sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Marielle franco

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Esta é a lei que suspira o inimigo para se reorganizar.
Para repensar ou rever o que ele poderá cometer dessa vez.
Pois, algumas horas ouvi o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança,
no terceiro me deixa atento,
no quarto irrequieto,
o quinto e o sexto me cobrem de desonrar,
o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de aversão,
no nono e no décimo minha boca está receosa,
no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus,
no décimo segundo eu ligo a televisão.
O décimo terceiro tiro me assassina,
porque eu sou a outra.
Porque eu quero ser a outra.
Eu quero ser Marielle Franco,que francamente morreu por dizer exatamente o que pensa, ou que é verdadeiro no tratamento dispensado a outrem.
Morreu sem justiça que vela o seu sono, repudiada, humilhada por precisar dela.
Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos por sermos os sonsos essenciais.
Tudo o que nela foi violência é em nós furtivo, e um evita o olhar do outro para não corrermos o risco de nos entendermos para que a casa não estre­meça.
Tudo isso, sim, pois somos os sonsos essenciais, baluartes de alguma coisa.
E sobretudo procurar não entender.
Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos,
e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso,
ele está cometendo o seu crime particular,
um longamente guardado.
Na hora de matar um inocente,
nesse instante está sendo solto um criminoso.
Entretanto, o que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero a justiça.

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