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Hoje se celebra o Dia do Trabalhador.
E para muitos, não haveria melhor maneira de se comemorar do que tirando um dia de folga.
Quem gostaria de passar o Dia do Trabalhador trabalhando?.
Fica a impressão de que trabalho seja um mal necessário, uma espécie de maldição.
Daí, a repulsão que temos pela segunda-feira e o anseio para que chegue logo a sexta-feira.
O sonho de muitos é ganhar na loteria para nunca mais ter que trabalhar.
Consideramos bem-aventurado quem ganhe muito trabalhando pouco.
Há até quem busque justificar tal postura teologicamente.
Estes entendem que o trabalho foi instituído por Deus como uma maldição decorrida do pecado.
A célebre frase "Do suor do teu rosto comerás..." ecoa como uma sentença condenatória.
No entanto, mesmo antes da queda, Deus destacou o primeiro homem para que cultivasse o seu jardim.
Portanto, o Jardim do Éden, ou jardim dos prazeres, também era o jardim do labor.
O que torna o trabalho algo penoso ou prazeroso é o seu propósito.
A pergunta que deveríamos nos fazer é: pelo quê trabalhamos?.
Ironicamente, se trabalhamos visando unicamente nosso sustento e aprazimento, o trabalho se torna um tormento.
Mas quando trabalhamos visando o bem comum e a glória de Deus, sentimo-nos realizados e plenamente satisfeitos.
Em outras palavras, o que dignifica o trabalho é o amor.
Se num jardim, o trabalho tornou-se numa sentença de maldição, também foi num jardim que Cristo resgatou o sentido sagrado do trabalho ao ter Seu suor transformado em sangue.
Movido somente por amor, Ele abriu mão de viver para Si mesmo para oferecer Sua vida em resgate de muitos.
Por amor Ele sorveu inteiramente o cálice que nos estava destinado, absolvendo-nos de toda e qualquer sentença.
Uma vez redimidos, deixamos de viver e trabalhar visando exclusivamente nosso próprio bem, para viver e trabalhar em função da glória de Seu amor e do bem de nossos semelhantes.
Em Mateus, há um relato de que Jesus andava por cada cidade e vilarejo da região empobrecida da Galileia, ensinando nos espaços de aprendizado da tradição judaica, chamadas sinagogas, anunciando um outro mundo possível e cuidando dos doentes.
O texto afirma que ele "via" as multidões e se "compadecia" delas, porque estavam "confusas e desamparadas".
Ver é mais do que olhar.
É quando a alma é capaz de notar,
que gera a compaixão, que não é dó,
que sente pena e não se envolve.
Compaixão é "passar a padecer na mesma intensidade".
É doer em mim a dor do outro.
Então Jesus usa uma linguagem camponesa: A colheita é grande,
mas poucos são os trabalhadores.
Orem ao Senhor da colheita, peçam que Ele envie mais trabalhadores para os seus campos.
No Reino de Deus, um outro mundo possível, a lógica se inverte: Faltam trabalhadores para muito trabalho.
Não é emprego, não há de se obter lucro disto que não seja no coração e para a eternidade.
No ambiente da religião é comum a formação de consumidores e empregados, num sistema que gira em torno de si.
No ambiente do Evangelho há poucos trabalhadores, porque o processo é difícil, cansativo e nada lucrativo.
É impossível enriquecer.
Por isso sobra campo e falta trabalhador.
Estes preferirão a segurança do emprego religioso e do consumo de produtos religiosos para a manutenção de seus mundos completamente distantes da visão do outro com percepção de suas dores, que gera compaixão e que muda mundos,
para além do próprio mundo,
que gravita em torno de seu umbigo.
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