quarta-feira, 1 de abril de 2020

O poço

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Existe uma instituição penal ou educativa chamada de O Poço.
Em cada nível existem duas pessoas que são alimentadas por uma plataforma ou mesa que desce com comida.
Os níveis superiores podem comer bem e, à medida que a mesa desce,
as celas inferiores recebem pouco ou nada.
O filme começa com a personagem Goreng, despertando no nível 48 junto a um companheiro de cela chamado Trimagasi, que explica ao novato como funciona o sistema.
O filme trata de uma metáfora óbvia: a sociedade é desigual e os de cima não se preocupam com os de baixo.
Leitura de um sistema no qual, como diz Trimagasi, é “comer ou ser comido”.
Há alimento para todos, porém o egoísmo produz fome.
Existe um nível psicológico: submeter personagens a situações limite para discutir a condição humana é um recurso clássico.
Ocorre com O Senhor das Moscas (romance de William Golding) ou nas peças de Samuel Beckett ( a crítica internacional apontou um traço de Esperando Godot, mas eu indicaria,  também, a influência de Fim de Partida).
O choque de mundos de Goreng e Trimagasi é o atrito entre a visão idealista e realista.
A palavra-chave de Trimagasi é “óbvio” porque, para o prisioneiro mais velho, tudo está inserido em regras claras, naturais e que exigem adaptação para sobreviver.
Goreng questiona tudo do sistema do poço.
O símbolo das duas atitudes está na escolha do que levar para o poço: o realista traz uma faca, chamada de: Samurai Plus, e o idealista um livro (D. Quixote). Pegando o tema de Cervantes, teríamos D. Quixote e Sancho Pança.
Que preço estaríamos dispostos a pagar pelo que fizemos ou por um diploma?.
Sobreviver é só o que importa?.
Quanto mais fundo se desce, maior o sofrimento.
A ideia está no Inferno da Divina Comédia.
Há uma referência religiosa da culpa.
O mais importante é tomar consciência do próprio pecado.
Trimagasi matou alguém e optou por aquela pena no poço.
Goreng busca certificados, uma espécie de esforço de meritocracia e de competitividade.
Ao contrário de Dante, existe mobilidade no Inferno e isso permite que opressores sejam oprimidos.
A experiência da dor da fome pouco ou nada ensina aos apenados.
Existe um mundo de planejamento, tecnocrático e muito elaborado.
Na entrevista, perguntam sobre alergias e cuidados. Na cozinha luxuosa, a apresentação é tudo e a qualidade e higiene é rigorosa.
Na prática, todo o planejamento 'estatal'? resulta inútil e em desastre.
Quem organiza a seleção e a alimentação não possui visão do todo.
A mesa volta sempre sem nada  e isso pode ser lido na cozinha como êxito da culinária.
Se a panacota voltar intacta, isso pode ser uma mensagem de que algo não funciona.
A funcionária que trabalhou 25 anos na seleção também diz nada saber.
Existe uma síndrome do mal banal.
Quem pensa o modelo não sabe como ele funciona e quem sofre o planejamento não tem acesso aos que elaboram tudo.
Todos cumprem ordens.
O filme é anterior ao coronavírus mas serve perfeitamente ao momento.
Tenho de me salvar, comprar o máximo possível, salvar a mim.
Pouco ou nada me importam os outros.
Assim, como no filme, a teoria de Hobbes supera a de Rousseau: a natureza humana é má e egoísta.
Uma criança seria a esperança?.
Um bom selvagem?.
Existiria de verdade ?.
Só a ameaça educa (“vou defecar na sua comida”) e só funciona para baixo.
Não existe bom-senso, apenas ameaça.
É o mundo hobbesiano que precisa de Estado forte. Em  plena epidemia, é o Estado (democrático, por sinal) que está ditando regras de controle cada vez mais amplas.
Para salvar a vida, abrimos mão da liberdade e da própria humanidade.
Só queremos viver.
Todo o resto é secundário.
O sucesso do Poço não é acidental.
A principal angústia d’O Poço é querer enquadrar a obra em uma proposta de esperança.
O filme é realista, politicamente maquiavélico
(no sentido de não mostrar o mundo como deveria ser, todavia como é).
A ideia de que existe um sentimento mais forte como a maternidade que se possa se impor à barbárie é falsa.
A mãe, ao procurar a filha, mata,  trucida e pratica canibalismo.
É uma egoísta para duas pessoas.
Os outros são egoístas individuais.
O amor materno não redime.
Defender a filha é defender apenas a si e ao seu narciso.
A perturbação com o final ( estariam mortos?, são fantasmas?, aquilo ocorreu de fato?)
andam de mãos dadas com o próprio sentido da criança: é uma mensagem, porém a mensagem não redime e não significa nada.
A civilização é uma casca frágil, o canibalismo surge em uma semana, somos educados e com fé só se estivermos alimentados.
Somos um corpo com necessidades e que, para escapar à dor, criamos metafísica.
É isso que incomoda no filme.
Quando as pessoas dizem, quase em coro: “não entendi o final” , reclamam, no fundo, da ausência  de uma cena que produza a redenção, o sentido e a esperança.
Toda a internet é um sistema de panóptico que trouxe a possibilidade de ampliar nosso ancestral desejo de examinar outras existências.
A sociedade distópica do poço não ficaria melhor se todos fossem alimentados ou o próprio sistema destruído.
As mentes que elaboraram o poço continuariam lá.
O que substitui a tirania de Nicolau II é a ditadura de Lênin e de Stálin.
O que vem depois da Bastilha é a ditadura de Napoleão e a sociedade burguesa e excludente da França.
O poço foi apenas uma maneira de exercer as voltas do poder e o sadismo do controle.
Como a internet ou a quarentena, são expressões conjunturais e históricas de coisas estruturais.
Em período de crise, adoraríamos uma mensagem de esperança e de redenção.
O Poço recusa nossa vontade e piora a percepção do mundo.
Quem suportaria olhar para a Medusa e sobreviver?. Quem conseguir olhar para seu poço, e descer nos níveis mas obscuro das suas razões, talvez conseguirá sair das suas próprias prisões.

segunda-feira, 30 de março de 2020

As grandes epidemias ao longo da história

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Considerando como a doença é comum,
como é tremenda a mudança espiritual que traz.
Como é espantoso quando as luzes da saúde se apagam.
Como é terrível as bactérias, virus e outros microorganismos.
Elas  já causaram estragos tão grandes à humanidade quanto as mais terriveis guerras, terremotos e erupções de vulcões.
Em todas às crises, tivemos as grandes epidemias ao longo da história.
Tivemos a Preste Negra, que matou 50 milhões de pessoas no século XIV.
Ao longo da história, tivemos a CÓLERA que matou centenas de milhares de pessoas em 1917.
Ao longo da história, tivemos a TURBERCULOSE, que matou 1 bilhão de mortos nos países pobres, incluindo o Brasil, e como doença oportunista nos pacientes de AIDS.
Ao longo da história, tivemos a VARÍOLA, que matou 300 milhões de pessoas geralmente por meio das vias respiratórias.
Ao longo da história, tivemos a GRIPE ESPANHOLA, que matou 20 milhões de pessoas, inclusive o presidente do Brasil Rodrigues Alves.
Ao longo da história, tivemos o TIFO, que matou 3 milhões de pessoas nos países do Terceiro Mundo,  campos de refugiados e concentração.
Ao longo da história, tivemos a FEBRE AMARELA, que matou 30 000 pessoas na África e nas Américas.
Ao longo da história, tivemos o SARAMPO, que matou 6 milhões de pessoas.
Ao longo da história, tivemos a MALÁRIA, que matou 3 milhões de pessoas por ano.
Ao longo da história, tivemos a AIDS, que já matou 22 milhões de pessoas.
São as grandes epidemias ao longo da história, são a riqueza de Espírito no Estado doente, e tudo isso impactou as grandes economias mundiais durante quarentenas ao longo da história.


sábado, 28 de março de 2020

A mídia não é sua amiga.

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Porque é que a TV foi essa: caixinha que revolucionou o mundo:?.
Faço a pergunta e as respostas vêm em respostas rápidas.
Ela fez de tudo um espetáculo, fez do longe o mais perto,
promoveu o analfabetismo e o atraso mental.
Criou padrões sociais, convenceu a massa a andarem na moda, e fez dessa massa a perderem a sua essência.
De um modo geral, desnaturou o homem.
E sobretudo miniturizou-o, fazendo de tudo um pormenor, isturado ao quotidiano doméstico.
Ela fez pessoas depressivas a terem o seu mundo mágico, criou uma realidade e fez todos ou poucos se tornarem vítimas dela.
Hoje, você não pensa, você não existe, mas só assistir.
Mesmo um filme ou peça de teatro ou até um espectáculo desportivo perdem a grandeza e metafísica de um largo espaço de uma comunidade humana.
Já um ato religioso é muito diferente ao ar livre ou no interior de uma catedral.
Mas a TV é algo de minúsculo e trivial como o sofá donde a presenciamos.
É no controle remoto que muitos controlam as suas razões e emoções.
Então, diremos assim e em resumo que a TV é um instrumento redutor.
Porque todo o seu EU, já não tem mais existência, toda a sua vida, sua família e amigos não existe, a não ser nessa caixinha receptora.
Porque tudo o que passa por lá chega até nós diminuído e desvalorizado no que lhe é essencial.
Ela influência toda a nossa vida social e sexual.
E a maior razão disso não está nas reduzidas dimensões do ecrã,
mas no fato de: caixa revolucionadora ser um objeto entre os objetos de uma sala.
Mas por sobre todos os males que nos infligiu, ergue-se o da promoção do analfabetismo.
Ser é um ato difícil e olhar o boneco não dá trabalho nenhum.
Ler exige a colaboração da memória, do entendimento e da imaginação.
A TV dispensa tudo. Uma simples frase como: o homem subiu a escada, exige a decifração de cada palavra,
a relação das anteriores até se ler a última e a figuração do seu sentido e imagem correspondente. Mas na TV dá-se tudo de uma vez sem nós termos de trabalhar.
Mas cada nossa faculdade, posta em desuso, chega ao desuso maior que é deixar de existir.
Mas ser homem simplesmente é muito trabalhoso.
E o mais cómodo é ser suíno...

sexta-feira, 27 de março de 2020

Caixão da FEMA

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Vi o fim do fascismo.
Foi bom.
Vejo o fim do comunismo.
É bom.
E vi durante toda a vida como um e outro foram úteis para o ódio se cumprir.
Mas finda a utilidade desses pretextos,
que outro pretexto vai ser?.
Curamos os efeitos da doença, guardamos a doença para outra vez.
É a reserva maior do homem,
essa, a do mal, há o que lhe é inevitável,
mas não lhe basta.
Cataclismos, traições do irmão corpo.
Não chega.
E a própria morte, que é a sua fatalidade,
ele não a desperdiça e aproveita-a para ir matando mais cedo.
Como a um animal do seu sustento.
O homem.
Que enormidade.
Que fatalidade.
Que agressividade.
E, quantos de nós se encontra nessas perguntas sem resposta!.
Quantas vezes terá que ser fazer um holocausto?.
Quantas vezes terá que aniquilar novas vidas e que vidas?.
Quantas vezes terá que ser fazer um genocídio?.
Quantas vezes terá que vitimimizar pessoas entre judeus, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová, deficientes físicos e mentais, opositores políticos etc?.
Quantas vezes terá que ser fazer um vírus para enterrarem milhões de pessoas, organizarem mortes, fazerem guerras, lançarem armas químicas ou nucleares, mísseis  hipersônicos  e todos os tipos de arma de destruição em massa?.
Enquanto se pensa na resposta, os caixões da FEMA, estão nos esperando.

terça-feira, 24 de março de 2020

Ainda é Brasil

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Brasil não tem beijos nem abraços, não tem risos nem esplanadas, não tem passos, nem raparigas e rapazes de mãos dadas.
Tem praças cheias de ninguém, ainda tem sol mas não tem nem gaivota de Amália nem canoa.
Sem restaurantes, sem bares, nem cinemas ainda é fado ainda é poemas fechada dentro de si mesma ainda é Brasil.
Cidade aberta, ainda é Brasil de Pessoa alegre e triste e em cada rua deserta, ainda resiste.
Mas ainda é Brasil, mesmo na doença, mesmo doente pelo coronavírus ou pela ignorância, pela corrupção de cada dia.
Há doenças que são mais que doenças,
que não apenas são à vida intensas
como oferecem algumas recompensas que tornam mais urgente e mais difícil já por vezes inviável ofício de habitar o íngreme edifício, do não-se-estar-conforme-se-devia
e administrar a frágil fantasia
de que se é o que ninguém seria.
Se não tivesse (insistentemente)
de convencer-se a si (e a toda gente)
que não se está (mesmo estando) doente.
Esta ausência não foi por nós pedida, este silêncio não é da nossa lavra, já nem Pessoa conversa com Pessoa, com o feitiço sempre imenso da palavra.
Este tempo só é o nosso tempo, porque é nossa a dor que nos sufoca e faz de cada dia a ferida entreaberta
do assombro que esquivando-se nos toca.
Esta ausência é dos netos, dos filhos, dos avós, é a casa alquebrada pelo medo, é a febre a arder na nossa voz por saber que o mal a magoa em segredo.
Este silêncio é um sussurro tão antigo que mata como a peste já matava;
vem de longe sem nada ter de amigo com a mesma angústia que nos castigava.
Esta ausência é uma pátria revoltada que se fecha em casa sempre à espera que a febre não a vença nem lhe roube a luz mansa que lhe traz a Primavera.
Esta casa somos nós de sentinela, à espera que a rua de novo nos console e que festeje debruçada à janela
a alegria que só nasce com o sol.
Esta ausência mais tarde há-de ter fim, por nada lhe faltar nem inocência;
que se escute o desejo de saúde anunciando que vai pôr fim à inclemência.
Que se abram as portas e as janelas, que o medo, derrotado, parta sem destino por ser esse o sonho colorido que ilumina o riso de um menino."

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Ano Novo

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Eu desejaria que o Novo Ano
trouxesse no ventre morte, peste e guerra.
Morte à senilidade idealista e à retórica embalsamada; peste para um certo código cultural que age sobre os grupos e os transforma em coletividades emocionais; guerra à recuperação da personalidade duma cultura extinta que nada tem a ver com a cultura em si mesma.
Eu desejaria que o Novo Ano
Trouxesse na mente o amor, a bondade e a obediência.
Amor para com todos os nossos semelhantes; bondade para derrotamos o mal de cada coração; obediência para a sociedade que não tem o espírito de cumprir o grande mandamento.
Eu desejaria que o Novo Ano
trouxesse nos braços a vida,a
energia e a paz.
Vida o suficientemente despersonalizada no caudal urbano para que os desvios individuais não sejam convite ao eterno controlo e expressão das pessoas; energia para desmascarar o sectarismo da sociedade secularizada em que o estado afetivo é mais forte do que a ação; paz para os homens de boa e de má vontade.
(31 de Dezembro de 2019).









terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Desigualdade natalina

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Aquele que não tiver o Natal no seu coração
nunca o encontrará debaixo de uma árvore.
Pois o Natal é o espírito de dar sem um pensamento de obter.
É felicidade porque vemos alegria nas pessoas. É esquecermo-nos a nós próprios e encontrar tempo para os outros. 
É descartar as coisas sem sentido e sublinhar os verdadeiros valores.
O espírito do Natal é o espírito do amor,
da generosidade e da bondade.
Ele ilumina a janela da imagem da alma,
e nós olhamos para este mundo cheio de vida e tornamo- mais interessados nas pessoas do que nas coisas.
O Natal não é um tempo nem uma temporada, mas um estado de espírito.
Valorizar a paz e a boa vontade,
ser abundantemente misericordioso,
é ter o verdadeiro espírito do Natal.
Infelizmente vivemos o Natal da desigualdade social, ou o Natal desigual.
Onde vermos uma criança com um saco de presente, e uma outra com um saco de lixo.
Onde ouvimos felicitações de Natal, e também ouvimos lamentações de pessoas que não tem o que comerem nesta hora.
Na noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão,
do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão.


quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Cordão de três dobras

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Eu nunca  pensei
mesentiria assim.
Eu nunca imaginaria que pudesse namorar você e noivar com você.
E até onde eu cheguei com você, nesses um ano e sete meses, eu posso ratificar que estou feliz de ter a chance pra dizer
Que eu acredito que amo você.
Então feche seus olhos e tente
Sentir-se como estamos hoje.
Quero que você continue sorrindo,
continue brilhando, continue me amando sabendo que você sempre pode contar comigo
Porque  é para isso que servem os namorados.
Nos tempos bons e ruins eu estarei ao seu lado, pra todo o sempre.
Quero que você feche seus olhos e saiba que essas palavras estão vindo do meu coração, e aí então se você puder lembrar, lembre-se de tudo que nós vivemos ate aqui, tudo que estamos criando, projetando para o nosso futuro.
Porque ate aqui nos ajudou o Senhor, porque estamos sendo esse cordão de três dobras, que jamais arrebentara enquanto estiver o Espírito do Amor dentro de nós.
Então, aceite essa escrita como uma forma de falar que eu te amo,mas do que ontem.


terça-feira, 27 de agosto de 2019

O sequestrador, a morte e o cristianismo

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O cristianismo não anula a humanidade de ninguém, ele a trata e nos ajuda a vigiar e controlar a mesma.
É naturalmente humano desejar a morte de alguém,
mas é essencialmente cristão entender o valor da vida.
É naturalmente humano sentir alívio quando uma ameaça é interrompida e o agressor neutralizado ou abatido,
mas é essencialmente cristão solidarizar-se com a família enlutada.
É naturalmente humano fazer discursos acalorados dentro de situações tensas,
mas é essencialmente cristão refrear a língua.
É naturalmente humano achar que nosso ponto de vista é o correto,
que o que pensamos é a resposta final,
mas é essencialmente cristão entender que nossas certezas são esterco,
diante da Verdade do Evangelho.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Poema sobre depressão

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Há quem experimente uma mescla de tristeza e raiva combinada com abatimento.
Outros, ao contrário, só percebem um vazio e uma ausência total de emoções,
caracterizada por não sentir absolutamente nada.
É como ter o corpo cheio de chumbo e a mente dominada por um nevoeiro,
como se o próprio ser se desfizesse e o corpo ficasse completamente estático,
como se nem existissem.
Nada querem, tudo abandonar, tudo apostataram, inclusive o maior bem.
A alegria lhes entristecem, e o viver, porque é sujeito a quem dele assim se esquece.
Se morreis acaba o mal físico, mas o fim da alma não queira ver.
Se vivereis, o padecer desta dor é tão mortal
que não lhes possam valer.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

A praga da corrupção

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O País do Peru acabou de dar ao grande Brasil uma enorme lição de civilidade e virilidade democrática.
Eu afirmo que o suicídio do ex-presidente do Peru, Alan Garcia,
apanhado pela nossa Lava Jato,
me causou uma ponta de inveja.
Não de inveja por ele ter se matado,
mas sim de inveja por ele,
ao ter se matado,
ter reconhecido que não tinha chance alguma diante das leis,
das instituições e dos cidadãos do Peru.
Como é sabido por todo mundo,
não existe um país na face da Terra que não tenha corrupção.
A diferença é como cada país lida com a corrupção e tolera a impunidade.
No Brasil, por exemplo, os corruptos zombam da impunidade, zombando das leis,
das instituições e dos cidadãos.
Mas é importante frisar que eles só fazem isso porque aqui as leis,
as instituições e os cidadãos aceitam se colocar no papel de inúteis,
irrelevantes e otários.
Muitas vezes as leis,
as instituições e os cidadãos são até cúmplices dos corruptos porque,
em nome de uma resignação inexplicável e de uma preguiça detestável,
não mudam suas atitudes pacatas,
passivas ou permissivas.
É graças a essa resignação e a essa preguiça que os corruptos brasileiros elevaram a impunidade ao status de obra de arte,
obra prima, sem similar em lugar algum do planeta.
No Brasil, nós temos o Da Vinci da corrupção, o Michelangelo da corrupção, o Van Gogh da corrupção e, claro, o Picasso da corrupção.
Nós não temos nenhum Prêmio Nobel, por exemplo, mas certamente nós temos vários prêmios desse porte na corrupção e na impunidade.
Daí que não cabe o país se orgulhar da praga da corrupção,
como uma arte que nos distingue.
Cabe o país se revoltar contra a praga da impunidade, como uma arte que nos insulta.
Ou fazemos isso, ou vamos continuar todos cúmplices das nossas desgraças.

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