.
Milhões de pessoas vivem uma espiritualidade alienante, ocupando-se exclusivamente com questões espirituais e sobrenaturais, enquanto fazem vista grossa às questões ordinárias da vida e às demandas do mundo concreto;
vivem à beira de uma espiritualidade esquizofrênica, ignorando que a vontade do Pai deve ser feita “assim na terra, como no céu”,
conforme a oração ensinada por Jesus.
Perdemos o contacto com a realidade que nos circunda.
Há irmãos sinceros que demonstram tamanha sensibilidade para as coisas espirituais, que frequentemente dão testemunho de visões angelicais.
Alguns testemunham acerca de supostos arrebatamentos, e relatam entusiasticamente suas excursões ao paraíso.
A impressão que se dá é que tais pessoas buscam uma espécie de fuga da realidade.
Em muitos casos, são pessoas sinceras, oriundas das camadas mais pobres, que vivem em comunidades desprovidas de qualquer infraestrutura.
Suas experiências espirituais são a maneira de responderem à mensagem escapista que ouvem nos púlpitos de suas igrejas.
Se não há nada que se possa fazer para mudar as coisas neste mundo,
o que fazer?.
Imaginar que haja outro mundo, oposto a tudo o que vemos aqui, parece uma saída plausível.
Em vez de incentivar os fiéis a descruzarem os braços e trabalharem pela transformação do mundo, tal posicionamento estimula a indiferença, e a desesperança quanto ao futuro da humanidade.
Há pregadores que afirmam categoricamente que as coisas precisam piorar, para que Jesus Se apresse em retornar à Terra.
Ora, se o mundo está prestes a pegar fogo, por que nos preocupar com o seu futuro?.
Por que nos preocupar com questões como distribuição de renda, preservação do meio-ambiente, políticas identitárias, ética nas pesquisas científicas, e etc.?
A igreja primitiva estava envolvida em outro empreendimento; transformar o mundo, começando pelas relações sociais, promovendo a equidade,
a fraternidade e a solidariedade.
Qualquer espiritualidade que não esteja comprometida com a realidade, está a serviço dos poderosos deste mundo,
e é completamente dispensável para Deus.
Estamos craques em oferecer cultos que são verdadeiros shows,
com direito a efeitos especiais e tudo mais.
Mas será que Deus tem recebido nosso culto?.
Será que Ele Se deixa impressionar com nossas performances e parafernálias tecnológicas?.
De um lado encontramos igrejas extremamente litúrgicas,
onde a forma se sobrepõe ao conteúdo.
Do outro lado, temos as igrejas modernas, desprovidas de ritos,
mas preocupadas em apresentar um show que vá ao encontro dos anseios do homem moderno.
As pessoas não são incentivadas a oferecer culto a Deus, mas a serem tão-somente espectadora.
Elas vão à busca de bênçãos,
e não para oferecerem a Deus suas vidas, seus dons, seu serviço.
Ao despedir-se dos fiéis, o ministro pronuncia a bênção apostólica,
mas não lhes comissiona a trabalhar para mudar a realidade.
Que todos os que lotam os mega-templos de hoje em dia,
ouçam o clamor do Criador:
“Pois eu quero misericórdia, e não o sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos”.
Não é Deus quem precisa de nossa misericórdia, e sim os necessitados deste mundo.
Servi-los é servir a Deus.
E o critério pelo qual seremos julgados é a misericórdia que houvermos demonstrado ao nosso semelhante.
Por isso, bem-aventurados são os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Se quisermos agradar a Deus, temos que praticar a justiça,
e amar a misericórdia, em vez de Lhe oferecer cultos desprovidos de sinceridade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário