sábado, 17 de abril de 2021

Um contra-exemplo

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Cada vez mais pessoas estão preocupadas consigo mesmas.
Cada vez mais pessoas estão cuidando de si de uma forma tão dedicada que se poderia supor que estão a construir algo de verdadeiramente belo e forte.
No entanto, os resultados são normalmente fracos e frágeis.
Essas pessoas são manipulaveis, pois se deixam cair por uma simples brisa.
Elas colhem o EU como a um deus, mas são facilmente derrubados pela mínima contrariedade.
Elas estão preocupadas com moda, mesmo que a sociedade esteja a tornar-se cada vez mais uniforme.
Elas estão a tornar-se cada vez piores, não estão tendo tempo nem espaço para um cuidado mais fundo com a nossa essência.
São poucos os que hoje têm amigos verdadeiros com quem aprendem,
a quem se dão e de quem recebem valores essenciais.
Pessoas estão com medo da solidão, estão a conhecer gente, cada vez mais gente.
Estão a buscar uma quantidade de amizades mais do que a qualidade das mesmas.
Pessoas sempre preferem  partir em busca do novo, escolhem abandonar aqueles com quem estava.
Esquecem aquelas que um dia lhe extendeu as mãos.
O progresso das redes virtuais é hoje um sintoma, um resultado, do mal estar de quem se sente só, de quem busca o encontro com o outro,
mas não quer ir até à sua presença;
de quem busca palavras de apoio,
mas não está disposto a abrir-lhes o seu coração e a escutá-las intimamente. Perdem-se horas, dias e anos assim, perdem sonos bons por ficar enfrente a computadores, perdem diálogos e confortos que um abraço pode proporcionar.
Se precisam tanto do outro, porque se deixam ficar atrás do teclado?.
Longe do braço e do abraço do amor do outro?.
Porque lhe falta a ligação vital ao outro, e sobra ligações virtuais, essa pobreza que nos faz ricos através do sorriso do outro.
A sociedade está progressivamente mais pobre, com gente que, ao invés de ter uma interioridade autónoma capaz de sonhar e de lutar por um caminho seu, tem por alma uma mera caixa de reação aos contextos, previsível, estável.
É uma exceção, uma regra, uma declaração universal á afirmar que todas as pessoas precisam amar.
Só uma revolução das vontades fundas, uma tomada do poder individual das dimensões mais livres e criativas do homem, poderá inverter esta tendência de degradação essencial da alma humana.
Não podemos continuar formando nossos próprios demônios e criando o nosso próprio inferno.
É preciso volta para a nossa dimensão.
Pois ninguém pode sequer sonhar de forma verdadeira se não tem com quem partilhar os seus desejos íntimos. Ninguém chegará sequer perto da felicidade se não viver abraçado a alguém. 
É urgente cuidar da dimensão mais funda da nossa existência, fazendo prevalecer o amor sobre todas as vaidades, entregarmo-nos bondosamente ao outro, iluminando as trevas com o Amor que é a luz do mundo.

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