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Nós tivemos muitos holocaustos brasileiros.
Tivemos o maior de todos, que durou, DENTRO DA LEI, 388 anos,
e tantos outros anos fora da lei,
que foi o holocausto africano.
Perto de 5 milhões de pessoas foram transportadas da África para o Brasil, como mercadorias.
Tantos outros seres humanos foram produzidos aqui para venda.
Mais de meio milhão de pessoas morreram nos tumbeiros, nos navios negreiros, durante a travessia.
Se isso não é um holocausto,
o que seria então?.
E onde estava a igreja durante todo esse período?.
A Santa Igreja Católica Apostólica Romana teve participação fundamental nesse holocausto. Primeiro, declarou, através do seu Santo Papa, que os negros não tinham alma, e por isso tudo era permitido fazer com eles e elas, todas as maldades.
José de Anchieta, o evangelizador de indígenas, às vezes nem se deu ao trabalho.
Primeiro porque os cristãos donos de escravos não iam liberar suas máquinas humanas para ouvirem conversas de um padre.
Segundo, porque o santo padre não tinha o menor interesse neles, já que desprovidos de alma.
A santa madre igreja participou também recebendo escravos como dízimo.
Os protestantes chegam ao Brasil, com fins evangelizadores e igrejosos, já pertinho do fim ou pouco depois do fim da escravidão oficial.
O que os trouxe para cá foi a possibilidade ainda de terras baratas e uso do trabalho escravo.
Foi o fim da escravidão negra nos Estados Unidos que trouxe o protestantismo para o Brasil.
Os crentes que quebraram financeiramente lá, principalmente batistas e outros grupos históricos, vieram para cá se reerguerem economicamente, e já que estavam aqui passaram a pregar a sua fé.
Enfim, os Cristianismos foram fundamentais para o holocausto africano no Brasil e para as justificativas dele.
A carta de Paulo ao escravocrata Filemon, tão usada por eles, que o diga.
Depois, pouco depois, tivemos o holocausto nordestino dos anos 1932 e 1933, em campos de trabalho forçado ou, se preferirem, campos de concentração.
Fortaleza, capital do Ceará, tinha passado por uma reforma geral no início dos anos 1900, vivendo a sua Belle Époque, inspirada no modelo francês.
A elite estava feliz, a classe média que sempre se pensou rica estava feliz, a Santa Sé estava muito feliz. Mas deu ruim para os sertanejos mais empobrecidos.
A seca dos anos 15 retratada em O QUINZE, de Rachel de Queiroz, e das décadas seguintes, retratadas em VIDAS SECAS, de Graciliano Ramos, empurrava a população dos sertões para o litoral em busca de água e comida.
Milhares chegaram à Fortaleza e se instalaram nas praças enfeiando a capital.
Alguns, mais ousados, se deram ao abuso de quererem frequentar missas e, talvez, até cultos protestantes na igreja batista,
que já estava instalada por ali.
A população rica reclamou com o bispo e com o prefeito.
Pressionado, o governo estadual, em parceria com o federal, atendeu, retirando toda aquela gente pobre do campo de visão dos cristãos ricos. Foram levados para os campos de trabalho (1915, 1932 e 1933), onde foram submetidos a trabalhos forçados em troca de água e comida e depois deixados lá para morrerem de fome, visto que o governo entendeu que com a volta da chuva, tudo estava resolvido para aquelas pessoas imediatamente.
Até 90 mil pessoas passaram pelos sete campos de concentração do Ceará, Ipu, Fortaleza, Quixeramobim, Crato, Senador Pompeu, Cariús e Buriti.
Os campos ficavam sempre próximos às vias férreas para facilitar a chegada dos flagelados de trem. Eram os "currais do governo", como chamavam.
Em Senador Pompeu, até hoje acontece a "Caminhada das Almas" para homenagear os mortos desses campos de fome do governo brasileiro.
O objetivo do governo era, principalmente, impedir o deslocamento dos retirantes famintos para a capital.
Eram uma espécie de "barreiras sanitárias".
Dali não passavam para não enfeiarem a cidade.
Diferente da Alemanha, no Ceará não havia o objetivo declarado de matá-los.
As mortes aconteceram e foram milhares, embora nunca se tenha feito os registros oficiais dos mortos de fome e de doenças relacionadas à fome.
Quem dava entrada nos campos era impedido de sair.
Saía apenas para os trabalhos forçados e sub-pagos, o que envolvia, inclusive, empresas estrangeiras. Havia uma capela nos campos, ou seja, a igreja católica estava lá.
Ainda não encontrei registros de denúncias católicas ou protestantes sobre o episódio.
Só registros de católicos da capital incomodados com os flagelados "invadindo" as praças da linda Fortaleza.
O Deus das elites "é o Deus dos detalhes", como vivem repetindo.
E vejam que bênção:
Ele segurou, através do governo,
os flagelados pelo caminho.
E por lá mesmo os matou de fome, sede, abandono. "Deus dos detalhes".
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