sábado, 13 de março de 2021

Resumo do filme: Mãe

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Mãe é um filme extremamente religioso, Sua cena inicial é a de uma casa queimada que se recompõe, inclusive com a presença da mãe.
Ela não recebe nome no filme.
Aliás, nem ela, nem personagem algum.
Evoca-se na primeira cena a ideia da Mãe Terra,
nossa Casa comum.
Do fogo,
do caos primordial,
ergue-se a casa,
surge a mãe.
Logo ao acordar, ela se vira para o outro lado da cama em busca do seu amado, algo muito parecido com o Cântico de Salomão.
Na busca pelo amado, a mãe olha da soleira da porta.
O mato é alto ao redor,
como um lugar não visitado.
A sensação de estarmos sós é desoladora.
Parece que Deus se esconde.
Mas é o amado quem encontra sua esposa.
O personagem interpretadando Deus. Isso fica evidente no final do filme quando a mulher lhe questiona sobre sua pessoa e ele responde: “Eu sou quem sou”, como Deus a Moisés na sarça ardente.
O marido é um poeta em processo criativo.
Aparentemente, ele não consegue criar mais, parece infértil.
Inclusive, o casal não tem filhos e ela parece não ter sido realmente desposada.
O amor do poeta por aquela que ainda não é mãe é sempre furtivo.
Como poeta de sucesso, o artista conseguiu tudo que possui por sua palavra,
mas foi a mulher quem reergueu a casa que havia sido queimada.
A palavra é tema forte no filme,
tanto para descrever os processos de criação artísticos humanos como divinos.
No momento que a mulher reclama o amor do marido e que ela se revela devastada, ele a ama.
Nessa hora ela se reconhece fecundada e, por isso, a inspiração volta ao marido que escreve um poema definitivo.
O filho inspira a poesia.
Ou melhor, o filho é a própria palavra do poeta feito carne. 
Os conflitos começam logo no início quando a paz do casal é perturbada pela visita de um fã,
alguém que vive pela palavra do poeta e a quem este passa se dedicar.
Esse fã é o primeiro homem, Adão.
Logo chegará sua mulher, uma espécie de Eva.
É ela que introduz o marido no escritório do poeta e lhe entrega um misterioso cristal, que sobrara do primeiro incêndio, e o qual ninguém deveria tocar.
O cristal se quebra e com isso vem a expulsão do casal daquele espaço e o seu trancamento pelo poeta.
Trata-se do fruto do conhecimento do bem e do mal e da privação do paraíso.
O poeta não deixa de amar seus hóspedes,
o que angustia sua esposa, que se sente abandonada.
Nessa história chegam seus filhos, numa releitura de Caim e Abel,
que brigam pelo amor do pai.
Como no Gênesis, um mata o outro.
Caim carrega uma marca na fronte, um sinal de seu crime.
O velório acontece na casa, que recebe toda sorte de gente e passa a tratar a casa e a mulher com desdém.
A invasão daquelas pessoas e o desrespeito pela mulher chegam ao limite quando duas pessoas sentam numa pia ainda não firmada e fazem estourar o encanamento.
As águas que jorram por todo lado representam o dilúvio, fim de um ciclo no filme e na história da humanidade.
A figura da pia também é interessante, porque o cristianismo, realizando batismos em uma pia batismal,
via nela um símbolo também do dilúvio e entendia que, pelas águas, a humanidade se renovou e, no batismo, mergulhados em Cristo, também seriam renovados.
Depois do dilúvio a terra fica vazia e é nesse momento que mãe engravida e a casa se recupera.
Mas, quando o poema derradeiro é publicado, pessoas de todos os lugares, como os Magos do Oriente, vêm prestar-lhe homenagem.
E cada qual que o leu recebeu ao seu modo.
É nesse momento que começa o trecho mais insano do filme.
A palavra do criador é recebida de distintos modos e as pessoas começam a depredar a casa em busca de algo do poeta, como um caçador de relíquias faz com o que pertencera a um santo.
A mesma palavra que inspira e consola, mal recebida, provoca destruição, conflito, guerra e morte.
E é isso que acontece no filme.
A casa se torna até cenário de guerra, a todos os conflitos históricos do mundo.
A guerras cívicas, guerras políticas e guerras de líderes religiosos que,
num momento, exaltam a palavra e sua inspiração e, em outro, matam.
Em meio ao caos do mundo nasce a criança e o silêncio reina.
Tudo para.
Vemos a figura plena da Mãe,
tal qual Maria com a criança ao colo.
Eis o filho da terra e do poeta,
imagem do Filho do Homem e Filho de Deus.
O pai dá o filho aos fãs, atendendo ao seu desejo de tocá-lo, pois o buscam para ter vida.
E eles o matam e em seguida comem sua carne e bebem do seu sangue.
Significando a santa ceia do corpo e do sangue de Cristo.
Tudo é marcado pelo encontro e desencontro entre o poeta e a mãe.
Ela o acusa de egoísmo, de querer ser apenas amado, de não amar.
Ele não nega, nem endossa.
Tratado nos créditos apenas como “Ele”, o poeta é um eterno estranho que, apesar de tudo, pede que a amada ainda se doe mais.
Há muito que dizer sobre o filme e seus detalhes, como o lado aberto de Adão,
de onde se extrai a costela,
ou mesmo o coração que é dado como símbolo de amor, condição para a ressurreição.
Em Mãe! estão os processos criativos e as dinâmicas de recepção, está a história do mundo e das religiões.
Residem perspectivas judaico-cristãs mas também ecológicas que provocam sobre o cuidado da Terra.
Sobretudo, fica de Mãe! o mal-estar pela ausência de Deus.
Fica também a desesperança pela humanidade, o desespero humano e ainda a esperança de renovação.
Nesse filme também podemos interpretar a mulher na sociedade.
Observem a submissão, a renuncia, os cuidados, os caprichos, a devoção que essa mulher tem com o seu marido e com a sua casa?.
Ou seja, ela é completamente sujeita ao marido.
Não tem oportunidade de falar, opinar, expressar os seus sentimentos.
Ele não tem retribuição alguma do seu amado, ela é totalmente governada, refém da sua inferioridade feminina.
É um filme repleto de simbolismos, que exige do telespectador um pouco de senso crítico para questionar e refletir profundamente sobre cada assunto.

sexta-feira, 12 de março de 2021

Sobreviver ao vírus

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Tudo o que o Brasil não precisava agora era a antecipação das eleições de 2022.
Mas, no meio de uma pandemia,
onde faltam leitos,
vacinas, respiradores e até oxigênio,
o STF achou uma boa ideia anular as condenações do Lula e passar a julgar o Moro.
Depois de quase cinco anos, descobriram que estava tudo errado na 13ª Vara de Curitiba,
no TRF-4, no STJ e no próprio STF,
onde foram aceitos vários habeas corpus e recursos.
Eu me pergunto a que Tribunal vamos poder recorrer para decidir se todo esse equívoco foi só distração,
só incompetência ou só as duas coisas?
A nova temporada de provas rejeitadas, sentenças anuladas, inquéritos arquivados,
acontece no mesmo país onde a Câmara dos Deputados funcionou numa sexta-feira para tentar aprovar a PEC da Impunidade.
No Rio, vossas excelências estão preocupadas em trocar o nome do Maracanã.
Tudo isso porque há uma certa esquizofrenia na Justiça e na política brasileiras, impregnadas de pessoas que se lixam pra urgências ou prioridades,
só pensam em guerra e não querem paz.
Só pensam no poder, no querer e no seu EU.
Isso é uma verdadeira desumanidade, um verdadeiro horror.
Isso é uma hipocrisia que é uma marca da política, uma covardia comum no exercício do comando.
No entanto para superar os desafios que realmente importam,
o Brasil precisa de um armistício jurídico, de um cessar-fogo político,
a fim de se concentrar no verdadeiro inimigo, que é o coronavírus.
O país inteiro deveria estar mobilizado na batalha contra a Covid, que está levando embora nossos filhos, pais, avós, parentes e amigos.
Essa, sim, é a guerra que precisamos lutar e precisamos vencer.
A revanche, ou o terceiro turno, entre o bolsonarismo e o lulopetismo pode esperar.
Principalmente porque, também nesse caso, a alternativa é a morte.
Então, vamos tratar primeiro de sobreviver ao vírus, para depois sobreviver a um outro vírus chamado políticos.

quinta-feira, 11 de março de 2021

Poema sobre o passado imprevisível

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O Brasil segue sendo o país das incertezas, sufocado por inseguranças jurídicas,
por infidelidades políticas e por instabilidades econômicas.
Tamanha volatilidade faz representa a única condenação sumária e irrevogável, que nos aflige no bolso,
no emprego e na comida sobre a mesa.
Não importa o governo, o partido,
o dogma,
o rito ou o mito,
é cada vez mais impraticável, quase impossível,
planejar,
organizar e executar qualquer estratégia de crescimento ou desenvolvimento.
Leis,
regras,
normas,
diretrizes,
decretos,
noticiários em geral sempre mudam ao sabor do vento,
ao estalar dos dedos,
ao piscar dos olhos.
As autoridades parecem não aprender nunca que as verdadeiras urgências da nação dependem de previsibilidade, independente da direção ou do rumo.
Sem previsibilidade, chega-se ao ponto de acreditar que pior do que a direção errada é não ter rumo algum.
O Brasil tem que deixar de ser esse lugar onde até o fracasso sobe à cabeça.
O Brasil tem que deixar de ser esse lugar onde até o passado é imprevisível.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Monumentos à corrupção e à impunidade

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Você dorme sonhando com a prisão em segunda instância, e acorda com o Lula solto.
Você dorme sonhando com a Nova Política,
e acorda com o centrão ditando regras.
No Brasil ninguém é inocente nesse episódio da anulação das condenações do ex-presidente.
A começar pelo próprio Lula que, de tanto errar, disseminou um antipetismo capaz de vitaminar e eleger o Bolsonaro.
Bolsonaro, em contrapartida, de tanto errar acabou ressuscitando um adversário fortemente indesejável,
um adversário que era ruína e agora é aparenta reconstrução.
A incapacidade do atual presidente de agir dentro da estabilidade,
normalidade e governabilidade também estimulou agressões e ameaças contra o Supremo, o Judiciário e a democracia.
O STF, então, reagiu com atuações ora legítimas,
ora imaturas;
ora necessárias,
ora irresponsáveis.
Exatamente como acontece com o país, vira e mexe o Tribunal dividido nos oferece combinações duvidosas de politização e polarização.
Não por acaso, no voto de ontem pela suspeição do ex-juiz Sergio Moro,
o ministro Gilmar Mendes fez um discurso cheio de contexto político,
mais parecendo um vereador em cima de caixote de feira.
Moro, por sua vez, contribuiu para a confusão no dia em que aceitou ser ministro do maior rival do maior réu da Lava Jato.
Não imaginou o tamanho do abismo que abriria com seu pequeno passo político mal calculado,
mal articulado,
mal executado.
Enfim, provas rejeitadas,
sentenças anuladas,
inquéritos arquivados e bandidos soltos são pragas que nunca nos faltarão.
O Brasil tem que deixar de ser esse lugar que ergue monumentos à corrupção e à impunidade.

segunda-feira, 8 de março de 2021

Poema sobre o dia das mulheres

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Não por acaso, se saíram melhores os países comandados por mulheres,
como Taiwan,
Islândia,
Noruega e Nova Zelândia.
Na Alemanha, Merkel promoveu um amplo entendimento nacional contra a Covid-19.
Ela acumulou bons resultados no sistema de saúde,
bons pontos na sua própria popularidade e bons motivos para influenciar na sua própria sucessão,
depois de 15 anos no poder de forma pragmática e democrática.
Em comum, essas grandes lideranças femininas colocou a doença como coisa muito séria, respeitaram os conhecimentos, parâmetros ou limites científicos, bem como
acataram as recomendações básicas dos órgãos sanitários e das autoridades especializadas.
Na minha opinião, a superioridade das mulheres em relação aos homens não se restringe ou se resume somente ao enfrentamento dessa tragédia,
sem distração com debates sobre lockdown, quarentena ou cloroquina.
O fato é que elas representam 70 por cento da ocupação profissional na área de saúde no mundo, e isso, felizmente,
é uma boa notícia ou, pelo menos, um alento no combate ao coronavírus.
Claro que onde houve gestão e sensibilidade a pandemia foi debelada com muita competência.
Mas o toque feminino está fazendo a diferença,
porque essas mulheres também souberam unir as classes políticas de seus países.
Fizeram isso a favor de medidas de consenso e sentido de urgência em torno da ideia de que numa crise,
o mais importante de tudo é sobreviver a ela.
Por isso, deixo a minha saudação à vida das mulheres e, em especial,
à mulher da minha vida, Daniele Cristina.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Poema sobre a incivilidade

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Estamos completando um ano de pandemia,
e a conta cobrada em vidas continua chegando alta demais batendo recordes cada vez maiores.
O número de óbitos já passa dos 1.700 por dia,
avançando veloz para a casa dos 2 mil por dia.
O Brasil tem hoje a segunda maior mortandade e mortalidade pela Covid, mesmo sendo apenas e sexta maior população do mundo.
Isso porque cuidados, cautelas, prevenções elementares,
que dependiam só das pessoas, foram criminosamente ignoradas.
Ignoradas pelas pessoas e sabotadas pelas autoridades.
Pessoas covardes, egoístas, autoridades e irresponsáveis.
Há um ano tudo o que se pedia era lavar as mãos, usar máscaras e ficar em casa.
Isolamento social e quarentena passaram a ser palavrões que dividiam os brasileiros em remediados e covardes.
Hoje, prefeitos e governadores já adotam o lockdown, de forma ainda desordenada e descoordenada,
não como medida sanitária,
mas como medida de desespero.
Estados, municípios, Congresso, Supremo não se dão contam de que seguirão enxugando gelo,
enquanto não agirem em concordância federativa acima e além da omissão,
da letargia, da indiferença e da negligência.
A má gestão da apatia tem que sair de cena para dar lugar à boa ação da empatia.
Em vez disso, militâncias, militantes, e até militares ainda discutem a validade das vacinas que nem sequer estão disponíveis, nem sequer entraram no país, graças à tese de que o custo financeiro é mais importante do que o custo de vidas.
Agora enfrentamos um clima de salve-se quem puder bem ao gosto da nossa incivilidade.

terça-feira, 2 de março de 2021

Poema sobre a PEC da impunidade

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O Brasil é o país onde as urgências da população estão eternamente subordinadas aos interesses dos políticos.
Os brasileiros esperam mudanças no Ministério da Saúde,
mas o governo preferiu mudar a presidência da Petrobras.
Os brasileiros precisam de vacinas, empregos,
reformas, auxílio emergencial,
PEC Emergencial,
mas deputados e senadores correram para votar a PEC da Impunidade.
A PEC une mordomias e privilégios de todas as correntes políticas,
já que teve apoio de líderes do governo e de bancadas da oposição.
Ou seja, dá alegria e euforia a deputados e senadores da extrema-direita,
da extrema-esquerda e do extremo-Centrão.
A percepção de que Vossas Excelências não se importam com nada,
nem com ninguém, senão com eles mesmos.
Como se sabe, não é recomendável elogiar políticos.
Mas merece registro a definição da senadora Simone Tebet, uma parlamentar que desde berço costuma honrar o pai e o mandato.
Para a senadora, a PEC da Impunidade transforma réus em reis.
Reis intocáveis, uma prerrogativa que nem Jesus teve.
Talvez porque, alguns deputados e senadores também se achem maiores que Cristo.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Esperando explicações

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Por alguns dias, a imprensa,
a Justiça e a opinião pública perderam tempo com gente e casos que,
nem de longe, estão à altura das preocupações mais sérias e mais importantes.
Gente e casos plantados no noticiário para distrair jornalistas e autoridades, tirando o foco de gestões amadoras ou temerárias contra o coronavírus.
Com mais de 250 mil mortes,
o que interessa saber continua sendo o seguinte:
Quando, afinal, o Ministério da Saúde vai divulgar o calendário de distribuição das novas doses da CoronaVac ou da AstraZeneca?.
Quando, afinal, o governo federal vai liberar a compra do imunizante da Pfizer, que já assinou contrato com mais de 50 países?.
Quando, afinal, teremos o imunizante da Pfizer,
que é o primeiro com registro definitivo da Anvisa,
mas ainda sem uma gota no Brasil?.
Quando, afinal, teremos vacina para todos?.
Com mais de 250 mil mortes, a questão é: Como explicar isso para os pais e as mães que perderam os filhos e as filhas?.
Como explicar isso para os filhos e as filhas que perderam os pais e as mães?.
Como explicar isso para os órfãos e as órfãs?.
Como explicar isso para os maridos que perderam as esposas e para as esposas que perderam os maridos?.
Como explicar isso para os viúvos e as viúvas?.
Como explicar tudo isso sem sentir a dor do outro?.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Poema sobre o Deus customizado

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Nossa sociedade é pautada em valores egocêntricos e materialistas,
basta observar o quanto a propriedade é valorizada e o EU é hipervalorizado.
A opinião individual é superestimada, em detrimento do estudo clássico e do conhecimento histórico ou científico.
A espiritualidade de hoje é o retrato do nosso tempo e a grande marca que temos é o Deus customizado.
Um deus pessoal, customizado de acordo com a necessidade,
nível de percepção,
gostos pessoais,
cor,
raça,
estilo e fantasias.
Ou seja, temos um Deus modificado, adaptado ou personalizado de modo a adequá-lo ao gosto ou às necessidades  de outrem.
Temos um Deus pessoal e particular capaz de customizar alguma teoria.
Temos um Deus obrigado a servir a humanidade, temos um Deus colocado na parede, temos um Deus sendo provado ou reprovado.
Essa situação não é ateísta e tão pouco teísta e desse panorama temos as brigas de deuses atendendo todos os desejos de cada customização e servindo meticulosamente a cada grande ego.
Ou seja, alguém que acha que nasceu para o mundo lhe servir não é só um retrocesso histórico,
mas um retrocesso no processo evolutivo como ser humano.
Onde a vontade individual sempre prevalece,
temos uma criança faminta apenas pedindo por algo que ela nem sabe o que é.
Temos um bebê desejando um pouco de prosperidade e um pouco de sucesso.
Temos um fenômeno dominante e uma tecnológia que paira sobre todos como o espaço intangível da sociabilidade e da existência.
Temos um risco fenomenológico classificando a internet como o novo espaço do sagrado e do sentido.
Temos o homem religioso do mundo líquido.
Temos o espaço específico do Cristianismo no admirável mundo novo.
Parte das pessoas abandonaram a existência de um Deus fora da sua própria biografia e estão crendo firmemente na biografia de um Deus- pop.
Ou seja, ao invés do esvaziamento humano para o preenchimento da plenitude divina.
Parte das pessoas tem um esforço subjetiva de preencher os desejos da sua consciência.
Se elas querem prosperidade, Deus também quer.
Se elas querem que o seu candidato vença, Deus está ao seu lado.
Se elas querem que os seus inimigos pereçam, Deus abençoa.
Parte das pessoas nunca se esvaziam do seu EU, elas querem que Deus nunca as contraria, ou que nunca realize o terceiro dos sete pedidos encontrados no Pai-Nosso: “Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no céu”.
Ou seja, ao invés de as pessoas pensarem no radicalmente oposto a tudo que existe,
elas vão pensar no radicalmente EU.
Agindo assim, elas não estão assumindo o papel dos profetas do Antigo Testamento ou dos moralistas cristãos, especialmente da Idade moderna.
Elas estão sendo incoerentes entre o plano divino e humano,
entre o texto sagrado e a sua biografia,
ou entre a cidade de Deus e a cidade dos homens.
É um típico mundo líquido, de uma fé líquida, de uma religiosidade contemporânea.
Um mundo onde se usar o nome de Deus em vão, significando quebrar a reputação, o caráter e autoridade d'Ele.
Ou seja, estão indo ao contrário do esvaziamento de Cristo, estão no narcisismo realizando o seu EU.
Por isso em verdade em verdade descrevo: Quem destrói a obra de Deus?.
O fariseu batizado, o saduceu doutrinado?.
Aquele que em nome de Jesus fica rico, em nome de Jesus consegue um cargo político, em nome de Jesus incita o ódio, em nome de Jesus modifica a palavra, em nome de Jesus defende a tortura.
Esse é o verdadeiro filho do demônio.
Por isso as prostitutas avançarão no reino de Deus.
O religioso que customiza Deus para atender o seu projeto de enriquecimento  e o seu projeto político.
Esse é o grande, o maior filho do demônio.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

O que é o Brasil

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Que é,
ou quem é, o Brasil?.
Uma Cultura?.
Uma História?.
Um País de todos?.
Por que é que, quando se fala do Brasil, sempre invocamos a sua história e a sua cultura?.
Se estivermos a falar de outro país,
a história e a cultura dele só serão chamadas à conversa se forem esses os temas em debate.
Por que nós brasileiros se orgulha de alguma coisa com exagero.
Por que temos um orgulho exacerbado pelo país em que nascemos; um patriotismo excessivo.
Por que nos vangloriamos com todas as estatísticas desse País?.
Por que achamos que somos melhores em tudo, inclusive naquilo que distinguimos ser pior?.
A nossa jactância é de alguém que se manifesta com arrogância e tem alta opinião de si mesmo.
Da história do Brasil sempre nos dá vontade de perguntar.
Porquê?.
Da cultura brasileira: para quê?.
Do Brasil ele próprio: para quando?.
Ou: até quando?.
Se estas interrogações não são gratuitas, se, pelo contrário, exprimem, como creio, um sentimento de perplexidade nacional, então os nossos problemas são muito sérios.
Por que os brasileiros sabem todos os nomes dos onze jogadores da seleção, e não sabem os nomes dos onze ministros do STF?.
Como explicar esta dormência, que é também inquietude, sem cair em destrutivos negativismos?.
Como evitar que a antiga e gloriosa história continue a servir de derradeira e estéril compensação de todas as nossas frustrações?.
Como resistir à tentação falaz de sobrevalorizar o que há alguns anos se acreditou ser uma certa renovação cultural, fazendo dela um álibi ou uma cortina de fumaça?.
Ou chegámos já tão baixo que, depois de termos desistido de explicar-nos,
nem nos damos ao trabalho de justificar-nos?.
Queríamos ter essas respostas imediatas, mas elas simplesmente tergiversarão.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

A sociedade do cansaço

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Somos oprimidos a partir de dentro.
Nos sentimos incapazes ou capazes de mais.
Tristes ou felizes demais. Superaquecemos por um excesso de positividade.
Não há saída para quem tem o mundo à disposição, como nós.
Somos atingidos por bombas de imagens,
sons,
vídeos,
anúncios e produtos.
Temos o mundo ao alcance das mãos e nos nossos bolsos.
Parece que não há mais espaço para criar mundos.
Eles já estão todos aí com as devidas hashtags.
As forças afirmativas foram novamente submetidas às negativas.
Os novos Sacerdotes Ascéticos são os publicitários.
O poder agora é capaz de submeter até o desejo transbordante pois o excesso é de nada.
Nossa sociedade é a das academias fitness.
Andamos sem sair do lugar.
Produzimos em demasia, consumimos bobagens.
Estamos, nós mesmos, na esteira da vida, como ratos em gaiolas.
Vivendo em inércia.
Substituímos a lei pela iniciativa, pela motivação.
Tudo é questão de projeto.
Ser é um projeto.
Se a Sociedade Disciplinar era uma sociedade do 'não' do poder,
a do desempenho é a do 'Sim', mas igualmente submetida.
Se uma produz loucos e delinquentes,
a outra produz deprimidos e fracassados. Quem não encontra a maneira adequada de produzir capital,
produzir desejo,
produzir pensamento e vive à margem dessa sociedade.
O Cansaço aparece como uma maneira de existir.
Afinal, estamos todos um pouco exaustos.
Mas continuamos a trabalhar.
Somos presas fáceis.
Maximizar a produção, é o axioma que se instalou em nossas cabeças.
Um inconsciente social.
O mais triste é que o poder não cancela o dever.
Cansados somos também disciplinados. Nada ficou para trás, ao contrário,
somos formados por todo esse caldo entornado.
O corpo se tornou esta vasilha onde nunca se chega à última gota.
Transformamo-nos em máquinas de desempenho.
Precisamos recuperar um cansaço fundamental.
Um estado onde ‘as presilhas da identidade se afrouxem’.
Precisamos recuperar os diálogos, os olhares para com o outro.
Precisamos recuperar a sensibilidade e o sentido de ser gente.
Precisamos recuperar nossa capacidade de indeterminação.
Precisamos transformar o corpo novamente numa zona heterogênea e permeável, flexível e articulável. Precisamos voltar a produzir afetos longamente esquecidos ou até mesmo nunca antes experimentados. Precisamos descobrir os não-para dos nossos corpos.
Corpos-sem-órgãos.
Nossas vidas não são para o trabalho… estranho.
Nossos sorrisos não são para a propaganda.
Nossas peles não são para a cor.
Nossos gêneros não são binários.
Temos um mundo novamente a inventar! Temos uma sociedade a desmontar! Temos um corpo novo a pensar!.
Temos que voltar a qualidade da nossa geração.

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