quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Teto sem paredes

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As tarifas de energia elétrica estão 25 por cento mais caras neste ano.
A gasolina acumula alta de 73 por cento, e o diesel 65 por cento.
Ontem entraram em vigor aumentos de 7 por cento na gasolina e 9 por cento no diesel.
Isso significa mais combustível no IPCA e na taxa Selic.
No cenário externo, ainda se refazendo da pandemia, o petróleo aumento porque a demanda continua colidindo na restrição de oferta, causando um desarranjo nos preços internacionais.
Temos incertezas e inseguranças relacionadas às contas públicas,
ao orçamento da União e ao novo programa assistencial, além da crise hídrica na qual o Brasil morre de sede e seca em frente ao mar.
Com á abertura no teto de gastos,
o país fica mais descoberto,
sem recurso para se proteger desse temporal de inflação.
Quando a gente fala em fragilizar o teto dos gastos no ano que vem,
a gente fala de um juro neutro mais alto, consequentemente o Banco Central vai ter que subir esse juros e isso vai impactar no bolso dos mais pobres,
com uma inflação também mais salgada.
Tudo isso é muito insatisfatório para empresários, trabalhadores e desempregados que dependem e evidenciam com a esperada recuperação.
Enquanto isso, em Brasília, seguem intocáveis 20 bilhões em emendas parlamentares e fundos partidários.
Fortuna que os políticos poderão gastar praticamente sem mecanismo de controle, praticamente sem teto.


terça-feira, 26 de outubro de 2021

Poema sobre os Barrabás dos povos controlados

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O primeiro plebiscito da história, quando Pilatos pergunta ao povo se quer o ladrão ou Jesus, o povo democraticamente grita “Barrabás, Barrabás”.
O grito da multidão não é sinônimo do poder do povo.
E nem da justiça, e nem da ética.
Ou seja, nem sempre a melhor escolha vai estar nas mãos do povo.
Nem sempre o povo saberá usar o poder de escolha ao seu favor.
Quando passo á analisar como Jesus se comportou na sociedade de seu tempo, vejo que nem todas as coisas são claras.
As vezes encontro obstáculos para colocar certas questões em ordem.
Nesse momento, eu abordo a questão da atitude política de Jesus interrogando os Evangelhos a partir das minhas preocupações, a partir das minhas interrogações e também o Evangelho, me interroga e me interpele.
Faço uma interpelação mútua entre nossa situação, o Evangelho e o pensamento político de Jesus.
Se desligamos Cristo do seu mundo social, produzimos um mito.
É impossível aplicar as palavras e os exemplos de Jesus para hoje sem levar em conta o mundo dele; o contexto sócio-político, as estruturas vividas por ele.
A sociedade em que Jesus viveu deve ser analisada a partir da economia, das relações de produção.
Em termos econômicos era uma sociedade pré-capitalista e agrícola.
Cristo considera a riqueza de uma maneira muito negativa, porque vê que a propriedade da terra está muito concentrada em um grupo burguês.
Por isso, a riqueza é um ídolo que faz concorrência com Deus.
No tempo de Jesus, o Estado é o que chamamos hoje de teocrático.
Ou seja, um Estado re­ligioso.
A constituição, as leis são a Bíblia,
os cinco primeiros livros chamados Pentateuco.
Ela é a constituição, o código penal,
o código civil.
Quando os juízes vão julgar alguém, eles interpretam e aplicam as regras da Bíblia.
O sumo sacerdote é o dirigente político da nação.
Qualquer comportamento religioso, nesta situação, e um comportamento político.
Não havia divisão, política de um lado, religião de outro.
Hoje nós temos uma divisão institucional entre Igreja e governo.
Naquela época a Igreja judaica era a sede do poder político, e o sumo sacerdote,
o governante da nação.
É muito importante entender que religião e política eram uma coisa só e qualquer comportamento blasfemo, irreligioso, era subversivo.
Quando Cristo cura em dia de sá­bado e não observa as tradições, ele está ten­do um comportamento subversivo, antipolítico.
Só levando isso em consideração é que entende­mos o quanto Cristo era de oposição.
A classe alta era composta pelos funcionários, pelos detentores do Estado: Sumo Sacerdote, Sinédrio e Estado romano,
O rei Herodes, o governador Poncios Pilatos e a Corte, esse era o primeiro pólo da classe rica, o se­gundo polo da classe rica era constituído pelos proprietários de terra, pelos latifundiários.
Os anciãos eram famílias tradicionais, donas de terras.
Tinham os grandes comerciantes do mercado importador e exportador, do mercado atacadista, sobretudo de Jerusalém.
A classe intermediária era constituída pelos pequenos agricultores, pequenos comerciantes e profissionais liberais,
que, naquele tempo, eram os escribas e os fariseus.
Os escribas não eram ricos.
Eram uma classe intermediária que estava em ascensão, com a hegemonia da sociedade.
Nessa posição havia a classe do baixo clero, os sacerdotes do templo e os levitas, que giravam em torno de  milhares de pessoas.
O povo era muito fragmentado, tanto que o Evangelho diz "multidão".
O povo era uma massa de gente, sem maior coesão interna, sem espírito de classe.
No meio do povo existia toda a sorte de trabalhadores.
Eram artesãos do interior, diaristas, arrendatários rurais, escravos, criados,
e também existia toda a sorte de marginalizados.
Leprosos eram os últimos dos últimos, doentes,
mendigos,
órfãos,
viúvas,
estropiados e possessos.
Chamavam de possessos as pessoas que, por causa de suas condições sociais, ficavam loucas.
Isso mostra o nível a que estava reduzido o povo, o grau de deterioração das condições de vida.
Havia filhos de pessoas adúltera ou de um estrangeiro ou de um samaritano que não tinha muita consideração.
Os fariseus e os escribas controlavam a interpretação da Bíblia.
Eles estavam subindo na sociedade e adquirindo bas­tante postos no Sinédrio, dentro do governo Judeu.
O partido era formado pelos intelectuais do templo, pelos advogados, teólogos. 
Seus partidários se concentravam em torno da Sinagoga, porque ali era o lugar em que se lia a Lei de Deus, era a liturgia da palavra.
Eles dominavam porque eram os únicos que sabiam ler e interpretar a Lei Bíblica.
Tinham a hegemonia, no sentido de que detinham a direção moral e intelectual.
Os  Zelotas era um partido radical, que rompe definitivamente com os romanos e adota a prática da guerrilha, da violência ar­mada.
Eles visavam destruir a estrutura política romana e também o poder judaico 
Para entender como é que Jesus se posiciona diante dos revolucionários,
é necessário lembrar que esse partido tem um projeto nacio­nalista na cabeça.
Além da independência da Palestina, ele querem unir um projeto expansionista, imperialista.
Eles querem colocar o judeu no centro e sobre todos os outros povos, e criar um império mundial judeu.
O César judeu seria uma espécie de César-Moises, César Bíblico que dominasse o mundo, já que isso estava nas profecias da Bíblia.
No projeto dos zelotas havia também a restauração de teocracia, do rei santo, muito parecido com Davi.
Cristo dessacraliza o poder político, não pensa em poder religioso, teocrático.
Deste ponto de vista, há diferença entre Cristo e os revolucionários zelotas.
Existiam ainda outros partidos de significação menor, como os essenios,
os heroditas e outros, e tinha também o povo sem organizações populares de base e que estava mais sob a dominação dos saduceus e dos fariseus.
A Lei era uma espécie de força que impedia toda a criatividade, toda força, exuberância.
Esse legalismo, mantido sobretudo pelos escribas, pelos doutores da Lei, era extremamente funcional.
Servia para acobertar as iniquidades do regime e manter o povo do­minado.
O legalismo não era um desvio puramente moral ou religioso.
Tinha uma função também política.
A Lei era tão rigidamente aplicada para pode manter o povo submetido, o conhecimento dos doutores da Lei se baseava em uma espécie de conhecimento se ereto, ou seja, somente eles sabiam ler e interpretar a Lei.
E isto era feito com um vocabulário complicado, difícil, de modo que deixavam o povo confuso e crente de que eles entendiam os mistérios de Deus. Assim o povo entre­gava sua liberdade nas mãos dos fariseus, dos doutores da Lei.
Só desse modo compreendemos as violentas investidas de Cristo contra os Escribas e os Fariseus.
Eles realmente sequestrava as chaves da casa da ciência.
O povo imaginava o Messias do tamanho de seu desejo e de suas necessidades.
Ou seja, o Messias seria um grande benfeitor que viria trazer pão, saúde, libertação de todas as opressões.
O povo esperava o Messias realmente material e a espera era feita de uma maneira urgente, delirante, de uma hora para outra.
Havia uma expectativa incrível de um salvador, libertador, e se investiam sobre as pessoas que apareciam com uma certa perspectiva de libertação.
Jesus vivia na companhia dos pobres, dos oprimidos.
Sua base social eram os oprimidos e marginalizados daquela sociedade.
Os seus primeiros milagres foram curas de pessoal muito marginalizadas.
A tradição dizia para ser afastar dos pobres, dos pecadores, porque eram malditos.
A condição de vida dos pobres lhes impediam de praticar a Lei.
Portanto, concluía-se que eram pecadores.
Cristo se aproxima, defendendo os pequenos.
Ele era do partido dos pobres,
dos oprimidos.
Cristo tinha  uma atitude critica frente aos poderosos.
O conflito entre Jesus e os di­rigentes do povo atravessa os Evangelhos de ponta a ponta.
Jesus ataca diretamente os Escribas, Fariseus, os Sumo Sacerdotes e os Saduceus, expulsa os vendilhões do Templo, e declara que o Templo vai acabar.
O Templo significa o sistema da época.
Amaldiçoa também a figueira, símbolo do sistema Judaico.
Uma semana depois era levado ao tribunal, e condenado a morte na cruz.
Jesus não tinha programa político definido, como o tinham os Zelotes,
os Saduceus e os Fariseus.
Temos as palavras de perdão, de não violência.
Jesus anda em companhia dos fiscais,
se relaciona com os romanos e resiste à tentação do poder, o que não ocorria aos Zelotes.
Ele não queria revelar sua identidade messiânica para não provocar atitudes de sublevação no meio do povo, pois achava que isto iria ser um suicídio.
Jesus não era um ser alienado, indiferente.
Jesus foi contra o poder de dominação.
E se guardava o poder merssiânico, era porque o povo fazia uma idéia mística do Messias.
Uma idéia mágica de um Messias milagreiro, demagógico, paternalista, portanto uma idéia libertadora e autêntica.
Cristo teve uma atuação política verdadeira, mas a nível profética.
Foi um revolucionário profético.
A sua grande idéia é a do Reino de Deus, que é um projeto radical.
No fundo, a raiz da proposta de Cristo e, na verdade, profética.
Mas ele tinha implicações e efeitos claramente político.
Essa proposta leva-o a atacar o Templo, o cérebro central da exploração do sistema.
Porque era profética, a sua proposta tinha uma implicação política.
E os efeitos disso também são políticos.
Vemos que Cristo é perseguido continuamente durante toda sua vida pública ele; é julgado por dois tribunais pelo religioso onde foi declarado blasfemo; pelo romano, onde foi condenado exatamente como Messias, como revolucionário.
E basta olharmos o crucifixos para nos darmos conta de que esse símbolo da nossa fé é um símbolo originariamente político.
Embora não vise diretamente derrubar o poder ou propor um modelo alternativo,
a nossa pastoral tem uma dimensão política.
E da mesma forma que confundiram Jesus com os Zelotes, hoje também se confunde e se condena a Igreja como comunista, como subversiva.
Entendemos a maneira de Jesus se com portar no seu templo da mesma forma que entendemos a maneira da Igreja,
os bispos e as comunidades se comportarem na sociedade de hoje.
Embora a raiz, em ambos os casos, seja de fé Evangélica e porque é de fé Evangélica, os frutos, as consequências são e não podem deixar de ser políticas.
O comportamento histórico concreto de Jesus e o comportamento que a Igreja, os pastores e as comunida­des seguem ainda hoje, com as mes­mas implicações que ele teve.
Devemos entender os limites de Jesus, porque são os limites de seu tempo. Jesus era uma pessoa historicamente limitada.
Não era um homem de século II, pós-marxista.
Ele tem uma consciência política também limitada pelas condições do seu tempo.
E as condições concretas de sua época limitavam o poder e a capacidade do povo.
Ou seja, era impossível organizar o povo de tal maneira que ele pudesse obter o poder e exercê-lo de maneira adequada.
Mesmo que Cristo tivesse na cabeça um projeto revolucionário de conquista do poder e de organização de uma sociedade alternativa, não havia condições históricas para que isso fosse desenvolvido.
A gente tem de ver que Jesus era um homem do século I.
Ele não e um Lula ou um Bolsonaro de hoje.
O Lula e o Bolsonaro são o que são por causa da sociedade do século XXI, e da sociedade idólatra.
Ou seja, a gente é também a sociedade onde a gente vive.
Então Jesus era limitado pelas possibilidades políticas daquele tempo.
Era uma limitação do mundo dele.
Outro dado importante, é que Jesus não podia ser tudo ao mesmo tempo.
Ou era profeta, ou revolucionário Zelote.
Ou seria Messias po­lítico ou Messias pobre, sofredor como o povo.
Jesus escolheu o caminho profético.
Dessa forma não se pode argumentar porque Jesus no participou da política diretamente.
Tem gente que trabalha na pastoral e tem gente que trabalha no Sindicato,
outros trabalhos no partido.
Aliás, essa e uma questão que se coloca atualmente para os líde­res de comunidade.
Muitos têm possibilidade de participar de partidos, mas já assumiram a responsabilidade de participar da pastoral.
Surge uma questão concreta, que é a de não ter tempo de participar dos dois.
Esse é um problema concreto, prático, e não de princípios.
Se Cristo viesse hoje, quem sabe se ele não entraria para um partido político.
Por que não vemos de entender que ele viveu em uma situação, com possibilidades pessoais e biográficas muito limitadas.
E nós que vivemos numa sociedade que se politiza e se organiza cada vez mais, devemos entender isso.
Devemos também, a meu ver, traduzir em termos políticos as propostas do Evangelho de Jesus.
As vezes o Evangelho tem propostas limitadas a nível individual, como por exemplo, o bom samaritano que se curva diante do despojado para ajudá-lo.
Devemos fazer uma tradução política disto; porque essa é a nossa mentalidade.
O amor ao próximo não é amor ao outro, individual, é o amor às massas humanas, as classes inteiras.
Quem são os ricos e os pobres Lázaros?.
O pobre Lázaro são os favelados,
os operários da periferia.
São as massas oprimidas e exploradas.
Não são Maria, João, pessoas individuais.
São massas inteiras.
Vivemos em uma sociedade de massas, constituída em classes muito diferente daquela em que Jesus viveu, onde a relação era a dominante.
Assim a pratica política direta vista por nós nos partidos, nos sindicatos,
pode ser um modo nobre de ser discípulo, de seguir a Jesus Cristo e imíta-lo de maneira criativa.
Não devemos ver Jesus apenas no passado, há dois mil anos, mas devemos vê-lo vivo, ressuscitado fazendo política através dos movimentos históricos,
dos grupos sociais dos cristãos e nâo-cristãos.
Por enquanto, o povo prefere vê-lo apenas no passado, quando democraticamente grita "mito, mito".
São os Barrabás solto pelos gritos de pseudo pressão de uma plateia rancorosa, atiçada para pedir reeleição.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Poema sobre o ciclo da vida

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Tantas vezes ficamos tristes e cabisbaixos quando alguma coisa se encerra em nossa vida, seja um emprego, experiências alegres e tristes que marcaram nossa vida com aprendizados vividas e necessárias a nossa evolução.
Na vida temos fases boas, felizes, assim como momentos tristes de dificuldades, vividos e superados que passaram por nós, permitindo chegar ao término de mais uma etapa vencida em nossa trajetória terrena.
Na vida nós podemos construí-la, aperfeiçoando os nossos valores sempre e entender que o crescimento é possível com decisões e ações permanentes.
Ou ficar invejando os outros, criticando e atacar tudo e todos, exibindo sua dor ressentida ao mundo.
É preciso saber que nem sempre caminharemos entre flores, sorrisos de alegria, olhos brilhantes e felicidade estampada na face assinalando os nossos dias; muitas vezes o desânimo nos açoita a alma, fraquejamos e sentimos vontade de desistir.
No entanto, o importante é que ultrapassamos barreiras, criamos forças e, apesar dos obstáculos, aqui estamos prontos para receber o que se aproxima com mais fé, esperança e amor no coração.
Portanto ao invés de reclamar como muita gente faz, nos lembrássemos de agradecer pela infinidade de bênçãos que nos são concedidas, inclusive pela maravilhosa dádiva da vida e mais uma vez a oportunidade que nos é outorgada de chegar ao fechamento desse ciclo que se encerra.
A grande pedida é procurar, na medida do possível, esquecer o que passou e não foi bom, observando onde devemos melhorar, aprendendo com os erros cometidos, sempre e cada vez mais dispostos a pautar nossas vidas pela prática da verdade, do amor e do bem.
Agradecemos pela vida, pela sublime oportunidade que me foi concedida de renascer nessa existência e em muitas outras que ainda virão, pelas dores enfrentadas que resultaram em preciosos aprendizados para o meu espírito ainda tão imperfeito.
Se as lágrimas foram abundantes,
os sorrisos compensaram os momentos menos felizes; se o brilho dos meus olhos, algumas vezes, esmaeceu pela ingratidão, desamor e turbulências inerentes à existência de todo ser humano, foi recuperado ao contemplar a imponência refletida na grandeza das suas obras.
Gratidão pela saúde, pelo teto que generosamente me abriga,
pelo pão do corpo e do espírito que nunca me faltou,
pelas vestes que cobrem meu corpo,
pela família que me deu e que tanto amo, pelos amigos que são poucos.
Gratidão por iluminar a minha caminhada terrena, pela proteção e direcionamento, ensinando-me caridosamente a amar e perdoar incondicionalmente.

sábado, 23 de outubro de 2021

Cristianismo puro e simples

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Eu não acredito em um evangelho que reata o relacionamento entre Deus e o homem, mas não promove relações sociais justas, simétricas e equitativas.
As hastes da Cruz apontam para o fato de que Deus tenha o propósito de promover a reconciliação tanto entre a Divindade e a humanidade quanto entre todos os homens, desfazendo as distinções que os segregam.
Se Seu propósito fosse apenas reconciliar-se com os homens, Cristo teria morrido em um poste, não numa cruz. 
Eu não acredito que Deus só pertence aos evangélicos, e que para ser d'Ele precisa se tornar evangélico.
Até quando essas pessoas não vão entender que Deus não é evangélico.
Eu não me intitulo evangélico, cristão ou crente, eu me esforço para ser discípulo amando, respeitando, convivendo, praticando, perdoando, relevando, aprendendo, reaprendendo a ser discípulo d'Ele.
Cristo não morreu enforcado, o que pode indicar que a espiritualidade proposta no Evangelho não é asfixiante, como a que temos visto promovida por alguns segmentos cristãos. 
Ele não morreu decapitado, o que parece indicar que Sua proposta não inclui privar-nos da razão.
Não se trata de um suicídio intelectual.
Ninguém deve perder a cabeça por abraçar o Evangelho.
Pelo contrário, a genuína espiritualidade cristã reconcilia a cabeça e o coração,
a razão e as emoções, apaziguando o ser. 
Eu não acredito em um evangelho que nos livra do inferno, mas que, ao invés de nos tornar agentes pacificadores, equipa-nos de argumentos que só servem para infernizar a vida dos outros.
Eu não acredito em um evangelho que não produza transformações sociais profundas, de modo que passemos a enxergar a todos à nossa volta, como seres humanos feitos à imagem e semelhança de Deus, e que, portanto, devem ser respeitados em suas escolhas. 
Eu não acredito que sendo de uma denominação me tornará superior, me tornará melhor, me tornará perfeito aos demais aqueles que estão desigrejados.
Eu não acredito em um evangelho que só enxerga a graça como um meio de chegar-nos a Deus, mas sonega esta mesma graça para amedrontar o abismo que nos separa uns dos outros, fomentando preconceitos e estimulando a segregação.
Eu acredito sim, que precisamos fazer o que for de justiça e equidade para os nossos semelhantes, sabendo que também tendes um Senhor nos céus.
Eu acredito sim, que precisamos andar com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo para que às nossas palavras seja sempre agradável, temperada com sal, para que possamos saber responder a cada um.
Eu acredito sim, no Evangelho puro e simples que ensinou-me que eu não preciso de povo, eu preciso de gente.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Expressões da pobreza do Brasil

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Perdoe-me por reescrever mais uma vez soube a cena chocante da cidade de Fortaleza, um dos grandes polos do nordeste brasileiro e uma das maiores metrópoles do país.
Uma foto, uma imagem e uma filmagem me revela um caminhão de lixo sendo, literalmente, atacado por moradores da periferia que buscavam restos de comida.
Famintos, desempregados,
vitimados por uma política perversa e por uma sociedade que se dessensibilizou com a tragédia humana, eles catavam avidamente, para por na mesa dos filhos, aquilo que a classe média e rica joga fora.
Tão chocante quanto essa cena são os milhares de políticos do Brasil, com seus gabinetes abastados, inertes a dor e ao desespero de uma população que é explorada por promessas de campanha em troca de votos novos seminovos e usados.
Sim, o político, em sua esmagadora maioria, é cúmplice deste projeto de morte ancorado por uma economia debilitada e uma necropolítica que pasma o mundo inteiro.
Exportamos alimentos para a Europa, Ásia e América, batemos sucessivos recordes no setor agrícola, um dos poucos a dar resultados a décadas, enquanto isso, o prato de nossa gente fica vazio assim como, também, vazia está a alma das pessoas, pois é impossível que uma sociedade consciente e desenvolvida tivesse tamanho descaso com um mal tão avassalador.
É preciso urgentemente encontrar uma solução, é preciso analisar o fenômeno social com as lentes da história humana, buscando encontrar alternativas e avivar consciências adormecidas para o drama de existir neste tempo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Poema sobre a ceia da prostituição

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Quantas mulheres se mantém casadas, não por amor a seus respectivos maridos, mas por conveniência?.
Algumas chegam a usar o sexo como moeda para extorquir seus cônjuges.
Não seria isso um tipo de prostituição?.
E quanto àqueles que mantêm um matrimônio de aparência para não perderem a credibilidade de seus ministérios?.
Sem amor, não há casamento.
Ainda que tenham se casado no civil e no religioso.
Ainda que tenham construído juntos um patrimônio significativo.
Se falta amor, não sobra nada. 
Apesar disso, não posso comungar da ideia de que aquelas moças fazem seja correto.
Simplesmente, não as julgo.
Não me considero melhor do que elas.
Contudo, posso alertá-las para a nocividade do estilo de vida que escolheram.
Posso olha-las com empatia e compaixão, sem com isso endossar a exploração de que são vítimas.
Ainda que responsáveis por suas escolhas, permanecem vítimas de uma sociedade hipócrita, que ama a prostituição, mas odeia as prostitutas, que as usa e depois as descarta e apedreja.
Seus corpos são expostos no mercado do sexo, prometendo atender aos desejos mais pervertidos de seus clientes.
Da profissional do sexo que desfila na esquina à prostituta de luxo oferecida por agências de modelo de fachada, todas oferecem os seus corpos.
Algumas entram para o ramo da prostituição para garantir a manutenção do vício, e quando se dão por si, estão usando drogas para suportar a crescente demanda psicológica da prostituição, e assim, o ciclo se retroalimenta.
Prostituir-se para poder se drogar, drogar-se para poder se prostituir. 
Apesar de tudo isso, a maioria delas insiste na prostituição por falar-lhe alternativas viáveis para se manter.
É fácil julgá-las, mas há razões que as tornam reféns dessa atividade.
Dentre elas, a falta de qualificação profissional, a dependência de drogas ou álcool, coação por parte de um cafetão, dívidas e antecedentes criminais. Algumas, mesmo tendo alguma qualificação profissional, incluindo formação acadêmica, se entregam à prostituição por alguma das outras razões alistadas acima.
Uma mulher com antecedentes criminais, por exemplo, dificilmente conseguirá um emprego formal. 
No Brasil, a prostituição não é considerada uma atividade ilegal.
Entretanto, o incentivo à prostituição, bem como a contratação de mulheres para atuarem como prostitutas é crime, passível de prisão.
Portanto, a cafetinagem segue sendo uma atividade criminosa.
Hoje é cada vez mais comum garotas e garotos de programa trabalharem por conta própria, sem estarem presos a um cafetão.
Boa parte dos turistas que visitam cidades vem atraída por imagens sensuais, principalmente exibidas durante o Carnaval. 
A prostituição também é responsável direto pelo tráfico sexual, que não passa de uma forma de escravidão moderna.
O tráfico de seres humanos, além de uma violação dos direitos humanos, é um crime lucrativo.
Trata-se do terceiro crime mais lucrativo do mundo, perdendo apenas para o tráfico de drogas e armas. 
A prostituição não é a profissão mais antiga do mundo.
Na Suméria surgiram as primeiras leis que distinguiam as mulheres boas das mulheres más, reforçando assim o estigma que as prostitutas já carregavam por séculos.
Mais tarde, porém, em civilizações como a egípcia e a grega, as prostitutas alcançaram o status de sacerdotisas sagradas, sendo honradas como representantes das divindades e presenteadas em troca de favores sexuais.
Já na cultura judaica, a prostituição era severamente combatida.
De acordo com as leis mosaicas, as prostitutas deveriam ser apedrejadas até a morte.
Não obstante a isso, há episódios em que as Escrituras revelam certa tolerância para com as prostitutas, como no caso em que Josué poupou a vida de Raabe, a prostituta que acolheu os espias durante a tomada de Jericó. 
Antes da revolução sexual, era comum um chefe de família frequentar bordéis, para receber de prostitutas aquilo que o recato não permitia que recebesse de sua esposa.
Igualmente comum era a prática de levar os filhos para serem iniciados por prostitutas.
A melhor maneira de se combater a prostituição não é apontando o dedo e condenando quem se prostitui.
Em vez disso, deveríamos combater o que leva tanto mulheres quanto homens a alugar seus corpos no mercado do sexo.
Não se combate o mal atirando pedras em seus frutos, mas atacando suas raízes.
Uma sociedade mais justa e igualitária, certamente resultaria em menos mãos-de-obra para a prostituição.
Uma sociedade em que mulheres fossem tratadas com mais dignidade, certamente inibiria a enorme quantidade de meninas que são aliciadas por cafetões ignóbeis e ambiciosos. 
Se no Antigo Testamento, a Lei de Moisés proíbe que se tragam ofertas advindas da prostituição ao santuário, no Novo Testamento flagramos Jesus recebendo de uma prostituta uma oferta em forma de perfume que lhe custou um ano inteiro de prostituição.
Por isso, meretrizes precederão no reino porque é mais fácil levá-las à consciência de seu estado de carência da graça do que convencer a um hipócrita e preconceituoso do quão perdido está.
Nos braços de uma meretriz é possível encontrar mais compaixão do que no dedo desprovido de amor.
Se quisermos alcançá-las, deixemos de usá-las para despejar nossa libido e passemos a amá-las como Jesus as amou.
Enquanto a sociedade ama a prostituição, mas odeia as prostitutas, Deus amam as prostitutas, mas odeia a prostituição.
Por ser amor, Ele não consegue evitar amá-las.
E por isso mesmo, não pode endossar seu estilo de vida, visto que lhe traga tanto mal e sofrimento.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Poema sobre a miséria do mundo

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Como não se chocar com estas cenas?.
A fome dói na alma e corrói a dignidade humana.
Como pudemos descer tanto?.
Como pode uma parcela significativa de nossa sociedade aprovar e apoiar a degradação de nossa nação?.
Como podem sentir o cheiro de bom perfume em uma fossa do mais apodrecido esgoto?.
Por fim, como nutrir esperanças de dias melhores para o nosso povo?.
O excesso de resiliência pode adoecer a alma.
O que está acontecendo com o nosso País?.
Onde foi que erramos, afinal?.
O que deflagrou a desigualdade social de nossa história?.
Por que ainda está morrendo tanta gente de  fome?.
Políticos só enxergam fome e miséria na Venezuela, mas finge não vê brasileiros pegando resto de comida no caminhão de lixo.
No Brasil o caminhão de lixo virou despensa de alimentos.
Enquanto a comitiva presidencial tiram fotos vestido com roupas de Dubai, pessoas comem ossos, pé e pescoço de galinha e representante do Brasil brincando de ser Sheik com dinheiro público.
É necessário e urgente o entendimento a respeito da complexidade do combate à pobreza.
Podemos falar de segregação cultural,  de insegurança alimentar, enfim, todo e qualquer impedimento financeiro de acesso aos suprimentos básicos das necessidades humanas, que confere dignidade à pessoa, pode ser considerada um tipo de pobreza.
Pensamos ser suficientes, políticas públicas que promovam o desenvolvimento social.
Enfrentar a pobreza é promover meios para que o cidadão tenha suas necessidades básicas supridas.
E necessidades básicas são urgentes, necessidades básicas não esperam que você termine um curso seja encaminhado ao emprego e receba seu primeiro salário.
E como se chega ao curso?.
Como se chega ao emprego?.
Da mesma forma quando falamos que a educação é o caminho para transformar a vida dos jovens.
Entretanto não basta construir escolas, não basta contratar professores se esse jovem não consegue ir.
Se ele não consegue permanecer.
Então, uma grande revolta da senzala, hoje, é o cunho assistencialista da escola.
Mas acontece que se a escola não assiste, o jovem não vai fica porque não quer.
É porque o tênis rasga e ele não pode comprar outro, é porque a menstruação desceu e ela não tem absorvente,
é porque a mãe conseguiu uma faxina e ela precisa olhar os irmãos menores,
é porque não tem nada em casa para comer e ele teve que sair para vender bala.
É porque por falta de perspectiva de que as coisas possam, de fato, mudar, ela foi morar com o namorado e engravidou,
ele se envolveu com o tráfico,
eles se tornaram usuários.
Então, não basta a escola estar lá,
se não promovermos políticas de acesso e permanência.
Ainda sobre a acusação de instituição assistencialista, pense que a escola é a única representante do estado em muitas comunidades.
E a educação, o combate à pobreza,
as políticas de assistência precisam mesmo andar juntas.
São infinitas nuances dessa problemática, mas eu gostaria apenas de te deixar refletindo sobre quão complexo é promover desenvolvimento social e combater a pobreza.
Não é uma linha reta, mas um caminho nós podemos descartar que é o das respostas prontas.
Não é e nunca será tão simples assim.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Poema sobre o ICMS

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Será muito difícil passar no Senado o projeto de lei que muda o ICMS.
Aprovado na Câmara, a ideia é tentar reduzir os preços dos combustíveis.
Pelo projeto, os estados continuam tendo autonomia para definir os cálculos do ICMS.
No entanto, uma nova regra determina que se leve em conta no cálculo o preço médio dos combustíveis nos dois anos anteriores.
Estimam-se perdas de 24 bilhões de reais para os estados e 6 bilhões para os municípios.
Os deputados não viram problema nisso; os senadores, porém, devem ser mais cautelosos.
Boa parte deles já ocupou o cargo de governador e outra parte pretende se candidatar a governador.
Ou seja, além de haver no Senado maior entendimento sobre a complexidade da nova lei, existem lá também vários parlamentares que não estão dispostos a esvaziar o que podem ser os seus futuros cofres.
Outro ponto é que o preço dos combustíveis não é formado somente pelo ICMS.
Pesam na conta o preço da gasolina na refinaria,
o preço do etanol anidro e margens brutas de distribuição e revenda.
Sem falar em tributos federais.
Há ainda senadores que não concordam em tirar de escolas e hospitais públicos dinheiro que vai para o tanque de gasolina.
O entendimento é que se pense em medidas para diminuir os custos de motoristas profissionais, como os taxistas e os caminhoneiros.

sábado, 16 de outubro de 2021

Poema sobre a tranquilidade da alma

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Herói é quem escapa da violência e da matança diária pelo simples fato de ser diferente, são os que se insurgem contra a piedade dos perversos.
Herói é quem tenta propor leis mais justas, espaços mais igualitário,
quem faz passeata no cotidiano da vida não na Paulista andando de cabeça erguida e peito aberto.
Há gente de todo tipo, ninguém pode ser excluído porque gosta de gente doída, gente perdida,
gente caída,
gente excluída,
gente que não se achava gente,
gente que perdeu a referência do que era ser gente,
gente que ignorava outra gente,
gente de todo tipo e gente de toda gente.
É preciso gostar de gente, pois nós somos incapazes de entender que é justamente essa gente que a gente não gosta, que quer ser fazer gente que é muito, mais muito melhor do que a gente é.
Portanto é preciso considerar todos aqueles que nós amamos,
todos aqueles que nós conhecemos, todos de quem a gente já ouviu falar, todos os seres humanos que já existiram,
todos que já viveram suas vidas.
A totalidade de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas,
todos os caçadores e saqueadores, todos os heróis e covardes,
cada criador e destruidor de civilizações, cada rei e plebeu,
cada jovem casal apaixonado,
cada mãe e cada pai,
cada criança esperançosa,
cada inventor e cada explorador,
cada professor de moralidade,
cada político corrupto,
cada superstar,
cada líder supremo,
cada santo e cada pecador na história da nossa espécie vive nesse grão de poeira suspenso num raio de sol.
Há um rio de sangue derramado por todos os generais e imperadores para que, entre glória e triunfo, eles pudessem ser mestres momentâneos de uma fração do ponto.
Pense nas infinitas crueldades cometidas pelos habitantes de um canto.
Pense em quão frequentes foram os desentendimentos deles, em quão sedentos eles estavam para matar uns aos outros, em seus ódios fervorosos.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Poema sobre o velho odre da religião

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Em muito pouco tempo, a inteligência artificial será capaz de produzir mensagens extraordinárias, você comprará um software e o instalará em um dispositivo qualquer e ele lhe dará mensagens temáticas ou expositivas, com referências cruzadas, no grego,
no hebraico, introdução, conclusão, tópicos.
Mas só tem uma coisa que a inteligência artificial será incapaz de fazer: colocar o Espírito do Evangelho no texto.
Mesmo com toda sua capacidade,
o produto final ainda será letra morta e vazia, irretocável na arquitetura,
mas empobrecida do poder do qual será vinho, mas sem mosto e ainda estará no velho odre da religião.
E por que digo isso?.
Porque não foram os teólogos de Jerusalém que disseram a Herodes do nascimento de Jesus, mas os sábios do Oriente, porque não foram os escribas do templo que discerniram a Jesus,
mas a velha profetiza Ana, esquecida e desprezada, porque não foram os membros do Sinédrio que entenderam a mensagem do Reino, mas os pescadores da Galileia, porque não foi um doutor da Lei Nicodemos que compreendeu o que era nascer de novo, mas os pequeninos.
A mensagem do Evangelho não carrega sabedoria humana, por isso a máquina não poderá reproduzi-la, é um tesouro em vasos de barro, só se discerne espiritualmente, por isso essa geração está como está, cercada de mestres tocando flautas nas ruas, mas cega do discernimento do amor, da verdade e da justiça.


quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Resumo da série Round

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Imagine que você esteja devendo até o último fio de cabelo sem a menor condição de pagar.
De repente, alguém lhe convida a participar de um jogo em que o prêmio não apenas pagaria sua dívida, mas lhe tornaria uma pessoa rica.
O que você faria?.
Pois este é, basicamente o argumento de Round 6, série sul-coreana original da Netflix.
Tudo começa com uma abordagem numa estação de metrô.
Um desconhecido lhe propõe um jogo aparentemente inofensivo.
Você tem que escolher entre dois pequenos envelopes, um de cor azul, outro vermelho.
Depois, como num jogo de bafo, ambos jogam suas cartas-envelopes na ansiedade de virá-las.
Quando você ganha, o desconhecido lhe dá uma quantia em dinheiro.
Mas quando perde, você recebe uma tapa do rosto.
No início, você se mostra relutante.
Afinal, quem quer se esbofeteado?.
Mas depois, você conclui que vale a pena, visto que está endividado, e qualquer prêmio em dinheiro lhe ajudaria.
O que você não sabe é que aquele estranho bem vestido é um recrutador, e que você está passando por uma triagem para participar de algo muito mais violento, porém, promissor.
Com sua curiosidade instigada, você aceita participar do desafio.
Ao chegar em uma ilha misteriosa para a qual você é levado inconsciente, você se depara com centenas de pessoas que passaram pelo mesmo processo, e que, à sua semelhança, estão desesperadas com suas dívidas.
O ambiente é lúdico, cheio de cores, nada ameaçador; e os jogos são inspirados em clássicas brincadeiras infantis.
Porém, somente depois de aceitarem participar, você e os demais são informados de que os perdedores não sairão vivos.
A partir daí, o que deveria ser um jogo motivado exclusivamente pela ganância, passa a ser também motivado pelo instinto de sobrevivência.  
A cada pessoa que morre, o pote de dinheiro, um cofre transparente gigante em forma de porco, vai enchendo mais e mais.
O valor total do prêmio é de bilhões, equivalente a mais de 200 milhões de reais. 
Inicialmente, a única coisa assustadora são as pessoas vestidas com um uniforme rosa choque que trazem em suas máscaras formas geométricas.
Os que trazem o círculo são os operários que trabalham na organização das tarefas.
Os que trazem os triângulos são os soldados responsáveis por manter a ordem e executar os perdedores.
Os que trazem o quadrado são os supervisores.
Há ainda uma figura mascarada misteriosa que controla tudo dos bastidores.
Além dos chamados VIP’s que só surgem nos últimos episódios, com máscaras luxuosas, que assistem de camarote o desfecho dos jogos, apostando alto nos jogadores de sua preferência. 
As cenas são horripilantes.
Alguns acusam a série de estimular a violência e de conter gatilhos perigosos para quem tem pensamentos suicidas.
De fato, a série não deveria ser vista por quem tem a mente fraca, muito menos por crianças ou adolescentes.
Mas isso não tira da série os seus méritos, provocando-nos reflexões sobre a ambiguidade da natureza humana e sua condição existencial.  
Não há mocinhos ou bandidos.
Todos são capazes de atitudes louváveis ou reprováveis.
Nem mesmo o personagem que poderíamos considerar como protagonista da trama escapa a isso.
Em nome da sobrevivência, ele é capaz de trapacear. 
Eu diria que a série é um tapa na cara de quem se arroga um poço de virtudes.
Ela expõe de maneira explícita as bases sobre as quais a sociedade capitalista está alicerçada.
Pergunto-me que papéis estariam sendo representados pelos homens uniformizados.
Quem são os operários que garantem a manutenção do sistema?.
Quem são os soldados responsáveis pela manutenção da ordem?.
Quem são os supervisores?.
Qual tem sido o seu papel no jogo?.
Seríamos os operários que trabalham para lubrificar as engrenagens da máquina social?.
O sistema nos uniformizou.
Roubou-nos a identidade.
Transformou-nos em meros prontuários.
Nossas mortes não passam de baixas.
Nossa dor e sofrimento viraram espetáculo para quem assiste divertindo-se às nossas custas. 
Enquanto isso, as pessoas almejam chegar em novos patamares nesta pirâmide, deixando de ser operários para ser soldados. 
Nosso discurso só faz estimular a ganância, sem perceber o quanto isso alimenta o monstro prestes a nos devorar. 
Qualquer expediente é válido, desde que alimente a esperança do prêmio.
Porém o custo é altíssimo.
Custa a vida de quem amamos.
Custa a nossa própria existência. 
Quantos ainda terão que morrer para que um projeto de poder avance em sua vontade genocida?.
Que efeitos colaterais estamos dispostos a enfrentar para que cheguemos ao topo da pirâmide?.
Engana-se quem pensa que somos VIP's.
Somos meros peões neste tabuleiro cheio de bispos, reis e rainhas.
Alguém precisa emperrar esta máquina mortífera antes que seja tarde demais.
O que leva pessoas a arriscarem tudo por dinheiro?.
Quais os valores da vida?.
O que seria, de fato, felicidade?.
Como controlar as pessoas por meio da ambição delas?.
Se é verdade que o mundo é frágil, ansioso e incompreensível, está obra, com certeza, oferecem uma chance de esboçar  uma narrativa em meio ao caos atual.
Estaríamos todos vivendo o jogo coreano de Round 6?.

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