domingo, 5 de dezembro de 2021

Poema sobre fábulas e parábolas

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Fábulas quem não as ouviu quando criança?.
Quem nunca adormeceu enquanto sua mãe as contava?.
Elas servem para entreter e estimular a imaginação das crianças.
Pelo menos, a intenção de quem as conta geralmente é esta.
O problema começa quando o indivíduo chega à vida adulta insistindo em viver num mundo de fantasia parecido com o dos contos de fada.
Uma dose de fantasia é sempre bem-vinda, pois amortece o impacto produzido pela realidade em nossa alma.
Todavia, pessoas em posse de suas faculdades mentais sabem diferenciar entre fantasia e realidade.
Somente os psicóticos e esquizofrênicos não conseguem distingui-las.
Não desprezemos o poder alucinógeno que tem as fábulas.
Na pior das hipóteses, elas são capazes de provocar delírios e alucinações, alienando-nos da realidade. 
Quando os poderosos perceberam o potencial entorpecedor das fábulas, trataram de adotá-las como instrumento de dominação.
Mesmo as verdades do Evangelho podem ser de tal maneira pervertidas que acabem se tornando em fábulas e se pondo à serviço dos poderosos.
Sabendo que os riscos eram reais e que o dia de sua partida se aproximava, Pedro escreveu:
Como diferenciar o Jesus do Evangelho e o Gezuis das fábulas, o Cristo real e o Cristo genérico?.
Se as fábulas se tornaram num recurso retórico para o entorpecimento e adestramento da população,
as parábolas eram o recurso predileto de Jesus para despertar e chamar as pessoas de volta à realidade.
Tanto as fábulas quanto as parábolas são estórias fictícias, porém, têm elementos, desdobramentos e objetivos bem diferentes.
Se as fábulas pervertem, as parábolas subvertem.
O cenário das fábulas é sempre um lugar bem distante e extraordinário,
um reino mágico, uma floresta encantada, um país das maravilhas.
Assim, o ouvinte é arrebatado, deixando sua dura realidade para explorar lugares só acessíveis à imaginação.
Já as parábolas contadas por Jesus tinham como cenário o chão da vida,
o cotidiano das pessoas, o dia-a-dia de gente comum.
Toda fábula tem um herói.
Geralmente, um príncipe encantado.
Alguém que salva a mocinha indefesa das garras do dragão ou da rainha má.
Ele não vem das classes humildes.
Não é um trabalhador braçal.
É um membro da realeza.
Um bravo e valente príncipe.
O nosso povo é adestrado pelas fábulas, nutrindo a expectativas de que um dia alguém virá em sua defesa.
Trata-se de um messianismo falso, alimentado por uma esperança fantasiosa.
Foi esta esperança que colocou Collor no poder.
O caçador de marajás parecia a resposta aos nossos mais profundos anseios por justiça. 
As parábolas de Jesus não tem mocinhos nem bandidos.
Não há lugar para heróis.
Nelas a ambiguidade de nossa humanidade é exposta.
Nossos preconceitos são postos à prova.
De quem se espera socorro, recebe-se indiferença.
E quem deveria ser vilão, inusitadamente se comporta com altruísmo e compaixão.
A mocinha indefesa da fábula se transforma no povo chamado a ser protagonista de sua própria história em vez de ficar aguardando passivamente o beijo do príncipe. 
Não há maçãs enfeitiçadas nas parábolas.
Não há nada de que os poderosos nos convençam que não possamos tocar, nem mesmo nos aproximar. 
Os poderosos usam e abusam da ignorância das pessoas para manipulá-las a seu bel-prazer.
Foi assim que os senhores de engenho convenceram os escravos a não comerem as mangas, produto recém-chegado ao Brasil e que prometia trazer muitos lucros.
Alegavam que comer manga e beber leite podia levar à morte.
Séculos depois, ainda damos crédito a esta fábula ridícula sem qualquer embasamento científico.
Igualmente, há um evangelho que alimenta superstições, levando as pessoas a evitarem certos ambientes e comportamentos, não por consciência, mas por medo de serem ‘enfeitiçadas’ ou de darem ‘legalidade’ ao maligno.
De fato, só a verdade liberta.
A mentira amordaça e idiotiza.
Toda fábula esboça uma moral.
Aquela que serve aos interesses das classes dominantes.
Já as parábolas de Jesus demonstram preocupação com questões éticas que seguem pertinentes independentemente da época, da cultura e do lugar.
Algumas parábolas parecem visar o nosso senso de moral contraditório.
Não importa qual seja o enredo, todas as fábulas têm final feliz.
O que começa invariavelmente com “era uma vez”, termina com “e foram felizes para sempre”.
Quem não gostaria que fosse assim na vida real?.
As parábolas de Jesus rompem com este clichê.
Algumas nem sequer parecem terminar.
As estórias contadas por Jesus não terminam com final feliz, simplesmente porque elas não terminam.
A trama humana segue em aberto.
A vida segue seu ritmo.
Há espaço para contingências e eventualidades.
Fábulas falam de certezas.
Parábolas falam de surpresas.
Quando parecia que Jesus ia dar o arremate da estória, ele introduz uma situação inusitada.
Se uma fábula como a da Branca de Neve fosse uma parábola, ela não teria o desfecho que teve.
Depois do beijo que quebrou o feitiço da maçã que lhe fora ofertada pela rainha má, a Branca de Neve se casaria,
teria filhos, e viveria muitas outras coisas, nem todas tão felizes.
Ninguém fica feliz para sempre.
Um casamento, por mais maravilhoso que seja, um dia termina, seja pelo divórcio ou pela morte.
Haverá dias de sol, mas também dias nublados.
Haverá risos, mas também lágrimas em abundância.
De acordo com as fábulas, o objetivo da vida humana é a sua própria felicidade.
As parábolas nos sugerem outros objetivos.
O bem comum e a glória para Deus.
Enquanto as fábulas nos apresentam um mundo de fantasia, as parábolas revelam como deve funcionar o mundo sob os princípios que regem o reino de Deus.
Depois de terem ouvido Jesus contar inúmeras parábolas, sem conter a curiosidade, os discípulos o cercaram  e perguntaram: “Por que lhes falas por parábolas?.
A noção que muitos têm do reino de Deus tem mais a ver com as fábulas do que com as parábolas de Jesus.
Imaginam um reino num lugar mui distante, para além do sol e das estrelas.
Ou, quem sabe, numa dimensão paralela.
Para estes, o reino ainda não veio.
Foi ofertado por Jesus durante Seu ministério terreno, porém, teve que ser adiado.
Todavia, um dia ele virá de maneira estrondosa, com direitos a efeitos especiais dignos de um verdadeiro filme.
Em uma de Suas parábolas, Jesus diz que “o reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem, pegando nele, semeou no seu campo;
o qual é, realmente, a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos”.
Portanto, o reino não vem com aparência majestosa.
Uma de suas principais características é a discrição.
Na parábola seguinte, Ele compara o reino de Deus “ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado”.
Portanto, o reino não se manifesta de maneira espetaculosa, mas vai se infiltrando sorrateiramente nas estruturas erigidas pelo gênio humano. 
Preferimos confundir a realidade do reino de Deus com o que seria um mundo ideal, onde as coisas sempre começassem e terminassem bem, sem choro, nem sofrimento ou morte.
O ideal do reino, porém, está mais para utopia do que para fantasia.
Utopia é aquilo que nos move na direção do horizonte, ainda que a cada passo que dermos, o horizonte pareça se distanciar.
Sonhamos com um mundo onde impere a justiça, a verdade e o amor.
Um mundo sem guerras, pestes, exploração e violência.
Todavia, este mundo com que sonhamos não deve ser esperado, mas perseguido.
Ele não está em algum outro lugar.
Ele está no futuro.
Em vez de aguardarmos uma intervenção divina, devemos arregaçar as mangas e trabalhar como instrumentos usados por Deus na edificação do Seu reino na terra.
A intervenção divina já aconteceu no momento que nos foi enviado o Seu único Filho, e posteriormente o Seu Espírito para nos habilitar ao cumprimento do Seu propósito.
O futuro, portanto, precisa ser construído, ainda que, do ponto de vista de Deus ele já seja real.
A fantasia produz letargia.
A utopia nos impulsiona a caminhar.
A fantasia nos anestesia.
A utopia nos dá um choque de realidade.
Dentre as várias parábolas registradas nos evangelhos as duas mais conhecidas são, sem dúvida, a do filho pródigo e a do bom samaritano.
O filho mais novo pede ao pai que lhe dê sua parte na herança.
O pai, por ser justo, resolve repartir a herança entre ele e seu irmão mais velho.
O caçula deixa sua casa e gasta tudo o que recebera com orgias e jogatina.
Sem dinheiro, humilhado e tendo que trabalhar cuidando de porcos, cai em si e resolve voltar para a casa do pai e pedir-lhe uma chance. Surpreendentemente, o pai não apenas o recebe, mas promove uma festa para recepcioná-lo.
O filho mais velho, enciumado, recusa-se a participar da festa. 
Se vivêssemos num mundo ideal, o irmão mais velho celebraria a volta do irmão.
Num mundo ideal, seu irmão jamais teria gastado tudo com mulheres e farra.
Ou ainda: num mundo ideal, ele nem mesmo teria abandonado o seu pai àquela altura da vida.
A propósito, por que o mais velho não se manifestou quando o caçula requereu sua parte na herança?.
Talvez, por ter percebido que ele também seria beneficiado, recebendo sua parte na herança.
Num mundo ideal, ele chamaria seu irmão para conversar e o dissuadiria daquela loucura.
Porém, o fato é que não vivemos num mundo ideal, tampouco num mundo de fantasias.
No mundo real, filhos torram o que custou aos pais uma vida inteira de trabalho árduo.
No mundo real, irmãos sentem inveja entre si por se acharem preteridos por seus pais.
Onde o reino de Deus entra nisso tudo?.
Como um reino real e justo opera num mundo real e injusto?.
Já que o filho mais novo requereu sua parte.
Que o pai reparta com equidade entre ambos os filhos.
Já que o pródigo perdeu tudo.
Que ele caia em si, se arrependa de sua loucura e tome o rumo da casa do pai.
Já que filho rebelde retornou arrependido.
Que o pai lhe dê uma festa de recepção.
Já que o filho mais velho se recusa a celebrar a volta do irmão.
Que o pai vá ao seu encontro e o convença de entrar na festa.
Se fosse uma fábula, a estória teria terminado com o irmão mais velho dançando ao lado do resto da família, abraçado ao pai e ao seu irmão pródigo, e, assim, foram felizes para sempre.
Em vez disso, a estória termina com o pai argumento com seu primogênito.
O que ele teria feito, então?.
Jamais saberemos.
Todavia, podemos saber o que nós mesmos faremos numa situação que demande uma postura semelhante.
Na segunda parábola, um homem é assaltado e deixado semimorto à beira da estrada.
Vem um sacerdote e finge não ver.
Vem um levita e faz o mesmo.
Até que surge um samaritano, e para surpresa de todos, não só lhe presta os primeiros socorros, como também o coloca em sua cavalgadura, leva-o para uma hospedaria, paga a conta do seu tratamento e pede que o dono não economize, caso seja necessário.
Na volta, ele passaria por lá e acertaria a conta.
Num mundo ideal, o sacerdote e o levita jamais se recusariam a socorrer àquele moribundo.
Num mundo ideal, os ouvintes de Jesus jamais teriam ficado surpresos com a atenção dispensada por um samaritano a um judeu naquelas condições.
Não haveria preconceito num mundo ideal.
Num mundo ideal, aquele homem nem sequer teria sido assaltado.
Num mundo ideal, certamente não haveria assaltantes nas estradas.
Mas, definitivamente, este não é um mundo ideal.
Coisas ruins acontecem a qualquer um.
Nem mesmo os justos estão imunes a isso.
Então... já que há assaltantes na estrada, bom seria que aquele homem não viajasse sozinho.
Mas, já que viajava só e foi assaltado... Que quem quer que passe por ali, sem importar sua posição social ou seu credo religioso, pare para prestar-lhe socorro.
Já que o sacerdote e o levita se recusaram a parar.
Que entre em cena aquele que passou a vida inteira sendo alvo de bullying e chacotas por parte dos judeus, e preste o devido socorro àquela vítima sem perguntar-lhe nada.
Num mundo ideal não haveria aborto.
Mas já que meninas são estupradas e no momento do desespero acabam optando pelo aborto.
Que haja quem as acolha, sem condená-las.
Que seu sofrimento seja atenuado.
Num mundo ideal não haveria divórcio.
Mas no mundo real, há.
Então, que nos habilitemos a acolher os que foram machucados por este tão dolorido processo, sem julgá-los ou discriminá-los.
Num mundo ideal não há drogas.
No real, há.
Logo, qual deve ser nossa postura ante tão sério e crônico problema social?.
Num mundo ideal não há cadeias superlotadas, nem mesmo criminosos para serem presos.
Já que isso é coisa do mundo real,
então, vamos visitá-los.
Num mundo ideal há acontecem tragédias naturais.
Em nosso mundo, sim.
O que é que estamos fazendo de braços cruzados?.
Saiamos ao encontro de suas vítimas, solidarizando-nos com a sua dor.
Num mundo ideal não há fome.
No real, sim.
Então, repartamos o nosso pão com os que nada têm.
Deixemos de apontar o dedo acusador e estendamos as mãos, as mesmas que usualmente levantamos ao céu em adoração a Deus. 
Enquanto a vida acontece lá fora,
a bela igreja segue adormecida.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Poema sobre Maria na ótica protestante

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Será complicado para um discípulo entender a devoção mariana.
E a coisa se complica ainda mais ao deparar-se com a multiplicidade de Marias.
Afinal, quantas mães teve Jesus?.
No México, ela aparece com feições indígenas a um índio asteca,
sendo chamada de “Nossa Senhora de Guadalupe”.
No Brasil, sua imagem com feições negras é encontrada por pescadores e recebe o nome de “Nossa Senhora da Conceição Aparecida”.
Em Portugal, ela surge como “Nossa Senhora de Fátima”, cuja aparição teria sido testemunhada por três crianças.
Em nenhum dos casos, ela foi vista por sacerdotes ou nobres.
Sem entrar no mérito dogmático, percebo uma busca que julgo autêntica por uma fé engajada e radicada no contexto cultural em que emerge.
Essas múltiplas facetas de Maria visa atender ao anseio de rebelar-se contra os padrões vigentes.
Uma Maria negra desafia o flagrante racismo de uma era escravagista.
Uma Maria indígena confronta os vergonhosos interesses dos conquistadores espanhóis.
Não preciso endossar uma devoção popular para compreendê-la enquanto fenômeno social e psicológico.
As diversas aparições místicas podem ser vistas como projeções do inconsciente coletivo; o que, diga-se de passagem, não diminui em nada a sua importância.
Mas de onde o inconsciente coletivo buscou material para dar a Maria as características que lhe são atribuídas?.
Por que surge negra no Brasil e índia no México?.
Ao longo dos séculos, o inconsciente coletivo foi acumulando informações via tradição, bem como anseios e fantasias que, ao se mesclarem, produziram as múltiplas Marias, além de uma considerável diversidade de Cristos: Nosso Senhor do Bonfim, Nosso Senhor dos Passos, etc.
Assim como em Israel, Deus era chamado de Iavé Jireh, Iavé Shamá, Iavé Tsedikenu, etc.
Obviamente, há um único Cristo, que por Sua vez, nasceu de uma única e bendita virgem.
A tradição protestante não endossa qualquer devoção que não seja dirigida exclusivamente ao Deus.
Todavia, como profetizou o anjo que a visitou, Maria deveria ser honrada por todas as gerações.
Não faz sentido adorar ao Filho, negando-se a honrar à Sua bem-aventurada Mãe.
E a melhor maneira de honrá-la é submetendo-se a seu Filho, bem como destacando suas inegáveis virtudes, dentre as quais, a humildade e a obediência.
Jesus é o único caminho que nos leva a Deus.
Maria foi o caminho tomado por Deus para vir ao encontro dos homens.
O desprezo protestante a Maria é uma reação grotesca e exacerbada à devoção que se presta a ela.
Deveríamos, antes, optar por uma postura idônea e equilibrada.
E ainda que não comunguemos com sua devoção por parte de nossos irmãos católicos, que possamos respeitá-la e buscar compreender o contexto de onde emerge. 
No fundo, todos somos marianos, pois nos submetemos à instrução que ela deu aos serventes em Caná da Galileia: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
O mesmo Jesus que obedeceu a divindade materna, o  pedido da mãe, para realizar seu primeiro prodígio milagroso público: a transformação da água em vinho, é o mesmo Jesus que, finalizado em sua missão de corpo  terrestre na cruz, delegou a humanidade inteira a Ela, representada na figura do mais jovem discípulo que ele muito amava, com a seguinte solicitação: "MÃE eis aí teu filho.
FILHO eis aí tua mãe!.
Maria nunca foi  propriedade da igreja católica, que historicamente perseguiu, abusou e até matou todas as pessoas que viram as manifestações de Maria ou de Jesus.
Curiosamente os Cristos manifestaram-se de forma sobrenatural para pessoas cuja devoção genuína representavam tudo o que os poderes constituídos da Terra sempre desprezaram.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Poema sobre o Dezembro

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E, quando menos se espera,
já é dezembro, já é quase Natal.
Pragas,
guerras,
rebeliões,
revoluções.
Tudo vem, 
Tudo vai,
Tudo passa
Tudo desaparece.
Nada é para sempre,
nem mesmo uma crise política, econômica ou sanitária.
A quebra da Bolsa em 1929 não foi para sempre.
O choque do petróleo nos anos 70 não foi para sempre.
O estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, em 2008, não foi para sempre.
Assim como a pandemia e suas variantes não serão para sempre.
Enfim, não se pode esquecer que a gente não vai ter crise para sempre.
Não se trata de minimizar as tragédias, que são coisas inclementes e implacáveis.
Mas se trata de lembrar que até tragédias deixam lições, que não podem ser desperdiçadas.
Se trata de lembrar que é preciso se preparar para o que vem depois.
Houve perda de produtividade aqui e ali, mas também houve ganho de criatividade lá e cá.
Muitas empresas quebraram,
muitos negócios seguiram e novos mercados surgiram.
Esse é o ponto.
Estar pronto para aquilo que segue, aquilo que surge ou aquilo ressurge.
Estar preparado para o recomeço,
a reinvenção,
a revigoração,
a regeneração.
Ou seja, quando menos esperamos a primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome,
nem acredite no calendário,
nem possua jardim para recebê-la.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

O próximo e o outro

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O próximo a gente ama
O outro a gente descarta
O próximo a gente cuida
O outro a gente maltrata
O próximo eu enxergo como igual
O outro é igual a um animal
O próximo tem alma e coração
O outro não tem nada de mais
O próximo, você convida
O outro, você obriga
O próximo é elogiado
O outro é sempre zombado
O próximo tem valor
O outro tem preço
O próximo recebe incentivo
O outro é desestimulado
O próximo pode sonhar
O outro vive no pesadelo
Quem é o próximo?.
Quem é o outro?.
A resposta está no dia a dia seu moço.
Observe o Brasil
Preste muita atenção
O outro só é próximo:
Da dor.
Do sofrimento.
Do descaso.
Do desrespeito.
Do medo.
Da miséria.
Da violência.
Do gueto.
Se você não acredita, dê uma olhada nas estatísticas.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Quem acredita sempre alcança

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Somos muito mais encorajados a crer na faceta do Deus que faz, do que na faceta do Deus que espera, nutrimos a ideia de que o melhor atendimento é sempre o imediato, queremos que Deus faça já,
o que tem de ser feito, esperar nunca soa como uma boa resposta para nós.
Na carta Aos Romanos percebemos uma relação entre a paciência e onipotência divina, onde Deus, apesar de ser onipotente, também é paciente,
isto mostra que deter todo poder,
não significa ter que fazer, e muito menos imediatamente, definitivamente, Deus não está preocupado em agir rapidamente, para demonstrar o quanto é poderoso, esperar também é uma ação praticada por Deus.
Imagina Deus esperando algo acontecer.
Ele esperou Jesus ser gerado no ventre de Maria, esperou que ele pudesse sair pregando as boas-novas do reino de Deus, esperou que ele surpreendesse a muitos com manifestações milagrosas, nunca antes vistas, até que chegasse à cruz, e então, Jesus pudesse dizer "Está consumado", para recebê-lo no mais alto e sublime trono, se Deus quisesse, poder não lhe faltaria para fazer tudo em um estalar de dedos.
Mas Ele determina o que há de ser,
e aguarda o tempo daquilo que precisa de tempo para que seja, ainda que ele mesmo trabalhe para que isso aconteça, Deus sendo eterno não deixou de ser paciente, mesmo não dependendo do tempo, e podendo subjugá-lo e utilizá-lo como queira.
Quem nunca se beneficiou da paciência divina?.
Se não fosse esta paciência, que se dispõe a esperar até que entendamos que esperar faz parte de muitos processos, para que a excelência da obra não seja comprometida, esta mesma paciência comporta o tempo para o nosso arrependimento, aprendizado entre tantas outras aplicações.
Pense em uma gravidez, por melhor que seja ter um filho nos braços, adiantar o processo causaria um aborto, por isso o tempo de gestação precisa ser respeitado, bem como em tudo na vida,
a pouca paciência ou, a falta dela, pode pôr tudo a perder, mesmo o que é bom, estando fora do seu tempo, pode ser muito ruim.
O que fazer enquanto se espera?.
Como não se desesperar na espera?.
Há uma consolação baseada naquele que é a palavra, o verbo vivo, Cristo, receber sua palavra e guardá-la é encontrar consolação.
Nem sempre as respostas consolam,
as vezes pode nos deixar ainda mais ansiosos, ou até decepcionados, e tristes, sendo então a melhor atitude, esperar, mas vale enfatizar que esta espera deve ser à luz da bíblia, buscando nela a tração necessária para chegarmos ao momento da manifestação do poder de Deus, segundo sua sabedoria.
A junção de paciência e consolação das escrituras, resultam em esperança, tem esperança quem tem paciência, espera serenamente quem encontra a consolação das escrituras.
O desespero por sua vez, é a ausência da esperança, trocando em miúdos,
o desespero aponta falhas na paciência
ou na busca pela consolação das escrituras, estas duas coisas precisam andar juntas, é impossível que uma balança aponte equilibrio, se uma de suas bandejas estiver faltando, então, até que Deus se manifeste em nossa causa, nos ocupemos em buscar a paciência e a consolação das escrituras, de modo que jamais nos falte esperança.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Os propósitos se atraem

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A relação amorosa é como uma dança.
A primeira coisa a ser considerada quando se começa a dançar é a música.
Os passos precisam estar no compasso do ritmo. 
Assim é o relacionamento a dois: tem que ser na mesma trilha sonora.
Isto é, ambos precisam estar sentimentalmente sintonizados.
Só que não basta dançar a mesma música, é preciso acompanhar os passos do amor.
Acompanhar os passos do amor é entender que o amor é um gerúndio. 
Ele não é um instante, exige uma ação constante para não perder o outro de vista.
Aliás, não perder o outro de vista é também uma qualidade importante durante uma dança.
É preciso saber administrar o espaço.
Quando um dá um passo à frente,
o outro dá um passo atrás,
num indo e vindo infinito. 
Dançar também é a arte de promover o encontro.
Não apenas o encontro de corpos,
mas também de almas,
de sentimento,
de propósito.
Para isso, o salão precisa ter alguma luz. 
Se as luzes estiverem todas apagadas,
os dançarinos correm o risco de se colidirem.
O amor é o holofote que ilumina o salão da vida, promovendo encontros,
e não colisões.
Tenham Fé neste amor!.
A Fé no amor gera fidelidade.
É isso que fará vocês promoverem o encontro de propósito.
Pois, os propósitos se atraem!.
Não são os opostos, são os dispostos a viver os propósitos com compromisso no dia a dia.
Amar é entender o tempo do outro.
É quando preciso fazer-se de inverno no verão e de verão no inverno.
Refrescar no calor e aquecer no frio.
É sendo subversivo que o amor mantém tudo vivo.

domingo, 28 de novembro de 2021

Vale tudo

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Vale Mariana,
Vale Brumadinho,
Vale 300 corpos
sob a lama,
Vale a chama
na floresta,
Vale a indenização não paga,
Vale a lama cruzando a estrada,
Vale o garimpo no Madeira,
Vale uma comunidade inteira
sob a lama da Vale.
"Privatiza que melhora".
E a Vale é privatizada. 
A morte é privatizada.
Os garimpos são particulares.
O Brasil sob os olhares
assustados do mundo.
O imundo.
O vagabundo.
O submundo.
A farsa.
A balsa,
o mercúrio,
a morte no rio:
na água, 
no peixe.
O deputado arregado, 
o vereador, 
o prefeito,
o governador,
o senador,
o juiz,
o procurador,
o desembargador,
o padre,
o pastor,
o presidente,
a autoridade ambiental.
O mal estabelecido aqui.
O garimpeiro
que é caçador de javali:
60 armas
para armar uma milícia.
A Polícia Federal
e a Marinha
a serviço do crime,
por omissão
ou por proteção 
ao criminoso, 
que descaradamente
avisa, de novo, 
sobre uma suposta operação.
Padrão militar.
"Vale tudo,
Vale o que quiser,
Só não vale mexer com os grandes,
não vale mexer com ricos.
Com os menos favorecidos vale tudo, triste a vida desses não VALER nada.

 

sábado, 27 de novembro de 2021

Poema sobre os demônios do Brasil

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Quando os europeus desembarcaram nas Américas, trouxeram na bagagem os seus próprios demônios e não apenas doenças para as quais os nativos não tinham imunidade.
Não são demônios os que vieram com os escravos em seus cultos animistas,
nem os que eram cultuados pelos povos originários.
Os demônios vieram com os que devastaram as civilizações que aqui já estavam, pilhando impérios, aproveitando-se da ingenuidade dos que os consideravam deuses.
Os demônios que aportaram aqui tinham pele alva, sotaque ibérico e costumes estranhos.
Outros demônios chegaram à Índia com os ingleses, na África do Sul com os holandeses, e em tantas outras terras com aqueles que pretendiam conquistá-las e reivindicá-las às coroas que representavam.
Tais castas demoníacas se manifestam nos explorados, mas atuam através dos exploradores.
Não habitam apenas corpos, mas estruturais sociais.
No Brasil atual, eles não estão nas favelas, mas nos palácios, nos condomínios de luxo e em suntuosas catedrais.
Não são como as legiões romanas,
mas se organizam em quadrilhas que assaltam o erário público, que exploram os fiéis com promessas mentirosas,
que promovem o ódio, o preconceito e a intolerância contra a população, as minorias étnicas e os fiéis de religiões de matriz africana, que desqualificam a luta feminista, que desdém dos direitos da classe trabalhadora, que espalham fake news, que tratam seus rebanhos como currais eleitorais, que endossam políticas negacionistas e genocidas em nome da fé, etc.
Aqui seu nome não é legião, é religião.
Não me refiro à religião em seu sentido lato, que provê a religação entre os seres humanos, independentemente de distinções étnicas, sexistas, confessionais ou sociais, fazendo com que nos preocupemos em cuidar dos mais vulneráveis representados pelos órfãos e viúvas.
Refiro-me à religião como instrumento que visa legitimar o poder e os interesses de quem lucra com a exploração.
Portanto, em vez de religião, deveria ser chamada de reLEGIÃO.
Trata-se, portanto, do que o livro de Apocalipse chama de “Grande Babilônia “ que tornou-se morada de todo tipo de demônios.
Os demônios descem do Norte, especialmente do Sul do Norte,
se instalam no Oeste e se espalham.
Depois se juntam numa legião e ocupam Brasília, e governam.
São estes demônios que precisam ser exorcizados do cenário político brasileiro para que finalmente alcancemos a tão sonhada justiça social, tornando-nos, assim, um dos protagonistas na construção da civilização do amor.

Poema sobre o dia de ações de graça

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Neste Dia de Ação de Graças, sejamos gratos em tudo, mas não por tudo.
Há uma diferença enorme entre uma coisa e outra.
Em qualquer circunstância, sejamos gratos nem que seja pelo simples fato de estarmos vivos.
Entretanto, não somos orientados a darmos graças por tudo, como se tudo devesse ser creditado a Deus, inclusive as consequências de nossas próprias escolhas.
Por exemplo: que sentido teria agradecer a Deus por uma tragédia como a pandemia que já ceifou a vida de milhões de pessoas no mundo?.
Seria Ele o responsável por isso?.
E que tal agradecermos a Deus por havermos sobrevivido ao COVID-19, enquanto tantos morreram?.
Isso lhe parece razoável?.
Pois a mim, não.
Eu não disse anteriormente que deveríamos agradecer EM TUDO,
em qualquer circunstância, nem que fosse pelo simples fato de estarmos vivos?.
Mas não quando esta gratidão brota da comparação entre o que nos ocorreu e o que ocorreu a outros.
Não me sinto à vontade para agradecer por ter sido poupado enquanto milhões tiveram suas vidas ceifadas.
Assim como não me sinto à vontade para agradecer por nada que eu tenha conquistado em comparação a quem não teve a mesma sorte que eu.
Tampouco deveria agradecer por possuir virtudes que meu próximo aparentemente não tem.
Foi isso que fez um dos personagens de uma parábola contada por Jesus.
Dois homens subiram ao templo para orar, um religioso fariseu e um publicano odiado pelos judeus por ser aliado de Roma.
"O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.
Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo.
O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!"
Na conclusão da parábola, Jesus afirma que o publicano penitente desceu justificado para sua casa, e não o fariseu "agradecido"; "porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado"
À luz deste texto, não me atrevo a agradecer a Deus por ser melhor do que ninguém, nem por ter tido sorte diferente ou por qualquer outra razão que brote da comparação entre mim e o meu próximo. Se mil caíram ao meu lado e dez mil à minha direita, sem que eu tenha sido atingido, agradecerei a Deus pela oportunidade de poder ajudá-los a se levantar.
Se Ele me preparou um banquete na presença dos meus inimigos, agradecerei a Deus o privilégio de poder repartir com eles o meu pão.
Assim, minha gratidão brotará do amor a Deus e ao meu próximo e não da comparação entre mim e quem quer que seja, tampouco da presunção de ser melhor ou estar em situação mais favorável que o meu semelhante.
A todos, um feliz Dia de Ações de Graça.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Geração do ansiolítico

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O sofrimento é como o pilão do ourives que amassa o ouro no crisol para que as impurezas sejam depuradas, ajuda a nos tornarmos seres humanos melhores, ensina-nos sobre a paciência,
o quebrantamento, faz-nos mais humildes.
A verdade é que crescer dói, amadurecer tem um custo de alma, deixar a infância e a adolescência para adentrar na vida adulta é um salto enorme para qualquer um, mas é totalmente necessário.
Tenho acompanhado os dramas mais comuns da minha geração, ouço as pessoas e partilho de muitas de suas dores e dramas, assusta-me,
contudo, o fato de que cada vez mais elas fogem da dor, evitam o sofrimento, criam atalhos para andar apenas por vias asfaltadas e seguras, desviam de tudo que for acidentado e arenoso.
Somos a geração do ansiolítico, vivemos na sociedade da pílula, precisamos desesperadamente desses amortecedores que atenuam a crueza dos dias, que tornam a existência suportável.
Na verdade, a realidade tem se tornado tão dura que ninguém quer encará-la,
é melhor andar anestesiado do que sóbrio e de cara pro vento.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Hosana das crianças

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Jesus se aproxima de Jerusalém.
As pessoas O recebem com “ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro,
e clamavam: Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor.”
Chamo atenção para os ramos.
O preço que um ramo paga por sair da árvore é a morte.
Aqueles ramos que serviam de sinalizadores de boas-vindas,
eram uma evidência de morte. 
Para surpresa de todos, Jesus não dá a mínima para aquele oba – oba, para aquela expressão de alegria, felicidade.
Ao invés de entrar no clima de festa,
Ele prefere se dirigir ao templo,
a fim de denunciar a exploração religiosa.
Chegando lá, “os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei viram as coisas maravilhosas que Jesus fazia e as crianças gritando no templo: "Hosana ao Filho de Davi", ficaram indignados,
e lhe perguntaram: "Não estás ouvindo o que estas crianças estão dizendo?. "Respondeu Jesus: "Sim, vocês nunca leram: ‘dos lábios das crianças e dos recém-nascidos suscitaste louvor’?".
Repare: assim como na entrada de Jerusalém a multidão gritava “Hosana”, ao chegar no templo Jesus é recebido por crianças que também gritavam: "Hosana." 
O “Hosana” da multidão não chamou a atenção de Jesus, mas o "Hosana" das crianças conseguiu tocar o Seu coração. 
O “Hosana” das crianças é sem ramos!
É fruto da naturalidade e não da superficialidade! 
O “Hosana" da multidão é uma evidência da nossa independência de Deus.
É estribado em performances e na vaidade. 
O "Hosana" das crianças é uma evidência da nossa dependência.
É estribado na Graça, no Descanso e na Simplicidade.
É preciso resgatar a simplicidade da vida, abandonar os rótulos e as performances das pirotecnias religiosas que só visam chamar atenção e alimentar nosso ego. 
A Graça ensina a abandonar as coisas de menino sem deixar de ser criança
Menino gosta de aparecer, criança gosta de ser.
Os Hosanas das crianças a pureza existe, a sinceridade fica nítida e o amor ainda resistir as iniquidades trazida pelo esfriamento da vida.
A pureza dos Hosanas das crianças a vida é bonita e é bonita.
E e por isso, que o Evangelho ensina que maturidade é abandonar as coisas de menino, sem deixar de ser criança. 


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