terça-feira, 9 de maio de 2023

Poema sobre a perdição da alma

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“Qual o proveito do homem conquistar o mundo inteiro se perder a alma"?.
Perder a alma significa perder-se de si, esvaziar-se do ser humano que existe dentro dela, desfigurar a própria identidade, se envenena dos ressentimentos e criar uma identidade nesse mundo de aparência.
É pararmos o processo em que deixamos de nos reconhecer e que leva tempo.
A alma se desnorteia dentro do coração e aos pouquinhos não sabemos responder à pergunta: "quem sou eu"?.
Perder a alma faz com que amigos sejam "coisificados".
As relações se tornam utilitárias e a vida fica sem riso, com o rosto, crispado por paranóia e cheio de rugas desnecessárias.
Perder a alma acontece na cobiça,
no egoísmo, na gabolice e no falar sem pensar, nas sinceridades sem o tempero da graça.
Pessoas doces se tornam acusadores cruéis.
Perdem a alma o que disparam juízos sem considerar quem os ouvirá. 
Para salvar-se é preciso transpor a ponte que separa as verdades livrescas do chão da existência.
A verdade interna das idealizações do ego. 
Não adianta nada evangelizar o mundo, ganhar multidões e ter acesso ao palácio se no processo a alma enruga como um maracujá maduro.
Sobre tudo o que se deve guardar, guardemos o coração pois dele saem as forças que mantém a alma viva.
Por isso eu não quero os holofotes ofuscando a minha vista entorpecendo minhas percepções.
Quero o aconchego,
no cantinho almofadado, na penumbra rústica, em meio aos amigos sinceros.
Não quero o topo do edifício comercial,
com o vento seco e sem odor,
no vazio do concreto.
Quero o abstrato, quero o cheiro de mato, o cheiro de gente, o jeito irrequieto, o tom da alegria, o abraço apertado, o sorriso sem pudor.
Não quero o palco do show artificial do estrelato, quero a vida em toda sua profundidade, quero trilhar o caminho da aprendizagem, o caminho da humildade, quero olhar estupefato 
para a beleza da simplicidade.
Não quero a vazia mansão de luxo,
quero a casa cheia do fluxo de afeto,
de ternura.
Quero a mistura dos tons, a candura dos bons de coração.
Não quero competir na escada do sucesso, quero a roda amiga e generosa, no plano, onde todos encontram guarida, participam, cantam, brincam, compartilham,
celebram a própria vida no cotidiano.
Não quero o planalto da corrupção, quero as montanhas de paz, a brisa da limpa consciência que apraz, o fervor do amor fraternal, quero o sobressalto da indignação, a atitude conjunta em clamor por justiça social,
no Brasil, no mundo.

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