quinta-feira, 15 de abril de 2021

Resenha do filme; 1917

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Desde o início, quando a paz de um campo aberto e silencioso que parece remeter a Árvore da Vida ou até mesmo ao Além da Linha Vermelha, lentamente dá espaço para a intromissão humana.
Os Cabos Blake e Schofield são apresentados ali mesmo, sonolentos. Eles despertam junto à mudança de direção da câmera, que passa a segui-los sem interrupções aparentes.
A partir de então, a estrutura pensada atua a favor de um todo muito coeso, fechado em si mesmo.
Dessa maneira, passa a ser praticamente impossível pensar o filme de outra forma.
Não que exista algum tipo de prioridade dada à técnica em detrimento da história. A questão é que todo o esqueleto do que se passa está erguido sobre as bases de um método de decupagem irrepreensível e funcional aqui.
Por exemplo: por mais que a inesperada Virtude da Ignorância, tenha o teatro como pano de fundo e esta arte representativa não dê direito a cortes como o cinema, seu formato em plano-sequência é pura demonstração de habilidade, o que pode, infelizmente, contaminar a experiência frente ao excelente roteiro.
Da árvore do silêncio pende seu fruto que se chama de: paz.
A maior conquista de 1917, é justamente, renunciar a um roteiro complexo para dar espaço a um exercício imersivo.
Há, no filme em questão, uma vontade de viver e sobreviver nessa ordem ou não que permanece sempre acima de tudo o que está ao redor.
As vacas mortas propositalmente pelas tropas inimigas são as mesmas que deram o leite que haveria de alimentar uma bebê.
Aliás, da mesma forma que uma jovem francesa não tinha noção alguma sobre uma criança e mesmo assim seu instinto passou a ser o de cuidar, os irmãos de farda não negaram auxílio a um colega desconhecido o trecho em que, com o caminhão atolado, percebem o desespero nas ações de Schofield é revelador sobre tudo isso.
A urgência de um mundo em paz
1917, nesse sentido, é quase uma desconstrução.
É, de fato, um filme de guerra, mas acaba por fugir dela a todo instante.
A intenção, desde o início, parece ser sustentar os horrores do combate como um fantasma, uma assombração que pode atacar a qualquer momento como Blake é atacado sem que seja mostrada a situação inicial.
A esse ponto, com a intenção de entregar uma carta para evitar a morte de 1.600 homens, Schofield acaba por carregar também a função particular de dar uma notícia indesejada ao Tenente Blake.
No entanto, a melhor notícia fica registrado no fim do conflito.
Porém não é a vitória; não é uma conquista; não é mais uma dezena de mortes; não é sofrimentos psíquicos, sofrimentos alheios ou sofrimentos morais.
Por mais que outros filmes tenham demonstrado a boa sensação de fim-de-guerra,
1917 consegue carregar, em seus dois falsos planos-sequências e durante quase duas horas, a urgência de um mundo em paz, a perseguição pelo fim das guerras mundiais e cívicas.
E quem finda em quietude é o cansado de Schofield, que cumpre a sua função e, finalmente, colhe da árvore do silêncio do seu próprio e merecido silêncio.

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