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Eu nasci sob escombros, dormi ao som de bombardeios , explorei os subterrâneos e cativei os meus desejos.
Há em meu peito ferido uma parte de Gaza que arde e flameja sorrindo ao mesmo tempo que sara.
Ouvi tiros ao acordar, ouvi gritos antes de dormir.
Eu vi o sol ao deitar esqueci da lua quando me vi.
Há cem olhos em Gaza que me observam sem eu os ver.
Há mil bocas em Gaza que hoje não tem o que comer.
Senti o peso do concreto, senti a poeira em meus pulmões.
Em minha casa o céu é o teto agarrei o ar com as minhas mãos.
Dormi ao som dos bombardeios, dormi ao som dos gritos abafados
Vi a noite se transformar em dia com bolas de fogo incendiando o mar a chuva branca queimou a pele.
Não vejo estrelas por aqui o céu se tornou meu horizonte sob o cárcere aberto eu resisti.
Não há mais olhos em Gaza, não há mais bocas famintas para alimentar, não há sonhos incontestáveis, não há mais ar para respirar.
Embora eu tente eu não consigo; não consigo desacreditar.
Eu acredito no que vejo e o que vejo não dá para ignorar.
Enquanto dormia milhares morriam, enquanto dançava milhares choravam, enquanto sorria milhares sentiam a dor do ódio e da raiva de Gaza.
Há um Brasil em Gaza que não me deixa esquecer.
O sonho de uma menina que não pode viver para o ter.
Há um Brasil em Gaza sob os escombros de Rafah, sob o cerco da morte do terror e da sorte.
Há um Brasil em Gaza que não é escrito com Z, que conhece a guerra e desde de criança é ensinado a combater caso queira viver.
Há um Brasil em Gaza que conhece a dor e a miséria, a sede e a fome e uma vida sem tréguas.
Há um Brasil em Gaza que perdeu a vida antes de nascer, que viveu para ver seus filhos morrer, que morreu sem ter aonde se esconder.
Há um Brasil em Gaza que grita de dor na escuridão, que sonha com bombardeios mas não tem medo do trovão.
Mas há um Brasil em Gaza daqueles que no útero resistem, daqueles que perto da morte insistem.
E teimosos que são não desistem que não tem medo, não tem medo de morrer.
Se a vida é a única coisa que lhes resta o caminho da vida é lutar para sobreviver.
Há um Brasil em Gaza que enfrenta a fome e a dor, que encontra na guerra o calor.
E só sente frio quando a vida se esvai.
Há um Brasil em Gaza de olhos semicerrados com a Shemagh no rosto e com o fuzil sob túneis e buracos.
Há dois Brasis e há milhares de Gazas, há uma Gaza no Brasil na vida de cada favelado que tem no sangue marcado, que o teu destino não é ser mais um executado.
Há uma Gaza no Brasil que ensina desde cedo a não aceitar, que injustiça se cobra em vida, e não vamos morrer sem o troco dar
Israel, Imperialismo.
Senhores da guerra conhecerão o inferno e viverão nele seus últimos dias, sentirão na pele a fúria de gerações que serão vingadas.
Sentirão o ódio encarnado em cada criança oprimida.
Gaza enterrará seus últimos filhos, a Jihad é luta e também vingança.
E em cada Gaza no mundo brotarão os combatentes mais aguerridos.
Em cada menina palestina virá a fúria que te arrancarão as entranhas.
Não é para ser bonito, não é para ter métrica
Os poemas escritos por Gaza são odes à guerra sagrada pela liberdade eterna.
Não é para ser um gemido, tampouco somente um grito que de Gaza a luta e a resistência.
Arranque os grilhões de cada oprimido.
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