quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Poema sobre o sentimento faccioso

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O que seria o tal "sentimento faccioso"?.
Seria semelhante à avareza.
A diferença é que o avarento não gosta de compartilhar coisas, enquanto que o indivíduo faccioso não gosta de compartilhar pessoas.
Para ele, quem for seu amigo não pode ser amigo de mais ninguém.
Está sempre exigindo uma tomada de posição daqueles que estão à sua volta.
Ou é amigo "meu", ou "dele".
Ele exige uma lealdade desmedida,
e fica inciumado e frustrado por não ser correspondido à altura de suas expectativas.
Seus presentes e gestos caridosos são sempre com a intenção de "comprar" a lealdade das pessoas. Quem não corresponde é logo taxado de traidor, desleal.
Paulo orienta: "Ao homem faccioso, depois da primeira e segunda admoestação, evita-o".
E sabe porquê deve-se evitá-lo?.
Porque o espírito faccioso é contagioso e danoso à saúde emocional e espiritual.
Ademais, é a única maneira de restaurá-lo.
O próprio Paulo nos oferece um exemplo do que é ser o inverso disso.
Veja o que ele diz a Tito, um dos seus pupilos:
"Quando te enviar Ártemas, ou Tíquico, procura vir ter comigo a Nicópolis, porque resolvi passar o inverno ali.
Faze tudo o que puderes para ajudar a Zenas, doutor na Lei,
e a Apolo, para que nada lhe falte" (vv.12-13).
Paulo poderia se sentir ameaçado com a proximidade de Apolo,
mas em vez disso, pede que Tito o ajude em tudo.
Não havia porque se sentir enciumado, exigindo ser o centro das atenções.
Quem se considera um cidadão do Reino, deve aprender a compartilhar seus amigos e irmãos,
sem exigir exclusividade.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

O ser humano e a espiritualidade no ambiente corporativo

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Milhões de pessoas vivem uma espiritualidade alienante, ocupando-se exclusivamente com questões espirituais e sobrenaturais, enquanto fazem vista grossa às questões ordinárias da vida e às demandas do mundo concreto;
vivem à beira de uma espiritualidade esquizofrênica, ignorando que a vontade do Pai deve ser feita “assim na terra, como no céu”,
conforme a oração ensinada por Jesus.
Perdemos o contacto com a realidade que nos circunda.
Há irmãos sinceros que demonstram tamanha sensibilidade para as coisas espirituais, que frequentemente dão testemunho de visões angelicais.
Alguns testemunham acerca de supostos arrebatamentos, e relatam entusiasticamente suas excursões ao paraíso.
A impressão que se dá é que tais pessoas buscam uma espécie de fuga da realidade.
Em muitos casos, são pessoas sinceras, oriundas das camadas mais pobres, que vivem em comunidades desprovidas de qualquer infraestrutura.
Suas experiências espirituais são a maneira de responderem à mensagem escapista que ouvem nos púlpitos de suas igrejas.
Se não há nada que se possa fazer para mudar as coisas neste mundo,
o que fazer?.
Imaginar que haja outro mundo, oposto a tudo o que vemos aqui, parece uma saída plausível.
Em vez de incentivar os fiéis a descruzarem os braços e trabalharem pela transformação do mundo, tal posicionamento estimula a indiferença, e a desesperança quanto ao futuro da humanidade.
Há pregadores que afirmam categoricamente que as coisas precisam piorar, para que Jesus Se apresse em retornar à Terra.
Ora, se o mundo está prestes a pegar fogo, por que nos preocupar com o seu futuro?.
Por que nos preocupar com questões como distribuição de renda, preservação do meio-ambiente, políticas identitárias, ética nas pesquisas científicas, e etc.?
A igreja primitiva estava envolvida em outro empreendimento; transformar o mundo, começando pelas relações sociais, promovendo a equidade,
a fraternidade e a solidariedade. 
Qualquer espiritualidade que não esteja comprometida com a realidade, está a serviço dos poderosos deste mundo,
e é completamente dispensável para Deus.
Estamos craques em oferecer cultos que são verdadeiros shows,
com direito a efeitos especiais e tudo mais.
Mas será que Deus tem recebido nosso culto?.
Será que Ele Se deixa impressionar com nossas performances e parafernálias tecnológicas?.
De um lado encontramos igrejas extremamente litúrgicas,
onde a forma se sobrepõe ao conteúdo.
Do outro lado, temos as igrejas modernas, desprovidas de ritos,
mas preocupadas em apresentar um show que vá ao encontro dos anseios do homem moderno.
As pessoas não são incentivadas a oferecer culto a Deus, mas a serem tão-somente espectadora.
Elas vão à busca de bênçãos,
e não para oferecerem a Deus suas vidas, seus dons, seu serviço.
Ao despedir-se dos fiéis, o ministro pronuncia a bênção apostólica,
mas não lhes comissiona a trabalhar para mudar a realidade.
Que todos os que lotam os mega-templos de hoje em dia,
ouçam o clamor do Criador:
“Pois eu quero misericórdia, e não o sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos”.
Não é Deus quem precisa de nossa misericórdia, e sim os necessitados deste mundo.
Servi-los é servir a Deus.
E o critério pelo qual seremos julgados é a misericórdia que houvermos demonstrado ao nosso semelhante.
Por isso, bem-aventurados são os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Se quisermos agradar a Deus, temos que praticar a justiça,
e amar a misericórdia, em vez de Lhe oferecer cultos desprovidos de sinceridade.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

O sal inexistente

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"Vós sois o sal da Terra.
Se, porém, o sal se tornar insípido, como lhe restaurar o sabor?"
Séria questão.
O que deveria dar gosto não tem gosto.
Isto porque, claramente, a ênfase de Jesus não recai sobre todas as propriedades do sal,
mas sobre o sabor.
Com isto Jesus estava dizendo que ser seu discípulo é ser provado pela língua da alma do mundo e ter gosto de sal.
Eu sei que até os índios,
uma vez tendo comido com sal,
não mais passam sem ele.
A real presença dos discípulos de Jesus no mundo deve ser discernida como um encontro com o sabor,
com o gosto que se torna indispensável.
O sal tem que ter mais alegria em dar gosto do que em ser visto.
O sal tem que saber que seu papel é ser discernido, não preservado.
O sal existe para inexistir.
O sal que é visto, não é sentido;
pois o sal que é sentido,
não é mais visto, porque se tornou parte do sabor que anima os humanos a comer com prazer.

sábado, 4 de fevereiro de 2023

O grito ecológico

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"Oséias, o patrono dos animais no Velho Testamento, diz no capítulo 4 e 6 de sua profecia, que o homem é aquele que cria toda a desordem no ecossistema.
Por uma única razão: nós somos parte dele.
De modo que ao fazermos mal ao todo no qual existimos,
fazemos mal a nós mesmos e uns aos outros, pois estamos acabando com aquilo dentro do que também existimos.
Pois nós habiatamos na Terra dento o poder de intervir nas leis da criação original, cada vez mais profundamente.
Aliás, nós somos a única parte maldosa e vaidosa da criação!.
Enquanto e gente nem sabe os rouxinóis gorjeiam: Maranata.
Vem Senhor de Todos nós!.
Não é à toa que o Apocalipse seja também um grande grito "ecológico", pois denuncia o que o pecado humano acarreta sobre o céu,
a terra, o ar e o mar".

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

As boas novas

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"Agora, enquanto escrevo isto,
sei que o Espírito está se revelando nas ilhas remotas,
nas selvas esquecidas,
nos montes inatingíveis,
nas tribos perdidas,
nos guetos impenetráveis e nos ambientes inalcançáveis dos corações de milhões de seres humanos!.
Ora, isto sem que nenhum “missionário” lá tenha chegado!.
O Espírito sopra onde quer, ou não?.
Mas como eu não sei o que Deus está fazendo, eu faço o que Jesus mandou: eu prego a Boa Nova!.
O meu privilégio e anunciar isso do modo como Jesus fez,
e que no Evangelho é tão claro: sem religião!.
Jesus não nos chamou para uma religião.
Ele nos chamou para a Vida!.
Quem ouvir a voz de Deus no Evangelho pregado e confirmado pelo Espírito será salvo.
Quem teve a mesma chance e decidiu não crer já está condenado!.
Quem nunca ouviu nada de homem algum, será ouvido por Deus e julgado por Ele e somente por Ele conforme a consciência que teve e de acordo com a iluminação que possuiu.
Mas ninguém é salvo sem que tenha sido por causa da Cruz e do Sangue conhecido antes da fundação do mundo: o sangue do Cordeiro!.
E saibam: este Sangue tem Poder!"

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Poema sobre o nome de Deus

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Houve um momento em que Moisés perguntou a Deus: 
"Qual é o seu nome?" 
Deus foi gracioso em responder e o nome que ele deu está registrado no original hebraico como YHWH.
Com o tempo, adicionamos arbitrariamente um “a” e um “e” para obter YaHWeH, presumivelmente porque temos preferência por vogais. Mas, estudiosos e rabinos notaram que as letras YHWH representam sons respiratórios ou consoantes aspiradas. 
Quando pronunciada sem vogais,
na verdade, soa como respiração.
YH (inspirar): WH (expirar). 
Assim, o primeiro choro de um bebê, sua primeira respiração, fala o nome de Deus. 
Um suspiro profundo chama Seu nome ou um gemido ou suspiro pesado demais para meras palavras. 
Até mesmo um ateu falaria Seu nome, sem saber que sua própria respiração está dando constante reconhecimento a Deus. 
Da mesma forma, uma pessoa deixa esta terra com seu último suspiro, quando o nome de Deus não está mais enchendo seus pulmões. 
Então, quando não consigo pronunciar mais nada, meu clamor está chamando Seu nome?.
Estar vivo significa que falo Seu nome constantemente. 
Então, é mais alto quando estou mais quieto?.
Na tristeza, respiramos suspiros pesados. 
Na alegria, nossos pulmões parecem quase que vão explodir. 
Com medo, prendemos a respiração e temos que ser instruídos a respirar devagar para nos ajudar a acalmar.
Quando estamos prestes a fazer algo difícil, respiramos fundo para encontrar nossa coragem. 
Quando penso nisso, respirar é louvar. 
Mesmo nos momentos mais difíceis!.
Isso é tão bonito e me enche de emoção toda vez que me deparo com este pensamento.
Deus escolheu dar a si mesmo um nome que não podemos deixar de falar a cada momento que estamos vivos. 
Todos nós, sempre, em todos os lugares. 
Acordar, dormir, respirar, com o nome de Deus em nossos lábios.
Espero que esta reflexão lhe traga conforto, esperança e alegria ao respirar diariamente o nome de Deus. 
Deus nos ama tanto que nos enche de si mesmo!.
Deus conhecia seu nome antes da criação.
Ele tinha amor e propósito para sua vida desde o início.
Ele vive dentro de você.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Poema sobre os novos crucificados

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Como falar do Crucificado enquanto se ignora os crucificados?.
Jesus não foi o único a ser vítima de um sistema opressor que se achava no direito de matar quem quer que se insurgisse contra a sua tirania.
Em um único dia, legiões romanas crucificaram cerca de 6 mil homens ao longo de 200 quilômetros para conter uma rebelião.
Mas creio que Ele tenha sido o único crucificado a preocupar-se com o destino de quem era crucificado ao Seu lado.
Se os evangelhos fossem escritos por alguns pregadores de hoje, certamente a presença daqueles dois crucificados ao lado de Jesus seria suprimida.
Afinal, pegaria muito mal para o "fundador" de sua rentável religião ser crucificado ao lado de dois meliantes, não é verdade?.
Mas assim como os relatos dos evangelistas não ignoraram a presença dos que foram crucificados ao lado do seu Mestre,
não deveríamos jamais ignorar os que seguem sendo crucificados hoje, entre os quais, podemos destacar as minorias marginalizadas e privadas de seus direitos essenciais, incluindo os Yanomamis, vítimas do descaso genocida do governo anterior.
Não é por acaso que a imagem de um deles em estado grave de desnutrição nos remeta à do Crucificado.
O tratamento que dispensamos aos povos originários,
aos negros,
aos imigrantes,
às pessoas com deficiência,
depõe contra nós como sociedade. Se não somos os "romanos" a fazerem o trabalho sujo, somos os que gritam no pátio de Pilatos: "Crucifica-os!".
Quando não, somos os que assistem apáticos ao suplício de nossos semelhantes, sem considerar que podemos ser as próximas vítimas.
A semelhança entre o Cristo Morto, e o índio Yanomami não é mera coincidência.
Ambos estão despidos de suas humanidades bem como de suas divindades.
Ambos trazem no semblante a dor do abandono.
Ambos, cadavéricos e rígidos,
estão carregados de sofrimento.
Ambos, insepultos.
Diante do índio moribundo estamos nós, e não há como fugirmos dele, fingirmos que não o vimos.
Vimos!.
E em carne e osso.
Pouca carne, muito osso.
Carregado de muitas e indizíveis dores. 
Ah, sim, ouso o profeta Isaías:
“(…) não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele,
não havia boa aparência nele,
para que o desejássemos.
Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores,
e experimentado nos trabalhos;
e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado,
e não fizemos dele caso algum.”
Aí você me dirá: é sobre Cristo que Isaías está falando.
Daí eu lhe direi: sim, eu também.
Porque quem não viu Jesus nesse Yanomami não o verá em nenhum outro lugar.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Os holocaustos brasileiros

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Nós tivemos muitos holocaustos brasileiros.
Tivemos o maior de todos, que durou, DENTRO DA LEI, 388 anos,
e tantos outros anos fora da lei,
que foi o holocausto africano.
Perto de  5 milhões de pessoas foram transportadas da África para o Brasil, como mercadorias.
Tantos outros seres humanos foram produzidos aqui para venda.
Mais de meio milhão de pessoas morreram nos tumbeiros, nos navios negreiros, durante a travessia.
Se isso não é um holocausto,
o que seria então?.
E onde estava a igreja durante todo esse período?.
A Santa Igreja Católica Apostólica Romana teve participação fundamental nesse holocausto. Primeiro, declarou, através do seu Santo Papa, que os negros não tinham alma, e por isso tudo era permitido fazer com eles e elas, todas as maldades.
José de Anchieta, o evangelizador de indígenas, às vezes nem se deu ao trabalho.
Primeiro porque os cristãos donos de escravos não iam liberar suas máquinas humanas para ouvirem conversas de um padre.
Segundo, porque o santo padre não tinha o menor interesse neles, já que desprovidos de alma.
A santa madre igreja participou também recebendo escravos como dízimo.
Os protestantes chegam ao Brasil, com fins evangelizadores e igrejosos, já pertinho do fim ou pouco depois do fim da escravidão oficial.
O que os trouxe para cá foi a possibilidade ainda de terras baratas e uso do trabalho escravo.
Foi o fim da escravidão negra nos Estados Unidos que trouxe o protestantismo para o Brasil.
Os crentes que quebraram financeiramente lá, principalmente batistas e outros grupos históricos, vieram para cá se reerguerem economicamente, e já que estavam aqui passaram a pregar a sua fé.
Enfim, os Cristianismos foram fundamentais para o holocausto africano no Brasil e para as justificativas dele.
A carta de Paulo ao escravocrata Filemon, tão usada por eles, que o diga. 
Depois, pouco depois, tivemos o holocausto nordestino dos anos 1932 e 1933, em campos de trabalho forçado ou, se preferirem, campos de concentração.
Fortaleza, capital do Ceará, tinha passado por uma reforma geral no início dos anos 1900, vivendo a sua Belle Époque, inspirada no modelo francês.
A elite estava feliz, a classe média que sempre se pensou rica estava feliz, a Santa Sé estava muito feliz. Mas deu ruim para os sertanejos mais empobrecidos.
A seca dos anos 15 retratada em O QUINZE, de Rachel de Queiroz, e das décadas seguintes, retratadas em VIDAS SECAS, de Graciliano Ramos, empurrava a população dos sertões para o litoral em  busca de água e comida.
Milhares chegaram à Fortaleza e se instalaram nas praças enfeiando a capital.
Alguns, mais ousados, se deram ao abuso de quererem frequentar  missas e, talvez, até cultos protestantes na igreja batista,
que já estava instalada por ali.
A população rica reclamou com o bispo e com o prefeito.
Pressionado, o governo estadual, em parceria com o federal, atendeu,  retirando toda aquela gente pobre do campo de visão dos cristãos ricos. Foram levados para os campos de trabalho (1915, 1932 e 1933), onde foram submetidos a trabalhos forçados em troca de água e comida  e depois deixados lá para morrerem de fome, visto que o governo entendeu que com a volta da chuva, tudo estava resolvido para aquelas pessoas imediatamente.
Até 90 mil pessoas passaram pelos sete campos de concentração do Ceará, Ipu, Fortaleza, Quixeramobim, Crato, Senador Pompeu, Cariús e Buriti.
Os campos ficavam sempre próximos às vias férreas para facilitar a chegada dos flagelados de trem. Eram os "currais do governo", como chamavam.
Em Senador Pompeu, até hoje acontece a "Caminhada das Almas" para homenagear os mortos desses campos de fome do governo brasileiro.
O objetivo do governo era, principalmente, impedir o deslocamento dos retirantes famintos para a capital.
Eram uma espécie de "barreiras sanitárias".
Dali não passavam para não enfeiarem a cidade.
Diferente da Alemanha, no Ceará não havia o objetivo declarado de matá-los.
As mortes aconteceram e foram milhares, embora nunca se tenha feito os registros oficiais dos mortos de fome e de doenças relacionadas à fome.
Quem dava entrada nos campos era impedido de sair.
Saía apenas para os trabalhos forçados e sub-pagos, o que envolvia, inclusive, empresas estrangeiras. Havia uma capela nos campos, ou seja, a igreja católica estava lá.
Ainda não encontrei registros de denúncias católicas ou protestantes sobre o episódio.
Só registros de católicos da capital incomodados com os flagelados "invadindo" as praças da linda Fortaleza.
O Deus das elites "é o Deus dos detalhes", como vivem repetindo.
E vejam que bênção:
Ele segurou, através do governo,
os flagelados pelo caminho.
E por lá mesmo os matou de fome, sede, abandono. "Deus dos detalhes".


segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Poema sobre o povo Yanomami

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Essa foto é de umas crianças Yanomamis em estado de fome extrema.
Cadavérico, está largado da vida numa aldeia qualquer,
agonizando solitário esperando a morte lhe contemplar em sua espera silenciosa.
Depois de 4 anos de intenso descaso com os Povos Originários a situação chegou a um ponto em que o Governo Federal tem que decretar estado de calamidade pública,
de crise humanitária e sanitária.
Em todo o País, os índios estão doentes e desnutridos, muitos deles pegaram malária, e o pior de tudo, estão sem medicação.
Depois de intensos ataques às suas terras, tanto pelo garimpo ilegal, quanto pela ganância desmedida dos barões do agronegócio, a situação chegou a um ponto insustentável,
o que vemos são homicídios qualificados e acobertados por todos nós, tornamo-nos a sociedade dos leprosos de alma, insensíveis, assistimos ao trágico espetáculo como se nada disso nos dissesse respeito.
É inaceitável ver que esses que se ajuntam prontamente para defender o aborto, pauta moral prioritária,
mas se calam diante do aborto da Terra que está vomitando diante de nossos olhos as feridas que lhes são feitas pela volúpia dos homens. 
Triste geração essa, que aprendeu a conviver, placidamente, com o intragável, que levanta as mãos aos céus e as encolhe ao necessitado e não transforma em oração no chão da vida manifestações de solidariedade aos que dela necessitam.

sábado, 21 de janeiro de 2023

Poema sobre a tese, a antítese e a síntese

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Três parábolas contadas por Jesus.
Na primeira encontramos a tese.
Na segunda, a antítese.
Na terceira, a síntese.
Na primeira delas, Jesus fala de um pastor que tinha cem ovelhas,
mas perdeu uma.
Quem tem cem e perde uma,
teve um prejuízo de 1%.
Certamente que em pouco tempo aquela ovelha seria reposta através da procriação.
Mas em vez de se conformar, aquele pastor deixa as 99 no deserto e sai à procura da que se extraviou.
Portanto, ele se expõe ao risco de perder as demais.
Elas não ficaram na segurança de um redil, mas no ambiente inóspito do deserto.
Ao encontrar a ovelha perdida, colocou-a sobre os ombros e a levou-a de volta para cada.
Uma pergunta que me vem à mente é: por que ele teve que carrega-la nos ombros em vez de simplesmente guia-la de volta?.
Há, pelo menos, dois motivos plausíveis.
Ou ela estava machucada sem condição de caminhar com suas próprias patas, ou ela era tão rebelde que se fosse deixada solta voltaria a se extraviar.
Sua alegria foi tão grande que resolveu convidar os vizinhos para uma festa em celebração por haver reencontrado sua ovelha.
Na segunda parábola, uma mulher perdeu uma de suas dez moedas.
Portanto, sua perda foi de 10%.
Não era uma moeda qualquer, mas uma dracma.
Diferentemente do pastor da parábola anterior, ela não precisou sair de seu domicílio para procurar o que perdera, pois a moeda havia sido perdida dentro de sua própria casa.
Para encontra-la, ela acende a candeia, varre a casa e a busca persistentemente.
Não daria para encontra-la de luz apagada.
E para encontra-la, ela teria que varrer a casa, isto é, livrar-se do lixo acumulado.
Quanto mais se acumula lixo no ambiente doméstico, mais difícil será encontrar nele o que se procura.
A exemplo do pastor, ela também convoca suas amigas e vizinhas para uma festa em comemoração à moeda encontrada.
Talvez, ela tenha tido que usar todas as dez moedas e algumas a mais para bancar tal festa. 
Faz sentido isso?.
Não se trata do valor da moeda em si, mas do valor do encontro.
As duas primeiras parábolas são contadas em forma de pergunta.
“Que homem dentre vós...”,
e “Qual a mulher que...”.
A primeira fala de uma perda externa.
A segunda, de uma perda interna.
Na primeira, se busca.
Na segunda, se procura.
Mas a terceira parábola nos apresenta a síntese das anteriores.
Em vez de começar a nova parábola com uma pergunta, Jesus recorre a uma antiga fórmula de se introduzir uma estória, bem ao estilo “era uma vez...”. “Certo homem tinha dois filhos...”
O mais novo reivindica a sua parte na herança.
O pai resolve repartir tudo o que tem entre os dois.
O primeiro aproveita a grana para sair de casa e viver todas as aventuras que sempre almejara experimentar.
O outro se manteve ao lado do pai.
De primeira mão, a impressão que se tem é de que apenas o filho caçula se perdeu, desperdiçando sua parte na herança na farra.
Porém, no desfecho da parábola, deparamo-nos com o seu irmão mais velho igualmente perdido, negando-se a participar da festa em comemoração à volta de seu irmão.
O pródigo era a ovelha extraviada, que só caiu em si depois de haver perdido tudo e só restar-lhe a comida dos porcos para saciar sua fome.
O mais velho era a moeda perdida dentro de sua própria casa.
A diferença é que o pastor perdeu 1% de seu rebanho.
A mulher perdeu 10% de seu dinheiro.
Mas aquele velho pai perdeu 100%.
Não apenas por haver repartido o patrimônio inteiro com os seus dois filhos, mas por havê-los igualmente perdido.
Um, fora de cada.
Outro, dentro.
Foi necessário que o mais novo saísse de casa para que se revelasse quão perdido estava o que permaneceu.
Foi necessário que o que estava fora retornasse para que o que estava dentro também fosse achado pelo pai.
Todas as três parábolas terminam em festa.
Mas somente na última, alguém se nega a participar.
Apesar de apresentar razões morais que justificassem sua decisão em não festejar, a bem da verdade, a razão era outra.
O tal bezerro cevado oferecido como churrasco foi apenas a gota d’água.
Uma vez que seu pai já havia repartido seu patrimônio entre os dois filhos, e que o primeiro havia desperdiçado sua parte, concluímos que o dinheiro que bancava aquela festa pertencia ao mais velho.
Seria como se a mulher que encontrara a moeda perdida resolvesse gastar todas as suas moedas para celebrar seu achado,
ou se o pastor que recuperara sua ovelha decidisse matar as noventa e nove para dar uma churrascada em comemoração à ovelha resgatada. De fato, o filho mais velho parece coberto de razão.
Aquela festa não era justa.
Não do ponto de vista da justiça humana.
Porém, há que se considerar que a justiça divina extrapola nosso senso de justiça própria.
A própria graça em si subverte a nossa lógica baseada em méritos e deméritos.
Celebrar o retorno do perdido servia para revelar a perdição de quem jamais se permitira partir.
Como bem disse Paulo, “não há um justo sequer.
Todos se extraviaram.”
Tanto os que estão dentro, quanto os que estão fora, tanto os que procuram, quanto os que são procurados, tantos os que voltam com suas próprias pernas, quanto os que precisam ser carregados nos ombros.
Todos somos igualmente carentes da graça de Deus.
Ninguém é melhor do que ninguém.
O valor que possuímos não é intrínseco, mas atribuído pelo amor.
Em outras palavras.
Não somos amados porque temos valor.
Nosso valor decorre do fato de sermos amados.
E por fim: Enquanto a celebração do outro nos ofender, não teremos entendido absolutamente nada do que seja graça, muitos menos, do que seja amor.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

A linguagem de Jesus

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O que Jesus estava dizendo ao indagar por que Sua Linguagem não era compreendida por aquela geração-de-religiosos-"evangélicos"- judeus; basicamente era o seguinte:
Vocês não me entendem apenas porque decidiram não me entender, pois não querem a mudança absoluta que a minha-palavra-de-Deus trás; posto que gere um estado novo de olhar que é o oposto de tudo o que vocês defendem.
Portanto, o que Jesus diz é que Entender É Uma Escolha!.
Sim, uma escolha que revoluciona todos os dogmas e certezas prévias, e, portanto, insuportável para todos os que cultuam a imutabilidade das leis, regras e gessos existenciais.
Ou seja, entender é para quem não teme a Permanente Impermanência do viver que existe em mudança existencial e conversão ininterrupta.
A Palavra de Deus Permanente em mim é a garantia de um estado de arrependimento permanente!.
De conversão permanente.
Só pode discernir a linguagem de Jesus quem não teme as consequências de Jesus na existência!".

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