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Tenho dificuldade de acreditar em avivamentos que nos aprisionem em perímetros sagrados.
Isso me remete à ocasião em que Jesus se transfigurou diante de três dos discípulos.
Um deles, Pedro, ficou tão emocionado que sugeriu que se fizesse tendas para Jesus, Moisés e Elias.
Se dependesse dele, o “culto” não terminaria tão cedo.
“Bom é estarmos aqui!”, exclamou.
Mas Jesus tinha outro plano.
Havia uma demanda emergencial que precisava ser atendida e não era justo manter seus discípulos daquele êxtase espiritual, por mais significativo que fosse.
Enquanto os três curtiam aquele momento único de manifestação da glória de Cristo, lá embaixo os demais discípulos se viam impotentes para atender a um pai cujo filho sofria de uma possessão. Desconfio de toda espiritualidade que nos aliene da realidade, por mais sincera que seja.
O culto não precisa terminar no último amém.
Pelo contrário, deve continuar no chão da vida, servindo aos nossos semelhantes, àqueles nos quais Deus escolheu ser amando.
Quanto ao que está acontecendo numa capela de uma universidade americana, já vi este filme antes.
Não creio nos avivamentos em grandes estádios, com jovens levantando tênis para consagrar os pés e os passos.
Nem aqueles que acontecem nos templos, para encher os templos de iguais.
Só creio no avivamento dos quartos. Do silêncio.
Do secreto.
Não vi nenhum fruto dos avivamentos em estádios no Brasil.
Continuamos um país de maioria cristã, que derruba terreiros,
violento, que mais mata pessoas no mundo, corrupto, machista.
Mas já vi o avivamento que aconteceu na vida do Albert,
que podendo ser o mais poderoso pastor do país, vai estudar medicina para servir aos mais pobres dos pobres na África esquecida.
Já vi avivamento na vida da Irmã Teresa, que podendo guardar o coração, o rasga e entrega seu serviço aos doentes terminais até o fim da sua vida.
Já vi o avivamento do Henry, que abre mão de ser o professor mais influente da Universidade para morar e cuidar com pessoas com deficiência.
O avivamento na vida de tantos que tocados pelo Espírito sem alarde religioso, abrem mão do conforto e cantorias para se tornar canção.
Que não se contenta em orar, mas se transforma na oração respondida de alguém.
Que não se limita a pregar, vira pregação.
Carta viva do amor de Deus.
Avivamento que não culmina em serviço ao próximo, que não altera o mundo pelo bem feito aos corações, que não produz Nova e Boa Consciência, é só arrepio e surto coletivo.
Se for para "a-vivar", ou seja, "dar vida", os frutos precisam ser "na vida", especialmente daqueles que não têm vida, por causa dos sistemas de opressão dos quais a religião seja, talvez, o principal.
Não é ficar horas, dias trancados orando, como as pessoas de Asbury e achar isso bonito.
Bonito é ir pra vida!.
Viver e dar vida!.
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