terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Aceitar a Jesus

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O que é “aceitar a Jesus”?.
É levantar a mão depois de uma pregação?.
Seria participar de uma igreja cumprindo suas obrigações rituais?.
“Aceitar a Jesus” teria a ver com abraçar regras morais e comportamentais para adequar-se ao perfil de um determinado grupo?.
Será que Jesus está procurando ser aceito por alguém?.
Quando a gente “aceita Jesus” o combo da religião vem junto, faz parte do pacote?.
Ora, olhando para os Evangelhos, encontro em certas passagens Jesus desafiando pessoas a “aceitá-lo”, como foi o caso dos discípulos.
Em outros textos, vejo que seu chamado não foi aceito,
como no caso de Lucas 9:57-62, onde três pessoas encontram justificativas para não ir adiante com ele.
Já há situações, como a do Endemoninhado Gadareno, onde o próprio Jesus diz ao homem para ficar em sua comunidade e ali testemunhar o que Deus havia feito por ele, impedindo-o, portanto,
de segui-lo, conforme era seu desejo.
Ora, é sabido que entre os tantos que seguiram a Jesus, muitos o deixaram, sobretudo, por causa de suas palavras, que eram chocantes aos olhos da religião de Israel.
Eu penso, também, que houve pessoas que desejavam seguir a Jesus, mas por uma infinidade de circunstâncias, isso não lhes foi possível.
E houve, ainda, os casos dos que “aceitaram a Jesus”, mas permaneceram onde estavam,
foram sal e luz no lugar que já habitavam.
Estou colocando isso porque é muito comum as pessoas “aceitarem Jesus” em suas mentes, mas jamais o aceitarem em seu coração,
uma vez que aceitá-lo implica em viver como ele viveu.
Você pode “andar” com Jesus e nunca ser seu discípulo,
pode ir a igreja, ao culto, a célula de discipulado, aos programas,
e ainda assim, nunca ter “aceito a Jesus”, pois essa decisão tem a implicação insubstituível de abraçar na consciência seus valores e princípios para a prática no chão da vida, e não apenas se adequar ao molde da cultura religiosa de um grupo.
Nestes dias que vivemos, encontro muito mais gente que “aceitou a Jesus” fora das igrejas,
do que dentro, os que estão fora se parecem muito mais com ele, dos que os que lhe juram amor e serviço,
mas fazem tudo ao contrário do que ele ensinou.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Hakuna matata

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Era dia de Páscoa e o Mestre estava reclinado à mesa com seu conjunto de pessoas covardes.
A última ceia não era um encontro de notáveis, de uma elite religiosa e moral.
Era a ceia dos pecadores,
dos medrosos,
dos fujões,
dos fracos,
dos teimosos,
dos que negam,
dos que fogem,
dos que abandonam quem amam para salvar a própria pele.
E o revolucionário carpinteiro inaugurou a mesa para essa gente e os braços, sem restrições e julgamentos, e os convidou a todos para partilharem ali de sua vida, entregando-se por inteiro a todos eles, incluindo Judas, o mais notório dentre os traidores, que veio tornar-se boi de piranha da cristandade.
Porque ali, naquela mesa,
meus amigos, não se salvava um.
Eram todos Judas.
A única e lastimável diferença é que o Iscariotes, por ter sucumbido à vergonha e tirado a própria vida,
não teve tempo de perceber em vida que já havia sido plenamente e eternamente perdoado,
que fora graciosamente aceito à mesa junto com todos os demais. 
Não se engane, meu irmão.
Não existe ceia de santos.
Pelo menos não com Jesus.
A ceia dos perfeitos, dos superiores, dos que julgam os outros do alto de sua respeitável posição,
dos que batem no peito e dizem “obrigado, Deus, porque não somos como aqueles pecadores ali”,
essa ceia não conta com a presença do Mestre.
Essa é a ceia dos arrogantes e essas pessoas não se rebaixam a sentar à mesa onde Jesus está oferecendo sua carne e seu sangue.
A ceia de Jesus é a dos que dizem, prostrados: “tem misericórdia de mim porque sou pecador”.
Dos que, sabendo quem são, conhecendo suas limitações,
suas carências,
suas falhas,
seus horrores,
sua mediocridade,
sua canalhice, ainda assim e por isso mesmo querem andar com Jesus, porque carecem dele e de suas palavras de amor, perdão e graça.
É a ceia dos que ouviram o convite carinhoso e desafiador - “se alguém quer vir comigo… me siga” - e, voluntariamente, fascinados pela figura cativante do carpinteiro de Nazaré, negando-se a si mesmos largaram o que tinham e o que queriam para si que era o que os tornava infames para segui-Lo.
E, ao segui-Lo de mãos vazias tornaram-se parte Dele mesmo o Corpo de Cristo simbolizado na ceia, a comunidade daqueles que se parecem com Jesus porque aceitam em sua mesa o mesmo tipo de gente que ele aceitou, e com eles repartem suas vidas, e por quem,
como o Mestre, entregam suas vidas.
Esse chamado insano para sair por aí abraçando, perdoando e convidando à mesa covardes, canalhas e traidores não é, obviamente, um chamado light para uma vida boa.
É antinatural.
Chega a ser ofensivo.
Mas assim é o amor que mudou o mundo.
Não tem explicação, não tem lógica.
Mas Jesus continua, num sussurro constante, convidando: “se alguém quer vir… me siga”. 
O problema é que vivemos dias turbulentos, barulhentos.
Vivemos no horror do ruído constante.
A onipresença e a urgência da comunicação nos sugou para um turbilhão de muitas vozes.
A gente consubstanciou a paranóia. Materializamos a esquizofrenia.
O paranóico é aquela pessoa que tem a sensação de ter alguém sempre ao seu lado, que ouve vozes insistentes, ameaçando, exigindo, tramando, berrando.
Pois agora essa sensação se fez carne e habitou entre nós nos incansáveis dispositivos móveis e suas inesgotáveis redes sociais.
E a gente não tem mais como ouvir a voz de Deus que é a voz do amor, que sopra no silêncio e na quietude da brisa suave.
Não temos como ouvir nem mais a nossa própria voz, que sussurra discreta e constante em nosso peito.
Muito menos ouvir a voz do outro,
do irmão,
do próximo,
do vizinho,
de quem precisa.
Assim como a mais profunda solidão se encontra no meio da multidão,
é no ruído constante que habita o silêncio mais ensurdecedor.
Não é a toa que Isaías (Is 30.15) diz que nossa salvação está “no arrependimento e no descanso” de quem sabe que é um covarde traidor, mas sabe que Jesus entrega seu corpo e sangue para covarde e traidores, e nosso vigor está “na quietude e na confiança” de quem sabe que carece desse silêncio tranquilo, pois só nesse lugar quieto e tranquilo é possível ouvir a voz do Amor, ouvir a si mesmo e ouvir o próximo.
E é só assim, nessa condição, que a ceia de Jesus faz sentido.
Só assim pode haver entre nós alguma semelhança com o Cristo.
E se você é dos que, como eu,
ao ouvir o convite do Mestre se alguém quiser… - diz, entre lágrimas, “eu quero”, meu amigo, saiba,
essa jornada é para que Ele seja formado em nós.
Não para sermos melhores que os outros, julgando e condenando o próximo, não para sermos melhores que ninguém a não ser nós mesmos, cada dia um pouco mais parecidos com Ele, aos trancos e barrancos.
Os cristãos não deveriam ser conhecidos como os guerreiros da moral e dos bons costumes nem como os incansáveis guardiões da família tradicional, mas sim como a Comunidade do Amor,
dos relacionamentos desinteressados,
da aceitação,
da tolerância,
do cuidado mútuo.
É pela liberdade,
pela mutualidade,
pela interdependência amorosa,
pelo serviço abnegado que devemos ser lembrados.
Foi essa a mais transcendente marca que Jesus deixou.
Foi assim que igreja de Atos se tornou conhecida.
E é nesse, e só nesse contexto que a ceia surge como símbolo,
lembrança, reforço e recompromisso de quem quer colocar o corpo e o sangue de Cristo para dentro de si.
Não para fazer parte de um clube de santos, mas para seguir os passos d 'Ele até a cruz. 
Se você ouviu o sussurro do Mestre, largou suas coisas e foi atrás das pessoas, abra uma garrafa de vinho, convide uns amigos e reparta com eles sua vida.
Depois abra os braços sem problemas, 
as portas sem se preocupar,
a mente sabendo que tudo ficará bem,
a alma,
abandone os medos,
os julgamentos e os preconceitos e contagie o mundo com o amor de Jesus.




sábado, 25 de fevereiro de 2023

Poema sobre o Mito

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A humanidade só existe a partir do mito.
O que a ciência chama de revolução cognitiva, que é o que fez surgir no solo desse planeta a criatura chamada Homo Sapiens,
nada mais é do que a chegada do mito ao mundo.
Mito é palavra imaginada e transmitida de geração em geração. É verbo sonhado, cantado e contado.
Quando Deus escolheu uma das criaturas que vinha evoluindo a milhões de anos e soprou em suas narinas seu espírito, colocou dentro dela a angústia do simbólico,
do imagético, do sonho, da narrativa.
Nos tornamos então, imagem e semelhança do criador.
E desde esse dia passamos a contar histórias e todas elas apontavam para o mito maior, a utopia mais profunda, a mais presente e inquietante lenda, o anseio inescapável pela redenção.
E todos os povos, de todas as culturas, de todos os cantos, de todas as raças, de todas as origens, de todas as religiões narraram esse mito, cada um a sua maneira.
Até o dia, o inacreditável dia,
em que passou-se a contar-se a história de que esse mito maior e mais profundo rasgou o manto pesado da fantasia, invadiu o espaço e o tempo e nasceu entre nós,
como um bebê na manjedoura de um canto remoto e irrelevante da palestina.
Todas as histórias de todos os mitos, todos os sonhos de todas as utopias, todas as lendas de todas as canções se adensaram, deixaram pra trás o mundo das fábulas e habitaram o frágil corpo de um bebê.
Emanuel, Deus conosco.
O Deus fragilizado.
O Deus que redime o corpo e o santifica, porque nele habita.
O Deus feito gente.
O Deus que esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante à humanidade e por ela se entregando, para a ela dar esperança, força, vida, ressureição, redenção.
Nove meses antes, uma menina chamada Maria, ouviu a voz de um anjo que lhe sussurrou: alegre-se, você dará à luz um menino,
seu nome será Jesus e ele será chamado Filho de Deus
E diz o texto do livro sagrado,
no evangelho de Lucas, que essa menina se encheu de alegria e cantou.
Minha oração hoje é para que esse sonho, essa lenda, esse desejo,
essa esperança, esse mito que se se fez carne e habitou ENTRE nós, habite também EM nós, e em nós nasça e gere vida, e redenção.
E que cada um de nós possa ter nos lábios, o mesmo canto de Maria:
"𝑴𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒂𝒍𝒎𝒂 𝒆𝒏𝒈𝒓𝒂𝒏𝒅𝒆𝒄𝒆 𝒂𝒐 𝑺𝒆𝒏𝒉𝒐𝒓 
𝑴𝒆𝒖 𝒆𝒔𝒑í𝒓𝒊𝒕𝒐 𝒔𝒆 𝒂𝒍𝒆𝒈𝒓𝒂 𝒆𝒎 𝑫𝒆𝒖𝒔, 𝒎𝒆𝒖 𝑺𝒂𝒍𝒗𝒂𝒅𝒐𝒓."

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

O paradigma do Evangelho

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O religioso fanatizado não aceita que nada esteja acima de sua religião, nem o amor.
Ele é capaz de tacar fogo em hereges ou arremessar aviões contra prédios.
O fanático é um ponto de exclamação ambulante, dizia Amós,
e poucas coisas produzem mais fanáticos do que a Religião.
Ela pode ser transformada no próprio deus, objeto de devoção e adoração.
Dogmas e doutrinas viram regimentos de valores e hierarquização dos fiéis.
Há quem esteja nadando em religião achando estar mergulhado no oceano de Deus.
Eles guardam as leis e os mandamentos mas são incapazes de se compaixão pelo próximo.
E para tais, não importa uma mudança de religião, é preciso "nascer de novo", conforme Jesus disse à Nicodemos, religioso,
mas que não compreendia a singeleza e simplicidade do Evangelho que não se faz em complicadas concepções teológicas e sim na leveza do chão da vida.
Nascer de novo, para Jesus, não é voltar ao ventre da mãe como supôs Nicodemos, mas o despertar de uma nova consciência, baseada no amor. 
A religião nos afasta de Deus.
Ela supõe uma aproximação, ela cria um clima para o encontro,
mas controla onde, como, quando.
Rubem Alves dizia que Deus é pássaro, mas as religiões inventaram gaiolas.
O paradigma do Evangelho é o Amor.
João disse que aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.
Paulo dizia que não importa o que você faça, mesmo que você faça coisas religiosas, ou humanitárias,
ou de justiça social, sem amor,
de nada valem.
Teresa de Calcutá afirmava que não importa o que você faz e sim quanto amor se coloca naquilo que faz. 
Por causa de seu amor libertador, Jesus sempre foi alvo de religiosos.
O amor exemplifica e gera consciência, mudança de mente, transformação de pensar,
novo prisma, nova ótica sobre a vida.
Liberta!.
E a religião não pode admitir homens e mulheres livres, porque ela sobrevive de engaiolar, de aprisionar pelo medo, de amordaçar pela culpa, de algemar pela cobiça.
"Meus discípulos, seguidores, alunos serão conhecidos pelo amor com que amam uns aos outros" - disse Jesus.
Ele não apontou um caminho religioso, e sim uma ética evangélica do Evangelho.
Ele não veio para nos ensinar o caminho ao templo, mas um caminho de Vida.
Não constituiu uma religião cristã isso foi Constantino propôs um jeito de ser, que é libertador, e um modo de pensar sobre tudo e todos: na perspectiva do amor e daquilo que pertence ao amor, como justiça, cuidado, amparo, afeto, verdade, amizade, piedade, misericórdia, compaixão, esperança, partilha.
Como não deixar a religião nos afastar de Deus?.
Ame. 
Ame a Deus.
Ame o próximo.
Ame a Deus no próximo.
Ame como Jesus amou.
O amor vence sempre!.
Tudo passará.
Até a religião.
O amor, permanece para sempre!.
A religião é nossa tentativa de conexão com Deus.
Por amor, Jesus é a reconexão de Deus conosco.
A religião nos ensina a olhar para os céus para encontrá-lO.
O Evangelho O apresenta no chão da vida, em nós e entre nós.
Ele pode ser percebido em todo ato de amor.?

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Bola de meia, bola de gude

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É simbólico quando um menino que mora num assentamento deseja uma casinha.
Não é no papel, nem na lousa,
é na terra que o cerca por todos os lados.
No pó que lhe entope as narinas.
Onde o pequeno vive, não há água encanada.
A cisterna seca sempre.
É preciso emprestar água de quem tem.
Nem energia elétrica, nem esgoto.
Ao lado do campinho esburacado,
a única árvore que faz sombra aquele pedaço de chão.
Entre duas cidades, ninguém quer aquele assentamento com gente trabalhadora que madruga para a colheita do tomate, sob um sol escaldante, pra ganhar quase 100 reais e um câncer de pele.
"Somos a terra do Nem", me diz um morador.
"Nem uma cidade, nem outra.
Ninguém nos quer".
De pés descalços, correm as crianças para as aulas de futebol.
O único divertimento para elas que vivem num mundo sem parquinho, sem celular ou vídeo-game.
Logo cedo, a gente ouve o barulho daqueles pésinhos correndo descalços na terra seca.
Há algo de mágico naquilo, uma espécie de esperança.
Hoje vi uma pequena entrar no terrão de futebol, com o pé direito,
olhou para os céus, como fazem os jogadores, se benzeu e foi correr atrás da bola. 
E do sonho.
De uma casinha.
Com uma árvore.
Com água nas torneiras.
Um chuveiro. 
Um tênis.
E tirar sua mãe daquele buraco.
Ver seu irmão desenhar num caderno.
Todos os seus sonhos de criança.
Antes que a chuva vem...
E apaga.
Enquanto a goteira tira o sono.
Mas enche a cisterna.
Misto de dor e alegria, com a qual esse povo...
O meu povo...
Se acostumou a viver,
Sem deixar de sonhar...
Com a promessa de um moço queimado de sol das periferias da Galiléia:
O Reino de Deus é chegado.
Nele há 
casa
e árvore
e água.
E o amor reina
Em todo coração.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

O que é a verdade?.

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Dizem que Pilatos perguntou a Jesus: O que é a verdade?.
Esse tema ronda a mente dos pensadores desde sempre.
A verdade. 
Henry Thoreau, pensador anarquista americano pedia: mais do que amor, do que dinheiro, do que fé, do que fama, do que justiça, dêem-me a verdade. 
Conforme alguns estudiosos, estamos na era da Pós-verdade.
A pós-verdade se caracteriza por moldar a realidade de acordo com a intenção de quem a pública.
Há apelos às emoções do público a que se destina, e sua legitimação acaba decorrendo das motivações pessoais de quem a recebe. 
No filme espanhol (As linhas tortas de Deus), disponível na Netflix,
o jogo do diretor é sobre a verdade.
Duas versões para a situação da protagonista.
Ou ela tem problemas psiquiátricos, ou finge que tem para solucionar um caso dentro da unidade de saúde mental.
Essa decisão fica do começo ao fim nas mãos do espectador.
Você escolhe qual versão quer,
e essa será a sua verdade. 
Com o advento das Fakenews, criou-se um universo paralelo.
Muitos dos que invadiram Brasília o fizeram depois de terem sido embebedados por Fake's.
Havia até quem achava que a posse presidencial havia sido encenação e quem comandava o país era o General Heleno. 
Agora, a versão verdadeira para muitos, inclusive que comentam aqui, é que o quebra-quebra se deu por causa de infiltrados esquerdistas entre os manifestantes. 
É a verdade que querem ver.
Se a pessoa afirma que uma parede verde é azul, o que podemos fazer?.
Ou ele sabe que é, e mente para todos e para si.
Ou ele não discerne as cores.
Ou ele não aprendeu o que é verde.
Essa distorção da realidade é parte da lógica fanatizada.
O fanático só consegue ver o que lhe convém.
Seu time pode perder o jogo de 7x1, ele ainda afirmará que jogou melhor, ou que o árbitro roubou. 
Só há um antídoto contra a "falsa-verdade".
O tempo.
Com o tempo, a ficha cai ou a História mostra. 
Alguns jamais enxergarão,
outros verão mas não assumirão que viveram em mentiras,
outros sempre souberam da verdade mas escolheram a mentira como refúgio.
Não bastam fatos, argumentos,
nem provas científicas,
nada há de convencer quem quer viver a sua própria versão da realidade.
Todos buscamos algo.
A loucura é a maneira mais rápida de conseguir.




segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Poema sobre o inferno existente

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Eu não só acredito que haja inferno como conseguir ver ao longe.
Para mim não se trata daquele lugar que Dante descreveu.
Fogo, pessoas gritando.
Isso é inferno pra inglês ver.
Nem é o Sheol, citado 65 vezes na Bíblia Hebraica (o Antigo Testamento, para os cristãos).
Sheol, que significa "sepultura" e usado com a ideia de "mundo dos mortos".
Também não é a morada de Hades,
o temido deus da mitologia grega, conhecido por ser o deus do submundo e guardião do lugar que recebia as almas dos mortos.
Não se trata também de Geena, palavra tão usada por Jesus para descrever um lugar de sofrimento e que foi incorporada à ideia de inferno eterno.
Geena refere-se ao vale de Hinom, fora das muralhas de Jerusalém.
Este vale era usado como depósito de lixo, onde se lançavam os cadáveres de pessoas que eram consideradas indignas, restos de animais, e toda outra espécie de imundície.
Usava-se enxofre para manter o fogo aceso e queimar o lixo.
Era um "fogo eterno", nunca se apagava.
Os ratos eram tantos, comendo tudo, que era comum ouvir o som de "ranger de dentes".
Quando Jesus diz que as "portas do inferno" não prevalecerão contra a Igreja, há um detalhe que os religiosos não gostam de citar.
É que Jesus e seus discípulos estavam literalmente acima da montanha onde há uma caverna conhecida (até nos dias de hoje!) como "Portão de Hades" ou "Porta do inferno".
Local de culto ao deus Pã, mistura de humano e bode.
É lá que Jesus diz que, quando a igreja (as pessoas ) se reunir em amor e verdade, até mesmo o famoso culto à Pã, na Porta do Inferno, não prevalecerá contra essa investida da Boa Nova Consciência.
Mas já conseguir ver ao longe o inferno chamado Cracolândia.
Já conseguir ver ao longe o inferno chamado jardim Gramacho, o inferno da bruxificação de crianças na Nigéria.
O inferno do campo de refugiados em Rwamwanja.
O inferno do assentamento Daiana em Anápolis.
O inferno em que vive o povo de fome.
Ah, se os de Jesus diminuíssem os congressos, investissem menos em cadeiras almofadadas para seus templos, em cultos de performance e lacrando na internet, esses infernos todos não resistiram à chegada das pessoas do amor compromissado.
Essa nossa indiferença sim é infernal.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Leal á minha consciência

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A caridade é dar um pão para o faminto.
É importante, ele está com fome agora.
Há um problema na caridade: o faminto terá fome amanhã, e depois.
A Justiça Social questiona os sistemas que produzem a fome.
Na nossa sociedade, adoramos quem faz caridade e odiamos quem questiona a injustiça.
A caridade mantém uma legião de esfomeados.
Sim, porque ela é importante para a urgência do indivíduo mas não resolve seu problema a longo prazo.
Se você vive de caridade, será aplaudido.
Separe um lugar na sua parede para os quadros com gente importante.
É um herói.
Se você busca justiça social,
será odiado.
Separe uma cova em um cemitério.
É um militante.
Dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda, indicado muitas vezes ao Nobel da Paz, disse: "Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo.
Quando questiono as causas da pobreza, me chamam de comunista".
Não esperem de mim, nunca, uma caridade divorciada da busca por Justiça Social.
Não quero ser herói, quero ser leal à minha consciência.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Poema sobre o carnaval da vida

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Seja o bloquinho nas ruas com glitter e fantasia, seja o das escolas de samba e seus repiques,
até mesmo o dos que odeiam o Carnaval e se escondem em retiros espirituais.
Tudo passará.
A porta-bandeira enrolará o tecido no mastro e sairá da avenida.
O trio elétrico desligará a caixa de som.
Os retirantes religiosos voltarão a seus afazeres comuns.
A Terça-feira de serpentinas virará quarta-feira de cinzas.
A vida é assim, tudo passa.
Para você que está triste, saiba: passa.
Vai melhorar.
O sol dará sinais sobre as nuvens, amanhecerá.
Basta abrir as janelas para ver a luz invadir o quarto escuro da sua alma e sentir o cheiro de vida, de mato,
de chuva, de terra molhada.
Para você que está alegre, saiba:
a dor virá.
Não há como fugir das circunstâncias da vida que nos entristecem.
Terremotos nos alcançará, perderemos amigos, noites escuras nos deixarão insones, pensamentos confusos nos atormentarão.
Para enfrentar a vida e seus ciclos,
é preciso saber sobre felicidade e sofrimento.
Felicidade é mais que alegria.
É decisão de vida.
É possível ser feliz mesmo estando triste.
A alegria é circunstancial, no Carnaval da vida, nas vitórias, nas festas.
Por confundir alegria e felicidade,
que muita gente sofre quando o Carnaval termina.
Só há um modo de ser feliz: sendo.
É aprender a estar contente em toda e qualquer situação.
Isso é mais do que estar bem,
mas estar em paz.
Contentamento.
Nos piores dias da minha vida, amigos me perguntavam: Você está bem?.
Eu respondia: Nem tudo está bem, mas tudo está em paz. 
Eu decidi ser feliz e estar contente em toda e qualquer situação,
mesmo quando Carnaval tem seu fim.
É possível sentir dor, sem sofrer.
Sofrimento é o sentimento psíquico diante da dor física.
Há quem sofre até mesmo quando a dor já passou.
E segue sofrendo.
Toda dor pode ser por enquanto,
mas o sofrimento pode ser eterno,
se quiser assim.
Encarar a dor e combater o sofrimento é o segredo para uma vida equilibrada.
Que saberá viver os ciclos sem medo, percebendo que tudo passa,
por isso é possível decidir: Sou feliz.
Estou alegre/triste.
Nem tudo está bem, mas tudo está em paz.
Isso é mais que autoajuda.
É ajuda do alto.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Poema sobre o avivamento no Estando Unidos

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Tenho dificuldade de acreditar em avivamentos que nos aprisionem em perímetros  sagrados.
Isso me remete à ocasião em que Jesus se transfigurou diante de três dos discípulos.
Um deles, Pedro, ficou tão emocionado que sugeriu que se fizesse tendas para Jesus, Moisés e Elias.
Se dependesse dele, o “culto” não terminaria tão cedo.
“Bom é estarmos aqui!”, exclamou.
Mas Jesus tinha outro plano.
Havia uma demanda emergencial que precisava ser atendida e não era justo manter seus discípulos daquele êxtase espiritual, por mais significativo que fosse. 
Enquanto os três curtiam aquele momento único de manifestação da glória de Cristo, lá embaixo os demais discípulos se viam impotentes para atender a um pai cujo filho sofria de uma possessão. Desconfio de toda espiritualidade que nos aliene da realidade, por mais sincera que seja.
O culto não precisa terminar no último amém.
Pelo contrário, deve continuar no chão da vida, servindo aos nossos semelhantes, àqueles nos quais Deus escolheu ser amando.
Quanto ao que está acontecendo numa capela de uma universidade americana, já vi este filme antes.
Não creio nos avivamentos em grandes estádios, com jovens levantando tênis para consagrar os pés e os passos.
Nem aqueles que acontecem nos templos, para encher os templos de iguais.
Só creio no avivamento dos quartos. Do silêncio.
Do secreto.
Não vi nenhum fruto dos avivamentos em estádios no Brasil.
Continuamos um país de maioria cristã, que derruba terreiros,
violento, que mais mata pessoas no mundo, corrupto, machista.
Mas já vi o avivamento que aconteceu na vida do Albert,
que podendo ser o mais poderoso pastor do país, vai estudar medicina para servir aos mais pobres dos pobres na África esquecida.
Já vi avivamento na vida da Irmã Teresa, que podendo guardar o coração, o rasga e entrega seu serviço aos doentes terminais até o fim da sua vida.
Já vi o avivamento do Henry, que abre mão de ser o professor mais influente da Universidade para morar e cuidar com pessoas com deficiência.
O avivamento na vida de tantos que tocados pelo Espírito sem alarde religioso, abrem mão do conforto e cantorias para se tornar canção.
Que não se contenta em orar, mas se transforma na oração respondida de alguém.
Que não se limita a pregar, vira pregação.
Carta viva do amor de Deus.
Avivamento que não culmina em serviço ao próximo, que não altera o mundo pelo bem feito aos corações, que não produz Nova e Boa Consciência, é só arrepio e surto coletivo.
Se for para "a-vivar", ou seja, "dar vida", os frutos precisam ser "na vida", especialmente daqueles que não têm vida, por causa dos sistemas de opressão dos quais a religião seja, talvez, o principal. 
Não é ficar horas, dias trancados orando, como as pessoas de Asbury e achar isso bonito.
Bonito é ir pra vida!.
Viver e dar vida!.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Poema sobre a cultura cristã

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Com o advento das redes sociais,
nós avançamos quilômetros em conteúdo com centímetros de relevância.
Há canais para todos os gostos, podcasts de todas os gostos, influencers para todas as influências, mas o conteúdo é fraco.
Foi assim também com a música cristã brasileira.
Os artistas migraram da clandestinidade para o mercado Gospel.
Ganharam qualidade musical e expressão, mas perderam as letras.
Há entretenimento no mercado especial para cristãos.
A palavra Gospel virou sinônimo de um mercado específico para o público.
Se alguém falar em jiló Gospel,
já saberemos que ele foi plantado na fazenda da religião para o consumo de cristãos.
Essa foi uma sacada do mercado.
Criou-se uma cultura cristã, de canais de televisão à marca de roupas,
de programas de entretenimento aos festivais de música que lotam estádios.
Para que venda, o mercado não propõe doutrina, não questiona tabus, não encara injustiças.
As canções e literaturas falam de temas gerais.
Fundamentalistas ultraconservadores a liberais progressistas consomem o mesmo produto e hoje o mercado gospel fatura bilhões, de modo que fez surgir uma cultura cristã sem compromisso ético com o Evangelho.
Somos mais consumidores de conteúdo cristão do que frequentadores de igrejas cristãs, algumas que também viraram produto de consumo.
A cultura cristã suprimiu o Evangelho, de modo que hoje no Brasil muitos se declaram cristãos desconhecendo as causas do Cristo.
Nossa boca está cheia de Deus,
mas não o nosso coração.
Falamos de Jesus o dia inteiro como se fora uma palavra mágica que nos protege de nossas neuroses religiosas.
Nosso cristianismo cultural nos impede de ver a tragédia Yanomami.
Não nos deixa perceber a discrepância de entrar num culto desviando de famintos desmaiados nas portas dos templos.
Nos torna incapazes de associar que se os discípulos de Jesus eram para serem luzeiros do mundo,
como pode então, um país majoritariamente cristão como o nosso ser campeão de assassinato de pessoas trans, racista por excelência e figurar na lista dos mais corruptos e violentos?.
Há algo de muito errado com a nossa fé.
Para nós cristãos
não basta ter fé em Jesus.
É preciso ter a fé de Jesus.

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