sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A Lava Jato também está longe de acabar

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Pode causar estranheza e revolta a declaração do presidente Bolsonaro,
que confessou ter acabado com a Lava Jato porque o governo ‘não tem mais corrupção’.
A fala não tem sentido lógico, mas tem cálculo político,
porque a situação de Bolsonaro hoje exige dele um certo jogo de cintura e de contorcionismo.
Em 2018, votaram em Bolsonaro três tipos de eleitores: Os antipetistas, pró-Lava-Jato e pró-Moro, que queriam o combate sem trégua contra a corrupção. Os neoliberais, pró-privatizações e pró-Paulo Guedes, que o queriam como superministro.
E os conservadores, movidos pelas raízes do bolsonarismo, que queriam chegar finalmente ao poder.
A saída de Moro desiludiu os antipetistas, e as sucessivas desidratações de Guedes desencantaram os neoliberais. Sobraram os conservadores, que, porém, também andaram se desiludindo e se desencantando.
Alguns acharam estranha a aproximação de Bolsonaro junto a alvos preferidos da ala radical, e outros se revoltaram com a indicação de Kássio Nunes para o Supremo, em vez de um nome “terrivelmente evangélico”.
Daí que a declaração do presidente, de que acabou com a Lava Jato porque não há mais corrupção no governo, tenta atender à expectativa de dar discurso e de reanimar os conservadores.
Ou seja, Bolsonaro jogou para a arquibancada, tentando evitar outra grande onda de dissidência.
Pode ter funcionado com a plateia, mas não funcionou com o STF: a decisão do presidente da Corte, Luiz Fux,
de devolver ao plenário os julgamentos envolvendo autoridades públicas foi uma vitória graúda da Lava jato.
De modo que pode-se afirmar, com segurança, que, assim como a corrupção, a Lava Jato também está longe de acabar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Poema sobre milhões de brasileiros

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Milhões de brasileiros precisam parar de ver a corrupção como coisa normal e aceitável.
Milhões de brasileiros parecem não mais se dar conta do peso,
da carga e da praga que é a corrupção.
Parecem não se dar conta de que a corrupção só não é um crime hediondo no Código Penal.
Quando alguém desvia verbas da saúde, está roubando os hospitais; está desviando dinheiro de pessoas doentes, que precisam de medicamentos, internações e cirurgia;
pessoas que estão lutando para viver, lutando contra a morte.
Quando alguém paga propina com recursos da educação,
está roubando das escolas,
está desviando dinheiro de crianças carentes, que precisam de ajuda,
material e principalmente merenda; crianças que fazem nos colégios a sua melhor ou a sua única refeição.
Quando alguém recebe suborno tirado dos orçamentos da Fundação Leão XIII, por exemplo,
está roubando dos programas de assistência social, está desviando dinheiro dos mais miseráveis, dos moradores de rua, que precisam de teto, abrigo e principalmente de alimento,
de comida; uma gente que depende de ações solidárias e humanitárias.
Enfim, diante da corrupção,
não se pode aceitar, nem banalizar,
a impunidade.
A corrupção e a impunidade são tão repugnantes que até um poeta tem que ter lado.
Caso contrário, eu mesmo estaria roubando o tempo e a confiança de vocês.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Poema sobre o racismo estrutural

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A Gêneses do Brasil é racista,  basta olhar os efeitos do contato entre os europeus e os nativos.
A nossa história começa e se desenvolve apoiada nos mecanismos de inferiorização,
subjugação, exploração e assassinato dos considerados racialmente interiores.
Não, as tribos nativas não viviam no mundo de Alice, tinham seus problemas locais, guerreavam entre si, faziam seus prisioneiros,
mas não faziam da aniquilação da humanidade do outro, o seu principal projeto de existência e ascensão.
Aprisionar, explorar e matar não era o respirar daquelas tribos, não se tratava de uma indústria,
como o era para o bom homem branco europeu.
Algumas pessoas estão dizendo que está chato viver hoje no Brasil,
dizem que agora tudo é racismo,
que o politicamente correto estragou tudo,
é lamentável ouvir isso, pois sempre foi chato viver no Brasil para aqueles e aquelas que não possuem na pela a marca do colonizador.
Negros e nativos são,
desde sempre, elementos prescindiveis, descartáveis e invisíveis enquanto seres humanos,
mas bem reais enquanto massa de exploração.
Massa essa que deve ser controlada pelo uso da força excessiva, que é amparada pelas leis criadas, fiscalizadas e executadas pelo Estado.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Gasto tributário

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O gasto tributário é mais um caso em que,
por mais maravilhosa que seja a estratégia,
de vez em quando é bom dar uma olhada nos resultados.
Esse gasto tributário é o conjunto de renúncias fiscais referentes a impostos,
contribuições e perdas com crédito subsidiad,
ou seja, tudo aquilo que o governo deixa de arrecadar a pretexto de contrapartidas ou compensações.
O problema é que, por causa da grande expansão do
gasto tributário, entre 2006 e 2014, a renúncia fiscal segue hoje na casa dos 308 Bilhões de reais… Bilhões… com B de Brasil.
Fez-se todo esse rombo, sem que as contrapartidas combinadas lá atrás fossem entregues;
sem a produção, a geração de emprego e a elevação da renda,
receita ou arrecadação prometidas.
Daí que não há como sustentar gasto tributário se não houver controle dos programas e cumprimento de metas.
Com esse volume de renúncia, mais de 300 Bi,
é fundamental exigir o máximo de avaliação sobre o retorno desses incentivos em benefício da sociedade.
É isso que precisa estar em jogo entre o Congresso e o governo que estão discutindo a desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia.
Nada contra a desoneração, mas, sem estabelecer metas, controles, benefícios ou compensações, melhor seria jogar dinheiro do alto dos prédios ou de helicópteros e aviões oficiais.
Como dinheiro não cai mesmo do céu, resta rezar para a desoneração não cair no lugar comum
aquele em que o governo abre mão de muitos impostos e, em troca, os empresários não abrem as vagas esperadas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O teatro americano

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O primeiro confronto direto entre os candidatos à Presidência dos EUA, infelizmente, ficou muito parecido com quase todos os que já vimos no Brasil.
Em vez de ideias e propostas, Donald Trump e Joe Biden protagonizaram uma briga de rua, uma rinha de galos, cheia de gritos, palavrões e agressões.
O que milhões de americanos assistiram, na noite de terça-feira,
foi um show de calouros capaz de envergonhar até os piores apresentadores de TV brasileira.
Baixaria, amadorismo, falta de respeito, de educação e de civilidade.
Analistas enxergaram que ninguém ganhou e que todos os eleitores perderam.
Mas, a bem da verdade, nesse contexto de reducionismo, desqualificação e “quanto-pior-melhor”, a vantagem foi claramente de Donald Trump.
Só a ele interessava transformar um ambiente de diálogo, informação e esclarecimento num palco de baderna e desordem, estrategicamente forjado para, mais uma vez, sabotar um ritual da democracia.
Só ao Trump interessava não ter que responder por que um presidente dos EUA, com uma fortuna pessoal de 2 bilhões de dólares, se acha no direito de não pagar imposto de renda ou de pagar uma merreca ao Fisco.
Daí que Joe Biden perdeu a oportunidade de aplicar um dos ensinamentos letais do jeito americano de vencer eleições, baseado no seguinte: quando seu inimigo está se afogando, não jogue uma boia, jogue uma viga, um pilar ou uma bigorna… pro sujeito afundar mais rápido.
Em vez disso, Donald Trump ainda respira!.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Poema sobre a involução humana

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A humanidade está vivendo uma verdadeira revolução tecnológica,
a cada segundo a obsolescência mostra sua cara, o novo perde espaço para o novíssimo em fração de segundos.
Só o que não muda é a nossa boa e velha mentalidade (mesquinhez, ingratidão,preconceitos),
agimos como se o outro fosse mais um objeto,
mais um bem adquirido que se torna obsoleto diante de novas necessidades impostas pela lei do consumo.
Tornamo-nos a cada dia altamente tecnológicos e  menos humanos.
Espero que possamos redescobrir o bom e velho ubuntu ou a nossa verdadeira humanidade para os outros.
Pois sou o que sou pelo que nós somos, um ser, só é um ser, através de outro ser.

Poema sobre o dilema das redes

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O Dilema das Redes mostra como as plataformas digitais manipulam bilhões de pessoas por meio de desinformação e notícias falsas; como funciona a indústria da teoria da conspiração,
da polarização, do negacionismo e do ódio.
Não se trata mais de manipular só os desejos dos consumidores,
como fazem os publicitários; se trata agora de manipular as emoções e as consciências dos eleitores,
um crime cibernético já a serviço dos políticos.
O risco maior é que os interesses dos políticos, populistas ou ditadores são muito mais perigosos do que as intenções dos publicitários.
Eles sempre existiram, mas essa nova forma de controle “psicodigital” ocorre hoje em escala híper acelerada e ultra monumental.
Criadores das próprias redes aparecem no documentário fazendo espécies de delações premiadas, em que confessam ataques globais contra a democracia,
o estado de direito e as liberdades de imprensa, expressão ou opinião.
Tudo isso com o consentimento dos próprios usuários, chamados assim por serem comparados a viciados em drogas.
A certa altura, um deles diz que espalhar fake news é muito fácil porque, para a maioria das pessoas, a verdade é muito chata, e isso é verdade, mas isso só é verdade para quem a própria vida é muita chata.
Falam de ferramentas configuradas para desestabilizar e destruir o equilíbrio normal das sociedades.
Falam de um “mercado” que negocia o futuro das pessoas.
O problema é que as pessoas que aceitam esse abuso só fazem piorar o futuro daquelas que não querem esse abuso, daquelas que não querem ser “mercadorias”.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Poema sobre a gestão política

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Um bom governo precisa de um bom gestor,
porque um bom gestor não depende só de dinheiro.
Às vezes, o dinheiro é que depende de um bom gestor.
Porém, em mãos erradas, quanto mais dinheiro,
muito pior o resultado.
Entretanto, desconfie de candidatos que fizerem promessas de que vão gastar mais em saúde, educação e segurança.
Contudo, nem sempre saúde, educação
e segurança são assuntos que se resolvem com mais dinheiro,
com mais gastos, muito menos assuntos que podem ser rebaixados a bandeiras políticas,
nem banalizados em campanhas oportunistas.
Saúde, educação e segurança são qualificações obrigatórias no currículo de um bom gestor,
aquele que é capaz de administrar com dignidade e responsabilidade na vida real, e não somente na propaganda eleitoral. São coisas que dependem de equilíbrio econômico, financeiro e fiscal.
Ou seja, dependem de um bom gestor.
Já está comprovado que não adianta gastar mais dinheiro em saúde, educação e segurança para termos melhores hospitais, escolas, quartéis ou delegacias.
O que temos que melhorar é a gestão,
o que só é possível quando se tem um bom gestor.
É melhorando a gestão que nós podemos melhorar todo o resto, talvez tudo junto.
Enfim, não se deixe enganar, mais uma vez, por políticos velhos de guerra.
Esses só estão interessados na saúde deles, na educação dos filhos deles e na segurança de parentes ou amigos deles.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Se eu fosse candidato

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Se eu fosse candidato a prefeito,
eu olharia nos olhos dos eleitores,
bem dentro dos olhos, e diria o seguinte:
“Você não me conhece.
E isso é bom”.
É bom, porque, se você reparar,
todos os outros que você já conhece ou já estiveram na cadeia,
ou podem estar na cadeia, ou, quem sabe,
estarão na cadeia.
Você também já conhece aqueles que nunca estiveram,
nunca estão ou nunca estarão na cadeia,
muitas vezes, graças a ótimos advogados,
em alguns casos pagos com o dinheiro dos impostos, convertido em dinheiro das propinas.
“Você não me conhece.
E isso é bom”.
É bom, porque você pode não ganhar nada votando em mim.
Mas você pode já saber o que vai perder votando nos outros, que você já conhece.
Os outros vão continuar falando em: mudar o Rio,  mudar o Brasil, mudar o mundo, mudar a política,  acabar com a corrupção, acabar com a impunidade, eu sou do povo, eu sou o mais honesto, eu sou o salvador da pátria…
Enfim, vão continuar falando tudo isso,
como se todos eles não fossem parte dos problemas que todos eles criaram e nunca solucionaram.
Se eu fosse candidato a prefeito,
eu olharia nos olhos dos eleitores, bem dentro dos olhos, e diria o seguinte: Votem em ideias novas,
em nomes novos.
Repito: nem que seja para cometer erros novos.
Os erros velhos já estão ricos e milionários às suas custas, rindo nas suas costas.
Felizmente, eu não sou candidato!.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Poemas sobre os mesmos eleitores

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A lista de candidatos a prefeito do Rio está praticamente definida.
E, como sempre, a primeira reação dos cariocas é achar que “não tem em quem votar”.
Essa impressão se dá até entre pessoas bem informadas,
mas cansadas de ver os eleitos envolvidos em corrupção.
Eu já disse que a ideia de que “não tem em quem votar” é preguiçosa e perigosa, porque acaba induzindo o eleitor a se fixar somente nos nomes já conhecidos.
Os mesmos nomes que geram a frustração e a saturação que aumentam a sensação de que “não tem em quem votar”.
Entra ano, sai ano, isso se repete em prejuízo dos novos nomes, alguns bons nomes.
Muitas vezes o problema não é a falta de bons candidatos, mas sim a falta de bons eleitores.
Ou seja, o Rio vive como se houvesse os mesmos eleitores em todas as eleições.
O Rio precisa de pessoas dispostas a buscar e cobrar soluções,
em vez de votar como quem escolhe um número na rifa.
A verdade é que sempre tem em quem votar.
A gente já jogou fora a chance de eleger grandes mulheres e grandes homens, que só foram rejeitados porque, no Brasil,
as pessoas acham que candidato tem que ser quase tão famoso como o Cristo Redentor,
ainda que o sujeito não passe de um Judas Iscariotes.
À primeira vista, a relação de candidatos no Rio não é mesmo animadora,
mas vai ficar pior se os eleitores permitirem que, de novo,
o segundo turno nos coloque à beira de dois abismos; entre políticos que já sabemos do que são capazes e políticos que já sabemos do que são incapazes…
Da minha parte, nada de velhos espantalhos.
Eu sigo firme e fiel à Lei Malan:
Se for pra errar, que sejam… erros novos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Poema sobre o renda Brasil

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O programa Renda Brasil não faz mais parte dos planos,
nem do sonhos, do presidente, porque o Renda Brasil não cabia no Orçamento da União,
do mesmo modo que um elefante não cabe numa caixa de fósforo.
O Renda Brasil era uma urgência legítima num país marcado pela chaga da desigualdade,
uma chaga que se revelou ainda mais dramática em meio à pandemia do coronavírus.
Insistir no Renda Brasil nas condições improvisadas e insustentáveis em que vinham sendo discutidas seria um erro não resolveria a tragédia da extrema pobreza e agravaria a precariedade das contas públicas.
Com a economia ainda em fase de lenta recuperação,
essa precariedade fiscal é justamente a mãe de todas as nossas tragédias nacionais.
Além da extrema pobreza,
nossas tragédias também incluem a extrema falta de empregos para milhões de famílias,
a extrema falta de investimentos públicos ou privados e a extrema carga tributária sobre pessoas físicas ou jurídicas.
O presidente proibiu que se fale em Renda Brasil às custas do salário mínimo, do seguro-desemprego e dos benefícios da Previdência.
Sabe-se que ele não quer mais ouvir propostas que só sacrificam trabalhadores, aposentados e pobres em geral.
O que não se sabe é por que o presidente também desistiu do Renda Brasil,
até o final do seu governo.
Já que seria bem interessante um debate em torno da contribuição de banqueiros, empreiteiros e políticos.

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