terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

O que é a verdade?.

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Dizem que Pilatos perguntou a Jesus: O que é a verdade?.
Esse tema ronda a mente dos pensadores desde sempre.
A verdade. 
Henry Thoreau, pensador anarquista americano pedia: mais do que amor, do que dinheiro, do que fé, do que fama, do que justiça, dêem-me a verdade. 
Conforme alguns estudiosos, estamos na era da Pós-verdade.
A pós-verdade se caracteriza por moldar a realidade de acordo com a intenção de quem a pública.
Há apelos às emoções do público a que se destina, e sua legitimação acaba decorrendo das motivações pessoais de quem a recebe. 
No filme espanhol (As linhas tortas de Deus), disponível na Netflix,
o jogo do diretor é sobre a verdade.
Duas versões para a situação da protagonista.
Ou ela tem problemas psiquiátricos, ou finge que tem para solucionar um caso dentro da unidade de saúde mental.
Essa decisão fica do começo ao fim nas mãos do espectador.
Você escolhe qual versão quer,
e essa será a sua verdade. 
Com o advento das Fakenews, criou-se um universo paralelo.
Muitos dos que invadiram Brasília o fizeram depois de terem sido embebedados por Fake's.
Havia até quem achava que a posse presidencial havia sido encenação e quem comandava o país era o General Heleno. 
Agora, a versão verdadeira para muitos, inclusive que comentam aqui, é que o quebra-quebra se deu por causa de infiltrados esquerdistas entre os manifestantes. 
É a verdade que querem ver.
Se a pessoa afirma que uma parede verde é azul, o que podemos fazer?.
Ou ele sabe que é, e mente para todos e para si.
Ou ele não discerne as cores.
Ou ele não aprendeu o que é verde.
Essa distorção da realidade é parte da lógica fanatizada.
O fanático só consegue ver o que lhe convém.
Seu time pode perder o jogo de 7x1, ele ainda afirmará que jogou melhor, ou que o árbitro roubou. 
Só há um antídoto contra a "falsa-verdade".
O tempo.
Com o tempo, a ficha cai ou a História mostra. 
Alguns jamais enxergarão,
outros verão mas não assumirão que viveram em mentiras,
outros sempre souberam da verdade mas escolheram a mentira como refúgio.
Não bastam fatos, argumentos,
nem provas científicas,
nada há de convencer quem quer viver a sua própria versão da realidade.
Todos buscamos algo.
A loucura é a maneira mais rápida de conseguir.




segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Poema sobre o inferno existente

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Eu não só acredito que haja inferno como conseguir ver ao longe.
Para mim não se trata daquele lugar que Dante descreveu.
Fogo, pessoas gritando.
Isso é inferno pra inglês ver.
Nem é o Sheol, citado 65 vezes na Bíblia Hebraica (o Antigo Testamento, para os cristãos).
Sheol, que significa "sepultura" e usado com a ideia de "mundo dos mortos".
Também não é a morada de Hades,
o temido deus da mitologia grega, conhecido por ser o deus do submundo e guardião do lugar que recebia as almas dos mortos.
Não se trata também de Geena, palavra tão usada por Jesus para descrever um lugar de sofrimento e que foi incorporada à ideia de inferno eterno.
Geena refere-se ao vale de Hinom, fora das muralhas de Jerusalém.
Este vale era usado como depósito de lixo, onde se lançavam os cadáveres de pessoas que eram consideradas indignas, restos de animais, e toda outra espécie de imundície.
Usava-se enxofre para manter o fogo aceso e queimar o lixo.
Era um "fogo eterno", nunca se apagava.
Os ratos eram tantos, comendo tudo, que era comum ouvir o som de "ranger de dentes".
Quando Jesus diz que as "portas do inferno" não prevalecerão contra a Igreja, há um detalhe que os religiosos não gostam de citar.
É que Jesus e seus discípulos estavam literalmente acima da montanha onde há uma caverna conhecida (até nos dias de hoje!) como "Portão de Hades" ou "Porta do inferno".
Local de culto ao deus Pã, mistura de humano e bode.
É lá que Jesus diz que, quando a igreja (as pessoas ) se reunir em amor e verdade, até mesmo o famoso culto à Pã, na Porta do Inferno, não prevalecerá contra essa investida da Boa Nova Consciência.
Mas já conseguir ver ao longe o inferno chamado Cracolândia.
Já conseguir ver ao longe o inferno chamado jardim Gramacho, o inferno da bruxificação de crianças na Nigéria.
O inferno do campo de refugiados em Rwamwanja.
O inferno do assentamento Daiana em Anápolis.
O inferno em que vive o povo de fome.
Ah, se os de Jesus diminuíssem os congressos, investissem menos em cadeiras almofadadas para seus templos, em cultos de performance e lacrando na internet, esses infernos todos não resistiram à chegada das pessoas do amor compromissado.
Essa nossa indiferença sim é infernal.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Leal á minha consciência

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A caridade é dar um pão para o faminto.
É importante, ele está com fome agora.
Há um problema na caridade: o faminto terá fome amanhã, e depois.
A Justiça Social questiona os sistemas que produzem a fome.
Na nossa sociedade, adoramos quem faz caridade e odiamos quem questiona a injustiça.
A caridade mantém uma legião de esfomeados.
Sim, porque ela é importante para a urgência do indivíduo mas não resolve seu problema a longo prazo.
Se você vive de caridade, será aplaudido.
Separe um lugar na sua parede para os quadros com gente importante.
É um herói.
Se você busca justiça social,
será odiado.
Separe uma cova em um cemitério.
É um militante.
Dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda, indicado muitas vezes ao Nobel da Paz, disse: "Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo.
Quando questiono as causas da pobreza, me chamam de comunista".
Não esperem de mim, nunca, uma caridade divorciada da busca por Justiça Social.
Não quero ser herói, quero ser leal à minha consciência.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Poema sobre o carnaval da vida

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Seja o bloquinho nas ruas com glitter e fantasia, seja o das escolas de samba e seus repiques,
até mesmo o dos que odeiam o Carnaval e se escondem em retiros espirituais.
Tudo passará.
A porta-bandeira enrolará o tecido no mastro e sairá da avenida.
O trio elétrico desligará a caixa de som.
Os retirantes religiosos voltarão a seus afazeres comuns.
A Terça-feira de serpentinas virará quarta-feira de cinzas.
A vida é assim, tudo passa.
Para você que está triste, saiba: passa.
Vai melhorar.
O sol dará sinais sobre as nuvens, amanhecerá.
Basta abrir as janelas para ver a luz invadir o quarto escuro da sua alma e sentir o cheiro de vida, de mato,
de chuva, de terra molhada.
Para você que está alegre, saiba:
a dor virá.
Não há como fugir das circunstâncias da vida que nos entristecem.
Terremotos nos alcançará, perderemos amigos, noites escuras nos deixarão insones, pensamentos confusos nos atormentarão.
Para enfrentar a vida e seus ciclos,
é preciso saber sobre felicidade e sofrimento.
Felicidade é mais que alegria.
É decisão de vida.
É possível ser feliz mesmo estando triste.
A alegria é circunstancial, no Carnaval da vida, nas vitórias, nas festas.
Por confundir alegria e felicidade,
que muita gente sofre quando o Carnaval termina.
Só há um modo de ser feliz: sendo.
É aprender a estar contente em toda e qualquer situação.
Isso é mais do que estar bem,
mas estar em paz.
Contentamento.
Nos piores dias da minha vida, amigos me perguntavam: Você está bem?.
Eu respondia: Nem tudo está bem, mas tudo está em paz. 
Eu decidi ser feliz e estar contente em toda e qualquer situação,
mesmo quando Carnaval tem seu fim.
É possível sentir dor, sem sofrer.
Sofrimento é o sentimento psíquico diante da dor física.
Há quem sofre até mesmo quando a dor já passou.
E segue sofrendo.
Toda dor pode ser por enquanto,
mas o sofrimento pode ser eterno,
se quiser assim.
Encarar a dor e combater o sofrimento é o segredo para uma vida equilibrada.
Que saberá viver os ciclos sem medo, percebendo que tudo passa,
por isso é possível decidir: Sou feliz.
Estou alegre/triste.
Nem tudo está bem, mas tudo está em paz.
Isso é mais que autoajuda.
É ajuda do alto.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Poema sobre o avivamento no Estando Unidos

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Tenho dificuldade de acreditar em avivamentos que nos aprisionem em perímetros  sagrados.
Isso me remete à ocasião em que Jesus se transfigurou diante de três dos discípulos.
Um deles, Pedro, ficou tão emocionado que sugeriu que se fizesse tendas para Jesus, Moisés e Elias.
Se dependesse dele, o “culto” não terminaria tão cedo.
“Bom é estarmos aqui!”, exclamou.
Mas Jesus tinha outro plano.
Havia uma demanda emergencial que precisava ser atendida e não era justo manter seus discípulos daquele êxtase espiritual, por mais significativo que fosse. 
Enquanto os três curtiam aquele momento único de manifestação da glória de Cristo, lá embaixo os demais discípulos se viam impotentes para atender a um pai cujo filho sofria de uma possessão. Desconfio de toda espiritualidade que nos aliene da realidade, por mais sincera que seja.
O culto não precisa terminar no último amém.
Pelo contrário, deve continuar no chão da vida, servindo aos nossos semelhantes, àqueles nos quais Deus escolheu ser amando.
Quanto ao que está acontecendo numa capela de uma universidade americana, já vi este filme antes.
Não creio nos avivamentos em grandes estádios, com jovens levantando tênis para consagrar os pés e os passos.
Nem aqueles que acontecem nos templos, para encher os templos de iguais.
Só creio no avivamento dos quartos. Do silêncio.
Do secreto.
Não vi nenhum fruto dos avivamentos em estádios no Brasil.
Continuamos um país de maioria cristã, que derruba terreiros,
violento, que mais mata pessoas no mundo, corrupto, machista.
Mas já vi o avivamento que aconteceu na vida do Albert,
que podendo ser o mais poderoso pastor do país, vai estudar medicina para servir aos mais pobres dos pobres na África esquecida.
Já vi avivamento na vida da Irmã Teresa, que podendo guardar o coração, o rasga e entrega seu serviço aos doentes terminais até o fim da sua vida.
Já vi o avivamento do Henry, que abre mão de ser o professor mais influente da Universidade para morar e cuidar com pessoas com deficiência.
O avivamento na vida de tantos que tocados pelo Espírito sem alarde religioso, abrem mão do conforto e cantorias para se tornar canção.
Que não se contenta em orar, mas se transforma na oração respondida de alguém.
Que não se limita a pregar, vira pregação.
Carta viva do amor de Deus.
Avivamento que não culmina em serviço ao próximo, que não altera o mundo pelo bem feito aos corações, que não produz Nova e Boa Consciência, é só arrepio e surto coletivo.
Se for para "a-vivar", ou seja, "dar vida", os frutos precisam ser "na vida", especialmente daqueles que não têm vida, por causa dos sistemas de opressão dos quais a religião seja, talvez, o principal. 
Não é ficar horas, dias trancados orando, como as pessoas de Asbury e achar isso bonito.
Bonito é ir pra vida!.
Viver e dar vida!.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Poema sobre a cultura cristã

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Com o advento das redes sociais,
nós avançamos quilômetros em conteúdo com centímetros de relevância.
Há canais para todos os gostos, podcasts de todas os gostos, influencers para todas as influências, mas o conteúdo é fraco.
Foi assim também com a música cristã brasileira.
Os artistas migraram da clandestinidade para o mercado Gospel.
Ganharam qualidade musical e expressão, mas perderam as letras.
Há entretenimento no mercado especial para cristãos.
A palavra Gospel virou sinônimo de um mercado específico para o público.
Se alguém falar em jiló Gospel,
já saberemos que ele foi plantado na fazenda da religião para o consumo de cristãos.
Essa foi uma sacada do mercado.
Criou-se uma cultura cristã, de canais de televisão à marca de roupas,
de programas de entretenimento aos festivais de música que lotam estádios.
Para que venda, o mercado não propõe doutrina, não questiona tabus, não encara injustiças.
As canções e literaturas falam de temas gerais.
Fundamentalistas ultraconservadores a liberais progressistas consomem o mesmo produto e hoje o mercado gospel fatura bilhões, de modo que fez surgir uma cultura cristã sem compromisso ético com o Evangelho.
Somos mais consumidores de conteúdo cristão do que frequentadores de igrejas cristãs, algumas que também viraram produto de consumo.
A cultura cristã suprimiu o Evangelho, de modo que hoje no Brasil muitos se declaram cristãos desconhecendo as causas do Cristo.
Nossa boca está cheia de Deus,
mas não o nosso coração.
Falamos de Jesus o dia inteiro como se fora uma palavra mágica que nos protege de nossas neuroses religiosas.
Nosso cristianismo cultural nos impede de ver a tragédia Yanomami.
Não nos deixa perceber a discrepância de entrar num culto desviando de famintos desmaiados nas portas dos templos.
Nos torna incapazes de associar que se os discípulos de Jesus eram para serem luzeiros do mundo,
como pode então, um país majoritariamente cristão como o nosso ser campeão de assassinato de pessoas trans, racista por excelência e figurar na lista dos mais corruptos e violentos?.
Há algo de muito errado com a nossa fé.
Para nós cristãos
não basta ter fé em Jesus.
É preciso ter a fé de Jesus.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Lestai

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O estado assassinou Jesus de Nazaré entre dois "ladrões".
Os "bandidos" eram parte de uma organização que intentava contra a dominação romana.
Quando pensamos nos "ladrões da cruz", termo que ficou adocicado na tradução ao português, imaginamos ladrões de galinha,
gente que desviava uns dízimos.
Os "ladrões" eram rebeldes organizados. 
Eles eram assassinos de religiosos do alto clero e de políticos do alto escalão.
Não é exagero compará-los aos terroristas que vemos na TV.
Jesus foi julgado e condenado à pena de morte.
Encaminhado ao estado pelos religiosos, foi julgado como rebelde, alguém que intentava contra Roma.
Ele era um líder que se anunciava como Messias e anunciava um Outro Mundo Possível.
Disse que o Templo dos judeus iria cair.
Diz que tem um Reino.
Os reis desse mundo temem quem diz que tem um outro Reino.
Outro Reino consiste em outro rei, indiretamente é uma declaração de guerra ao poder vigente.
Depois de causar em Jerusalém, satirizando a entrada triunfal dos reis romanos bem nos dias da festa dos judeus em que a cidade estava abarrotada de gente e invadir armado de azorrague o templo para descer o chicote no mercado que dava lucro aos sacerdotes, Jesus se retira sabendo que vai azedar.
Pouco depois, ele é preso no Jardim do Getsêmani, local reservado de oração.
Os soldados chegam.
Seus discípulos entram em confronto armado.
Pedro que não era espadachim,
mas pescador, tenta arrancar a cabeça do soldado.
Ele erra e fere a orelha.
Jesus é espancado pela polícia do estado, julgado pelos religiosos de Israel e condenado pelo Império de Roma como... lestai.
"Bandido bom é bandido morto", sentenciam.
Na Via Crucis, o Caminho da Cruz,
ele é torturado, como era comum aos presos políticos.
Exposto para todo o povo,
um jeito romano de amedrontar novos messias, carrega sua madeira, enquanto apanha.
Ele será posto à cruz.
Se você é defensor da moral e dos bons costumes, deveria ficar chocado com a informação de que Jesus diz ao lestai da cruz ao lado: "hoje mesmo estarás comigo no paraíso".
Para Jesus, bandido bom é bandido salvo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Terremoto na Síria

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Há outros terremotos por trás desses terremotos.
Há outros abalos sísmicos por trás desses abalos sísmicos.
Há outros epicentros das desgraças e dos infortúnios humanos.
Contra a Síria, por exemplo,
há outros terremotos.
Há gente que, chorando e fazendo chorar, continua impondo sanções ao povo sírio, que não tem podido receber ajuda humanitária sequer contra o frio que castiga os desabrigados.
As imagens do tráfego aéreo retrata o desprezo do mundo ocidental e lacrimoso por esse país de planícies férteis na Ásia Ocidental: não há voos sobre a Síria.
O céu de Aleppo está limpo e com previsão de mais fortes pancadas de indiferença e abandono.
Quem mandou a Síria ser anti-Israel?.
Quem mandou, até a eclosão da guerra, a Síria ter acolhido mais de 500 mil palestinos?.
Por outro lado, para as potências ocidentais e para os países do Golfo Pérsico, atacar a Síria pareceu melhor e mais eficaz que atacar diretamente o Irã.
Aí vem o terremoto.
Mas o terremoto é complicado porque atinge não apenas o lado de cá, mas também o lado de lá,
a Turquia, aliada da mais longeva ditadura dos últimos cem anos,
a Arábia Saudita, aliada de primeira hora dos EUA. 
Onde foram parar os 4,6 bilhões de dólares arrecadados pela “taxa terremoto” na Turquia desde 1999 para emergências como essa?.
Essa imagem, que eu mesmo assistir, ao vivo, agora há pouco é um flagrante!.
Não há tráfego aéreo sobre a Síria.
É a imagem do esquecimento.
O mundo, que tem mais o que fazer, anda muito entretido com balões e óvnis.
Há outros abalos sísmicos para aquém e para além desses abalos sísmicos.
E foi nesse mundo, que como um ébrio se equilibra entre as placas tectônicas do repitiliano e do límbico, que esse anjinho da foto resgatado dos escombros dessa e de todas outras tantas tragédias humanas resolveu nascer.

domingo, 12 de fevereiro de 2023

O próximo dos oprimidos

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O próprio Jesus não lia o Antigo Testamento com literalidade.
Lucas 10:26. Inquirido por um religioso que estudava a Bíblia hebraica sobre como “herdar a vida eterna”, Jesus responde:
“O que está escrito na lei?.
COMO INTERPRETAS?”.
Não basta saber o que está escrito,
é preciso identificar a forma como a leitura é feita, qual é a abordagem e o processo interpretativo.
Só essa pressuposição já derruba a barreira do “está escrito” como argumento de autoridade.
Em nome do “está escrito”,
muitos textos são retirados do seu contexto e utilizados como pretexto para o controle de comportamentos e reprodução de diversos mecanismos de opressão.
“O literalismo bíblico tem cheiro de violência”.
Na sequência do diálogo com o Doutor da lei, Jesus elogia a “interpretação” que aquele homem faz do texto.
Mas o Doutor da Lei quer saber agora “quem é digno do seu amor”.
Então Jesus conta uma parábola.
Parábolas são histórias, é aquilo que o mineiro chama de “causo”.
Um causo não é a realidade,
mas aponta para a realidade.
E na história que Jesus conta,
ele desmonta a regra de fé e prática religiosa.
No causo de Jesus, um homem foi assaltado e espancado.
Então passa um sacerdote (um religioso do templo) “longe” do ferido.
Na sequência Jesus diz que passa um levita (auxiliar do serviço religioso no templo) “longe” também.
Então Jesus diz que aparece um samaritano, considerado pária a um judeu.
Talvez aí, o Doutor da Lei estivesse pensando. “Se dois judeus passaram ‘longe’, o samaritano vai terminar de matar o homem”.
Então Jesus diz que o samaritano “se aproxima” do ferido.
A pergunta do religioso foi: “Quem é o MEU próximo?”.
A resposta de Jesus foi “O Samaritano se fez próximo”.
Para Jesus, quem tem de se aproximar é quem formou a consciência do amor.
Não adianta saber a Bíblia e apontar textos prontos sem vivenciá-la.
Por isso, Jesus conclui para o religioso que citava textos:
Vai, tu, e fazes o mesmo.
Ou seja: imita o pagão da história. 
Porque, para Jesus, de nada vale acertar na interpretação do texto e ter uma “fé correta”  de acordo com "manual de fé e prática" e errar na interpretação da vida, sem se tornar o “próximo” dos oprimidos.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Jesus é o Deus em Jesus

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Em Jesus, Deus tira o fardamento de soldado e veste carne humana.
Ora, se concordamos com Paulo que escreveu que "Deus estava em Cristo" e com o próprio Jesus que afirmava "quem me vê, vê o Pai".
O Deus "de" Jesus é o Deus "em" Jesus.
Assim sendo, quando Jesus toca,
é Deus quem toca.
Quando Ele chora, é Deus chorando.
Quando Ele sofre, é Deus sofrendo.
E quando Ele é morto?.
É Deus assassinado.
Isso vira uma confusão para alguns teólogos que não conseguem explicar a morte de Deus no corpo de um judeu de pele escura pendurado à cruz do meio numa trama dos religiosos da Judéia com os políticos de Roma.
Porque fica confuso?.
Ora, porque aí o triunfalismo vai pelo ralo.
A religião precisa se apropriar de um Deus forte, bravo, vingador e que triunfa sobre tudo e todos para sustentar a lógica de poder e sistemas de opressão.
Se Deus passa a ser bom, perdoador, amoroso e que morre numa cruz, atrapalha.
Como usá-lo em nosso intento de poder e dominação?.
É só dar uma volta pelas páginas do Primeiro Testamento.
Ali Deus não morre de jeito nenhum, só mata.
E mata de muitas formas e por diversos motivos.
Deus é ali bem à imagem e semelhança de quem o descreve.
Israel é invadida e a elite de Jerusalém é levada cativa para a Babilônia.
Essa elite é a que providenciará escribas para produzir textos do Primeiro Testamento.
Eles estão com sede de vingança,
de modo que isso reflete na teologia e no texto que produzem: Ah! filha de Babilônia, que vais ser assolada;
feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós.
Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras." (Sl 137:8-9).
A religião cristã brasileira gosta do Primeiro Testamento por isso,
ele é violento.
Bem-aventurado (feliz) é quem pega as crianças da antiga Babilônia (hoje Iraque) e as esmaga contra as pedras.
Olha o contraste: Bem-aventurado (feliz) os pobres, os que choram,
os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos,
os limpos de coração,
os pacificadores, os que sofrem perseguição por causa da justiça,
os que sofrem injúrias e perseguição (Mt 5).
Esse é o Sermão da Montanha de Jesus.
Em Jesus, Deus aceita perder.
O Amor é assim.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Poema sobre o sentimento faccioso

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O que seria o tal "sentimento faccioso"?.
Seria semelhante à avareza.
A diferença é que o avarento não gosta de compartilhar coisas, enquanto que o indivíduo faccioso não gosta de compartilhar pessoas.
Para ele, quem for seu amigo não pode ser amigo de mais ninguém.
Está sempre exigindo uma tomada de posição daqueles que estão à sua volta.
Ou é amigo "meu", ou "dele".
Ele exige uma lealdade desmedida,
e fica inciumado e frustrado por não ser correspondido à altura de suas expectativas.
Seus presentes e gestos caridosos são sempre com a intenção de "comprar" a lealdade das pessoas. Quem não corresponde é logo taxado de traidor, desleal.
Paulo orienta: "Ao homem faccioso, depois da primeira e segunda admoestação, evita-o".
E sabe porquê deve-se evitá-lo?.
Porque o espírito faccioso é contagioso e danoso à saúde emocional e espiritual.
Ademais, é a única maneira de restaurá-lo.
O próprio Paulo nos oferece um exemplo do que é ser o inverso disso.
Veja o que ele diz a Tito, um dos seus pupilos:
"Quando te enviar Ártemas, ou Tíquico, procura vir ter comigo a Nicópolis, porque resolvi passar o inverno ali.
Faze tudo o que puderes para ajudar a Zenas, doutor na Lei,
e a Apolo, para que nada lhe falte" (vv.12-13).
Paulo poderia se sentir ameaçado com a proximidade de Apolo,
mas em vez disso, pede que Tito o ajude em tudo.
Não havia porque se sentir enciumado, exigindo ser o centro das atenções.
Quem se considera um cidadão do Reino, deve aprender a compartilhar seus amigos e irmãos,
sem exigir exclusividade.

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