sexta-feira, 30 de junho de 2023

Ser feliz

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Felizes os que não se rendem à tirania da felicidade; antes,
aprendem a acolher os variados sentimentos que passam pelo próprio interior e lembram que a alegria e a tristeza podem coabitar o mesmo coração.
Felizes os que não se rendem à tirania do sucesso; antes,
olham as vitórias com um coração menos conquistador e mais grato, as derrotas como parte da vida e o cotidiano como ambiente de caminhada e aprendizado.
Felizes os que não se rendem à tirania da beleza; antes,
vão aprendendo que a alegria do coração embeleza a vida,
não só na aparência, mas sobretudo na essência.
Felizes os que não se rendem à tirania de outros, mesmo que exercida em nome de Deus que não tiraniza ninguém; antes vivem sua liberdade com responsabilidade.
Felizes os que não se rendem à tirania das religiosidades,
nem às suas performances e à piedade perversa que ela é capaz de produzir; antes, percebem o sagrado no simples, nos pequenos gestos,
no dia a dia e nos relacionamentos pessoais.


quinta-feira, 29 de junho de 2023

Vilipendiado

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Jesus foi torturado pelo Império Romano, murros, pontapés e açoites, uma sequência de golpes capaz de prostrar qualquer um.
Depois foi pregado no madeiro, traspassado por pregos e por uma lança, foi dilacerado e se esvaziou em sangue.
Após a ressurreição, todavia, seu Corpo Físico foi restaurado e para nós,
que fazemos parte da igreja, o que conta agora é o seu Corpo Espiritual,
do qual nos fala Paulo.
Segundo o apóstolo, somos todos membros deste Corpo e ele é a Cabeça, uma vez ajustados a essa verdade, crescemos para Deus.
O que vemos na prática, contudo, contraria essa realidade, pois Jesus continua sendo vilipendiado desde a sua morte por cobiça, desejo de poder, riqueza e hierarquia até os nossos dias, seu Corpo vem sendo esquartejado por sucessivas divisões, cada novo grupo de cristãos que surge reivindica ser o “dono do Corpo”, cada nova denominação leva um pedaço,
uma mão, um pé, a perna, parte do tronco, é um suplício que não finda. 
Fosse isto pouco, além de ser contrário ao espírito daquilo que ele ensinou
“para que todos sejam um, Pai, como Tu estás em mim e Eu em Ti.
Que eles também estejam em nós,
para que o mundo creia que Tu me enviaste”.


terça-feira, 27 de junho de 2023

A verdade

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Tenho observado, e cada vez mais, como as pessoas precisam criar mundos paralelos para sobreviver ao pragmatismo da vida real.
O tempo no qual existimos é cruel,
não temos mais a barbárie do mundo antigo, a arena de nossos dias são as redes sociais, lá você pode ser ovacionado ou jogado às feras,
entre uma coisa e outra, apenas a circunstância, o herói de hoje pode ser o vilão de amanhã, as pessoas perderam suas narrativas, valem pelo fato que protagonizam, para o bem e para o mal, por isso tantos estão vitimados pelo medo mórbido de se achar sozinho.
Vivemos atravessados pela violência, por um mercado de trabalho injusto, preconceito, racismo, pela ideologização política, pela fome,
são tantos os problemas da sociedade contemporânea que um livro não os caberia.
Ouço regularmente pessoas; lido com suas frustrações e medos, percebo suas "rotas de fuga”, observo como são capazes de desviar da verdade,
como se viciaram no escapismo, criando na mente “mundos” que não existem e a partir disso vão afundando cada vez mais, o “fake” vira “fato”, a pessoa adentra no baile de mascarados.
Jesus lidou com esse drama no seu trato com os judeus.
Aquela gente vivia o modelo mais perverso de espiritualidade, escondiam-se da verdade e da justiça, deliravam entre liturgias ocas e ritos de ocasião, criaram para si uma divindade que só existia em sua própria devoção. “... Mas, ao contrário, agora procurais matar a mim, um homem que vos tem declarado a verdade...”.
Ao chamar aquelas pessoas ao confronto honesto, de tal forma que pudessem se enxergar e, assim, ver a luz de Deus, despertou todo tipo de sentimento homicida e de vingança.
A religião, como ópio que é, não produz outra coisa a não ser monstros que amam odiar, eles se escondem por detrás de comportamentos estéticos, mas vivem em mundos sombrios, fogem de toda luz que possa mostrar-lhes quem eles, de fato, são.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Edificação

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Jesus disse que as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja.
A palavra de Jesus é firme e segura.
Nem forças infernais impedirão que a igreja cumpra sua missão de levar e viver a mensagem de amor e reconciliação da qual ela é portadora o evangelho.
Essa é uma garantia que o Senhor da igreja dá aos seus discípulos ao responder à afirmação de Simão Pedro de que ele, Jesus de Nazaré, é o Cristo Messias, o Filho do Deus vivo.
E é sobre a verdade dessa afirmação de Pedro que Jesus edifica sua igreja.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Se de um lado tal afirmação nos dá esperança e propósito, de outro lado, meu sentimento, hoje, é de tristeza pelo que tenho visto e ouvido nesses dias.
Parece-me que, em alguns ambientes, são as portas da igreja que não estão prevalecendo contra o discurso político-partidário.
Aliás, discurso cada vez mais radicalizado e teologicamente insustentável.
De certa forma, não é um fenômeno novo.
Tem sido assim desde a campanha eleitoral de 1989, quando religiosos impunham as mãos sobre um determinado candidato.
No entanto, nesses dias, perdeu-se qualquer discrição, cautela ou juízo sobre a forma de fazer isso.
As portas de algumas igrejas e denominações religiosas foram arrombadas pela truculência da ideologia, do fundamentalismo,
do nacionalismo, do armamentismo e do fanatismo.
Essa é uma ferida que levará muito tempo para ser curada, e uma triste e desnecessária cicatriz que ficará marcada na história da igreja, no Brasil.
E inúmeros são os feridos desse delírio coletivo.
Que nos arrependamos e lembremos que à igreja cabe anunciar e viver o evangelho de Jesus Cristo, que fala de redenção, de justiça, de paz, de respeito à vida, de perdão, de reconciliação,
de fraternidade e, sobretudo, de amor.

sábado, 24 de junho de 2023

Cabresto

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Cabresto é um objeto que se coloca no cavalo para conduzir a cavalgadura como montaria.
Simbolicamente, cabresto refere-se a qualquer coisa que controla,
subjuga, reprime, geralmente de maneira arbitrária.
Muitas das vezes o cavalo não tem o cabresto, o cabresto tem o cavalo.
Isso ilustra com bastante força os condicionamentos, as fantasias ou os “fantasmas”, as forças internalizadas que muitas vezes se tornam um aprisionamento.
Pior do que ter um cabresto é acreditar em cabrestos que, objetivamente,
não existem.
Esses são, por vezes, tão difíceis de serem retirados, pois estão tão entranhados no ser.
É verdade que, para alguns e em algumas circunstâncias, a manutenção desses cabrestos internos dê uma sensação de segurança.
No entanto, três perguntas que proponho aqui:
Tem-se a consciência dos próprios cabrestos?.
O quanto eles estão prejudicando a pessoa de ser quem ela é, de ser a si mesma?.
A experiência saudável da liberdade tem sofrido privação por esses cabrestos?.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Visitas ao passado

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Era para ser uma viagem glamourosa e exótica.
Mas acabou em tragédia.
Depois que a Guarda Costeira Americana confirmou ter achado destroços do submersível no oceano Atlântico, acabaram-se as esperanças. Tristemente, os 5 ocupantes que faziam a viagem, entre eles um dos maiores especialistas na tragédia do Titanic, morreram.
Diante da repercussão mundial do ocorrido, fiquei pensando sobre visitas ao passado.
Há possibilidades de remexermos naquilo que se passou sem alterar o presente, seja para o bem, seja para o mal?.
Escavar o passado é coisa a ser feita com cautela, uma vez que tal ação pode suscitar lembranças e reacender memórias lindas, mas também despertar do sono profundo agonias e desespero sem fim, inclusive, com repercussões para os dias atuais.
Existe pessoas que adoeceu por fazer tais viagens ao fundo do mar da alma em busca de destroços e despojos.
Em muitos casos o retorno a realidade é sempre penoso, o sujeito cai na armadilha de tornar-se viciado na ansiedade crônica, que estabelece o paradigma de nunca vivermos o hoje,
o agora, por mais difícil que ele nos pareça.
Nesta perspectiva, ficar preso entre o ontem e o amanhã é como viver asfixiado diante do mar, sofre-se pelo que não foi e anseia-se pelo que ainda não pode ser.
Temos que aproveitar o dia intensamente a hora que já é,
ainda que ela nos pareça paradoxal,
nos faça sentir que somos o agora e o ainda não.
Jesus falou sobre esse tipo de viver quando afirmou: “basta para cada dia seu próprio mal”.
Dentro do contexto, tratava da ansiedade humana, desta ânsia do existir.
Em sua sabedoria divina, ensinou que no findar do dia devemos permitir ser habitados por um sentimento de gratidão pela vida, o que passou, passou, ficou na cinza das horas,
pois amanhã, será um lindo dia, da mais louca alegria, que se possa imaginar. Amanhã, apesar de hoje, será a estrada que surge, pra se trilhar.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Só nos resta aprender

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Menos alianças com poderosos,
mais cuidado dos desamparados.
Menos formalismos,
mais gestos de generosidade e amor.
Menos confissões religiosas,
mais reconciliações.
Menos pedidos de graças,
mais ações de graças.
Menos crenças infantilizantes,
mais fé madura.
Menos midiatização,
mais relacionamentos.
Menos imaturidade,
mais responsabilidade.
Menos condenação,
mais convivência.
Menos fundamentalismo,
mais diálogo.
Menos doutrinação,
mais discipulado.
Menos regras,
mais escolhas de vida.
Menos moralismo,
mais humanidade.
Menos falacias,
mais proclamação.
Menos aparência,
mais essência.
Menos estruturas,
mais pessoas.
Menos prédios,
mais ambientes.
Menos religião,
mais evangelho.
Menos correria,
mais presença.
Menos cursos,
mais percursos.
Menos medo,
mais esperança.
Menos eu,
mais nós.
Antes Cristo do que eu.
Refletir na palavra até refletir a palavra.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Amar sem saber que se ama

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Amar é o Encontro na sua melhor expressão.
O encontro de duas presenças sem intermediações de porquês e para quês.
Amor é quando a presença é mais presença; quando os corpos estão expostos um diante do outro,
a ponto de se tocarem, afetarem, amarem, compadecerem, acolherem.
Amar é da cultura de presença.
Quem ama, ama sem sentido e significações.
Ama porque ama, por desejo de presença, pelo apelo do outro.
Quem ama não ama porque é obrigado, obedecendo a um Deus, livro ou lei.
Expressões como amar o próximo em Deus, por Deus, são expressões enganadoras e equívocas.
Aquele que dá o pão a um infeliz esfomeado por amor de Deus não será agradecido por Cristo.
Já teve o seu salário nesse único pensamento.
Cristo agradece àqueles que não sabiam a quem davam de comer.
A chance do encontro com Deus é por essa via do amor generoso, sem sentido e significações, sem porquês e para quês.
Jesus conta uma história fictícia que usa o recurso de falar dos fins dos tempos, onde um rei recebe as pessoas dizendo “vinde, benditos do meu pai, porque estive com fome e me deram de comer, estive com sede e me deram de beber, estive nu e vocês me vestiram,
estive preso e foram me visitar...”.
Então essas pessoas perguntam admiradas 'quando isso aconteceu?”.
Ao que responde o rei “todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos meus pequeninos era a mim que faziam”.
Para conhecermos a Deus precisamos de um saber que é um não saber, é amar.
As pessoas da história que Jesus contou nem sabiam que sabiam; nem sabiam que Jesus estava presente nos carentes; eles conheceram a Deus pela via do amor e nem sabiam.
Provaram Deus sem se dar conta.
“Deus estava lá e eu nem sabia;
eu nem cataloguei, eu nem dei um sentido; Deus estava lá e eu nem conhecia!”.
É que conhecer a Deus é assim, pela via do amor e não de uma verdade, dogma, doutrina.
Conhecer a Deus não é um saber de Deus, mas amar.
É assim que leio 1 João “quem ama é nascido de Deus e conhece a Deus, pois Deus é amor”.
Conhecer a Deus é um saber que vai além da produção de sentido,
do exercício do pensamento cartesiano; um saber que é pela via de toda e qualquer maneira de amar; que é pura presença, corpo, nervo e carne.
Conhecer a Deus é um saber que é um não saber.
Conhecer a Deus é mais que um saber; conhecer a Deus é um sabor. 
comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Amar o próximo é saber de Deus!.
Antes eu te conhecia de ouvir falar,
mas agora te conheço porque caminho ao seu lado.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Poema sobre o mundo

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Embora eu já tenha falado muito sobre o que seja o conceito de mundo no Evangelho, muita gente continua a perguntar o que é o mundo?.
O mundo é tudo o que Deus não fez
e que, tendo sido criado pelo homem, exista em antagonismo à vontade de Deus.
O mundo não é feito de coisas concretas, mas de conceitos,
valores e idéias, os quais se materializam em coisas, embora as coisas não sejam o mundo;
pois o mundo é feito das idéias que se fazem simbolizar ou valorar nas coisas.
O mundo também é feito das distorções dos sentimentos.
O mundo é puro sentimento perverso.
O mundo é a insegurança que encolhe a pessoa ou que a faz partir para a guerra.
O mundo é cobiça.
O mundo é vaidade.
O mundo é trama e desconfiança.
O mundo é ilusão de importância sobre os demais.
O mundo é poder do homem sobre tudo.
O mundo é mentira e desfaçatez.
O mundo é medo que faz matar ou morrer.
O mundo é superabundância para uns e fome para o vizinho.
O mundo é instante.
O mundo é culto aos sentidos.
O mundo é culto ao prazer.
O mundo é aparência, é forma, é estética ou é feiúra.
O mundo é feito de reis e de escravos.
O mundo é macho contra fêmea.
O mundo é mãe sem amor.
O mundo é pai sem calor.
O mundo é egoísmo feito direito.
O mundo sou eu e você não é nada.
O mundo é morte.
Por isso se diz que o mundo jaz no maligno!.
O mundo não são pássaros,
nem rios, nem oceanos,
nem montanhas, nem estrelas,
nem planetas, nem coisa alguma que Deus fez.
O mundo é a criação do homem e do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.
Assim, saiba: o mundo é o que os nossos pensamentos produzem.
O mundo sou eu, o mundo é você,
o mundo é a humanidade, a qual poderia também ser chamada de humundanidade.
Espero que você tenha se beneficiado por esta simplificação.
Nele, em Quem aprendemos que se alguém amar o mundo o amor do Pai não está em tal pessoa.

 

domingo, 18 de junho de 2023

O mar salgado da iniquidade

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O reino celestial, está nos Evangelhos, tem características infantis.
Hoje, deve fazer parte da fé a fragilidade do bebê que dependeu dos braços da mãe, Maria, e das decisões do pai, José.
Esvaziado, frágil e carente, Deus se revelou à humanidade num barracão.
Talvez nessa revelação repouse a mais alvissareira mensagem do cristianismo: Deus abraça a humanidade em sua pequenez.
Desde cedo, no desterro do Egito, Jesus se viu diante de olhos suspeitosos: “por que essa família, que não fala nossa língua, veio pra cá?”.
Mais tarde, ele criticado dentro de casa: “nosso irmão de acha!”.
Por fim, foi caçado e morto por sacerdotes e políticos promíscuos.
Nele, foras da lei e gente empobrecida, sabe como Deus, partilha nosso abandono.
No que sofreu, Jesus se tornou o patrono dos desgraçados, dos sem-teto, amigo dos fora da lei, do que foi exilado ou banido, dos que se proibiu ou se censurou.
Ele é o ânimo dos que se desgastam pela justiça; o aceno de esperança para os que nadam contra a correnteza.
Nele reside a promessa de que o bem semeado no mar salgado da iniquidade há de florescer como ipês.


sábado, 17 de junho de 2023

A minha namorada

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A minha namorada 
tem um jeito namorada de ser.
E eu gosto de viver
cada instante com ela:
sensível, 
inteligente,
independente,
bela.
Uma vida inteira
parece pouco
para estar com ela.
Minha namorada
é fera
e sensibilidade. 
Há felicidade
no sorriso dela
e me contagia.
Era uma vez um dia
que nunca termina. 
Destino?.
Sina?.
Amor.
Eu sou porque ela é.
"A mina de fé" 
me paraísa, 
me sorrisa, 
me feliza,
se eterniza em  mim.
A "mina de fé"
é começo sem fim,
eternidade sem começo. 
E eu moro no mesmo endereço
da "mina de fé".

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