sexta-feira, 31 de julho de 2020

Poema sobre a multidão

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A multidão que se chama parlamento nunca se sente tão feliz quando pode calar com gritos aquele que tem grande eloquência, aquele que fala muito bem ao ponto de derrubar um ministro.
A multidão que se chama comício agita-se e exalta-se,
mal um grito a incita a bradar abaixo sob as janelas de um inimigo ou a reclamar a cabeça de um indivíduo odiado ou ainda a queimar qualquer símbolo do poder, quer se trate de um panfleto que descreve texto curto, violento e sensacionalista que queira um palácio de justiça.
A multidão reunida num teatro que dá pelo nome de público pode aplaudir uma peça nova, mas, quando estimulada,
não hesita, não expressa dúvida em condenar e precipitar à força de vozes aguda, gritos de dor contínuo e assobios quem supunha tê-lo conquistado e ser-lhe, pelo engenho, superior.
No fundo, toda a multidão é um público, que não quer dispersar sem ter assistido a um espectáculo.
No entanto, selvagem como é, prefere os espectáculos trágicos; sente o circo dos gladiadores, prefere aqueles que se envolve numa briga ou controvérsia pública, ou em torneio, mais do que a fábula pastoral.
Quando se animaliza, quer sangue pelo menos, vê-lo, quer guerra quase todos os santos dias.
Estar entre muitas greves a sensação de força, ou seja, da prepotência e,
ao mesmo tempo, a certeza da irresponsabilidade e da absolvição.


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