Deus não autenticava o que acontecia.
A escuridão foi metáfora.
Deus impediu que houvesse luz diante de tamanha sordidez.
O recado foi claro.
Deus nunca pactua com o perverso. 
Não aceito, portanto, a morte de crianças com fome.
Não maquio com teologia o descaso com que os indígenas foram tratados.
Já que abandonei a ideia de que Deus pilota as engrenagens da história a partir de em algum canto do universo ou desde alguma dimensão sobrenatural, repito: não existe morte necessária.
Não há uma glória futura que justifique a tortura de crianças.
O Deus calvinista que suja as mãos para conduzir a história não passa de um ídolo para mim. 
Não concilio a lógica de que Deus, numa espécie de loteria sádica, escolha premiar e maltratar os que quiser.
Não sei conviver com uma divindade discriminatória, que usa de critérios escondidos e inquestionáveis, e elege os seus.
Insisto: Deus não pactuou com os assassinos de Jesus. 
Deus se revolta contra qualquer maldade e interpela homens e mulheres a resisti-la.
O Deus que me inspira, sofre; o Deus que me anima, fez seu tabernáculo entre nós.
Seu nome é Compaixão.


domingo, 23 de abril de 2023

Gente como deveria ser

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Se essa imagem não nos incomoda talvez isso revele uma de nossas maiores dificuldades de ser gente.
Temos nós dificuldade em reconhecer a imagem de Deus em um ser humano que não seja nós mesmos.
A vida sem amor e sem o Co-autor desse amor,
é como uma planta numa terra sem rega.
Quanto mais ando,
ouço e principalmente me vejo e me dou conta de minhas imperfeições crônicas, mais essa notícia me constrange: 
Deus quis ser gente!.
Ele quis tomar a forma mais fragil do Universo.
O rei quis ser bebê nascido em uma manjedoura.
Ele deixou de contar as estrelas para vê-las de baixo.
Deixou de desenhar oceanos para conhecer uma lágrima.
Deixou seu trono para caminhar com pessoas oprimidas, humilhadas ou obrigadas a se sujeitar a algo ou alguma coisa.
Deus quis ser gente!.
Ele quis ser tudo o que hoje eu não queria ser.
Experimentou voluntariamente coisas das quais quero desesperadamente me livrar Ele amou pessoas que eu queria odiar, sendo uma delas eu mesmo.
Como pode algo assim?.
Deus quis ser gente!.
Em nossa natureza humana e capitalista todo menino quer ser homem,
todo homem quer ser rei,
todo rei quer ser Deus e só Deus quis ser menino, quis ser gente com sede, fome e necessidades básicas de um ser humano.
Não me espanta a idela de que seu nascimento ocorresse em nossos dias, ele teria justamente o rosto do vizinho que a gente detesta.
Ou alguém da nossa família ou parentela que a gente não suporta. 
Ou de que ele estivesse naquele grupo do qual temos prazer em falar mal.
Ou de que ele parecesse tudo, tudo o que não se parece com o Deus que criamos velho, branco e de barba.
Deus quis ser gente!.
E sendo gente ele amou a gente e nos ensinou a ama gente como a gente; pois os verdadeiros discípulos seriam reconhecidos pelo amor que carregassem.
Precisamos amar, precisamos ser gente, isso sim seriam o novo nascimento.
Não podemos nos odiar pois onde há ódio não há Graça e onde há Graça não há ódio!.
O amor é o único dogma existencial estabelecido por Jesus.
Daí, na mesma medida, o ódio ser a maior blasfêmia.
Diante disso não tenho muito o que fazer.
Eu me rendo.
Eu me resolvo.
Eu me revivo.
Eu me refaço.
Por favor Deus, me ensine a ser eu.
Mas não eu, só eu.
Eu sendo você.
Eu sendo gente como deveria ser.
É a partir do que me deixo ser engravidado que dou a luz o bem desse sêmen chamado: amor.
Fique tranquilo, não é ele nem essa e nenhuma das imagens geográficas.
Mas inquiete se, poderia ser.
Deus quis ser gente!.
Que possamos escolher ser também.

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